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Revolução de 1930: diferenças entre revisões

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* revolucao e o caramba
{{Rebeliões do Brasil República|imagem=[[Imagem:Revolução de 1930.jpg|250px]]|legenda=[[Getúlio Vargas]] e sua comitiva em [[Itararé]], [[São Paulo]]}}
A '''Revolução de 1930''' foi o movimento armado, liderado pelos estados de [[Minas Gerais]], [[Paraíba]] e [[Rio Grande do Sul]], que culminou com o [[golpe de Estado]], o '''Golpe de 1930''', que depôs o presidente da república [[Washington Luís]] em [[24 de outubro]] de [[1930]], impediu a posse do presidente eleito [[Júlio Prestes]] e pôs fim à [[República Velha]].<ref name="be">{{citar web |url=http://www.brasilescola.com/historiab/revolucao-30.htm |título=A Revolução de 1930: Principais fatos da Revolução de 1930 |acessodata=20 de janeiro de 2012 |autor=Rainer Souza |publicado=Brasil Escola }}</ref>

Em [[1929]], lideranças de [[São Paulo]] romperam a aliança com os mineiros, conhecida como ''[[política do café-com-leite]]'', e indicaram o paulista Júlio Prestes como candidato à presidência da República. Em reação, o Governador de Minas Gerais, [[Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (IV)|Antônio Carlos Ribeiro de Andrada]] apoiou a candidatura oposicionista do gaúcho [[Getúlio Vargas]].<ref name="uol">{{citar web |url=http://www.mundovestibular.com.br/articles/9186/1/A-Revolucao-de-1930-Resumo/Paacutegina1.html |título=A Revolução de 1930 (Resumo) |acessodata=20 de janeiro de 2012 |autor=Adenilson Americo Gomes |publicado=Mundo Vestibular }}</ref>

Em [[1 de março|1º de março]] de 1930, foram realizadas as eleições para presidente da República que deram a vitória ao candidato governista, que era o governador do estado de São Paulo, Júlio Prestes. Porém, ele não tomou posse, em virtude do golpe de estado desencadeado a [[3 de outubro]] de 1930, e foi exilado.

Getúlio Vargas assumiu a chefia do ''"Governo Provisório"'' em [[3 de novembro]] de 1930, data que marca o fim da República Velha.<ref>{{citar web |url=http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/revolucao-de-1930-movimento-revolucionario-derrubou-a-republica-velha.jhtm |título=Revolução de 1930 - História do Brasil |acessodata=20 de janeiro de 2012 |autor=Educação UOL }}</ref>

== Contexto histórico ==
A crise da [[República Velha]] havia se prolongado ao longo da [[década de 1920]]. Os expoentes políticos da República Velha vinham perdendo força com a mobilização do trabalhador industrial, com as Revoltas nazifascistas e as dissidências políticas que enfraqueceram as grandes [[oligarquia]]s. Esses acontecimentos ameaçavam a estabilidade da tradicional aliança rural entre os estados de [[São Paulo]] e [[Minas Gerais]] - a [[política do café com leite]].

Em [[1926]], surge a quarta e última dissidência no [[Partido Republicano Paulista]] (PRP), e os dissidentes liderados pelo Dr. José Adriano de Marrey Junior fundaram o [[Partido Democrático (1930)|Partido Democrático]] (PD), que defendia um programa de [[educação superior]] entre outras reformas e a derrubada do PRP do poder. Esta crise política em São Paulo originou-se em uma crise da maçonaria paulista presidida pelo Dr. José Adriano de Marrey Júnior. São Paulo, então, chegou dividido às eleições de 1930.

Entretanto, o maior sinal do desgaste republicano era a superprodução de [[café]], durante a [[crise de 1929]], alimentada pelo governo com constantes “valorizações”.

Assim em 1930, São Paulo estava dividido, e o [[Rio Grande do Sul]] que estivera em guerra civil em [[1923]], agora estava unido, com o governador do Rio Grande do Sul, Dr. [[Getúlio Vargas]] tendo feito o [[PRR]] e o [[Partido Libertador]] se unirem.

