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Serranópolis de Minas: diferenças entre revisões

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Serranópolis de Minas




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Fotos e fatos de Serranópolis e da Serra do Talhado.
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Domingo, Dezembro 28, 2008
2ª Expedição Caminhos dos Geraes - Impressões sobre o roteiro "Eta que quá"


“Leve protetor solar e se prepare para o calor sem água”, disseram uns amigos. Preveni-me e coloquei na mala uma sunga de banho. O que era para ser seco, transformou-se em mais de mil quilômetros de áreas de nascentes, cursos d’água e cachoeiras. Como sertanejo, poderia responder com um “Eta que quá” aos que me orientaram antes da Expedição, demonstrando com ironia que a imagem produzida por eles era mentirosa. Tudo bem, o filtro para raios ultravioletas valeu a pena.

A carona que peguei na garupa de Guimarães Rosa por um dos Caminhos dos Geraes passou por regiões altas, de chapadas e pedras. De Montes Claros a Montezuma, quase na Bahia, águas brotam desses altos morros da Serra Geral. Pelo caminho dela, os oito expedicionários de meu roteiro passamos por Capitão Enéas, Barreiro da Raiz, Porteirinha, Nova Porteirinha, Montezuma, Rio Pardo de Minas, Santo Antonio do Retiro, Mato Verde, Catuti e Serranópolis de Minas.
Dez municípios, que deveriam ser mais de vinte – caso tivéssemos cumprido o cronograma inicial –, mas que, apesar disso, se mostraram extremamente competentes para encantar quem vem das Minas. Os mesmos conselheiros do início do texto provavelmente pensavam no que eu poderia fazer num lugar que não tinha nada. Os menores distritos respondem a questão: “vem o ver o que temos de bonito”, forjavam bocas para dizer. E era mais ou menos o que a população deles falava para mim e companheiros do grupo “Eta que quá”. Ouvindo-os, reiteramos o sim para o convite já aceito quando Montes Claros chamou para a Expedição.

Entrada do Parque Estadual do Talhado

A região visitada, do começo ao fim, é de pobreza – não miséria –, de pequenos proprietários de terras, chão que vale quase nada. Por causa disso, a pressão sobre os trabalhadores rurais é grande. Derrubar mata nativa para finalidades diversas é forma fácil de dinheiro rápido. O produtor de Rio Pardo de Minas, Belarmino Alves Pereira, é enfático: “Quem consegue licença, corta para fazer carvão”. O grande número de caminhões carregados com esse material também indica sinal de alerta para o Cerrado, ameaçado também por aqueles que nem esperam a tal autorização dita por Belarmino. “Aí, de vez em quando, têm tudo apreendido pelo IEF [Instituto Estadual de Florestas]”, lamenta.

Na contramão da tristeza de Belarmino, por quem desmata e é apreendido, comemoramos a pontualidade dos problemas ambientais do roteiro “Eta que quá”. Os grandes desmatamentos estão localizados em outros pontos do Norte de Minas Gerais. Na região, exemplos de degradação foram estradas mal-feitas, erodindo e arriscando córregos de acabarem assoreados e lixo nas cachoeiras. Ou seja, casos menores frente a real ameaça de destruição da biodiversidade pelo corte de mata nativa.

E são as pequenezas dessas destruições que fazem dos municípios do roteiro impressionantes em belezas naturais. São locais de difícil acesso, com estradas ruins e quase ausência de infra-estrutura para receber visitantes, a despeito da receptividade das comunidades. “Cidade sem Coca-Cola é cidade isolada do mundo”, advertiu o expedicionário fotógrafo, Franco Bubani, denotando um dos problemas para o turismo regional. Nas palavras de um dos ciclistas que participaram da Expedição, e estudante de turismo, há o atrativo turístico, mas ainda falta o produto.

É exatamente aí que os municípios deverão trabalhar para atrair visitantes e acabar de uma vez com o estigma de quem me alertou antes da viagem. Isso porque o Norte de Minas não é lugar que não tem nada, e não precisa ser conhecido, como muitos acham. Trata-se, de fato, de um lugar que precisa de políticas de turismo – que passa pela construção de infra-estrutura básica –, aliadas às de preservação do meio ambiente, ainda conservado em muitos pontos. E talvez tudo isso esbarre no problema da educação, que deve ser melhorada em toda região, como nos informou o secretário municipal de meio ambiente de Montes Claros, Paulo Ribeiro.

O potencial de Montezuma, por exemplo, de ser uma espécie de Rio Quente norte-mineira, com águas mornas, entre 38ºC e 40ºC, que brotam da terra, pode ser explorado caso haja um hotel bem cuidado. Rio Pardo de Minas pode se mostrar como produtora de cachaça mais expressivo que Salinas. Aliás, com a criatividade e o exotismo de um produtor, senhor Osvaldo, que levou encanada para sua casa a aguardente que fica pronta no alambique. Serranópolis de Minas tem de se preservar para contar a história do “laço húngaro”, feito pela Coluna Prestes nas tropas governistas, passando por um talho na Serra Geral, coberto por vegetação e ostentador de cachoeiras; região não por acaso conhecida como Talhado.
E esses são apenas exemplos do que pode ser mostrado pela região que chamei de Circuito das Águas do sertão norte-mineiro. De verdade, Cambuquira, São Lourenço, Baependi, Lambari e Caxambu podem conversar direto com os municípios de “Eta que quá” para encorparem, apesar da falta de contigüidade física, o marketing turístico.

E tal marketing, publicidade, deve entrar com o produto turístico, dito pelo ciclista. Tanta área preservada em uma região pressionada pelo carvão – nas estradas, caminhões incontáveis com florestas queimadas em suas carrocerias compõem a paisagem da Serra Geral – pode permanecer assim caso sejam criadas unidades de conservação – UCs.

Uma delas pode já aparecer como resultado da Expedição. Paulo Ribeiro é quem dá a palavra: “A região do Talhado tem que vai virar Parque Estadual. É uma área de terras devolutas, do Estado e, as que não são, têm baixo valor. Por isso, não é difícil ter uma UC com situação fundiária regularizada e com cidadãos de Serranópolis trabalhando nela”.

A posição de Paulo junta-se, em coro, com a da superintendente executiva da Amda, Maria Dalce Ricas. Ao reportar a ela o que expus neste texto, a resposta foi imediata: “Tem que se criar Parques para proteger a região!” E é assim mesmo, porque somente o trabalho de fiscalização de órgãos públicos de meio ambiente não dá conta de segurar o avanço sobre a mata nativa. E enquanto a população regional ainda sofre com o problema da educação, mostrar-lhes o caminho da preservação como sinônimo de dinheiro, com uso sustentável e turismo, é boa solução. Talvez com os Parques, Riobaldo e Diadorim poderão passear, e guerrear com jagunços, com “tranqüilidade” nas páginas de Rosa, que garupa mais agradável não podia oferecer.

Álisson Coutinho - Assessor de Imprensa da Amda, expedicionário do "Eta que quá"
posted by DÉLIO PINHEIRO 12:57 PM



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Quarta-feira, Julho 30, 2008
Espaço criado para os escritores de Serranópolis. Clique aqui para conhecer

Serra do Talhado, nos confins da História do Brasil.

“As tradições sertanejas são tristes e saudosas migalhas de um passado de sofrimentos, risos misturados de lágrimas, misto de prazeres e dores atrozes”. Urbino Vianna- Monografia de Montes Claros. 1915


No ano de 1553 partiu da província de Porto Seguro uma comitiva de 13 homens que tinham dois objetivos. O maior deles era de ordem comercial e consistia em descobrir novas minas de ouro no que hoje compreendemos como o Estado de Minas Gerais, mas que na época não passava de terras inóspitas, nas quais índios que chegavam até Porto Seguro, davam conta da existência de muito ouro. Movidos por essa promessa, o padre João de Aspicuelta Navarro, acompanhado de 12 homens, chefiados pelo espanhol Francisco de Espinhosa, avançou 350 léguas, “Sempre por caminhos poucos descobertos”, como relatou em uma de suas cartas o padre Navarro. O segundo objetivo era de ordem religiosa, já que o padre também pretendia levar a palavra de Deus aos povos infiéis que habitavam a região, os índios Tapuyas. Esta foi a mais remota visita do homem branco à região norte mineira. Muito tempo antes da expedição de bandeirantes paulistas, que oficialmente descobririam as minas gerais em 1674.

Na carta, destinada a seus colegas jesuítas, padre Navarro, faz uma descrição minuciosa dos hábitos e das paisagens que ele encontrou em suas andanças pela região. Em um ponto da carta ele cita que a comitiva atravessou “serras mui fragosas que não tem conto e tantos rios que em partes no espaço de quatro ou cinco léguas passamos cinqüenta vezes contadas por água”. Um outro trecho da carta divide os historiadores, pois o padre Navarro cita uma serra, na qual atravessaram em sua jornada. O local exato desta travessia nunca foi apontado com certeza por nenhum historiador. Desta forma restaram-nos as chamadas “Hipóteses” , como a do historiador João Capistrano de Abreu, que comenta em seu livro “Caminhos antigos e povoamento do Brasil”:

“Partiram de Porto Seguro e, como em país desconhecido seguir um rio é um meio de não se perder, provavelmente foram seguindo algum”. Na carta do padre Navarro, ele cita diversas vezes o rio Grande, que é identificado por Capistrano como sendo o rio Jequitinhonha. O rio que a expedição de Espinhosa teria margeado. “Depois de muito andar, chegaram a uma serra onde estão as cabeceiras deste rio e de um outro chamado de Orinas”. Capistrano de Abreu acha que este rio citado na carta do padre Navarro seja o rio Pardo, afluente do Jequitinhonha. “Esta serra corre de norte para sul, e deve ser umas das conhecidas pelo nome de serra das Almas, Grão Mogol e Itacambira. Daí partiram e foram ter a um rio muito caudal, chamado na época de Pará, que segundo os índios lhes informaram era o de São Francisco, ou mais provavelmente o rio das Velhas”. Capistrano sustenta que o local da travessia da serra tenha sido em algum ponto onde hoje se localizam Diamantina, Serro ou Araçuaí.

A descrição do padre Navarro é rica em detalhes, e são justamente estes detalhes que podem dar mais pistas sobre o local correto onde os primeiros homens brancos andaram há 450 anos atrás desbravando a nossa região: “Neste ermo passamos uma serra mui grande, que corre do norte para o meio dia, e nela achamos rochas mui altas de pedra mármore. Desta serra nascem muitos rios caudais: Chama-se um rio Grande e o outro rio das Orinas”.

A escassez de dados certamente contribui para as diversas opiniões sobre o itinerário da expedição que trazia os doze homens brancos que vieram descobrir as minas de ouro e o padre Navarro, que veio para “buscar tesouros de almas”, como escreveu seu contemporâneo, o padre José de Anchieta em uma carta ao prepósito da Companhia de Jesus em julho de 1554.
João Pandiá Calógenas, Orville Derby, Antonino Neves, Urbino Vianna, além do já citado Capistrano de Abreu, defendem cada qual o itinerário que lhe parece mais certo. Por isso, o ponto da travessia da serra citada pelo padre Navarro, varia das proximidades de Diamantina e Serro, passando pelas imediações das nascentes do rio Itacarambiçu até nas proximidades de serra Nova, em rio Pardo de Minas.
Dois estudiosos de peso sustentam que a expedição passou muito próxima ou talvez tenha alcançado a serra do Talhado, em Serranópolis de Minas. Segundo Francisco Lobo Leite Pereira, na Revista do Arquivo Público Mineiro de 1924, a missão de Espinhosa, da qual fazia parte o padre Navarro, após não encontrar a montanha de ouro, que fora prometida nos relatos dos índios que chegavam até Porto Seguro, abandonaram o rio Jequitinhonha e avançaram através do rio Pardo. Para Francisco Lobo, a travessia aconteceu em algum ponto entre serra Branca e serra Nova, o que inclui a serra do Talhado.

A hipótese que mais me encanta é a de Urbino Viana, que na Monografia Histórica de Montes Claros faz alusão à serra do Talhado, que fica localizada no município de Serranópolis de Minas. Na obra, escrita em 1916, Vianna diz que “A expedição, depois de atravessar o Pardo, inclinou para o sul, fraldejando a serra Geral, ou pelos seus espigões mais acessíveis onde viu rochas mui altas de pedra mármores, com toda probabilidade na parte conhecida hoje por serra Branca, um dos contrafortes da serra Geral, distante dez léguas da cidade de Rio Pardo”. Levando-se em conta esta hipótese, a bandeira pioneira de Espinhosa andou pelas terras onde hoje se localiza Serranópolis de Minas, que é citado no estudo de Urbino Vianna, que cometeu um pequeno equívoco com relação ao nome do rio, que ele cita como sendo o rio Serra Branca, mas que na verdade era o rio Mosquito. “As águas do serra Branca são negras, não sendo, porém, de mau paladar. Tem suas nascentes no lugar chamado Serrado, na serra Geral, abaixo duas léguas de Jatobá, pequeno arraial no município de Grão Mogol”.

O livro Capítulos Sertanejos, de autoria de Giselle Fagundes e Nahílson Martins, de 2002, corrige dois pequenos equívocos no texto de Urbino Viana, pois o rio que ele supunha ser o rio Serra Branca na verdade é o rio Mosquito. Sendo que estes dois rios nascem no município de Serranópolis de Minas. A descrição dos autores de Capítulos Sertanejos é esta: “Os dois rios surgem num trecho da serra onde existem muitas nascentes: uma delas, do Preto, afluente do rio Pardo; outra do Peixe Bravo, afluente do Vacaria, que deságua no Jequitinhonha. O rio Serra Branca forma a cachoeira do Serrado, um conjunto de quedas espetaculares, entre Porteirinha e Mato Verde. Quedas não tão imponentes mas em maior número, sete, e também belíssimas, forma o rio Mosquito pouco antes de se meter no Talhado. O Talhado, quase durante todo o século passado, era o caminho utilizado pelos tropeiros que levavam produtos da região da bacia do Pardo para os mercados de Porteirinha e Serranópolis”. Urbino Vianna ainda cita em sua obra que entre o povoado de Jatobá, que na época pertencia à cidade de Grão Mogol e o povoado de Serra Nova, do outro lado da serra, o rio Mosquito “passa por um canhão muito alto e relativamente estreito, cortado a prumo na serra, lugar que se denomina Talhado. A estrada, neste trecho, numa extensão de dois quilômetros, é toda pelo rio ou por suas ribas, motivo de impedimento de trânsito na ocasião das cheias. Distante do rio São Francisco mais de trinta léguas, quase quarenta de Montes Claros, vinte do extremo setentrional do Estado, limites do município de Rio Pardo, em Minas, com o de Jacaraci, na Bahia”.

A Serra do Talhado, com seu canyon majestoso, suas diversas nascentes d’água e cachoeiras de beleza indecifrável, é a divisa das bacias do Jequitinhonha e do São Francisco. O contorno da serra é como uma cicatriz de pedra que divide geograficamente duas regiões tão parecidas, o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, talvez representando a dor e as privações deste povo sofrido e criativo, mas ao mesmo tempo matando a sede de todos.

