Rapieira

A rapieira ou roupeira é um tipo distinto de espada, uma espada comprida e estreita, popular desde o período Medieval até a Renascença, que se tornou a arma mais comum daquela época, principalmente na Espanha, Itália e Portugal nos século XVI e XVII.
Descrição[editar | editar código-fonte]
Rapieiras são geralmente descritas como sendo espadas com a lâmina relativamente longa e fina, ideal para golpes de perfurações e uma proteção guarda-mão com complicados filetes de metal, o que a torna uma bela arma, podendo ser usada na esgrima artística (mesmo não sendo uma arma própria para o desporto). A lâmina pode ter largura suficiente para cortar a golpe, mas o poder da rapieira vem da sua habilidade de perfuração. Rapieras podem ter gumes com fio de corte só dum lado, com fio de corte dum lado só da ponta até ao meio (como descreveu Capoferro), ou podem ter gumes completamente cegos. Uma espada chamada "estoc" (estoque) pelo Pallavicini um mestre de esgrima rapieira que em 1670 propôs usar uma rapieira com dois gumes afiados. A rapieira se parece com um florete, mas é mais comprida, pesada e rija. Uma típica rapieira tem de 1m de lâmina até 1,5m, e com largura de apenas 2,5 centímetros.
O termo rapieira refere a uma espada de perfuração com uma lâmina mais comprida e mais estreita do que a das espadas de guerra, mas uma lâmina mais pesada do que a do florete, que é uma arma mais leve que apareceu no século XVIII e XIX. A forma exacta da lâmina e do punho da rapieira depende no escritor e quando foi escrito. Pode referir a uma velha spada da lato do século XVI, a uma espada (como a espada ropera) do período de grande popularidade da rapieira no século XVII, ou até a um florete do século XIX e a outras espadas de duelo europeias, por isso o contexto é importante em percebendo o que o termo quer dizer. (O termo espada de lado, side-sword, usado por algumas listas modernas é uma tradução do termo italiano spada da lato--um termo criado há poucos anos por museologistas italianos, não para uma rapieira comprida, mas para a uma espada italiana do século XVI cuja lâmina é um pouco mais curta e grossa e é considerada uma das armas ancestrais e contemporâneas da rapieira.)
É importante notar que a palavra "rapieira" não foi usada pelos mestres Portugueses, Italianos, Espanhóis, e Franceses durante o zénite desta arma, os termos spada, espada e épée (ou éspée) eram usados normalmente (palavras genéricas para "espada"). Por causa disto, e por causa da grande variação das espadas do fim do século XVI e do século XVII, alguns, como o Tom Leoni simplesmente descrevem a rapieira como uma espada daquele período de lâmina sem curva, de duas bordas cortantes, com punho duma mão, que serve igualmente no ataque como na defesa e não requisita arma companheira. Para evitar a confusão de por todas as espadas juntas, alguns categorizam espadas pelas funções e usos. Por exemplo, John Clements categoriza espadas de ponta com fracos gumes como rapieiras e espadas com ambos boas habilidades de ponta e gume como Corte e Perfuração.[1] Outros vêem a rapieira por todos os séculos que foi usada e decidem que ela não cabe dentro de uma só definição. Por toda a Europa a arma mudava dependendo da cultura e do estilo de luta em que era usada; seja o estilo Italiano, Espanhol, Português, Francês, ou outra instrução no uso da arma, por isso o comprimento, largura, punhal e até a presença, ausência ou estilo de gume eram diferente dependendo do estilo e local. No mesmo dia em que um homem usaria uma rapieira de dois gumes e punho com filetes, outro homem usaria uma rapieira sem gume e com punho de copo.
Características da espada[editar | editar código-fonte]
Punho[editar | editar código-fonte]
Rapieiras começaram com guarda-mãos com filetes de metal extensivos para protegerem a mão manietando a espada, e com anéis que se estendiam do guarda-mão pela lâmina. Mais tarde estes anéis foram cobertos com chapas e eventualmente evoluíram para os punhos de copo das rapieiras do século XVII. Muitos punhos tinham um arco de filete de metal rijos saindo do guarda-mão para proteger o cabo que normalmente eram feito de madeira embrulhado em corda, cabedal ou verga. Um pomo gordo (decorado) segurava o cabo á arma e balançava a lâmina comprida.
Lâmina[editar | editar código-fonte]
Mestres diferentes da rapieira dividiam a lâmina em duas, três, quatro, cinco e até nove partes. O forte, é a parte da lâmina perto do punho; nos casos que um mestre divide a lâmina em partes pares, esta é a primeira metade da lâmina. O fraco, é a parte da lâmina que inclui a ponta e é a segunda parte da lâmina quando a espada é dividida em partes pares. Mas para os mestres que dividiam a lâmina em três partes(ou um multiplico de três), a terceira parte central da lâmina entre o forte e o fraco é chamado o médio.