Em [[Juiz de Fora]], o [[Partido Republicano Mineiro]] (PRM) passa para a oposição, forma a [[Aliança Liberal]] com os segmentos progressistas de outros estados e lança o gaúcho Getúlio Vargas para a presidência, tendo o político [[Paraíba|paraibano]] [[João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque|João Pessoa]] como candidato a vice-presidente. Minas Gerais estava dividida, não conseguindo impor um nome mineiro de consenso para a presidência da república. Parte do PRM apoiou a candidatura Getúlio Vargas mas a "''Concentração Conservadora''" liderada pelo vice-presidente da república [[Fernando de Melo Viana]] e pelo ministro da Justiça [[Augusto Viana do Castelo]] apoiam a candidatura oficial do Dr. [[Júlio Prestes]] para as eleições presidenciais de [[1 de março]] de 1930.

== A revolução ==
{{História do Brasil}}

=== O problema da sucessão presidencial ===

Na [[República Velha]] ([[1889]]-[[1930]]), vigorava no Brasil a chamada "[[política do café com leite]]", em que políticos apoiados por [[São Paulo]] e de [[Minas Gerais]] se alternavam na presidência da república (mas não eram necessariamente Paulistas ou Mineiros os seus indicados). Porém, no começo de 1929, o então presidente [[Washington Luís]] indicou o nome do Presidente de São Paulo, [[Júlio Prestes]], como seu sucessor, no que foi apoiado por presidentes de 17 estados. Apenas três estados negaram o apoio a Prestes: Minas Gerais, [[Rio Grande do Sul]] e [[Paraíba]]. Os políticos de Minas Gerais esperavam que [[Antônio Carlos Ribeiro de Andrada]], o então governador do estado, fosse o indicado, por Washington Luís, para ser o candidato à presidência.

Assim a política do ''café com leite'' chegou ao fim e iniciou-se a articulação de uma frente oposicionista ao intento do presidente e dos 17 estados de eleger Júlio Prestes. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba uniram-se a políticos de oposição de diversos estados, inclusive do Partido Democrático de São Paulo, para se oporem à candidatura de Júlio Prestes, formando, em agosto de 1929, a [[Aliança Liberal]].

Em [[20 de setembro]] do mesmo ano, foram lançados os candidatos da Aliança Liberal às eleições presidenciais: Getúlio Vargas como candidato a presidente e [[João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque|João Pessoa]], como candidato a vice-presidente. Apoiaram Aliança Liberal, intelectuais como [[José Américo de Almeida]] e [[Lindolfo Collor]], membros das camadas médias urbanas e a corrente político-militar chamada "[[Tenentismo]]" (que organizou, entre outras, a [[Revolta Paulista de 1924]]), na qual se destacavam [[Cordeiro de Farias]], [[Eduardo Gomes]], [[Siqueira Campos]], [[João Alberto Lins de Barros]], [[Juarez Távora]] e [[Miguel Costa]] e [[Juraci Magalhães]] e três futuros presidentes da república ([[Ernesto Geisel|Geisel]], [[Emílio Garrastazu Médici|Médici]] e [[Humberto de Alencar Castelo Branco|Castelo Branco]]).

Nesse momento, setembro de 1929, já era percebido, em São Paulo, que a Aliança Liberal, e uma eventual revolução, visava especificamente São Paulo. Tendo o senador estadual de São Paulo [[Cândido Nanzianzeno Nogueira da Motta]] denunciado na tribuna do [[Senado do Congresso Legislativo do Estado de São Paulo]], em [[24 de setembro]] de 1929, que:

{{quote2| ''A guerra anunciada pela chamada Aliança Liberal não é contra o sr. Júlio Prestes, É contra nosso Estado de São Paulo, e isso não é de hoje. A imperecível inveja contra o nosso deslumbrante progresso que deveria ser motivo de orgulho para todo o Brasil. Em vez de nos agradecerem e apertarem em fraternos amplexos, nos cobrem de injúrias e nos ameaçam com ponta de lanças e patas de cavalo''!|''Cândido Mota}}

[[Imagem:Crowd outside nyse.jpg|thumb|180px|A [[Grande Depressão|Crise de 1929]] foi uma das causas da Revolução de 30.]]

Cândido Mota citou ainda o senador fluminense [[Irineu Machado]] que previra a reação de São Paulo:

{{quote2| ''A reação contra a candidatura do Dr. Júlio Prestes representa não um gesto contra o presidente do estado, mas uma reação contra São Paulo, que se levantará porque isto significa um gesto de legítima defesa de seus próprios interesses''"!|''Irineu Machado}}

Essa resposta paulista à revolução de 1930 veio um ano e meio depois, com a [[Revolução de 1932]].