Um imenso coração de pedra parece bater nas entranhas do solo e ecoar na alma daqueles que nasceram sob a Serra do Talhado, mas que ganharam o mundo. Não importa o tempo nem as circunstâncias, a verdade é que quando o adulto, bem sucedido na vida ou não, retorna a Serranópolis, ele pode avistar a serra de sua infância. Lá, no mesmo lugar de sempre, como uma mãe que abre os braços para receber seus filhos queridos. Sejam eles bandeirantes em nome da coroa portuguesa no século XIV, ou mesmo turistas dos anos 2000 que a redescobrem diariamente, levando adiante, nas retinas e nos corações, toda a sua beleza.


posted by DÉLIO PINHEIRO 7:52 AM



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Domingo, Maio 11, 2008


A Alma Sertaneja de Serranópolis

A noite movimentada do dia três de maio era uma exceção na vida dos moradores de Serranópolis de Minas. Poucas noites do ano são tão agitadas como os sábados de maio dedicados a Santa Cruz. Esta é uma das festas tradicionais do município. A outra é em setembro, quando Nossa Senhora da Conceição é conduzida no andor nos ombros devotos da gente da cidade.
Sorrisos francos, apertos de mão firmes e um dedo de prosa são inevitáveis nas ruas devidamente iluminadas e com os meio-fios pintados de cal, afinal é dia de festa. E todos se vestem com suas roupas de festa, se perfumam com suas melhores águas de cheiros e contornam a praça, dezenas de vezes se preciso, para ver e ser visto.
Quantos namoros e casamentos não começaram assim, sob a sombra do Talhado que, logo ali, enfeita e emoldura o horizonte nos entardeceres, e refresca a noite com seu bafo fresco e cristalino, diretamente provindo das entranhas da terra, do rio Mosquito, e das pedras milenares do canyon encantado, quando a noite, salpicada de estrelas, enternece a alma do sertanejo.
Talvez o fato da festa de maio acontecer sempre após um hiato de sete meses faz com que ela seja a mais animada. Nesta ocasião muitos serranopolitanos, - notem que é desse jeito chique que somos chamados-, voltam para seu rincão, para junto dos seus familiares e amigos, e regressam para junto de sua serra acolhedora que, na sua imobilidade e beleza, tem o poder de simular uma pausa eterna no tempo.
Uma ilusão que nenhuma ampulheta ou relógio consegue despistar. Se as ruas ganham novo viço a cada ano, se as pessoas morrem enquanto seus descendentes nascem e se o antigo casario cede espaço para sobrados bem aprumados, a serra continua lá, aparentemente igual à da época de nossos pais, e de nossos avós, e dos primeiros moradores, e antes mesmo de haver qualquer morador por aqui. Sempre alerta, vigilante. Em algumas ocasiões, vejam vocês, malcriada, como quando seus ventos impiedosos destruíram barracas, destelharam casas e varreram os visitantes para dentro de suas casas, nas festas em que ninguém parecia se importar com sua presença ali, apontando seu imenso talhado de pedra diretamente para a praça ignara e indefesa.
Na festa deste ano, porém, a brisa da serra perfumou o ar e nem ventos e nem tempestades embotaram o brilho da programação, religiosa e artística. Tudo correu nos conformes.
Pelo menos quatro fatos chamaram a atenção dos mais observadores que prestigiaram a festança deste ano. O primeiro deles, e mais óbvio, diz respeito ao asfalto que liga Serranópolis a nossa irmã Porteirinha, recentemente construído.
A facilidade de acesso certamente corroborou para o público respeitável presente na cidade. Serranópolis ficou mais perto, literalmente. A distância entre as duas cidades, que era de 23 quilômetros, caiu para 19, graças às curvas suprimidas e ladeiras abrandadas. Outro fato relevante para nossa gente é que Serranópolis agora tem telefonia celular, um troço de outro mundo sô! Pessoas falando sozinhas com um “nigucim” assim, capaz! Mas o fato é que a comunicação também tem esse dom notável: torna-nos mais próximos de tudo. Veja você que até lan house agora tem por lá...
Nossa terra, nos últimos anos, ficou mais bonita, com a construção dos belos prédios dos poderes executivo e legislativo, e com o surgimento, por todos os lados, de novas e bem acabadas moradias, que mitigam, pouco a pouco, a imagem de eterno distrito de Porteirinha que até bem pouco tempo a cidade detinha.
Hoje somos uma cidade pequena com reais possibilidades de desenvolvimento e vivemos a expectativa, a cada dia renovada, que nossa dedicação e coragem, possam nos levar a dias cada vez melhores.
Os papéis oficiais do Estado de Minas não mentem: hoje abrigamos em nossos limites um parque estadual: o Parque Estadual do Talhado. E esse detalhe, certamente, contribuirá para que nossa vocação natural para o turismo seja explorada por nossos governantes, com zelo e respeito à natureza, evidentemente. E esse fomento, fiquem certos os senhores, trará mais dividendos para nossa cidade.
Em meio a tanta notícia boa, teve ainda mais uma na festa de maio: a presença de um serranopolitano com alma e trejeitos de artista, o talentoso Welton Nogueira que, acompanhado de sua banda Alma Sertaneja, um conjunto de música raiz formado por excelentes músicos, lá esteve para a gravação de seu primeiro DVD.
Foi a primeira gravação desta natureza em Serranópolis. Antes do grande momento, quando subiram ao palco, nos momentos que antecederam a gravação, era visível o esmero com o qual os músicos, travestidos de técnicos de som e contra-regras, prepararam o palco, com sutilezas e bom gosto, e era visível também a emoção dos músicos, que teriam suas imagens e juventude para sempre registradas, nas retinas e nas modernas câmeras levadas para a gravação.

Alma Sertaneja em ação

E como foi bom rever Welton. Muitos moradores, sobretudo os de antanho, se lembram do moço por lá. Welton da Casa Velha, a fazenda de “Seu Anfris”, como todos diziam. Fazenda onde foi tocada a versão de “Cálix bento” capturada pelo arguto Tavinho Moura, em seu gravador portátil, no início dos anos 1970. Fazenda cheia de mistérios, gostos e cheiros, tão próprios de nossa infância. Em seus arredores nasceu Welton, que já tinha esse nome invocado, cunhado, talvez, em um arroubo de seus pais. Um nome premonitório talvez...
Os mais velhos também se lembram da timidez do rapazote, de seu jeito desconfiado, do menino com voz de passarinho que cantava “no meio do mato”, mas que já era talentoso desde pequeno.
Essas características, pouco a pouco, na longa estrada da vida, foram arrefecendo e cedendo espaço para o carisma e para o talento, que lhe são natos, e que agora são evidentes, translúcidos, como a tez clarinha e os olhos faiscantes e verdes de Welton. Vendo-o hoje, liderando seus companheiros pelos palcos iluminados, fica mesmo difícil relacioná-lo ao rapazote envergonhado que tocava sozinho, no meio das árvores ou do mangueiro, e sonhava um sonho impreciso, formado por infinitesimais instantes de luzes dissonantes, gelo seco e aplausos. Muitos aplausos.

O serranopolitano Welton

“Venha pra dentro menino”, ralhava sua mãe, com candura, trazendo-o de volta para seus afazeres, tirando-o do enlevo em que estivera.
O mesmo instante onírico vivido na noite fresca de Serranópolis naquele dia três de maio, quando seus amigos, sua família, seus conterrâneos, sua gente enfim, o aplaudiu de pé, com os chapéus espalmados e com a alma sertaneja alimentada, com músicas que falam de amor, falam de saudade e falam até do Talhado. Que lá atrás, sereno e tranqüilo, por sobre o palco e sobre todos nós, pareceu vicejar atento às belas músicas feita por Welton e seus companheiros.
Se um novo tempo, de fartura e de progresso, parece, enfim, sorrir para nossa terra, com os exemplos fartos de prosperidade que grassam por todos os lados, em um ponto torceremos para que as coisas permaneçam imóveis, como a serra jamais esquecida. Que nunca percamos esse nosso jeito desconfiado, nosso jeito simples. E que nenhum tipo de progresso conspurque o que temos de mais valioso: nossa alma sertaneja.

Délio Pinheiro

P.S: Escrevi esse texto assim que cheguei de volta a Montes Claros, cidade onde moro. Assim que desfiz as malas recebi um e-mail do poeta Damião Cordeiro, dando conta de um texto que havia sido escrito por Welton sobre a mesma experiência: a gravação do DVD. Leia a seguir o texto belíssimo que revela muito do talento e da delicadeza de Welton Nogueira.


Jatobá

Nasceu no meio das serras, serras de pedras e pedras de serras. Jatobá floriu e virou Serranópolis só para ficar radiofônico. Porque continua o mesmo jatobá que me contaram. Conheci Serranópolis do mesmo jeito que é. Emancipou ganhou “de minas” no sobrenome, até sobrenome tem a terra que nasci e toquei boiadas.
Quando a conheci já era Serranópolis. Muitas vezes eu fui no “coméss” comprar farinha e farinha de trigo. Farinha lá é era a de mandioca. Hoje, farinha é farinha importada que dilacera as ventas e destrói os lares e corrompe as meninas...
Certas noites eu cantei para 6 pessoas (Valdi, Andio, Arlindo, Vanderlei Gato Preto e Zé de Agostinho). Cantei feito um passarinho fora do alçapão. Hoje eu cantei para seis. mas este seis tem zeros à direita. No momento que cantei a minha história me entalou um desgramado nó na garganta e eu vi várias pessoas na minha frente e no meu olhar desceu um véu de lágrima que me banhou a cara. Não pude segurar o pranto nem me contive a emoção, mas segurei o braço da viola e cantei feito um passarinho que escapou de alçapão no fim da tarde. Voei em pensamentos, lamentei e cantarolei na alma as cantigas de boiadas que tinham dó do carreiro de vida pesada.
O tempo põe de fato as coisas no lugar. Vi lá embaixo na platéia, rostos e bocas, sons e sonhos, vi minha maior riqueza cantando comigo. Família dom de Deus! No alto da plataforma montada, vi o semblante dos amigos cantadores e tocadores de sons e sonhos. Amei-os mais ainda. O vermelho no rosto me denunciava a emoção e o vexame. Câmera de TV! Quem diria que o pobre menino cantador das alterosas iria chorar diante das câmeras ao invés de apenas sorrir. Tem gente que achou bonito! Bonito? Bonito ficaria meu coração escondido entre os rios Gamela e Mosquito/Brutiá.
Mas a distância tramou a beleza do talhado com o vento soprando as telhas da fazenda Casa Velha. Chorar de novo! Tá ficando chato! Mas a emoção é coisa traiçoeira! O poeta deslumbra uns versos aqui e uns soluços ali. Naquele dia eu engoli pelo menos uns trinta “saluço”. Quando eu vi duas rosas maravilhosas cantando e sorrindo. Logo uma delas dormiu nos braços da minha amada. Filhos, dom de Deus!
O segredo de não chorar quando o caboclo escava as minas do seu viver ainda não me ensinaram. O céu ali é azul e a água é cristalina e a gente vê pureza no olhar a das minina. As alamedas das carreadas foram sendo desfeitas para dar passagem ao dono dos bois. O sol não nasceu mais cedo aquele dia por causa da meruégua! O cachorro dublê ficou na lembrança e vi velhos amigos corroídos pelo doce maldito néctar da cana. Cheiram cana. Respiram cana. Vi velhas amigas me olharem. Quase as chamei de vovós.
O sol da terra que eu nasci não adula “fidipob”. Envelhecem as senhoras e calejam as mãos das tardes. Naquele três de maio eu cantei tudo que os cantadores cantaram diante das mesas de leilão. Cantei a dor, cantei a flor, cantei a terra, cantei os bois, cantei o olhar da sertaneja vida.
Empunhei meu pinho chorador e solucei de verdade ao lembrar do couro que deixei nas lutas para a sobrevivência. Fazenda Casa Velha não traz apenas lembranças, traz dores, saudades e medo de passar fome de novo. Mas chorar faz parte deste projeto dolorido e sonhado por décadas.
O sertão tem um representante chamado “DVD ao vivo do Alma Sertaneja” gravado em Serranópolis de Minas /MG
O meu peito tem um representante. Um coração choroso pendurado numa saudade teimosa com sabor de quero mais...
Louca vida! Doce presente! Viagem de Matuto! Saudade Teimosa! Para ser caipira de verdade tem que carrear pelas últimas paragens. No meu sertão é assim. Pelas vazantes dos rios ecoam uma viola e uma saudade.
O que que é isso? Vem aqui cantar com o Alma e deixe a saudade teimosa da fazenda Casa Velha, dedilhando a viola, doce presente.
Não precisa mentir mais que bula de remédio para falar das paixões de verdade nem tampouco pisar miudinho. Hoje moro com a felicidade depois que a viola me deu seus olhos. Meu amor é assim, de fato, chão e raiz. Parei de falar me fugiu a inspiração...

Welton Nogueira

Mais uma foto da histórica apresentação do Alma Sertaneja em Serranópolis de Minas

posted by DÉLIO PINHEIRO 6:43 PM



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Quarta-feira, Abril 09, 2008



Nota do criador deste site:
Esse espaço dedicado a Serranópolis na internet abre suas páginas digitais para um escritor do município, o conhecido Oscarino, do Sanharol. Ele, em sua erudição de homem matuto, conta estórias de fatos incríveis acontecidos em Serranópolis. O texto de Oscarino, intrigante e criativo, não sofreu nenhum retoque desde que foi enviado para mim por seu filho Damião, que mora em São Paulo. O texto é criativo, autoral, cheio de licenças poéticas e sabedoria.
Portanto, boa leitura a todos. Àqueles que acreditam em assombrações e àqueles que acham que isso tudo é fruto da imaginação. Eu, particularmente, não acredito em lobisomens, mas que eles existem, existem. Délio Pinheiro

Distrito de Jatobá, em 1937


Histórias de Lobisomem

Serranópolis de Minas quando ainda distrito de Porteirinha era tão-somente, Serranópolis, e, dia primeiro, docemente: Jatobá. Uma currutela. (É, minha lembrança não esfarela substância amarelecida, é sempre jovem). Naquele tempo o nosso patrimonzim regado nos sulcos da tradição e da cultura era sempre povoado de estórias. Um sementeiro de estórias. As mais interessantes eram as de fantasmas: passagens de rio assombradas; causos de aparição nas estradas do Brutiá e do Sanharol; aparição no Poço da Sereia, no Talhado; a luz do Morro da Caretinha; do gritadô que assombrava cachorros e caçadores de tatu, dentre tantas outras. De todas essas estórias - ou histórias? Digo histórias porque muitas pessoas de bem, inclusive eu, afirmam ter avistado e vivido situações reais com fenômenos desta natureza - das conhecidas eis aqui algumas em destaques que hoje são alicerces para eu construir esta narrativa nada ficcional.
Os nossos antepassados contavam muitas estórias de lobisomem: bicho meio lobo, meio homem. Lobisomem: homem que tinha a sina de se transformar, principalmente na ocasião da quaresma. Animal possuidor de quartos traseiro altos, pêlos compridos e escuros, orelhas grandes e pontiagudas. Era comum encontrá-lo em cima de fornos de farinha comendo cruêra (resíduos da fabricação da farinha de mandioca, que, por grossos, não passam na urupema ou peneira) e atacando gatas e cachorras paridas de novo para comer filhotes. Esse costume batizou o danado de "cumedô de cachorro" e/ou “cumedô de cruêra”. É no terreno do real que vou edificar estas histórias, pois também sou testemunha ocular dos fatos aqui relatados. Levantados.