O Ricasso é a parte da lâmina logo a seguir ao guarda-mão, normalmente não afiado que é protegido pelos filetes e anéis num punhal complicado.
História[editar | editar código-fonte]
A rapieira começou o seu desenvolvimento em meados de 1500 nas cortes reais da Espanha onde era chamada de espada ropera, ou espada de vestuário, porque o vestuário dum fidalgo não seria completo sem uma espada de moda ao seu lado. Espadas antes da rapieira eram usadas igualmente em guerras e em lutas civis; mas a espada ropera foi criada somente como uma espada civil de corte e ponta, para autodefesa e para duelos. Durante o século XVI uma grande variedade de armas de manietação duma mão foram criadas, incluindo a Rappier Alemã, outra espada de corte e ponta para esgrima desportiva, descrita por Joachim Meyer's Fechtbuch(livro de luta) de 1570. Mesmo assim, o termo Inglês de "rapier" e o termo Português de "rapieira" refere geralmente a uma espada principalmente de ponta, criada antes do ano 1600 por causa das teorias geométricas de mestres como o Camillo Agrippa e Ridolfo Capoferro.
A rapieira tornou-se numa grande acessória de moda por toda a Europa nas classes ricas, mas havia deles que dela difamaram. Algumas pessoas, como o George Silver, discordavam com a sua técnica e com os duelos onde era usada.
A etimologia do termo "rapieira", rapier, não é certo. Charles du Fresne, sieur du Cange usou o termo Rapparia em 1484 para descrever um espée no seu Glossarium mediae et infimae Latinitatis. Ele propôs que a origem to termo veio do Grego ραπίξειν, de corte. Mas o Walter William Skeat sugere que "rapiér" vem de raspiére, um ferro de lume, e que é um termo desdenhoso criado por esgrimistas de corte e ponta para a arma nova. O mais provável é que o termo vem do ropera Espanhol, que vem de ropa, roupa ou de vestuário elegante e então uma "espada de vestuário", sendo o seu equivalente em português roupeira.
Permitindo reacções rápidas e com um grande alcance a rapieira era perfeita para o combate civil dos séculos 16-17. Enquanto os estilos de espadas corte e ponta continuavam a evoluir para uso nos campos de guerra, as rapieiras continuaram a evoluir para uso civil e em duelos, eventualmente ficando mais leve e mais curtas e começaram a ser substituídas pelos espadins.
Em 1715, a rapieira tinha sido suplantada pelo mais leve espadim pela maior parte da Europa, mas rapieiras continuaram a ser usadas como se pode ver nos livros de Donald McBane (1728), P. J. F. Girard (1736) e Domenico Angelo (1787).
Escolas Históricas de Esgrima com Roupeira[editar | editar código-fonte]
Italianas[editar | editar código-fonte]
- Antonio Manciolino, Opera Nova per Imparare a Combattere, & Schermire d'ogni sorte Armi - 1531
- Achille Marozzo, Opera Nova Chiamata Duello, O Vero Fiore dell'Armi de Singulari Abattimenti Offensivi, & Diffensivi - 1536
- Anonimo Bolognese, L'Arte della Spada (M-345/M-346 Manuscripts) - (early or mid 1500s[2])
- Giovanni dall'Agocchie, Dell'Arte di Scrimia - 1572
- Angelo Viggiani dal Montone, Trattato dello Schermo - 1575
- Camillo Agrippa, Trattato di Scientia d'Arme con un Dialogo di Filosofia - 1553
- Giacomo di Grassi, Ragion di Adoprar Sicuramente l'Arme si da Offesa, come da Difesa - 1570
- Marco Docciolini, Trattato in Materia di Scherma - 1601
- Salvator Fabris, De lo Schermo ovvero Scienza d'Armi - 1606
- Nicoletto Giganti, Scola overo Teatro - 1606
- Ridolfo Capoferro, Gran Simulacro dell'Arte e dell'Uso della Scherma - 1610
- Francesco Alfieri, La Scherma di Francesco Alfieri - 1640
- Giuseppe Morsicato Pallavicini, La Scherma Illustrata - 1670
- Francesco Antonio Marcelli, Regole della Scherma - 1686
- Bondi' di Mazo, La Spada Maestra - 1696
Espanholas[editar | editar código-fonte]

- Jerónimo Sánchez de Carranza, De la Philosofia de las Armas (1569).
- Luis Pacheco de Narváez, Libro de las Grandezas de la Espada (1599).
- Girard Thibault, Academie de l'Espee, ou se demonstrant par Reigles mathematiques, sur le fondement Cercle Mysterieux (1628).