O presidente de Minas Gerais, [[Antônio Carlos Ribeiro de Andrada]] diz em discurso, ainda em 1929:

{{quote2|''Façamos a revolução pelo voto antes que o povo a faça pela violência''|Antônio Carlos Ribeiro de Andrada<ref>CARMO CHAGAS, ''Política Arte de Minas'', Editora Carthago & Forte, São Paulo, (1994)</ref>}}

Esta frase foi vista como a expressão do instinto de sobrevivência de um político experiente e um presságio: Minas Gerais, se aliando ao Rio Grande do Sul e aos tenentes, consegue preservar sua oligarquia. Uma revolução que fosse feita só pelos tenentes teria derrubado também o PRM ([[Partido Republicano Mineiro]]) do poder em Minas Gerais e o PRR do poder no Rio Grande do Sul.

=== As eleições e a revolução ===
As eleições foram realizadas no dia [[1º de março]] de 1930 e deram a vitória a Júlio Prestes, que obteve 1.091.709 votos, contra apenas 742.794 dados a Getúlio. Notoriamente, Getúlio teve quase 100% dos votos no Rio Grande do Sul, e apenas 10% dos votos em São Paulo.

A Aliança Liberal recusou-se a aceitar a validade das eleições, alegando que a vitória de Júlio Prestes era decorrente de [[fraude]]. Além disso, [[deputado]]s eleitos em estados onde a Aliança Liberal conseguiu a vitória, não obtiveram o reconhecimento dos seus mandatos. A partir daí, iniciou-se uma [[conspiração (política)|conspiração]], com base no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.

[[Imagem:Getuliovargas1930.jpg|thumb|direita|450px|Getúlio Vargas no [[Palácio do Catete]] em [[31 de outubro]] de [[1930]], no dia que chegou ao Rio de Janeiro, após vitoriosa a Revolução de 1930.]]

A conspiração sofreu um revés em junho com [[Luís Carlos Prestes]]. Um ex-membro do [[Tenentismo|movimento tenentista]], Prestes tornou-se adepto das ideias de [[Karl Marx]] e apoiador do [[comunismo]]. Isso o levou, depois de um tempo, a tentativa frustrada da [[intentona comunista]] pela [[ANL]].

Logo em seguida, ocorre outro contratempo à conspiração: morre, em acidente aéreo, o tenente [[Siqueira Campos]].

No dia [[26 de julho]] de 1930, [[João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque|João Pessoa]] foi assassinado por [[João Dantas]] em [[Recife]], por questões políticas e de ordem pessoal, servindo como estopim para a mobilização armada. João Dantas e seu cunhado e cúmplice, Moreira Caldas, foram encontrados degolados em sua cela, na Casa de Detenção (Hoje Casa da Cultura) em outubro de 1930.

As acusações de fraude e a ''degola'' arbitrária de deputados mineiros e de toda a bancada da Paraíba da [[Aliança Liberal]], o descontentamento popular devido à crise econômica causada pela [[grande depressão]] de [[1929]], o assassinato de João Pessoa e o rompimento da política do café com leite foram os principais fatores, (ou ''pretextos'' na versão dos partidários de Júlio Prestes), que criaram um clima favorável a uma [[revolução]].
[[Imagem:Jequié durante Revolução 1930.jpg|thumb|esquerda|250px|Missa celebrada em [[Jequié]], [[Bahia]], no dia [[15 de novembro]] de [[1930]], por motivo da vitória da Revolução.]]
Getúlio tentou várias vezes a conciliação com o governo de Washington Luís e só se decidiu pela revolução quando já se aproximava a posse de Júlio Prestes que se daria em [[15 de novembro]].

A Revolução teve seu inicio em 03 de outubro de 1930, uma sexta feira, com movimentos sincronizados que foram levados a efeito no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Paraíba. As 17h30m deste dia, revolucionários comandados por [[Oswaldo Aranha]] e Góes Monteiro, tomam o Quartel General do Exercito em Porto Alegre, prendendo o comandante da 3a Região Militar, General Gil de Almeida, e seu chefe do Estado Maior, Coronel Firmo Freire. Pouco após, tomam o arsenal de guerra, e partem para tomada do 3o e 4o Regimentos de Cavalaria Divisionária. Na madrugada do dia seguinte, avançam no7o Batalhão de Cavalaria. Os rebeldes tomam, com poucas exceções (O Regimento de cavalaria Independente, em São Borja, resistiu pouco tempo), os quartéis e guarnições do Exercito em todo o Estado.