"O lobisomem é uma criatura mitológica nascida na Europa. É primeiro mencionado nos escritos de Petronius, na Grécia antiga. Como várias mitologias Européias, foi trazida para o Brasil com os imigrantes e adicionada ao folclore brasileiro"

Nas décadas de cinqüenta e sessenta quando vivi minha infância e adolescência acompanhei muitas histórias. Nessa época as pessoas tinha medo de sair de noite por causa de fantasmas, “prataforma”, como dizem nós catingueiros. Minha família morava arredada três quilômetros de Serranópolis, mais precisamente na fazenda Nova Escócia. De nossa casa à estrada que ligava o povoado e também à cidade de Porteirinha regulava ter uns cento e trinta metros. Naquela ocasião era comum ouvir de noite fuzuê de cachorros correndo atrás de um cachorrão fora dos outros. Alternadamente esse bicho esquisito ora dava uns grunhidos finos de cachorro pequeno, ora soava um tropel de touro enraivado pisando pesado. A gente ouvia o saltar dele para dentro de nosso quintal. O mais curioso é que ele não passava em encruzilhadas, desviava por dentro do mato, nestes locais.
Certo dia que choveu bastante e o rio Mosquito transbordou. À noite meu irmão mais velho nos disse que o lobisomem não ia conseguir atravessar. Coincidência ou não, daí alguns minutos o bicho arrotou valentia lá no terreiro de casa.
Outro fato que aconteceu comigo e com mais três irmãos, sendo um irmão mais velho com cerca de sete anos; uma irmã com doze e uma miucheca com apenas dois de idade. Nós voltava da casa da vizinha fincada à margem da estrada, que ficava na frente da nossa. A irmã pequena que ia carregada na cacunda da maior, disse um "nome feio". Minha irmã mais velha ralhou: se xingar o bichão pega. Ouvindo isso, meu irmão e eu ficamos com muito medo, pois já turvava, escurecia. De repente apareceu um bicho pintado, imenso, que deu uns grunhido assustador e correu atrás da gente. Minha irmã mais véia tentou desfazer da pequena para correr com mais agilidade, mas não conseguiu, pois essa a agarrou firmemente. Assim, a condutora, sem querer, viu-se obrigada a correr com nossa irmãnzinha na cacunda cerca de oitenta metros até chegar em casa. Ouvindo o alvoroço da meninada, nossos pais vieram ao nosso encontro para nos socorrer. O meu pai pegou uma espingarda polveira e minha mãe, um cacete e uma lamparina, para dar fim no tal bicho. Chegando no local do pampeiro, só encontrou os rastos dos filhos assombrados. Não havia nenhum sinal de animal diferente.
Tenho um irmão quando era recém-casado morava em Serranópolis e gostava muito de caçar tatu com um amigo. Ele era dono de dois primorosos cachorros tatuzeiros por nome de Dodge e Violento. No mato, munidos de habilidade canina, esses farejadores não perdiam uma só viagem. Certo dia, esse meu irmão vindo de uma caçada depois de separar do companheiro de aventura topou na praça escura de Nossa Senhora da Conceição um cachorro muito grande e estranho, fora dos outros. Indefeso, esse caçador solitário, desarmado pelo estranhamento e sem intercessão de santo, deu um grito "passa cachorro!". Ouvindo isso, o esquisito de corpo desajeitado trotou tranqüilamente rumo à igreja, saltou em cima do muro, olhou pra’trás e adentrou na casa santa, varando a porta que encontrava-se fechada. Desesperado, o meu mano saiu dispinguelado na careira para a sua casa. Não esperou sequer sua esposa abrir a porta da frente, espavorido, quebrou a tramela da janela num golpe e aninhou de bota suja e tudo. Até hoje me arrepio quando alembro do meu irmão contar a história. Nesta época que aconteceu este caso com o meu irmão, para estudar, morava eu com minha irmã casada, a poucos metros do mercado dos feirantes. Numa noite de breu, por volta das nove horas da noite, estava eu passando pelo fundo do mercado, de repente dei de testa com um cachorrão preto e muito estranho, fora dos outros. Ao perceber minha presença, o bicho foi saindo de fininho na direção do ri. Devido a minha simplicidade eu não esbocei nenhuma reação e nem tive medo algum. Quando eu já estava deitado para dormir, alembrei do acontecido e imaginei que o animal poderia não ser um cachorro. Foi aí que eu percebi que se tratava de lobisomem.

As travessias de rio, algumas encantadas

Certa vez, a cerca de um quilômetro de Serranópolis, mais precisamente na fazenda Bela Vista, próximo de uma olaria, um jovem andava numa noite escura, num caminho rumo ao “Cuméss”, quando apareceu um bicho muito estranho em sua frente. Para se defender o jovem desembainhou um punhal. Com esta reação, o animal atacou-o e o jovem teve que lutar bravamente, e quando a agarrar o fantasma só sentia nas mãos os cabelos grossos e crespos do animal. Depois de muito lutar em vão, o jovem pediu ajuda a Deus e o bicho desapareceu deixando-o cansado no local da luta.
Em outra ocasião, na quaresma, aconteceu um episódio muito triste com uma família vizinha. Essa possuía uma cachorra parida e certa noite quando a casa já dormia houve um tremendo barulho que acordou a todos. Tinha algo atacando a cachorra e suas cria. A dona da casa que sabia umas orações fortes, com dois filhos armados com cacetes de pau de fumo, atacou o bicho com pauladas e o matou. Depois do bicho morto, a família para saber do que se tratava, alumiou-o com luz de lamparina e descobriu que o tal tinha uma aparecença de cachorro e também de homem. Amedrontada, ela enterrou o estranho antes de descoser a barra dia para que o acontecido não viesse à luz do conhecimento da vizinhança. esforço inútil, pois a mesma deu com a língua nos dentes esparramando o ocorrido para todos nós ribeirinhos mosquitenses.
Havia um amigo meu que tinha vivido comigo a infância, adolescência e juventude, nos momentos mais importantes de nossas vidas. Certa noite de zumbi, na quaresma, quando ele voltava de Serranópolis enforquilhado em seu Petisquim, após a passagem de Joaquim de Cláudio, no ri Mosquito, encontrou uns amigo parados no meio da estrada com uma rural quebrada. O cavaleiro parou um tiquím para um dedim de prosa, mas foi breve, segui viagem. Logo adiante assuntou uma trovoada de cachorro que em pouco tempo avolumava, vinha vindo ao seu encontro. Como ele já imaginou que poderia ser cachorros atacando lobisomem, foi logo encostando seu pangaré dum lado da estrada para que a caravana pudesse passar sem perturbá-lo. O observador percebeu que na frente dos cachorro ia um cachorrão imenso, fora dos outros, muito cansado, arfava, roncava... Passando aquela tribuzana toda, o cavaleiro alembrou dos colegas que ficaram lá atrás com o carro enguiçado, mas, sem aptidão psicológica para acudir qualquer espécie de cristão, pensou na possibilidade do bicho voltar para pegá-lo, então, achou mais seguro tirar seu cavalim da chuva da coragem, riscá-lo de esporas e foi baixar na sua casa sem olhar pr’atrás.
Outro caso aconteceu na vizinhança de Serranópolis. Era noite escura de sexta-feira, na casa de uma senhora, quando esta saiu no terreiro percebeu que tinha um cachorro, fora dos outros comendo um couro de boi que estava esticado para secar. A senhora pegou uma esculateira d’água fervendo e jogou em cima do animal que saiu desesperado e ganindo de dor, de um jeito meio esquisito. Rompeu poucos dias, e a senhora que já sabia do boato que seu vizinho virava lobisomem na quaresma foi lá buscar umas roupa para lavar, pois dele era lavadeira encontrou o infeliz prostrado, perrengue mesmo. Ele disse para a visita indesejada que um dia facilitou com uma esculateira d’água pelando, e, e... por isso estava ali com os quartos em carne viva. Rüim-rüim...

Histórias que Oscarino conta

Em Serranópolis quando já possuía luz elétrica, um dia de noite, uma outra irmã minha acordou com um aranzé de cachorro. Ela abriu a janela avistou um bicho acuado, muito feio, sentado em frente da casa do vizinho, rudiado por uma cachorrada. Minha irmã observou, fechou a janela e deitou-se novamente. Mais tarde voltou espiar, o cachorrão estava mais adiante, na esquina da rua. Aqui em Serranópolis era assim. Simplesmente. Os rapaz não se cansavam de cercar esse bicho nas ruas e até recantiá-lo em cantos de muros e de jardins, como aconteceu um dia na casa de um parente meu.
Não dou minha construção por acabada, pois há sempre um reparo aqui, outro, acolá. Esta minha narrativa fragmentada em pequenos blocos de parágrafos é o que de mais misterioso apareceu por aqui neste ermo de sertão: Serranópolis e redondeza. Se alguém tiver o interesse de construir uma obra nos moldes desta, é só fazer alguns levantamentos históricos c’uns mais véio de sua região que com certeza encontrará muitas histórias riquíssimas que dão liga, e aí ó, mão na massa!

Oscarino Aguiar Cordeiro
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Sexta-feira, Março 28, 2008


Um pedaço do paraíso

O sol desperta com sua força descomunal e avança pelos vales, montanhas e rios do continente em uma fração de segundos. Sua luz encontra as pedras da imensa serra ainda frias da noite misteriosa que, ao contrário da urgência do mundo, vai sendo modificada aos poucos pelo sol, revelando suas belezas, seus rios de água pura, seus vales e suas cachoeiras. Também clareia a fé de seu povo e as belas paisagens que são, talvez, a maior prova que este Deus existe. E, mais do que isso, está presente, como o sol que dá vida à imensa serra do Talhado, que se descortina e se mostra sem pudores.
Cada planta e ser vivo é tocado pela centelha de energia, e adquirem à seu tempo e à seu modo, a claridade renovadora da manhã. O dia nasce primeiro na face oriental da barreira de pedra e só depois de alguns minutos o astro-rei desponta por sobre o paredão e dá vida às planícies, com suas cidades, fazendas e gente apressada, que assistem involuntariamente à um pequeno milagre, o nascer do dia neste canto abençoado de Minas Gerais.
Estamos no município de Serranópolis de Minas, no norte do estado de Minas Gerais, a pouco menos de 200 km da maior cidade da região, Montes Claros. E ainda mais perto do estado da Bahia. A influência baiana é bastante notada, já que alguns dos primeiros moradores do antigo arraial de Jatobá, antigo nome de Serranópolis, vieram do estado vizinho e fincaram suas raízes protegidos pela sombra da imensa serra. A dolência baiana e a esperteza mineira parecem ser as qualidades mais aparentes dessa gente serranopolitana, meus semelhantes.
Nenhum lugar no mundo me causa tanta emoção quanto Serranópolis e é lá que pretendo encerrar, algum dia, meu ciclo de vida. Mas isso, é claro, vai demorar muito. Até lá, enquanto estiver enfrentando os desafios da vida, levarei comigo a certeza que terei esse recanto, sempre com sua imensa serra à emoldurá-lo, à minha espera, tanto para cicatrizar as dores do mundo quanto para me deliciar com o mais belo nascer do sol, aquele que surge por detrás da serra do Talhado e dá vida ao norte de Minas Gerais. E, por que não, ao mundo.
posted by DÉLIO PINHEIRO 5:44 PM



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Sábado, Março 01, 2008


A maior festa da história de Serranópolis de Minas

No último dia 23 de fevereiro uma multidão esteve em Serranópolis de Minas. O motivo para tanta presença popular foi a inauguração do moderno centro administrativo da cidade. E para tornar a festa inesquecível não foram poupados esforços por parte da administração pública, na figura do prefeito Pipiu e de toda a equipe que organizou uma data que, certamente, ficará na história da jovem cidade.
O clima durante todo dia foi especial. Já nas primeiras horas do dia um portentoso trio elétrico estacionou na praça principal da cidade e comerciantes de fora do município montaram barracas de jogos e de comida em um movimento só comparável a algumas festas tradicionais de maio ou setembro.

O imenso trio ainda em repouso:


A expectativa era de um grande público, mas o que se viu na noite nublada de 23 de fevereiro foi além de qualquer prognóstico otimista: A praça ficou apinhada, com aproximadamente 10 mil pessoas.

Fotos da solenidade:

A programação da festa começou com uma solenidade de inauguração na parte externa da moderna prefeitura, tendo como Mestre de Cerimônias o jornalista Délio Pinheiro, filho da cidade.
O prefeito Pipiu mostrou seu prestígio quando se formou o dispositivo de honra em frente à novíssima prefeitura, já que vieram prefeitos de outras cidades da região, com destaque especial para os prefeitos de Porteirinha, Janaúba e Pai Pedro. Dois deputados votados em Serranópolis na última eleição também compareceram: Sávio Souza Cruz e Paulo Guedes.

O dispositivo de honra:

O Deputado Sávio disse, em seu pronunciamento, que a prefeitura só poderia mesmo ser construída na principal praça da cidade: "A casa do povo está construída em frente à casa de Deus, e é assim que tem que ser", afirmou o parlamentar. O prefeito de Janaúba, Ivonei Abade, afirmou que não tem nenhuma sede administrativa parecida na região: "Eu venho de uma cidade de 70 mil habitantes onde construí uma nova prefeitura, mas ela não pode ser comparada com essa feita aqui em Serranópolis", disse Ivonei.

A moderna prefeitura:

Os benefícios não são apenas na área urbanística, já que a cidade ganhou o seu mais belo prédio com a construção do centro administrativo. Outra vantagem, apontada pelo prefeito Pipiu, é que a cidade economizará em torno de R$ 15 mil reais mensais com aluguéis. A nova sede do executivo abriga em seu interior todas as secretarias do município e ainda reservou um lugar de honra para a excelente biblioteca pública, que conta com mais de 2 mil livros novos.
Em seu emocionado depoimento, o prefeito Pipiu se lembrou do pai, o ex-prefeito Aveny Ribeiro, já falecido. O prédio administrativo foi alcunhado de "Centro Administrativo Aveny Ribeiro", numa justa homenagem ao primeiro prefeito que a cidade teve.
Todos os vereadores também puderam manifestar suas opiniões na solenidade, em breves pronunciamentos. Até mesmo uma adversária política do grupo do atual prefeito, a ex-prefeita Laury Moreira, teve oportunidade de falar, numa demonstração de democracia e civilidade do prefeito Pipiu que merece ser registrada.
Depois dos pronunciamentos foi feita a benção do prédio pelo diácono de Porteirinha que, ao espergir a água benta nas instalações, rogou a Deus para que os destinos da cidade e o futuro dos serranopolitanos
sempre recaiam sobre homens públicos respeitadores e honrados.

Nossa querida cidade:

Logo após o corte da fita e o descerramento da placa comemorativa, as portas do prédio foram abertas para a população. O moderno prédio então se revelou aos olhos dos moradores da cidade e dos milhares de visitantes que lá compareceram. "Não imaginei que fosse tão bonito", era um dos comentários mais comuns entre os visitantes.
Mas a festa estava apenas começando. Depois da parte solene todas as atenções voltaram para o enorme trio elétrico, o maior que já foi em Serranópolis. As atrações também foram bastante gabaritadas. A noite foi aberta com o grupo Pisadão da Pancadinha, de Montes Claros, e a grande atração da noite foi o Batukerê, atração de renome nacional, que levou seu axé e simpatia aos serranopolitanos e visitantes.