Portuguesas[editar | editar código-fonte]
- Domingo Luis Godinho, Arte da Esgrima (1599).
- Diogo Gomes de Figueiredo, Oplosophia e Verdadeira Destreza das Armas (1628).
- Diogo Gomes de Figueiredo, Memorial Da Prattica do Montante (1651).
- Anónimo, Manuscrito da espada (1676).
- Thomás Luís, Tratado das lições da espada preta (1685).
- Anónimo, Lições de Marte (Fins do Séc. XVII).
- Luiz de Seixas de Fonseca, Destreza das Armas (Fins do Séc. XVII).
- Manoel Martins Firme, Espada Firme (1744).
Francesas[editar | editar código-fonte]
- Charles Bisnard (1653)
- Monsieur L'Abbat (1669)
Inglesas[editar | editar código-fonte]
- Joseph Swetnam, The Schoole of the Noble and Worthy Science of Defence (1617)
- The Pallas Armata (1639)
Alemãs[editar | editar código-fonte]
- Paulus Hector Mair, Opus Amplissimum de Arte Athletica (1542)
- Joachim Meyer, Thorough Descriptions of the free Knightly and Noble Art of Fencing (1570)
- Jakob Sutor, Neu Künstliches Fechtbuch (1612)
As tradições de esgrima clássicas[editar | editar código-fonte]
Escolas de Esgrima Clássica são escolas que alegam terem herdado aspectos e estilos de uso da rapieira nos seus sistemas. Em 1885, o estudante de esgrima Egerton Castle escreveu "there is little doubt that the French system of fencing can be traced, at its origin, to the ancient Italian swordsmanship; the modern Italian school being of course derived in an uninterrupted manner from the same source."[há pouca duvida que o sistema de esgrima Francês vem de origem do espadachim Italiano antigo; o sistema moderno Italiano vem claramente também da mesma fonte.] Castle também notou que "the Italians have preserved the rapier form, with cup, pas d'ane, and quillons, but with a slender quadrangular blade." [os Italianos preservaram a forma da rapieira com copo, anéis e filamentos, mas com uma lâmina mais estreita e quadrangular] [3]
Praticantes Modernos[editar | editar código-fonte]
Predefinição:POV-section No passado recente tem havido um grande interesse em recrear as artes de luta da Renascença Europeia, incluindo os sistemas numerosos da arte de luta rapieira. Praticantes têm uma certa dificuldade no seu estudo porque não há nenhuma tradição directa aos tempos quando estas artes eram praticadas marcialmente, por essa razão os praticantes têm que estudar of textos daqueles tempos escritos por mestres daqueles tempos.
Literatura[editar | editar código-fonte]
- Clements, John. Renaissance Swordsmanship : The Illustrated Book Of Rapiers And Cut And Thrust Swords And Their Use. Paladin Press, 1997. ISBN 0-87364-919-2
- Kirby, Jared. Italian Rapier Combat: Ridolfo Capo Ferro. Greenhill Books, 2004. ISBN 978-1853675805
- Leoni, Tommaso. The Art of Dueling: 17th Century Rapier as Taught by Salvatore Fabris. Chivalry Bookshelf, 2005. ISBN 978-1891448232
- Wilson, William E. Arte of Defence: An Introduction to the Use of the Rapier. Chivalry Bookshelf, 2002. ISBN 978-1891448188
- Windsor, Guy. Duellists Companion: A Training Manual for 17th Century Italian Rapier. Chivalry Bookshelf, 2006. ISBN 978-1891448324
- Rivera, Tim. Iberian Swordplay: Domingo Luis Godinho's Art of Fencing. Freelance Academy Press, 2017. ISBN 978-1937439330
Notas[editar | editar código-fonte]
- ↑ John Clements. Renaissance Swordsmanship : The Illustrated Book Of Rapiers And Cut And Thrust Swords And Their Use. Paladin Press, 1997. ISBN 0-87364-919-2
- ↑ Rubboli and Cesari (2005) date this work to 1500-1525. Leoni and Reich of the Order of the Seven Hearts date it to "about 1550" (2006 class handout Arquivado em 28 de setembro de 2011, no Wayback Machine.)[1] Arquivado em 30 de março de 2010, no Wayback Machine.
- ↑ Castle, Schools and Masters of Fence. London: George Bell & Sons, 1885. pp. iv, 257
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Call to Arms: The Italian Rapier by Bill Grandy
- Questions and Answers About the Rapier by John Clements
- Replication of Rapier Fencing Today by John Clements
- Italian Rapier--The Weapon by Tom Leoni
- The Rapier of Gustav Vasa, King of Sweden by Björn Hellqvist