Logo após a deflagração do movimento pelos gaúchos, [[Osvaldo Aranha]] telegrafou a [[Juarez Távora]] comunicando início da Revolução. A chefia civil do movimento na região nordeste (Governo Provisório do Norte) coube a José Américo de Almeida, político paraibano, enquanto o comando militar regional ficou a cargo de Juarez Távora. A rebelião rapidamente se alastrou por todo o país. Oito governos estaduais no [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste]] foram depostos pelos tenentes. Na região, a atividade revolucionária teve início na capital paraibana na madrugada do dia 4 de outubro, poucas horas após o movimento ter-se iniciado, na noite do dia anterior, em Porto Alegre e Belo Horizonte. Os revolucionários atacaram o 22º Batalhão de Caçadores (22º BC) , e aí morreu o general legalista Alberto Lavenère Wanderley, comandante da 7ª Região Militar; o assalto ao quartel do 22º B.C., levado a efeito por vários oficiais do exército e civis. Naquela praça militar houve ligeira luta, logo jugulada pelos elementos aliciados pelos então tenentes [[Juraci Magalhães]], [[Agildo Barata]], [[Landry Salles Gonçalves]] e outros.

Os contingentes de outras unidades estavam espalhados pela capital e cidade do interior, enviados pelo governo da República como medidas preliminares para intervenção federal projetada e que foi procrastinadas devido a morte de João Pessoa, terminaram por aderir ao movimento, salvo o 23º B.C., estacionado em Sousa, que opôs resistência aos revolucionários. Logo em seguida, sublevaram-se o 25º BC de Teresina, o 24º BC de São Luís, o 29º BC de Natal, seguindo o exemplo da Paraíba.

Em Recife, o movimento encontrou uma resistência maior por parte das forças legalistas, que se haviam colocado de prontidão ao surgirem as primeiras notícias da revolução. A vitória dos revolucionários, contudo, foi garantida pelo apoio popular à insurreição, tendo ocorrido, inclusive, distribuição de armas aos populares. Já na manhã do dia 5 de outubro, o movimento havia triunfado em Pernambuco, antes mesmo que os reforços provenientes da Paraíba chegassem a Recife. No dia seguinte, a posição dos revoltosos se consolidou quando o presidente do estado, Estácio Coimbra, abandonou o governo.

No Ceará, o movimento se iniciou no quartel do 23º Batalhão de Caçadores, onde no dia 4 de outubro de 1930 houve um levante articulado por Juarez Távora e executado por alguns tenentes, tais como: Landri Sales, João da Silva Leal, Júlio Veras e Ari Correia. “O objetivo principal foi conquistar aquele importante espaço militar e libertar os presos políticos participantes da revolução, entre eles o futuro primeiro interventor do Ceará depois do triunfo do movimento, Fernandes Távora”. Nesse levante, destaca, foi morto o comandante do 23º BC, Pedro Ângelo.

O então governador cearense [[Matos Peixoto]], acuado pelas derrotas de governadores da situação em Pernambuco e Rio Grande do Norte resolve, depois de frustradas as iniciativas que incluíram até a convocação de jagunços, renunciar no dia 7 de outubro e decide viajar para o Rio de Janeiro no dia seguinte. Na Praça do Ferreira houve uma aglomeração populacional que contou com a fala de personagens como o jornalista Demócrito Rocha e o poeta Quintino Cunha.

Em seguida às vitórias conquistadas em Pernambuco e na Paraíba, as tropas revolucionárias seguiram para Alagoas, onde o governo local foi deposto. Em Sergipe não houve resistência, já que o 28º Batalhão de Caçadores, sediado em Aracaju, aderiu ao movimento. O último obstáculo à vitória da revolução no Nordeste foi o estado da Bahia, onde as forças militares fiéis ao governo de Washington Luís montaram o seu quartel-general em Salvador.

Em Minas Gerais, os revolucionários, liderados pela Força Pública de Minas Gerais, atacaram, com pouquíssima resistência, as unidades militares; porem, houve notável resistência de cinco dias, por parte do 12o batalhão de infantaria, em Belo Horizonte, que por fim caiu em 8 de outubro, além da guarnição de Ouro Preto, que no dia 5/10/1930 se dispersou e concentrou a defesa legalista no dia seguinte, até o dia 15 de outubro no quartel do 11o regimento, em São João Del Rey; Os últimos redutos legalistas no Estado foram em Três Corações e em Juiz de Fora, que caiu no dia 23 de outubro; No dia 19 de outubro, os rebeldes mineiros, em outra coluna, chegaram à Vitória, capital do Espirito Santo, com a Força Pública Mineira avançando também no sul da Bahia, no norte do Estado do Rio de Janeiro, e expulsando tropas regulares do Triangulo Mineiro.