Batukerê na praça:

O público recorde:

Nos intervalos dos shows foi realizado o sorteio do IPTU Premiado, que presenteou cidadãos serranopolitanos em dia com o tributo municipal com DVDS players e TV de 29 polegadas. Também foram exibidos dois videos, um que mostrou as ações da administração municipal e outro que mostrou à multidão as belezas naturais de Serranópolis. O último video faz parte de um projeto idealizado pelo comerciante Almir Alves, que traz fotos e videos da cidade.


Video que foi exibido na praça

A noite se completou com o mais belo show pirotécnico que Serranópolis de Minas já viu. Fogos multicoloridos iluminaram os céus da jovem cidade enquanto as bandas tocavam no alto do trio, numa festa que demorará muito para ser superada.

posted by DÉLIO PINHEIRO 9:29 PM



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Quarta-feira, Janeiro 30, 2008



O asfalto chega a Serranópolis

Novos videos:

Parque Estadual do Talhado


Fazenda Casa velha- Alma Sertaneja
posted by DÉLIO PINHEIRO 9:10 AM



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Domingo, Dezembro 02, 2007
Dicas para um bom turista:






posted by DÉLIO PINHEIRO 1:11 PM


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Terça-feira, Novembro 20, 2007


É hora de proteger o Talhado

Na manhã quente do último domingo a expectativa em Serranópolis de Minas era em torno da chegada da expedição “Caminhos dos Geraes”, quando uma frota de veículos portentosos traria para a cidade turismólogos, biólogos, jornalistas e outras pessoas interessadas no mapeamento de nossa realidade ecológica, assunto freqüente em tempos onde o “aquecimento global” ganha destaque em todos os jornais.


Desde a noite anterior, eu e uma turma de familiares e amigos, estávamos acampados na entrada da serra, onde os expedicionários chegariam no dia seguinte para começar uma caminhada pelo canyon do Talhado, no município de Serranópolis de Minas.
A noite de acampamento no sopé da majestosa serra foi das mais aprazíveis, apesar da imediata constatação da presença de muito lixo naquele lugar tão belo. Na noite que passamos lá fizemos nossa parte para não agravar aquela situação. Guardamos todo o lixo produzido no acampamento e no final de nossa estada o levamos conosco, como a mais elementar das cartilhas do bom turista preconiza.


No dia seguinte, quando o sol despontou por sobre a barreira de pedra, a situação que presenciamos foi bem diferente daquela que vivemos durante a noite. A tranqüilidade foi substituída por graves ofensas à natureza. A quantidade de turistas que apareceu por lá na manhã ensolarada foi totalmente desproporcional ao clima de descanso e tranqüilidade que o ambiente sugere. Era possível contabilizar mais de uma centena de visitantes, em um local onde não se via nenhuma lixeira e nenhum tipo de fiscalização, que impedisse as cenas de descaso que pude visualizar in loco.
O lixo desses turistas, com honrosas exceções, era jogado em qualquer lugar. Até mesmo latinhas vazias de cerveja eram arremessadas diretamente no rio Mosquito, onde eram levadas pelas águas até encontrarem abrigo em algum recôndito cantinho, entre as águas e os seixos.
Algumas senhoras, aproveitando os ônibus apinhados de gente, levaram suas roupas sujas para serem lavadas lá mesmo, naquele santuário ecológico que está cotado para se transformar em Parque Estadual, como deseja o idealizador da expedição “Caminhos dos Geraes”, Paulo Ribeiro, que até aquele momento ainda não havia chegado ao Talhado.

Flagrantes de desrespeito à natureza:

Como se não bastasse a poluição do rio e das margens com sacos plásticos, garrafas vazias de bebidas e toda sorte de lixo esquecido pelos péssimos turistas que passaram por lá, percebi que outro tipo de desrespeito acontece sistematicamente nos fins de semana do Talhado: As competições de som automotivo. Neste dia dois proprietários de carro disputavam a primazia de empurrar para todos os freqüentadores da serra seus lamentáveis gostos musicais, já que o metié sonoro incluía músicas de baixíssimo calão, sem nenhuma exceção. Vale lembrar que lá é um local onde animais silvestres vivem, e esse tipo de poluição, a sonora, também é condenável.
Acrescente-se a essa descrição de ambiente, que em pleno paraíso ecológico remete ao inferno sonoro de Dante, o fato de não haver um único local no Talhado onde os freqüentadores possam esvaziar-se das delícias de nossa culinária geraiseira, como os pratos feitos com pequi e os generosos nacos de carne que são assados em disputados churrascos à beira-rio, e temos a cena completa de um dia no paraíso profanado do Talhado.
Por volta das 13h30 finalmente a expedição chegou ao sopé da serra. E dos veículos desceram os expedicionários que estavam ali para conhecer as belezas do Talhado, um tanto quanto prejudicadas pela maior seca dos últimos trinta anos, que estamos tendo o desprazer de vivenciar. À frente da expedição, como guia, estava meu pai, o comerciante de Serranópolis, Almir Alves, maior defensor da serra, mostrando o enorme canyon para os visitantes de Montes Claros, que ali estavam para ajudar Serranópolis de Minas a se desenvolver, criando meios para que o Talhado se transforme no mais novo Parque Estadual de Minas.

A monumental Serra do Talhado

Ao mesmo tempo em que percebo que existem iniciativas nobres como essa sendo postas em prática, também noto que as próprias pessoas de Serranópolis ainda não possuem consciência ambiental devidamente desenvolvida a respeito da necessidade de se proteger nossa maior riqueza.
Chegou a hora de a população vestir a camisa de defensor do Talhado, e instruir os turistas, que cada vez mais freqüentam aquele lugar, a levarem todo o lixo que produzirem para suas casas, protegendo não apenas a entrada do canyon, mas todo o Talhado, onde podemos encontrar cachoeiras lindíssimas, pinturas rupestres de milhares de anos e outras atrações singulares que, em virtude do pouco tempo que dispunham, os expedicionários não tiveram a oportunidade de conhecer.

Os turistas que aqui chegarem serão sempre vindos, mas eles precisam proteger nosso paraíso, assim como fazemos

Ao contrário do que foi dito aos expedicionários, a prefeitura de Serranópolis não recolhe o lixo toda semana no Talhado, muito pelo contrário. O lixo que lá estava era de muitos meses. A população é que tem que ficar atenta, porque diante do descaso das autoridades, é preciso que nós tomemos conta de nosso maior tesouro, que poderá representar a redenção econômica de Serranópolis com a exploração sustentável do turismo ecológico, e não esperar somente pela ajuda que vem de fora, como a valorosa expedição “Caminhos dos Geraes”, que levou esperança ao nosso belo e judiado cartão postal.
posted by DÉLIO PINHEIRO 11:24 PM



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Segunda-feira, Outubro 08, 2007
Características de Serranópolis de Minas:

Altitude: 621 metros acima do nível do mar
População: 3979 habitantes, segundo censo de 2004
homens......................... 2.002
mulheres....................... 1.977
densidade populacional..: 7,17 hab/km2


Indicadores:

IDH 0,655 PNUD/2000
PIB R$ 8.634.969,00 IBGE/2003
PIB per capita R$ 2.199,43 IBGE/2003


N° de escolas existentes no ensino fundamental:
Municipais: 8
Estaduais: 1
Área total do município: 555,0 km²
CEP: 39518-000
Temperatura média anual: 24° C
Índice médio de chuva anual: 827,7 mm
Adoção do nome e emancipação: 1995 (Lei 12.030, de 21/12/1995)
Criação do distrito: 31/12/1943
Denominações anteriores: Serranópolis, Jatobá
Adjetivo pátrio: serranopolitano
Município de origem: Porteirinha
Municípios limítrofes: Porteirinha, Riacho dos Machados e Rio Pardo de Minas

Desfile de sete de setembro da Escola Estadual Ananias Alves

Procissão de fé
posted by DÉLIO PINHEIRO 10:32 PM


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Domingo, Outubro 07, 2007



Um pouco da história do Talhado e de Serranópolis de Minas:





Vegetação, fauna e formação do Talhado

A vegetação da Serra do Talhado é extremamente variada e possui um grau de endemismo muito grande, ou seja, algumas espécies só existem na região da Serra do Espinhaço, onde se localiza o Talhado. Além disso, a região abriga a mais extraordinária amostra de campos rupestres do Brasil.

A flora rica do Talhado:




Algumas atividades extrativistas são desenvolvidas na serra. Moradores de Serranópolis se deslocam até lá para colher pequi, condombá, que é uma uma raiz usada para acender fogão a lenha e Sempre-Viva, uma planta usada em decorações de ambientes.

As Sempre-vivas

A fauna da região é muito vasta, porém pouco conhecida. Possui também alto grau de endemismo entre insetos e anfíbios. Abriga ainda várias espécies ameaçadas de extinção, como: lobo-guará, cachorro-do-mato, micos, tucanos, jacú, paca, melete, tamanduá-bandeira, teú, veado-campeiro, onça-parda e gato-maracajá.

Dois exemplos da fauna:


A história geológica da região é bastante antiga, datando do período Pré-Cambriano. Os quartzitos, rochas arenosas predominantes na serra foram formados por depósitos marinhos há cerca de 1 bilhão e 700 milhões de anos. Depois do afastamento das águas e soerguimento das montanhas formou-se a Cadeia do Espinhaço. A alteração das rochas deu origem, no Cretáceo, aos solos hoje ocupados pelos cerrados, campos rupestres e matas de galerias.

Belas formações rochosas:



posted by DÉLIO PINHEIRO 11:24 PM



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Sexta-feira, Outubro 05, 2007


As belezas naturais de Serranópolis de Minas

Serranópolis de Minas poderia ser apenas mais uma cidade do norte do Estado, com problemas e características típicas das pequenas cidades da região. Mas existe um grande diferencial em Serranópolis, a sua imensa vocação para o turismo. Existe no município algumas das paisagens mais belas criadas pela Serra Geral, que corta boa parte do país. São dezenas de nascentes d’água, rios, cachoeiras, picos altíssimos e belas formações rochosas, que enchem os olhos dos visitantes.
Nas imediações de Serranópolis de Minas tem uma bela barragem construída pela CEMIG, que tem o objetivo de perenizar o rio Mosquito, que deságua no rio Gorutuba. Dois rios que pertencem à bacia do São Francisco.

Barragem do Rio Mosquito

Na barragem e na serra é possível explorar racionalmente o turismo, pois a região oferece a prática de diversos esportes, como trekking, rapel, escalada, montanhismo, corridas de aventura, jet ski, mergulho e outros. E pode também oferecer passeios a cavalo e caminhadas pela trilha que atravessa o Talhado.

O Talhado e sua vocação para a aventura

A cidade não conta com estrutura turística. A inexistência de hotéis e restaurantes é um grande empecilho para a realização desta atividade. Isso se deve, principalmente, à falta de ação das administrações municipais nessa área, que poderia representar a redenção de Serranópolis de Minas, que conta com índices irrisórios de desenvolvimento turístico.
Quando se fala em explorar o turismo, tem que se ter em mente que esta exploração precisa ser auto sustentável. É preciso proteger a serra da ação dos vândalos que provocam incêndios e deixam lixo por onde passam.

A fazenda centenária de Zizi Aguiar

A primeira iniciativa seria a criação de um parque ambiental que pudesse abranger a região da serra e pudesse proteger suas riquezas ambientais, com a presença de guardas e de guias treinados para conduzir os turistas pelas diversas atrações do local. Essa atividade, além de propiciar a criação de empregos para pessoas do município, também asseguraria a preservação do Talhado e a segurança dos visitantes. Enumerar as diversas atrações da Serra do Talhado é uma missão difícil, pois a região é muito extensa, mas alguns destinos são absolutamente imperdíveis para os amantes da natureza.

A bela barragem do rio Mosquito, que fica próxima da serra, propicia uma visão inesquecível:

A travessia do enorme canyon por onde o rio Mosquito corre também é uma experiência singular. Dois enormes paredões guiam os turistas através de uma trilha íngreme em meio a uma mata nativa, e a presença do rio, com inúmeras pequenas cachoeiras, formam a paisagem, que parece nos transportar para um jardim do éden:

A caminhada de meia hora pelo Talhado leva o visitante até o local onde estão duas grutas em homenagem à padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. A primeira imagem da santa foi levada por meu pai, o comerciante Almir Alves Pinheiro, no ano de 1980.

Desde então criou-se uma peregrinação anual até o local sempre no dia 12 de outubro. No local tem também um cruzeiro e uma mina d’água, que alguns visitantes acreditam ter propriedades medicinais pelo fato de ter sido benzida pelo padre Rocha no dia 12 de outubro de 1980, quando a imagem da “Padroeira do Talhado” foi levada para a serra.

Depois do local onde estão as grutas, a caminhada ainda reserva mais surpresas como o Poço da Sereia. Onde, segundo a lenda, mora uma mãe d’água.

O local é lindo. Trata-se de uma enorme piscina natural com águas escuras e com muita profundidade. Na margem direita do poço existe um pequeno riacho, chamado de córrego da Água Branca, basta segui-lo e, em menos de 5 minutos, se chega a uma cachoeira lindíssima, conhecida por Cachoeira da Esperança. No tempo das chuvas esta cachoeira oferece um espetáculo inesquecível. Continuando a caminhada por dentro da serra se chega ao local mais bonito do Talhado, as Sete Quedas, também conhecida como cachoeira do Bromado.
Uma série de belíssimas cachoeiras, no total de sete, formadas pelo rio Mosquito antes de fazer a curva que o conduz até o majestoso canyon:

Um pouco acima do Bromado tem formações rochosas muito bonitas e uma gruta, onde é possível entrar e contornar as rochas tendo como recompensa uma paisagem surpreendente.

Uma descrição apenas razoável poderia comparar o lugar a um vale lunar ou às formações típicas de oceanos. Estudos indicam que a região já foi um imenso mar à milhões de anos atrás. Talvez assim seja possível justificar a gênese destas formações exóticas.
Ainda nas proximidades do Bromado estão as pinturas rupestres que, segundo estudos, indicam ter sido feitas há pelo menos 5.000 anos atrás, por nossos antepassados. As pinturas mostram cenas do cotidiano destes moradores primitivos do Talhado, como caçadas, plantações e marcações de tempo:

Na serra ainda existe pelo menos mais um local onde é possível encontrar pinturas rupestres, na região conhecida por Vereda D’água. Mas é possível que ainda existam locais desconhecidos do homem moderno e que podem conter traços importantes da pré história. O ponto mais alto da serra no município de Serranópolis é o local conhecido por Pico do Sanharol, uma elevação rochosa que pode ser avistada de Serranópolis e de diversos pontos do município:

Outras atrações turísticas do município são: O rio das Patacas, a Cachoeira da Ventura e a ponte da Lagoa Grande, e a própria lagoa, que se localiza na propriedade de José Alves:

As opções são variadas e o grau de dificuldade para se chegar a estes locais também. Alcançar o cume do Pico do Sanharol ou um dos paredões do canyon é para poucos aventureiros, pois as trilhas, quando existem, são íngremes e as caminhadas podem durar horas. Em contrapartida, visitar a barragem ou o local onde se localizam as grutas da santa são programas divertidos e possíveis para qualquer pessoa que tenha disponibilidade para caminhar. Seja qual for o seu programa, lembre-se: você será sempre bem vindo se respeitar a Serra do Talhado. Por isso, não caçe, a não ser que você precise disso para sobreviver, não polua e não deixe lixo na serra. Traga-o de volta em sacos plásticos e o atire na primeira lata de lixo que encontrar. Somente respeitando a natureza é que poderemos preservar as belezas da serra para nossos descendentes.
O sol de pondo visto do alto do Pico do Sanharol, ou Pico do Bicão, como muitos o conhecem
posted by DÉLIO PINHEIRO 11:46 PM



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Quarta-feira, Outubro 03, 2007
O valente Rio Mosquito:

posted by DÉLIO PINHEIRO 10:07 AM


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Terça-feira, Setembro 18, 2007


A emancipação de Serranópolis de Minas

Comecei minha carreira no rádio trabalhando na FM Independente de Porteirinha. Foram dois anos de muito aprendizado. Eu comecei no final de 1993 e fiquei até o final de 95. E vivi muitas estórias interessantes nesse período de descobertas. A mais importante delas foi a que envolveu a emancipação de Serranópolis de Minas. Todo o processo de emancipação foi acompanhado por mim. Do início do sonho até o desfecho. Eu também ajudei para a realização deste projeto: transformar o então distrito de Porteirinha numa cidade.
Fatos curiosos envolveram o processo de gestação da cidade, que hoje continua sua vida, com seu povo trabalhador e festeiro. O meu interesse através desse texto é prestar uma justa homenagem aos homens e mulheres que lutaram para a realização desse sonho. E aguardar, esperançoso, que o futuro possa ser mais generoso com minha cidade no que diz respeito, principalmente, às administrações públicas, que precisam sempre respeitar a cultura e os interesses do povo.

Bela visão da praça

Muitas tentativas de emancipação aconteceram na história de Serranópolis, que, em outros tempos se chamava Jatobá. Sempre havia empecilhos que adiavam o sonho do distrito de se emancipar. Quando Porteirinha se tornou cidade, em 1938, Serranópolis dispunha de um comércio quase tão movimentado quanto o de lá. Os critérios utilizados na época valorizaram a estratégica localização de Porteirinha, localizada na rota que leva à Espinosa, que havia sido fundada 15 anos antes, já na fronteira com o Estado da Bahia.
Depois, em 1962, foi a vez de Riacho dos Machados ascender à condição de cidade e, mais uma vez, Serranópolis ficou de lado. Mudavam se os critérios a cada nova lei de emancipação, e, por um motivo ou outro, Serranópolis não lograva êxito em suas tentativas.
Em alguns casos, como na década de 1980, quando o prefeito de Porteirinha era o empresário Wilson Cunha, foram motivos pessoais que inviabilizaram o projeto. Meu pai, o comerciante Almir Alves Pinheiro, levou os papéis para o então prefeito, e este, ao ser informado que Sandoval Coelho, seu rival político, estava envolvido com o projeto, não quis apoiar o desmembramento, dizendo que não se poderia “dar asas a uma cobra”, se referindo à Sandoval. Este, por sinal, foi um dos grandes responsáveis pela emancipação que, finalmente, aconteceria em 1997.
Sinto muito orgulho de ter participado do processo de emancipação política de Serranópolis porque, pelo menos, três gerações de minha família também alimentaram esse sonho. Meu pai, Almir Alves Pinheiro, meu avô, Délio Pinheiro de Aguiar e também meu bisavô, o Coronel Ananias José Alves. Todos nós tivemos, em tempos diferentes, o mesmo objetivo, ver nossa querida Serranópolis promovida à condição de cidade.

A esquina de Maria de Aurindo

Depois de frustradas as tentativas anteriores, no ano de 1995 surgiu a possibilidade da emancipação através de um novo projeto federal. Uma das condições dessa vez, segundo a lei, é que o distrito deveria possuir um número mínimo de 3.000 habitantes e ter, pelo menos, 400 moradias em sua parte urbana. Os primeiros passos foram traçados pelas pessoas que abraçaram o projeto da emancipação: Alvimar Cardoso, Sandoval Coelho, Ramiro Ribeiro, Laury Moreira, Eilson Cangussú, Osmani Antunes, Aveni Ribeiro, além de meu pai, entre outros.
Para começo de conversa era preciso contar as moradias. Eu me ofereci para fazer este trabalho.
Numa bela manhã do ano de 1995 eu e Adival Cordeiro, pusemo-nos a contar, uma por uma, todas as casas de Serranópolis. Foram horas com a prancheta na mão. Lembro-me de que muitos curiosos perguntavam o que estávamos fazendo. Diante de nossa resposta, que estávamos trabalhando para emancipar Serranópolis, alguns riam. De certo imaginavam que isso nunca daria certo. Outros, no entanto, demonstravam otimismo.
E foi com muito otimismo que todas as etapas foram sendo vencidas nessa batalha pela emancipação. Quando eu e Adival computamos todas as casas, depois de contá-las uma por uma, tivemos uma decepção, Haviam 368 moradias.
Faltavam, portanto, trinta e duas para o número mínimo exigido por lei. Este foi um balde de água fria na disposição das pessoas que lutavam pela emancipação. Outra vez um detalhe burocrático vinha azedar os planos de uma comunidade inteira que sonhava com dias melhores.

Rua percorrida no sonho emancipacionista

O que poderia ser um entrave, no entanto, serviu de estímulo para aqueles que compunham a comissão informal da emancipação. A primeira providência foi considerar as casas existentes em um raio de um quilômetro como pertencentes à região metropolitana da futura cidade. Existiam 20 casas nestas condições. Ainda assim ficava faltando 12 casas para atender a exigência legal.
Osmani, Almir, Alvimar, além dos outros, resolveram construir as casas que faltavam. Um grande mutirão foi feito e todos colaboraram no que foi possível. Com dinheiro, com material de construção, com madeira e com transporte para levar essas aquisições.
Os donos dessas casas seriam pessoas humildes da comunidade. Um grande esforço foi feito porque era preciso obedecer os prazos previstos pela lei. Os tijolos e telhas comprados pela “comissão” começaram a chegar e as casas foram sendo erguidas.
A lista dos colaboradores foi extensa: Lia do cartório colaborou com 500 tijolos, meu pai com outros 1000, Odilon Antunes com 1500, Sandoval Coelho com 5.000. Vários sacos de cimento foram doados por Laury, Dãozão do Brutiá, Valdomiro Santos, Afrânio Pinheiro, Natalino, Zé Bagre, João Coragem, Zedey Ribeiro, Anelito e outros. Alvimar Cardoso deu 5.000 telhas, Aveni colaborou com madeiras de sua fazenda, Omir Antunes doou ripas e esquadrilhas, o pedreiro Valcir ofereceu seu trabalho para construir as casas. Contribuições em espécie também foram doadas neste processo que mobilizou toda a cidade. Zezé Cordeiro, José Carlos Aguiar, Ananias Pinheiro Alves, José Mendes de Aguiar foram alguns que desembolsaram somas consideráveis para o mutirão.
Mas o que mais chamou a atenção dos organizadores do mutirão foram as pequenas contribuições, na maioria das vezes de apenas R$ 1 real. Uma demonstração inequívoca de que a população de Serranópolis estava abraçando o projeto, movidos outra vez pela esperança. Badé, Zé Vermelho, Barnabé, Joaquim Teixeira, João Escurinho e outros tantos colaboraram, à seu modo, para o mutirão.


Gente serranopolitana

Alguns moradores não estavam entendendo aquela movimentação e começaram a pedir material de construção também, mas não por que precisassem de casas, mas sim para fazer muros, construir banheiros. Nessas horas era preciso agir com diplomacia, explicar as razões daquele esforço e que somente pessoas carentes seriam atendidas com as casas. Cada vez mais a população se convencia de que era possível realizar o sonho de tornar Serranópolis uma cidade. E o mutirão foi crescendo, mas o dinheiro era curto.
A criatividade foi colocada em prática nessas horas. Um bom exemplo foi o burro doado por Osmani Antunes, com o qual se decidiu fazer um bingo para arrecadar fundos para a construção das casas. Antes mesmo de marcada a data do sorteio, Dr. Edilson Villas Boas, então vice prefeito de Porteirinha, comprou o burro da “comissão” e tornou doá-lo para se realizar o sorteio. Vale registrar que esse bingo, na verdade, nunca aconteceu. Muitos eram os afazeres dos que estavam envolvidos com o projeto que o bingo foi sendo adiado e adiado.
Ao cabo de algumas semanas as casas estavam erguidas, e Serranópolis, que já dispunha do número mínimo de moradores, agora também tinha as 400 moradias exigidas pela lei. Tudo estava caminhando muito bem.
Desta vez, ao contrário de outros anos, houve muito interesse do então prefeito de Porteirinha, José Aparecido Martins, o saudoso Zé Bonitinho, em colaborar com a emancipação. A prefeitura da antiga capital mineira do algodão, inclusive, contribuiu com 5.000 tijolos e 20 sacos de cimento para o mutirão.

A entrada da cidade

Pelas exigências da lei era preciso fazer um mapa com a localização das moradias. Esse trabalho coube a meu pai que, apesar de não ser cartógrafo, fez um bom trabalho. Elogiado, inclusive, por Zé Bonitinho, que disse, quando examinava os papéis, que nem iria conferir o mapa pois, já que Almir o fizera, com certeza estava correto. E este foi um trabalho hercúleo, pois além de desenhar o mapa era preciso especificar os moradores de cada uma das casas.
Com todos os trâmites legais cumpridos foi marcado um plebiscito. A população de Serranópolis seria ouvida. As opções nessa eleição eram “sim” e “não” . A população iria decidir se queria que o distrito se tornasse uma cidade . No mesmo dia, outros dois distritos de Porteirinha também realizavam o referendo público, Nova Porteirinha e Pai Pedro.
A data foi estabelecida e o plebiscito mobilizou a população. Um novo desafio aguardava os serranopolitanos que, naquela manhã, nem desconfiavam do imenso esforço que os aguardavam.
A não obrigatoriedade do voto levou um número reduzido de eleitores à votação. Sandoval Coelho, no dia do plebiscito, mandou abater uma vaca e dois carneiros, e pessoas do distrito organizaram um desjejum para os eleitores, que, muitas vezes, saíam de zonas rurais distantes de Serranópolis.
Quando restavam duas horas para o fim da votação meu pai, Almir Alves, que nesse momento lia os estatutos, observou um item que previa a validação do plebiscito somente se 50% mais um eleitores votassem. Isso era grave. Meu pai deu o alerta: se não houvesse o quorum, nada feito.
Não houve tempo para abatimentos desta vez.

"...Meu pai deu o alerta: se não houvesse o quorum, nada feito"

Todos os envolvidos na emancipação se mobilizaram para buscar eleitores onde quer que fosse. Vários carros partiram em todas as direções do município em busca daqueles que não foram votar. Mesmo em Serranópolis os esforços foram multiplicados nas duas horas que restavam para o fim do plebiscito. Pessoas que se convalesciam de enfermidades eram convidadas para se deslocarem até o local da votação, o antigo mercado.
Pelos cálculos de meu pai eram necessários pouco mais de 120 pessoas para se obter quorum. Em alguns casos era preciso convencer as pessoas a se deslocarem de suas casas. “É pra Serranópolis virar cidade, se não for, não vira”, diziam os homens, levando em seguida para o mercado senhoras aposentadas, para as quais o voto era facultativo.
Uma hora depois os carros começavam a chegar trazendo famílias inteiras da zona rural e até mesmo de Porteirinha. Quando restavam menos de uma hora ainda eram necessários pelo menos 70 eleitores. A essa altura a tensão estava fortíssima. Bastava alguém se lembrar de uma família de alguma localidade que não havia aparecido para votar, que Alvimar e os outros, mandavam uma caminhonete para buscar. “Vá ligeiro”, gritavam. E os carros, de novo, iam buscar gente. E mais pessoas iam chegando para votar. Valmir Alves, Sídio, Ananias e tantos outros, corriam atrás de pessoas que ainda não haviam votado.
Eu me lembro de estar tão ocupado nessa tarde, atrás das pessoas para votarem, que ainda não havia me dado conta, que eu próprio, ainda não tinha votado. Eu corri ao local e cumpri com minha obrigação. A esta altura ainda faltavam uns vinte eleitores para votar.
A única pessoa, entre os que se dispuseram a ajudar desde o primeiro minuto, que não se mobilizou nesse esforço final para se obter o quorum, foi Aveni Ribeiro, que estava, vejam vocês, pedindo voto para a eleição que, se tudo desse certo, aconteceria no próximo ano. “Eu vou ser candidato na eleição e queria te pedir um votinho”, dizia Aveni, antes mesmo de Serranópolis se tornar cidade.

As festas e a religiosidade de nossa gente

Com a chegada dos carros finalmente o quorum foi conseguido. Em seguida houve uma grande confraternização entre as pessoas envolvidas no projeto. Agora era só esperar a confirmação que viria no mesmo dia.
Até aquele momento eu não supunha que seria o porta voz da melhor notícia que o povo de Serranópolis poderia ouvir em sua história. Logo após o término do plebiscito eu fui para Porteirinha. Eu tinha programa naquela noite na Rádio Independente FM. Assim que cheguei, o advogado Dr. Binha, meu ex-patrão, ligou para a emissora, já com o resultado dos plebiscitos dos três distritos: Nova Porteirinha, Pai Pedro e Serranópolis. Dr. Binha disse: “Délio, avisa aí que só Serranópolis virou cidade. Pai Pedro e Nova Porteirinha não conseguiram, essas não tiveram quorum.”
Antes de entrar no ar para dar essa notícia eu estava radiante de felicidade e, ao mesmo tempo orgulhosíssimo de meu pai, que com sua curiosidade permitiu a Serranópolis passar sem problemas por esse plebiscito. Eu dei a notícia na rádio com toda a alegria do mundo parabenizando o povo de Serranópolis, que agora havia se tornado legalmente uma cidade. Ao mesmo tempo eu estava consternado pelos outros dois distritos que, por certo, também mereciam a emancipação.
A razão de Serranópolis ter obtido êxito no plebiscito se deu porque foi observada a necessidade do quorum, detalhe ignorado nos outros dois distritos. Logo depois da notícia ter sido divulgada lembro-me que pessoas de Pai Pedro ligavam atônitas para a rádio, “mas como é que é isso?” Perguntavam desesperadas: “Só Serranópolis conseguiu?”

Serranópolis vista de muito longe, do espaço

O que aconteceu no resto daquela noite, em 1995, só é possível supor através de um exercício de imaginação, mas o fato é que no dia seguinte, pela manhã, os dois outros distritos haviam conseguido aprovar suas emancipações, mesmo sem atingir o quorum necessário previsto pela lei.
A pessoa que poderia explicar o acontecido, Dr. Binha, com quem eu tive a honra de conviver e que era advogado da prefeitura de Porteirinha, já não está mais conosco. O fato é que Pai Pedro e Nova Porteirinha, no dia seguinte, puderam fazer suas festas também.
Eu tenho uma teoria para o acontecido. Na minha opinião o famoso “jeitinho brasileiro” pode, muito bem, ter sido o responsável por esse feito.
Serranópolis e Pai Pedro se eqüivaliam na época. Tinham mais ou menos a mesma população e os mesmos indicadores econômicos e sociais. Nova Porteirinha, no entanto, era o mais próspero dos três distritos. Era mais rico e mais desenvolvido, pois parte do projeto Gorutuba de irrigação fica em seu território e, portanto, era dada como certa a sua emancipação.
Diante dessa informação é que o fato de Serranópolis ter conseguido em detrimento, principalmente de Nova Porteirinha, é que essa “solução” pode ter sido dada e os três distritos foram emancipados.
Ainda nessa linha de raciocínio é possível dizer que se não fosse pelo esforço dos homens envolvidos com a emancipação de Serranópolis, desde meu pai que deu conta que era necessário um número mínimo de eleitores, até os homens que disponibilizaram seus carros e seus esforços para buscar os eleitores, nenhum dos três distritos teria ascendido à condição de cidade.