Com o Rio Grande do Sul sob controle, os revolucionários precisavam atravessar quatro estados (Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) até a capital da República. Não dispondo do apoio da Marinha de Guerra, o único caminho era pela Ferrovia São Paulo –
Rio Grande. Por esta via, ainda no dia 03 de outubro, horas antes dos eventos em Porto Alegre, forças rebeldes (chamada de Divisão do Litoral, comandada pelo Major Ptolomeu Assis Brasil) seguiram pelo interior de Santa Catarina, com o objetivo de chegar rapidamente até Porto União, na divisa com o Paraná. Houve alguma resistência na capital catarinense, com bombardeios à cidade, que reagiu até o dia 24 de outubro, com a retirada do Presidente do Estado [[Fúlvio Aducci]] e o comandante legalista, o General Nepomucemo, deixaram Florianópolis.

O domínio desta ferrovia garantiu aos revolucionários o controle sobre a antiga área do Contestado, preservando a segurança e o deslocamento das suas tropas com seus suprimentos que deveriam fluir por esta única via. Quando as forças revolucionárias chegam a Porto União, o Batalhão de Caçadores vindo de Joinville e ai estacionado, já havia se rebelado e aderido à Revolução. Neste mesmo dia, 04 de outubro, o 13º Regimento de Infantaria também se rebelou e assumiu o controle sobre a cidade de Ponta Grossa. Em Curitiba, o Major [[Plínio Tourinho]], em acordo com os gaúchos, conduziu um conjunto de ações que levou a adesão da guarnição federal, da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros. O Presidente do Estado, [[Affonso Camargo]], sem apoio militar, retirou-se para Paranaguá e daí para São Paulo. Desta forma, em 05 de Outubro, em Curitiba encontrava-se sob um governo revolucionário, seu chefe era o General da Reserva Mário Tourinho (irmão do Major Plínio), que obteve rápida e grande apoio popular na cidade.

Com a adesão paranaense, as tropas gaúchas avançam pelo estado e chegam a Ponta Grossa. O 5º Regimento de Cavalaria Divisionária, sediado em Castro permaneceu fiel a Legalidade quando realizou seu recuo em direção a São Paulo destruiu trechos da ferrovia e
danificou pontes. Em Itararé-SP, junto a divisa com o Paraná, foram organizadas forças para impedir o avanço revolucionário e as primeiras forças rebeldes que seguem naquela direção eram formadas pelo 13º Regimento de Infantaria e pela Policia Militar do Paraná. Os rebeldes paranaenses foram seguidos pelos gaúchos que em Jaguariaíva adentraram pelo Ramal Ferroviário do Paranapanema, atingindo sem dificuldades o Norte Pioneiro do Paraná.

No dia 10, Getúlio Vargas lançou o manifesto ''O Rio Grande de pé pelo Brasil'' e partiu, por [[ferrovia]], rumo ao [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], capital nacional à época. No dia 17 de outubro, Getúlio esteve em Ponta Grossa, e dois dias após, foi aclamado pela multidão curitibana, antes de seguir para a Capital.

Esperava-se que ocorresse uma grande batalha em [[Itararé]] (na divisa com o [[Paraná]]), onde as tropas do governo federal estavam acampadas para deter o avanço das forças revolucionárias, lideradas militarmente pelo [[coronel]] [[Góis Monteiro]]. Entretanto, em 12 e 13 de outubro ocorreu o [[Combate de Quatiguá]], que pode ter sido o maior combate desta Revolução, com derrota das forças legalistas, formadas por batalhões de voluntários e pela força pública paulista. [[Quatiguá]] localiza-se a direita de [[Jaguariaíva]], próxima a divisa entre [[São Paulo (estado)|São Paulo]] e Paraná. A batalha não ocorreu em Itararé, já que os generais [[Tasso Fragoso]] e [[Mena Barreto]] e o Almirante [[Isaías de Noronha]] depuseram [[Washington Luís]], em [[24 de outubro]] e formaram uma junta de governo.