A posse do primeiro prefeito, Aveni Ribeiro

Os votos favoráveis a emancipação de Serranópolis foram esmagadores no plebiscito. Foram 1319 votos no “Sim” e apenas 98 no “Não”. No dia 1o de janeiro de 1996 Serranópolis tornou-se oficialmente cidade. E já naquele ano elegia seu primeiro prefeito, Aveni Ribeiro, que já pedia votos mesmo antes da emancipação. Agora Serranópolis ganhava também um acréscimo em seu nome, passando a se chamar Serranópolis de Minas.

Quanto ao burro que seria sorteado no bingo, ninguém soube de seu paradeiro após a emancipação.

Nota: Muitas outras pessoas também ajudaram na emancipação. Não seria possível citar todas neste texto.
posted by DÉLIO PINHEIRO 12:57 PM












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==Geografia==
==Geografia==

Revisão das 16h45min de 9 de janeiro de 2009

Serranópolis de Minas
  Município do Brasil  
Hino
Gentílico Não disponível
Localização
Localização de Serranópolis de Minas em Minas Gerais
Localização de Serranópolis de Minas em Minas Gerais
Localização de Serranópolis de Minas em Minas Gerais
Serranópolis de Minas está localizado em: Brasil
Serranópolis de Minas
Localização de Serranópolis de Minas no Brasil
Mapa
Mapa de Serranópolis de Minas
Coordenadas 15° 49' 44" S 42° 52' 15" O
País Brasil
Unidade federativa Minas Gerais
Distância até a capital Não disponível
História
Fundação 21 de dezembro de 1995
Administração
Prefeito(a) Elpidio Ribeiro Neto
Características geográficas
Área total 553,103 km²
População total (est. IBGE/2008 [1]) 4,721 hab.
Densidade 6,9 hab./km²
Clima Não disponível
Fuso horário Hora de Brasília (UTC−3)
Indicadores
IDH (PNUD/2000 [2]) 0,655 médio
PIB (IBGE/2005 [3]) R$ 10.494 mil
PIB per capita (IBGE/2005 [3]) R$ 2 716,00

Serranópolis de Minas é um município brasileiro do estado de Minas Gerais.

História

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Fotos e fatos de Serranópolis e da Serra do Talhado.

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Domingo, Dezembro 28, 2008

2ª Expedição Caminhos dos Geraes - Impressões sobre o roteiro "Eta que quá"


“Leve protetor solar e se prepare para o calor sem água”, disseram uns amigos. Preveni-me e coloquei na mala uma sunga de banho. O que era para ser seco, transformou-se em mais de mil quilômetros de áreas de nascentes, cursos d’água e cachoeiras. Como sertanejo, poderia responder com um “Eta que quá” aos que me orientaram antes da Expedição, demonstrando com ironia que a imagem produzida por eles era mentirosa. Tudo bem, o filtro para raios ultravioletas valeu a pena.

A carona que peguei na garupa de Guimarães Rosa por um dos Caminhos dos Geraes passou por regiões altas, de chapadas e pedras. De Montes Claros a Montezuma, quase na Bahia, águas brotam desses altos morros da Serra Geral. Pelo caminho dela, os oito expedicionários de meu roteiro passamos por Capitão Enéas, Barreiro da Raiz, Porteirinha, Nova Porteirinha, Montezuma, Rio Pardo de Minas, Santo Antonio do Retiro, Mato Verde, Catuti e Serranópolis de Minas.

Dez municípios, que deveriam ser mais de vinte – caso tivéssemos cumprido o cronograma inicial –, mas que, apesar disso, se mostraram extremamente competentes para encantar quem vem das Minas. Os mesmos conselheiros do início do texto provavelmente pensavam no que eu poderia fazer num lugar que não tinha nada. Os menores distritos respondem a questão: “vem o ver o que temos de bonito”, forjavam bocas para dizer. E era mais ou menos o que a população deles falava para mim e companheiros do grupo “Eta que quá”. Ouvindo-os, reiteramos o sim para o convite já aceito quando Montes Claros chamou para a Expedição.


Entrada do Parque Estadual do Talhado

A região visitada, do começo ao fim, é de pobreza – não miséria –, de pequenos proprietários de terras, chão que vale quase nada. Por causa disso, a pressão sobre os trabalhadores rurais é grande. Derrubar mata nativa para finalidades diversas é forma fácil de dinheiro rápido. O produtor de Rio Pardo de Minas, Belarmino Alves Pereira, é enfático: “Quem consegue licença, corta para fazer carvão”. O grande número de caminhões carregados com esse material também indica sinal de alerta para o Cerrado, ameaçado também por aqueles que nem esperam a tal autorização dita por Belarmino. “Aí, de vez em quando, têm tudo apreendido pelo IEF [Instituto Estadual de Florestas]”, lamenta.

Na contramão da tristeza de Belarmino, por quem desmata e é apreendido, comemoramos a pontualidade dos problemas ambientais do roteiro “Eta que quá”. Os grandes desmatamentos estão localizados em outros pontos do Norte de Minas Gerais. Na região, exemplos de degradação foram estradas mal-feitas, erodindo e arriscando córregos de acabarem assoreados e lixo nas cachoeiras. Ou seja, casos menores frente a real ameaça de destruição da biodiversidade pelo corte de mata nativa.

E são as pequenezas dessas destruições que fazem dos municípios do roteiro impressionantes em belezas naturais. São locais de difícil acesso, com estradas ruins e quase ausência de infra-estrutura para receber visitantes, a despeito da receptividade das comunidades. “Cidade sem Coca-Cola é cidade isolada do mundo”, advertiu o expedicionário fotógrafo, Franco Bubani, denotando um dos problemas para o turismo regional. Nas palavras de um dos ciclistas que participaram da Expedição, e estudante de turismo, há o atrativo turístico, mas ainda falta o produto.

É exatamente aí que os municípios deverão trabalhar para atrair visitantes e acabar de uma vez com o estigma de quem me alertou antes da viagem. Isso porque o Norte de Minas não é lugar que não tem nada, e não precisa ser conhecido, como muitos acham. Trata-se, de fato, de um lugar que precisa de políticas de turismo – que passa pela construção de infra-estrutura básica –, aliadas às de preservação do meio ambiente, ainda conservado em muitos pontos. E talvez tudo isso esbarre no problema da educação, que deve ser melhorada em toda região, como nos informou o secretário municipal de meio ambiente de Montes Claros, Paulo Ribeiro.

O potencial de Montezuma, por exemplo, de ser uma espécie de Rio Quente norte-mineira, com águas mornas, entre 38ºC e 40ºC, que brotam da terra, pode ser explorado caso haja um hotel bem cuidado. Rio Pardo de Minas pode se mostrar como produtora de cachaça mais expressivo que Salinas. Aliás, com a criatividade e o exotismo de um produtor, senhor Osvaldo, que levou encanada para sua casa a aguardente que fica pronta no alambique. Serranópolis de Minas tem de se preservar para contar a história do “laço húngaro”, feito pela Coluna Prestes nas tropas governistas, passando por um talho na Serra Geral, coberto por vegetação e ostentador de cachoeiras; região não por acaso conhecida como Talhado.

E esses são apenas exemplos do que pode ser mostrado pela região que chamei de Circuito das Águas do sertão norte-mineiro. De verdade, Cambuquira, São Lourenço, Baependi, Lambari e Caxambu podem conversar direto com os municípios de “Eta que quá” para encorparem, apesar da falta de contigüidade física, o marketing turístico.

E tal marketing, publicidade, deve entrar com o produto turístico, dito pelo ciclista. Tanta área preservada em uma região pressionada pelo carvão – nas estradas, caminhões incontáveis com florestas queimadas em suas carrocerias compõem a paisagem da Serra Geral – pode permanecer assim caso sejam criadas unidades de conservação – UCs.

Uma delas pode já aparecer como resultado da Expedição. Paulo Ribeiro é quem dá a palavra: “A região do Talhado tem que vai virar Parque Estadual. É uma área de terras devolutas, do Estado e, as que não são, têm baixo valor. Por isso, não é difícil ter uma UC com situação fundiária regularizada e com cidadãos de Serranópolis trabalhando nela”.

A posição de Paulo junta-se, em coro, com a da superintendente executiva da Amda, Maria Dalce Ricas. Ao reportar a ela o que expus neste texto, a resposta foi imediata: “Tem que se criar Parques para proteger a região!” E é assim mesmo, porque somente o trabalho de fiscalização de órgãos públicos de meio ambiente não dá conta de segurar o avanço sobre a mata nativa. E enquanto a população regional ainda sofre com o problema da educação, mostrar-lhes o caminho da preservação como sinônimo de dinheiro, com uso sustentável e turismo, é boa solução. Talvez com os Parques, Riobaldo e Diadorim poderão passear, e guerrear com jagunços, com “tranqüilidade” nas páginas de Rosa, que garupa mais agradável não podia oferecer.

Álisson Coutinho - Assessor de Imprensa da Amda, expedicionário do "Eta que quá" posted by DÉLIO PINHEIRO 12:57 PM


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Quarta-feira, Julho 30, 2008

Espaço criado para os escritores de Serranópolis. Clique aqui para conhecer

Serra do Talhado, nos confins da História do Brasil.

“As tradições sertanejas são tristes e saudosas migalhas de um passado de sofrimentos, risos misturados de lágrimas, misto de prazeres e dores atrozes”. Urbino Vianna- Monografia de Montes Claros. 1915


No ano de 1553 partiu da província de Porto Seguro uma comitiva de 13 homens que tinham dois objetivos. O maior deles era de ordem comercial e consistia em descobrir novas minas de ouro no que hoje compreendemos como o Estado de Minas Gerais, mas que na época não passava de terras inóspitas, nas quais índios que chegavam até Porto Seguro, davam conta da existência de muito ouro. Movidos por essa promessa, o padre João de Aspicuelta Navarro, acompanhado de 12 homens, chefiados pelo espanhol Francisco de Espinhosa, avançou 350 léguas, “Sempre por caminhos poucos descobertos”, como relatou em uma de suas cartas o padre Navarro. O segundo objetivo era de ordem religiosa, já que o padre também pretendia levar a palavra de Deus aos povos infiéis que habitavam a região, os índios Tapuyas. Esta foi a mais remota visita do homem branco à região norte mineira. Muito tempo antes da expedição de bandeirantes paulistas, que oficialmente descobririam as minas gerais em 1674.

Na carta, destinada a seus colegas jesuítas, padre Navarro, faz uma descrição minuciosa dos hábitos e das paisagens que ele encontrou em suas andanças pela região. Em um ponto da carta ele cita que a comitiva atravessou “serras mui fragosas que não tem conto e tantos rios que em partes no espaço de quatro ou cinco léguas passamos cinqüenta vezes contadas por água”. Um outro trecho da carta divide os historiadores, pois o padre Navarro cita uma serra, na qual atravessaram em sua jornada. O local exato desta travessia nunca foi apontado com certeza por nenhum historiador. Desta forma restaram-nos as chamadas “Hipóteses” , como a do historiador João Capistrano de Abreu, que comenta em seu livro “Caminhos antigos e povoamento do Brasil”:

“Partiram de Porto Seguro e, como em país desconhecido seguir um rio é um meio de não se perder, provavelmente foram seguindo algum”. Na carta do padre Navarro, ele cita diversas vezes o rio Grande, que é identificado por Capistrano como sendo o rio Jequitinhonha. O rio que a expedição de Espinhosa teria margeado. “Depois de muito andar, chegaram a uma serra onde estão as cabeceiras deste rio e de um outro chamado de Orinas”. Capistrano de Abreu acha que este rio citado na carta do padre Navarro seja o rio Pardo, afluente do Jequitinhonha. “Esta serra corre de norte para sul, e deve ser umas das conhecidas pelo nome de serra das Almas, Grão Mogol e Itacambira. Daí partiram e foram ter a um rio muito caudal, chamado na época de Pará, que segundo os índios lhes informaram era o de São Francisco, ou mais provavelmente o rio das Velhas”. Capistrano sustenta que o local da travessia da serra tenha sido em algum ponto onde hoje se localizam Diamantina, Serro ou Araçuaí.

A descrição do padre Navarro é rica em detalhes, e são justamente estes detalhes que podem dar mais pistas sobre o local correto onde os primeiros homens brancos andaram há 450 anos atrás desbravando a nossa região: “Neste ermo passamos uma serra mui grande, que corre do norte para o meio dia, e nela achamos rochas mui altas de pedra mármore. Desta serra nascem muitos rios caudais: Chama-se um rio Grande e o outro rio das Orinas”.

A escassez de dados certamente contribui para as diversas opiniões sobre o itinerário da expedição que trazia os doze homens brancos que vieram descobrir as minas de ouro e o padre Navarro, que veio para “buscar tesouros de almas”, como escreveu seu contemporâneo, o padre José de Anchieta em uma carta ao prepósito da Companhia de Jesus em julho de 1554. João Pandiá Calógenas, Orville Derby, Antonino Neves, Urbino Vianna, além do já citado Capistrano de Abreu, defendem cada qual o itinerário que lhe parece mais certo. Por isso, o ponto da travessia da serra citada pelo padre Navarro, varia das proximidades de Diamantina e Serro, passando pelas imediações das nascentes do rio Itacarambiçu até nas proximidades de serra Nova, em rio Pardo de Minas. Dois estudiosos de peso sustentam que a expedição passou muito próxima ou talvez tenha alcançado a serra do Talhado, em Serranópolis de Minas. Segundo Francisco Lobo Leite Pereira, na Revista do Arquivo Público Mineiro de 1924, a missão de Espinhosa, da qual fazia parte o padre Navarro, após não encontrar a montanha de ouro, que fora prometida nos relatos dos índios que chegavam até Porto Seguro, abandonaram o rio Jequitinhonha e avançaram através do rio Pardo. Para Francisco Lobo, a travessia aconteceu em algum ponto entre serra Branca e serra Nova, o que inclui a serra do Talhado.

A hipótese que mais me encanta é a de Urbino Viana, que na Monografia Histórica de Montes Claros faz alusão à serra do Talhado, que fica localizada no município de Serranópolis de Minas. Na obra, escrita em 1916, Vianna diz que “A expedição, depois de atravessar o Pardo, inclinou para o sul, fraldejando a serra Geral, ou pelos seus espigões mais acessíveis onde viu rochas mui altas de pedra mármores, com toda probabilidade na parte conhecida hoje por serra Branca, um dos contrafortes da serra Geral, distante dez léguas da cidade de Rio Pardo”. Levando-se em conta esta hipótese, a bandeira pioneira de Espinhosa andou pelas terras onde hoje se localiza Serranópolis de Minas, que é citado no estudo de Urbino Vianna, que cometeu um pequeno equívoco com relação ao nome do rio, que ele cita como sendo o rio Serra Branca, mas que na verdade era o rio Mosquito. “As águas do serra Branca são negras, não sendo, porém, de mau paladar. Tem suas nascentes no lugar chamado Serrado, na serra Geral, abaixo duas léguas de Jatobá, pequeno arraial no município de Grão Mogol”.

O livro Capítulos Sertanejos, de autoria de Giselle Fagundes e Nahílson Martins, de 2002, corrige dois pequenos equívocos no texto de Urbino Viana, pois o rio que ele supunha ser o rio Serra Branca na verdade é o rio Mosquito. Sendo que estes dois rios nascem no município de Serranópolis de Minas. A descrição dos autores de Capítulos Sertanejos é esta: “Os dois rios surgem num trecho da serra onde existem muitas nascentes: uma delas, do Preto, afluente do rio Pardo; outra do Peixe Bravo, afluente do Vacaria, que deságua no Jequitinhonha. O rio Serra Branca forma a cachoeira do Serrado, um conjunto de quedas espetaculares, entre Porteirinha e Mato Verde. Quedas não tão imponentes mas em maior número, sete, e também belíssimas, forma o rio Mosquito pouco antes de se meter no Talhado. O Talhado, quase durante todo o século passado, era o caminho utilizado pelos tropeiros que levavam produtos da região da bacia do Pardo para os mercados de Porteirinha e Serranópolis”. Urbino Vianna ainda cita em sua obra que entre o povoado de Jatobá, que na época pertencia à cidade de Grão Mogol e o povoado de Serra Nova, do outro lado da serra, o rio Mosquito “passa por um canhão muito alto e relativamente estreito, cortado a prumo na serra, lugar que se denomina Talhado. A estrada, neste trecho, numa extensão de dois quilômetros, é toda pelo rio ou por suas ribas, motivo de impedimento de trânsito na ocasião das cheias. Distante do rio São Francisco mais de trinta léguas, quase quarenta de Montes Claros, vinte do extremo setentrional do Estado, limites do município de Rio Pardo, em Minas, com o de Jacaraci, na Bahia”.

A Serra do Talhado, com seu canyon majestoso, suas diversas nascentes d’água e cachoeiras de beleza indecifrável, é a divisa das bacias do Jequitinhonha e do São Francisco. O contorno da serra é como uma cicatriz de pedra que divide geograficamente duas regiões tão parecidas, o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, talvez representando a dor e as privações deste povo sofrido e criativo, mas ao mesmo tempo matando a sede de todos.

Um imenso coração de pedra parece bater nas entranhas do solo e ecoar na alma daqueles que nasceram sob a Serra do Talhado, mas que ganharam o mundo. Não importa o tempo nem as circunstâncias, a verdade é que quando o adulto, bem sucedido na vida ou não, retorna a Serranópolis, ele pode avistar a serra de sua infância. Lá, no mesmo lugar de sempre, como uma mãe que abre os braços para receber seus filhos queridos. Sejam eles bandeirantes em nome da coroa portuguesa no século XIV, ou mesmo turistas dos anos 2000 que a redescobrem diariamente, levando adiante, nas retinas e nos corações, toda a sua beleza.



posted by DÉLIO PINHEIRO 7:52 AM


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Domingo, Maio 11, 2008


A Alma Sertaneja de Serranópolis

A noite movimentada do dia três de maio era uma exceção na vida dos moradores de Serranópolis de Minas. Poucas noites do ano são tão agitadas como os sábados de maio dedicados a Santa Cruz. Esta é uma das festas tradicionais do município. A outra é em setembro, quando Nossa Senhora da Conceição é conduzida no andor nos ombros devotos da gente da cidade. Sorrisos francos, apertos de mão firmes e um dedo de prosa são inevitáveis nas ruas devidamente iluminadas e com os meio-fios pintados de cal, afinal é dia de festa. E todos se vestem com suas roupas de festa, se perfumam com suas melhores águas de cheiros e contornam a praça, dezenas de vezes se preciso, para ver e ser visto. Quantos namoros e casamentos não começaram assim, sob a sombra do Talhado que, logo ali, enfeita e emoldura o horizonte nos entardeceres, e refresca a noite com seu bafo fresco e cristalino, diretamente provindo das entranhas da terra, do rio Mosquito, e das pedras milenares do canyon encantado, quando a noite, salpicada de estrelas, enternece a alma do sertanejo. Talvez o fato da festa de maio acontecer sempre após um hiato de sete meses faz com que ela seja a mais animada. Nesta ocasião muitos serranopolitanos, - notem que é desse jeito chique que somos chamados-, voltam para seu rincão, para junto dos seus familiares e amigos, e regressam para junto de sua serra acolhedora que, na sua imobilidade e beleza, tem o poder de simular uma pausa eterna no tempo. Uma ilusão que nenhuma ampulheta ou relógio consegue despistar. Se as ruas ganham novo viço a cada ano, se as pessoas morrem enquanto seus descendentes nascem e se o antigo casario cede espaço para sobrados bem aprumados, a serra continua lá, aparentemente igual à da época de nossos pais, e de nossos avós, e dos primeiros moradores, e antes mesmo de haver qualquer morador por aqui. Sempre alerta, vigilante. Em algumas ocasiões, vejam vocês, malcriada, como quando seus ventos impiedosos destruíram barracas, destelharam casas e varreram os visitantes para dentro de suas casas, nas festas em que ninguém parecia se importar com sua presença ali, apontando seu imenso talhado de pedra diretamente para a praça ignara e indefesa. Na festa deste ano, porém, a brisa da serra perfumou o ar e nem ventos e nem tempestades embotaram o brilho da programação, religiosa e artística. Tudo correu nos conformes. Pelo menos quatro fatos chamaram a atenção dos mais observadores que prestigiaram a festança deste ano. O primeiro deles, e mais óbvio, diz respeito ao asfalto que liga Serranópolis a nossa irmã Porteirinha, recentemente construído. A facilidade de acesso certamente corroborou para o público respeitável presente na cidade. Serranópolis ficou mais perto, literalmente. A distância entre as duas cidades, que era de 23 quilômetros, caiu para 19, graças às curvas suprimidas e ladeiras abrandadas. Outro fato relevante para nossa gente é que Serranópolis agora tem telefonia celular, um troço de outro mundo sô! Pessoas falando sozinhas com um “nigucim” assim, capaz! Mas o fato é que a comunicação também tem esse dom notável: torna-nos mais próximos de tudo. Veja você que até lan house agora tem por lá... Nossa terra, nos últimos anos, ficou mais bonita, com a construção dos belos prédios dos poderes executivo e legislativo, e com o surgimento, por todos os lados, de novas e bem acabadas moradias, que mitigam, pouco a pouco, a imagem de eterno distrito de Porteirinha que até bem pouco tempo a cidade detinha. Hoje somos uma cidade pequena com reais possibilidades de desenvolvimento e vivemos a expectativa, a cada dia renovada, que nossa dedicação e coragem, possam nos levar a dias cada vez melhores. Os papéis oficiais do Estado de Minas não mentem: hoje abrigamos em nossos limites um parque estadual: o Parque Estadual do Talhado. E esse detalhe, certamente, contribuirá para que nossa vocação natural para o turismo seja explorada por nossos governantes, com zelo e respeito à natureza, evidentemente. E esse fomento, fiquem certos os senhores, trará mais dividendos para nossa cidade. Em meio a tanta notícia boa, teve ainda mais uma na festa de maio: a presença de um serranopolitano com alma e trejeitos de artista, o talentoso Welton Nogueira que, acompanhado de sua banda Alma Sertaneja, um conjunto de música raiz formado por excelentes músicos, lá esteve para a gravação de seu primeiro DVD. Foi a primeira gravação desta natureza em Serranópolis. Antes do grande momento, quando subiram ao palco, nos momentos que antecederam a gravação, era visível o esmero com o qual os músicos, travestidos de técnicos de som e contra-regras, prepararam o palco, com sutilezas e bom gosto, e era visível também a emoção dos músicos, que teriam suas imagens e juventude para sempre registradas, nas retinas e nas modernas câmeras levadas para a gravação.


Alma Sertaneja em ação

E como foi bom rever Welton. Muitos moradores, sobretudo os de antanho, se lembram do moço por lá. Welton da Casa Velha, a fazenda de “Seu Anfris”, como todos diziam. Fazenda onde foi tocada a versão de “Cálix bento” capturada pelo arguto Tavinho Moura, em seu gravador portátil, no início dos anos 1970. Fazenda cheia de mistérios, gostos e cheiros, tão próprios de nossa infância. Em seus arredores nasceu Welton, que já tinha esse nome invocado, cunhado, talvez, em um arroubo de seus pais. Um nome premonitório talvez... Os mais velhos também se lembram da timidez do rapazote, de seu jeito desconfiado, do menino com voz de passarinho que cantava “no meio do mato”, mas que já era talentoso desde pequeno. Essas características, pouco a pouco, na longa estrada da vida, foram arrefecendo e cedendo espaço para o carisma e para o talento, que lhe são natos, e que agora são evidentes, translúcidos, como a tez clarinha e os olhos faiscantes e verdes de Welton. Vendo-o hoje, liderando seus companheiros pelos palcos iluminados, fica mesmo difícil relacioná-lo ao rapazote envergonhado que tocava sozinho, no meio das árvores ou do mangueiro, e sonhava um sonho impreciso, formado por infinitesimais instantes de luzes dissonantes, gelo seco e aplausos. Muitos aplausos.


O serranopolitano Welton

“Venha pra dentro menino”, ralhava sua mãe, com candura, trazendo-o de volta para seus afazeres, tirando-o do enlevo em que estivera. O mesmo instante onírico vivido na noite fresca de Serranópolis naquele dia três de maio, quando seus amigos, sua família, seus conterrâneos, sua gente enfim, o aplaudiu de pé, com os chapéus espalmados e com a alma sertaneja alimentada, com músicas que falam de amor, falam de saudade e falam até do Talhado. Que lá atrás, sereno e tranqüilo, por sobre o palco e sobre todos nós, pareceu vicejar atento às belas músicas feita por Welton e seus companheiros. Se um novo tempo, de fartura e de progresso, parece, enfim, sorrir para nossa terra, com os exemplos fartos de prosperidade que grassam por todos os lados, em um ponto torceremos para que as coisas permaneçam imóveis, como a serra jamais esquecida. Que nunca percamos esse nosso jeito desconfiado, nosso jeito simples. E que nenhum tipo de progresso conspurque o que temos de mais valioso: nossa alma sertaneja.

Délio Pinheiro

P.S: Escrevi esse texto assim que cheguei de volta a Montes Claros, cidade onde moro. Assim que desfiz as malas recebi um e-mail do poeta Damião Cordeiro, dando conta de um texto que havia sido escrito por Welton sobre a mesma experiência: a gravação do DVD. Leia a seguir o texto belíssimo que revela muito do talento e da delicadeza de Welton Nogueira.


Jatobá

Nasceu no meio das serras, serras de pedras e pedras de serras. Jatobá floriu e virou Serranópolis só para ficar radiofônico. Porque continua o mesmo jatobá que me contaram. Conheci Serranópolis do mesmo jeito que é. Emancipou ganhou “de minas” no sobrenome, até sobrenome tem a terra que nasci e toquei boiadas. Quando a conheci já era Serranópolis. Muitas vezes eu fui no “coméss” comprar farinha e farinha de trigo. Farinha lá é era a de mandioca. Hoje, farinha é farinha importada que dilacera as ventas e destrói os lares e corrompe as meninas... Certas noites eu cantei para 6 pessoas (Valdi, Andio, Arlindo, Vanderlei Gato Preto e Zé de Agostinho). Cantei feito um passarinho fora do alçapão. Hoje eu cantei para seis. mas este seis tem zeros à direita. No momento que cantei a minha história me entalou um desgramado nó na garganta e eu vi várias pessoas na minha frente e no meu olhar desceu um véu de lágrima que me banhou a cara. Não pude segurar o pranto nem me contive a emoção, mas segurei o braço da viola e cantei feito um passarinho que escapou de alçapão no fim da tarde. Voei em pensamentos, lamentei e cantarolei na alma as cantigas de boiadas que tinham dó do carreiro de vida pesada. O tempo põe de fato as coisas no lugar. Vi lá embaixo na platéia, rostos e bocas, sons e sonhos, vi minha maior riqueza cantando comigo. Família dom de Deus! No alto da plataforma montada, vi o semblante dos amigos cantadores e tocadores de sons e sonhos. Amei-os mais ainda. O vermelho no rosto me denunciava a emoção e o vexame. Câmera de TV! Quem diria que o pobre menino cantador das alterosas iria chorar diante das câmeras ao invés de apenas sorrir. Tem gente que achou bonito! Bonito? Bonito ficaria meu coração escondido entre os rios Gamela e Mosquito/Brutiá. Mas a distância tramou a beleza do talhado com o vento soprando as telhas da fazenda Casa Velha. Chorar de novo! Tá ficando chato! Mas a emoção é coisa traiçoeira! O poeta deslumbra uns versos aqui e uns soluços ali. Naquele dia eu engoli pelo menos uns trinta “saluço”. Quando eu vi duas rosas maravilhosas cantando e sorrindo. Logo uma delas dormiu nos braços da minha amada. Filhos, dom de Deus! O segredo de não chorar quando o caboclo escava as minas do seu viver ainda não me ensinaram. O céu ali é azul e a água é cristalina e a gente vê pureza no olhar a das minina. As alamedas das carreadas foram sendo desfeitas para dar passagem ao dono dos bois. O sol não nasceu mais cedo aquele dia por causa da meruégua! O cachorro dublê ficou na lembrança e vi velhos amigos corroídos pelo doce maldito néctar da cana. Cheiram cana. Respiram cana. Vi velhas amigas me olharem. Quase as chamei de vovós. O sol da terra que eu nasci não adula “fidipob”. Envelhecem as senhoras e calejam as mãos das tardes. Naquele três de maio eu cantei tudo que os cantadores cantaram diante das mesas de leilão. Cantei a dor, cantei a flor, cantei a terra, cantei os bois, cantei o olhar da sertaneja vida. Empunhei meu pinho chorador e solucei de verdade ao lembrar do couro que deixei nas lutas para a sobrevivência. Fazenda Casa Velha não traz apenas lembranças, traz dores, saudades e medo de passar fome de novo. Mas chorar faz parte deste projeto dolorido e sonhado por décadas. O sertão tem um representante chamado “DVD ao vivo do Alma Sertaneja” gravado em Serranópolis de Minas /MG O meu peito tem um representante. Um coração choroso pendurado numa saudade teimosa com sabor de quero mais... Louca vida! Doce presente! Viagem de Matuto! Saudade Teimosa! Para ser caipira de verdade tem que carrear pelas últimas paragens. No meu sertão é assim. Pelas vazantes dos rios ecoam uma viola e uma saudade. O que que é isso? Vem aqui cantar com o Alma e deixe a saudade teimosa da fazenda Casa Velha, dedilhando a viola, doce presente. Não precisa mentir mais que bula de remédio para falar das paixões de verdade nem tampouco pisar miudinho. Hoje moro com a felicidade depois que a viola me deu seus olhos. Meu amor é assim, de fato, chão e raiz. Parei de falar me fugiu a inspiração...