Jornais que apoiavam o governo deposto foram empastelados; [[Júlio Prestes]], Washington Luís e vários outros próceres da República Velha foram exilados. Washington Luís havia apostado na divisão dos mineiros não acreditando em nenhum momento que Minas Gerais faria uma revolução, não se prevenindo, nem tomando medidas antirrevolucionárias, sendo derrubado em poucos dias de combate. Com a vitória da Revolução, em 24 de outubro, outros governadores foram depostos, como no Amazonas, que assistiu uma Junta Revolucionária Governativa tomar posse, sem incidentes, com a renúncia do Presidente do Estado, [[Dorval Porto]], até a chegada da Divisão do Extremo-Norte, designada pelo Comando Militar do Norte, para ocupar o Pará e Amazonas, o que efetivamente ocorreu no inicio de novembro de [[1930]].

== Uma república nova ==
Às 3 horas da tarde de 1 de novembro de 1930, a [[junta militar]] passou o poder, no [[Palácio do Catete]], a Getúlio Vargas, encerrando a chamada [[República Velha]], derrubando todas as oligarquias estaduais exceto a mineira e a gaúcha.

Na mesma hora, no centro do Rio de Janeiro, os soldados gaúchos cumpriam a promessa de amarrar os cavalos no [[obelisco]] da Avenida Rio Branco, marcando simbolicamente o triunfo da Revolução de 1930.

Getúlio tornou-se chefe do Governo Provisório com amplos poderes. A constituição de 1891 foi revogada e Getúlio passou a governar por [[decreto]]s. Getúlio nomeou interventores para todos os Governos Estaduais, com exceção de Minas Gerais. Esses interventores eram na maioria tenentes que participaram da Revolução de 1930.

Por sua vez, o presidente eleito e não empossado Júlio Prestes criticou duramente a Revolução de 1930 quando, em 1931, exilado em Portugal, afirmou:

{{quote2|''O que não compreendem é que uma nação, como o Brasil, após mais de um século de vida constitucional e [[liberalismo]], retrogradasse para uma [[ditadura]] sem freios e sem limites como essa que nos degrada e enxovalha perante o mundo civilizado''!|Júlio Prestes}}

Um dos maiores erros da revolução de 1930 foi entregar os estados à administração de tenentes inexperientes, um dos motivos da [[revolução de 1932]]. O despreparo dos tenentes para governar foi denunciado, logo no início de 1932, por um dos principais tenentes, o tenente [[João Cabanas]], que havia participado da [[revolução de 1924]], e que usou como exemplo o tenente [[João Alberto Lins de Barros]] que governou São Paulo. João Cabanas, em fevereiro de 1932, no seu livro "Fariseus da Revolução", criticou especialmente o descalabro que foram as administrações dos tenentes nos estados, chamando a atenção para a grave situação paulista pouco antes de eclodir a Revolução de 1932:

{{quote2|''João Alberto serve como exemplo: Se, como militar, merece respeito, como homem público não faz juz ao menor elogio. Colocado, por inexplicáveis manobras e por circunstâncias ainda não esclarecidas, na chefia do mais importante estado do Brasil, revelou-se de uma extraordinária, de uma admirável incompetência, criando, em um só ano de governo, um dos mais trágicos confusionismos de que há memória na vida política do Brasil, dando também origem a um grave impasse econômico (déficit de 100.000 contos), e a mais profunda impopularidade contra a "Revolução de Outubro".. e '''ter provocado no povo paulista, um estado de alma equívoco e perigoso'''. Nossa história não registra outro período de fracasso tão completo como o do "Tenentismo inexperiente''"!|João Cabanas}}

== Consequências ==
Os efeitos da Revolução demoram a aparecer. A nova [[Constituição]] só é aprovada em [[1934]], chamada [[Constituição de 1934]], depois de forte pressão social, como a [[Revolução Constitucionalista de 1932]]. Mas a estrutura do Estado brasileiro modifica-se profundamente depois de 1930, tornando-se mais ajustada às necessidades econômicas e sociais do país.

Getúlio não gostou desta constituição, e, três anos e meio depois, decreta uma nova constituição, a [[Constituição de 1937]].

E assim se posicionou em relação a Constituição de 1934, no 10º aniversário da revolução de 1930, em discurso de [[11 de novembro]] de [[1940]]:

{{quote2|''Uma constitucionalização apressada, fora de tempo, apresentada como panaceia de todos os males, traduziu-se numa organização política feita ao sabor de influências pessoais e partidarismo faccioso, divorciada das realidades existentes. Repetia os erros da [[Constituição de 1891]] e agravava-os com dispositivos de pura invenção jurídica, alguns retrógrados e outros acenando a ideologias exóticas. Os acontecimentos incumbiram-se de atestar-lhe a precoce inadaptação''!|Getúlio Vargas}}<ref>VARGAS, Getúlio, ''A nova política do Brasil'', Volume 8, José Olympio Editora, 1940,</ref>

A partir da constituição de 1937, o regime centralizador, por vezes autoritário do getulismo, ou [[Era Vargas]], estimula a expansão das atividades urbanas e desloca o eixo produtivo da [[agricultura]] para a [[indústria]], estabelecendo as bases da moderna economia brasileira.

O balanço da revolução de 1930 e de seus 15 anos de governo, por Getúlio, foi feito, no Dia do Trabalho de 1945, em um discurso feito no Rio de Janeiro, no qual disse:

{{Quote2|''A qualquer observador de bom senso não escapa a evidência do progresso que alcançamos no curto prazo de 15 anos. Éramos, antes de 1930, um país fraco, dividido, ameaçado na sua unidade, retardado cultural e economicamente, e somos hoje uma nação forte e respeitada, desfrutando de crédito e tratada de igual para igual no concerto das potências mundiais!''|Getúlio Vargas}}

== Legado político e social ==
=== A nova política do Brasil ===
Três ex-ministros de Getúlio Vargas chegaram à [[Presidente do Brasil|Presidência da República]]: [[Eurico Dutra]], [[João Goulart]] e [[Tancredo Neves]]. Este último não chegou a assumir o cargo, pois, na véspera da posse, sentiu fortes dores abdominais sequenciais durante uma cerimônia religiosa no Santuário Dom Bosco diagnosticada como uma "[[diverticulite]]", que o levou à morte em 21 de abril de 1985, em São Paulo.

Três tenentes de 1930 chegaram à Presidência da República: [[Humberto de Alencar Castello Branco|Castelo Branco]], [[Emílio Garrastazu Médici|Médici]] e [[Ernesto Geisel|Geisel]].

O ex-tenente [[Juarez Távora]] foi o segundo colocado nas eleições presidenciais de [[1955]], e o ex-tenente [[Eduardo Gomes]], o segundo colocado, em 1945 e 1950. Ambos foram candidatos pela [[UDN]], o que mostra também a influência dos ex-tenentes na UDN, partido que tinha ainda, entre seus líderes, o ex-tenente [[Juraci Magalhães]], que quase foi candidato em [[1960]].

Os partidos fundados por Getúlio Vargas, [[Partido Social Democrático (1945-2003)|PSD]] (partido dos ex-interventores no [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]] e intervencionista na economia) e o antigo [[PTB]], dominaram a cena política de 1946 até 1964.

PSD, UDN e PTB, os maiores partidos políticos daquele período, eram liderados por mineiros (PSD e UDN) e por gaúchos (o PTB).

Apesar de quinze anos (1930-1945) não serem um período longo em se tratando de carreira política, poucos políticos da [[República Velha]] conseguiram retomar suas carreiras políticas depois da queda de Getúlio em [[1945]]. A renovação do quadro político foi quase total, tanto de pessoas quanto da maneira de se fazer política.

Sobre a queda da qualidade da representação política após 1930, Gilberto Amado em seu livro "Presença na Política", explica:

{{quote2|''Na República Velha, as eleições eram falsas, mas a representação era verdadeira… As eleições não prestavam, mas os deputados e senadores eram os melhores que podíamos ter''!|Gilberto Amado}}<ref>AMADO, Gilberto, ''Presença na Política'', Livraria José Olympio Editora, 1960.</ref>

Getúlio foi o primeiro a fazer no Brasil propaganda pessoal em larga escala - o chamado ''[[culto da personalidade]]'', com a Voz do Brasil, - típica do [[fascismo]] e ancestral do [[marketing político]] moderno.

A aliança elite-proletariado, criada por Getúlio, tornou-se típica no Brasil, como a Aliança PTB-PSD apoiada pelo clandestino [[PCB]].

== A nova economia do Brasil ==
A política trabalhista é alvo de polêmicas até hoje e foi tachada de "paternalista" por intelectuais de [[esquerda]]. Esses intelectuais acusavam Getúlio de tentar anular a influência desta esquerda sobre o [[proletariado]], desejando transformar a classe operária num setor sob seu controle, nos moldes da [[Carta do Trabalho]] do [[fascismo|fascista]] [[Itália|italiano]] [[Benito Mussolini]].

Os defensores de Getúlio Vargas contra-argumentam, dizendo que em nenhum outro momento da [[história do Brasil]] houve avanços comparáveis nos [[direito]]s dos trabalhadores. O expoentes máximos dessa posição foram [[João Goulart]] e [[Leonel Brizola]]. Brizola foi considerado, por muitos{{Quem?}}, o último herdeiro político do "''Getulismo''", ou da "[[Era Vargas]]", na linguagem dos brasilianistas.

A crítica de [[direita]], ou [[liberal]], argumenta que, a longo prazo, estas leis trabalhistas prejudicam os trabalhadores porque aumentam o chamado ''[[custo Brasil]]'', onerando muito as [[empresa]]s e gerando a [[inflação]], que corrói o valor real dos [[salário]]s.

Segundo esta versão, o custo Brasil faz com que as empresas brasileiras contratem menos trabalhadores, aumentem a [[Trabalho informal|informalidade]] e faz que as empresas estrangeiras se tornem receosas de investir no Brasil. Assim, segundo a crítica liberal, as leis trabalhistas gerariam, além da inflação, mais [[desemprego]] e [[subemprego]] entre os trabalhadores.

Os liberais afirmam também que [[intervencionismo|intervencionismo estatal]] na [[economia]] iniciado por Getúlio só cresceu com o passar dos anos,com a única exceção de Castelo Branco atingindo seu máximo no governo do ex-tenente de 1930 [[Ernesto Geisel]]. Somente a partir do Governo de [[Fernando Collor]] se começou a fazer o desmonte do Estado intervencionista. Durante sessenta anos, após 1930, todos os [[ministro]]s da área econômica do governo federal foram favoráveis a intervenção do [[Estado]] na economia, exceto [[Eugênio Gudin]] por sete meses em 1954, e a dupla [[Roberto Campos]] - [[Octávio Bulhões]], por menos de três anos (1964 -[[1967]]).

=== "Trabalhadores do Brasil" ===
Era com esta frase que Getúlio iniciava seus [[discurso]]s. Na visão dos apoiadores de Getúlio, ele não ficou só no discurso. A orientação [[Trabalhismo|trabalhista]] de seu governo, que em seu ápice instituiu a [[CLT]] e o [[salário mínimo]], marca, para os getulistas, um tempo das mudanças sociais célebres, onde os [[trabalhador]]es pareciam estar no centro do cenário político nacional, aplicando o [[populismo]].

Infelizmente os trabalhadores rurais não foram beneficiados com igualdade pela CLT, tudo por força das oligarquias que existiam e pressionavam o governo.

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{{referências}}

== Ver também ==
* [[Revolução de 1932]]

== Bibliografia ==
Ver: [[Anexo:Bibliografia sobre Getúlio Vargas]]
* [[Sérgio Buarque de Holanda|Buarque de Holanda, Sérgio]]. ''Raízes do Brasil'', São Paulo, Companhia das Letras, 1995
* [[Antonio Candido de Mello e Souza|Cândido, Antônio]]. ''A Revolução de 1930 e a cultura'', São Paulo, Cebrap, 1984
* Cândido, Antônio. ''O Significado de Raízes do Brasil'', São Paulo, Companhia das Letras, 1995
* [[Boris Fausto|Fausto, Boris]]. ''A Revolução de 1930: historiografia e história'', São Paulo, Brasiliense, 1972
* Fausto, Boris: ''História do Brasil'', São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1995
* [[Juracy Magalhães|Magalhães, Juracy]]. Gueiros, José Alberto. ''O Último Tenente''. [[São Paulo (cidade)|São Paulo]]: Editora Record, [[1996]].
* [[Domingos Meirelles|Meirelles, Domingos]]. [http://books.google.com.br/books?id=vpmU-Lz0YPAC&printsec=frontcover&dq=orf%C3%A3os+da+revolu%C3%A7%C3%A3o+1930+livro&hl=pt-BR&sa=X&ei=pJhwUpCzMIfgsAS79oHYDg&ved=0CC8Q6AEwAA#v=onepage&q=cordeiro%20de%20farias&f=false ''1930: Os Órfãos da Revolução''] [[Editora Record]], 2005. ISBN 8501070688
* Murakami, Ana Maria Brandão. ''A Revolução de 1930 e seus antecedentes''. [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]: Nova Fronteira, [[1980]].

== Ligações externas ==
* [http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos20/ev_rev30_001.htm Site da [[FGV]] - Anos 20: Revolução de 1930]
* [http://www.mundoeducacao.com.br/historiadobrasil/revolucao-1930.htm Mundo Educação - Revolução de 1930]


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Revisão das 13h21min de 4 de junho de 2014

  • revolucao e o caramba