Welton Nogueira


Mais uma foto da histórica apresentação do Alma Sertaneja em Serranópolis de Minas

posted by DÉLIO PINHEIRO 6:43 PM


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Quarta-feira, Abril 09, 2008



Nota do criador deste site: Esse espaço dedicado a Serranópolis na internet abre suas páginas digitais para um escritor do município, o conhecido Oscarino, do Sanharol. Ele, em sua erudição de homem matuto, conta estórias de fatos incríveis acontecidos em Serranópolis. O texto de Oscarino, intrigante e criativo, não sofreu nenhum retoque desde que foi enviado para mim por seu filho Damião, que mora em São Paulo. O texto é criativo, autoral, cheio de licenças poéticas e sabedoria. Portanto, boa leitura a todos. Àqueles que acreditam em assombrações e àqueles que acham que isso tudo é fruto da imaginação. Eu, particularmente, não acredito em lobisomens, mas que eles existem, existem. Délio Pinheiro


Distrito de Jatobá, em 1937


Histórias de Lobisomem

Serranópolis de Minas quando ainda distrito de Porteirinha era tão-somente, Serranópolis, e, dia primeiro, docemente: Jatobá. Uma currutela. (É, minha lembrança não esfarela substância amarelecida, é sempre jovem). Naquele tempo o nosso patrimonzim regado nos sulcos da tradição e da cultura era sempre povoado de estórias. Um sementeiro de estórias. As mais interessantes eram as de fantasmas: passagens de rio assombradas; causos de aparição nas estradas do Brutiá e do Sanharol; aparição no Poço da Sereia, no Talhado; a luz do Morro da Caretinha; do gritadô que assombrava cachorros e caçadores de tatu, dentre tantas outras. De todas essas estórias - ou histórias? Digo histórias porque muitas pessoas de bem, inclusive eu, afirmam ter avistado e vivido situações reais com fenômenos desta natureza - das conhecidas eis aqui algumas em destaques que hoje são alicerces para eu construir esta narrativa nada ficcional. Os nossos antepassados contavam muitas estórias de lobisomem: bicho meio lobo, meio homem. Lobisomem: homem que tinha a sina de se transformar, principalmente na ocasião da quaresma. Animal possuidor de quartos traseiro altos, pêlos compridos e escuros, orelhas grandes e pontiagudas. Era comum encontrá-lo em cima de fornos de farinha comendo cruêra (resíduos da fabricação da farinha de mandioca, que, por grossos, não passam na urupema ou peneira) e atacando gatas e cachorras paridas de novo para comer filhotes. Esse costume batizou o danado de "cumedô de cachorro" e/ou “cumedô de cruêra”. É no terreno do real que vou edificar estas histórias, pois também sou testemunha ocular dos fatos aqui relatados. Levantados.


"O lobisomem é uma criatura mitológica nascida na Europa. É primeiro mencionado nos escritos de Petronius, na Grécia antiga. Como várias mitologias Européias, foi trazida para o Brasil com os imigrantes e adicionada ao folclore brasileiro"

Nas décadas de cinqüenta e sessenta quando vivi minha infância e adolescência acompanhei muitas histórias. Nessa época as pessoas tinha medo de sair de noite por causa de fantasmas, “prataforma”, como dizem nós catingueiros. Minha família morava arredada três quilômetros de Serranópolis, mais precisamente na fazenda Nova Escócia. De nossa casa à estrada que ligava o povoado e também à cidade de Porteirinha regulava ter uns cento e trinta metros. Naquela ocasião era comum ouvir de noite fuzuê de cachorros correndo atrás de um cachorrão fora dos outros. Alternadamente esse bicho esquisito ora dava uns grunhidos finos de cachorro pequeno, ora soava um tropel de touro enraivado pisando pesado. A gente ouvia o saltar dele para dentro de nosso quintal. O mais curioso é que ele não passava em encruzilhadas, desviava por dentro do mato, nestes locais. Certo dia que choveu bastante e o rio Mosquito transbordou. À noite meu irmão mais velho nos disse que o lobisomem não ia conseguir atravessar. Coincidência ou não, daí alguns minutos o bicho arrotou valentia lá no terreiro de casa. Outro fato que aconteceu comigo e com mais três irmãos, sendo um irmão mais velho com cerca de sete anos; uma irmã com doze e uma miucheca com apenas dois de idade. Nós voltava da casa da vizinha fincada à margem da estrada, que ficava na frente da nossa. A irmã pequena que ia carregada na cacunda da maior, disse um "nome feio". Minha irmã mais velha ralhou: se xingar o bichão pega. Ouvindo isso, meu irmão e eu ficamos com muito medo, pois já turvava, escurecia. De repente apareceu um bicho pintado, imenso, que deu uns grunhido assustador e correu atrás da gente. Minha irmã mais véia tentou desfazer da pequena para correr com mais agilidade, mas não conseguiu, pois essa a agarrou firmemente. Assim, a condutora, sem querer, viu-se obrigada a correr com nossa irmãnzinha na cacunda cerca de oitenta metros até chegar em casa. Ouvindo o alvoroço da meninada, nossos pais vieram ao nosso encontro para nos socorrer. O meu pai pegou uma espingarda polveira e minha mãe, um cacete e uma lamparina, para dar fim no tal bicho. Chegando no local do pampeiro, só encontrou os rastos dos filhos assombrados. Não havia nenhum sinal de animal diferente. Tenho um irmão quando era recém-casado morava em Serranópolis e gostava muito de caçar tatu com um amigo. Ele era dono de dois primorosos cachorros tatuzeiros por nome de Dodge e Violento. No mato, munidos de habilidade canina, esses farejadores não perdiam uma só viagem. Certo dia, esse meu irmão vindo de uma caçada depois de separar do companheiro de aventura topou na praça escura de Nossa Senhora da Conceição um cachorro muito grande e estranho, fora dos outros. Indefeso, esse caçador solitário, desarmado pelo estranhamento e sem intercessão de santo, deu um grito "passa cachorro!". Ouvindo isso, o esquisito de corpo desajeitado trotou tranqüilamente rumo à igreja, saltou em cima do muro, olhou pra’trás e adentrou na casa santa, varando a porta que encontrava-se fechada. Desesperado, o meu mano saiu dispinguelado na careira para a sua casa. Não esperou sequer sua esposa abrir a porta da frente, espavorido, quebrou a tramela da janela num golpe e aninhou de bota suja e tudo. Até hoje me arrepio quando alembro do meu irmão contar a história. Nesta época que aconteceu este caso com o meu irmão, para estudar, morava eu com minha irmã casada, a poucos metros do mercado dos feirantes. Numa noite de breu, por volta das nove horas da noite, estava eu passando pelo fundo do mercado, de repente dei de testa com um cachorrão preto e muito estranho, fora dos outros. Ao perceber minha presença, o bicho foi saindo de fininho na direção do ri. Devido a minha simplicidade eu não esbocei nenhuma reação e nem tive medo algum. Quando eu já estava deitado para dormir, alembrei do acontecido e imaginei que o animal poderia não ser um cachorro. Foi aí que eu percebi que se tratava de lobisomem.


As travessias de rio, algumas encantadas

Certa vez, a cerca de um quilômetro de Serranópolis, mais precisamente na fazenda Bela Vista, próximo de uma olaria, um jovem andava numa noite escura, num caminho rumo ao “Cuméss”, quando apareceu um bicho muito estranho em sua frente. Para se defender o jovem desembainhou um punhal. Com esta reação, o animal atacou-o e o jovem teve que lutar bravamente, e quando a agarrar o fantasma só sentia nas mãos os cabelos grossos e crespos do animal. Depois de muito lutar em vão, o jovem pediu ajuda a Deus e o bicho desapareceu deixando-o cansado no local da luta. Em outra ocasião, na quaresma, aconteceu um episódio muito triste com uma família vizinha. Essa possuía uma cachorra parida e certa noite quando a casa já dormia houve um tremendo barulho que acordou a todos. Tinha algo atacando a cachorra e suas cria. A dona da casa que sabia umas orações fortes, com dois filhos armados com cacetes de pau de fumo, atacou o bicho com pauladas e o matou. Depois do bicho morto, a família para saber do que se tratava, alumiou-o com luz de lamparina e descobriu que o tal tinha uma aparecença de cachorro e também de homem. Amedrontada, ela enterrou o estranho antes de descoser a barra dia para que o acontecido não viesse à luz do conhecimento da vizinhança. esforço inútil, pois a mesma deu com a língua nos dentes esparramando o ocorrido para todos nós ribeirinhos mosquitenses. Havia um amigo meu que tinha vivido comigo a infância, adolescência e juventude, nos momentos mais importantes de nossas vidas. Certa noite de zumbi, na quaresma, quando ele voltava de Serranópolis enforquilhado em seu Petisquim, após a passagem de Joaquim de Cláudio, no ri Mosquito, encontrou uns amigo parados no meio da estrada com uma rural quebrada. O cavaleiro parou um tiquím para um dedim de prosa, mas foi breve, segui viagem. Logo adiante assuntou uma trovoada de cachorro que em pouco tempo avolumava, vinha vindo ao seu encontro. Como ele já imaginou que poderia ser cachorros atacando lobisomem, foi logo encostando seu pangaré dum lado da estrada para que a caravana pudesse passar sem perturbá-lo. O observador percebeu que na frente dos cachorro ia um cachorrão imenso, fora dos outros, muito cansado, arfava, roncava... Passando aquela tribuzana toda, o cavaleiro alembrou dos colegas que ficaram lá atrás com o carro enguiçado, mas, sem aptidão psicológica para acudir qualquer espécie de cristão, pensou na possibilidade do bicho voltar para pegá-lo, então, achou mais seguro tirar seu cavalim da chuva da coragem, riscá-lo de esporas e foi baixar na sua casa sem olhar pr’atrás. Outro caso aconteceu na vizinhança de Serranópolis. Era noite escura de sexta-feira, na casa de uma senhora, quando esta saiu no terreiro percebeu que tinha um cachorro, fora dos outros comendo um couro de boi que estava esticado para secar. A senhora pegou uma esculateira d’água fervendo e jogou em cima do animal que saiu desesperado e ganindo de dor, de um jeito meio esquisito. Rompeu poucos dias, e a senhora que já sabia do boato que seu vizinho virava lobisomem na quaresma foi lá buscar umas roupa para lavar, pois dele era lavadeira encontrou o infeliz prostrado, perrengue mesmo. Ele disse para a visita indesejada que um dia facilitou com uma esculateira d’água pelando, e, e... por isso estava ali com os quartos em carne viva. Rüim-rüim...


Histórias que Oscarino conta

Em Serranópolis quando já possuía luz elétrica, um dia de noite, uma outra irmã minha acordou com um aranzé de cachorro. Ela abriu a janela avistou um bicho acuado, muito feio, sentado em frente da casa do vizinho, rudiado por uma cachorrada. Minha irmã observou, fechou a janela e deitou-se novamente. Mais tarde voltou espiar, o cachorrão estava mais adiante, na esquina da rua. Aqui em Serranópolis era assim. Simplesmente. Os rapaz não se cansavam de cercar esse bicho nas ruas e até recantiá-lo em cantos de muros e de jardins, como aconteceu um dia na casa de um parente meu. Não dou minha construção por acabada, pois há sempre um reparo aqui, outro, acolá. Esta minha narrativa fragmentada em pequenos blocos de parágrafos é o que de mais misterioso apareceu por aqui neste ermo de sertão: Serranópolis e redondeza. Se alguém tiver o interesse de construir uma obra nos moldes desta, é só fazer alguns levantamentos históricos c’uns mais véio de sua região que com certeza encontrará muitas histórias riquíssimas que dão liga, e aí ó, mão na massa!

Oscarino Aguiar Cordeiro posted by DÉLIO PINHEIRO 5:01 PM


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Sexta-feira, Março 28, 2008


Um pedaço do paraíso

O sol desperta com sua força descomunal e avança pelos vales, montanhas e rios do continente em uma fração de segundos. Sua luz encontra as pedras da imensa serra ainda frias da noite misteriosa que, ao contrário da urgência do mundo, vai sendo modificada aos poucos pelo sol, revelando suas belezas, seus rios de água pura, seus vales e suas cachoeiras. Também clareia a fé de seu povo e as belas paisagens que são, talvez, a maior prova que este Deus existe. E, mais do que isso, está presente, como o sol que dá vida à imensa serra do Talhado, que se descortina e se mostra sem pudores. Cada planta e ser vivo é tocado pela centelha de energia, e adquirem à seu tempo e à seu modo, a claridade renovadora da manhã. O dia nasce primeiro na face oriental da barreira de pedra e só depois de alguns minutos o astro-rei desponta por sobre o paredão e dá vida às planícies, com suas cidades, fazendas e gente apressada, que assistem involuntariamente à um pequeno milagre, o nascer do dia neste canto abençoado de Minas Gerais. Estamos no município de Serranópolis de Minas, no norte do estado de Minas Gerais, a pouco menos de 200 km da maior cidade da região, Montes Claros. E ainda mais perto do estado da Bahia. A influência baiana é bastante notada, já que alguns dos primeiros moradores do antigo arraial de Jatobá, antigo nome de Serranópolis, vieram do estado vizinho e fincaram suas raízes protegidos pela sombra da imensa serra. A dolência baiana e a esperteza mineira parecem ser as qualidades mais aparentes dessa gente serranopolitana, meus semelhantes. Nenhum lugar no mundo me causa tanta emoção quanto Serranópolis e é lá que pretendo encerrar, algum dia, meu ciclo de vida. Mas isso, é claro, vai demorar muito. Até lá, enquanto estiver enfrentando os desafios da vida, levarei comigo a certeza que terei esse recanto, sempre com sua imensa serra à emoldurá-lo, à minha espera, tanto para cicatrizar as dores do mundo quanto para me deliciar com o mais belo nascer do sol, aquele que surge por detrás da serra do Talhado e dá vida ao norte de Minas Gerais. E, por que não, ao mundo. posted by DÉLIO PINHEIRO 5:44 PM


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Sábado, Março 01, 2008


A maior festa da história de Serranópolis de Minas

No último dia 23 de fevereiro uma multidão esteve em Serranópolis de Minas. O motivo para tanta presença popular foi a inauguração do moderno centro administrativo da cidade. E para tornar a festa inesquecível não foram poupados esforços por parte da administração pública, na figura do prefeito Pipiu e de toda a equipe que organizou uma data que, certamente, ficará na história da jovem cidade. O clima durante todo dia foi especial. Já nas primeiras horas do dia um portentoso trio elétrico estacionou na praça principal da cidade e comerciantes de fora do município montaram barracas de jogos e de comida em um movimento só comparável a algumas festas tradicionais de maio ou setembro.

O imenso trio ainda em repouso:


A expectativa era de um grande público, mas o que se viu na noite nublada de 23 de fevereiro foi além de qualquer prognóstico otimista: A praça ficou apinhada, com aproximadamente 10 mil pessoas.

Fotos da solenidade:



A programação da festa começou com uma solenidade de inauguração na parte externa da moderna prefeitura, tendo como Mestre de Cerimônias o jornalista Délio Pinheiro, filho da cidade. O prefeito Pipiu mostrou seu prestígio quando se formou o dispositivo de honra em frente à novíssima prefeitura, já que vieram prefeitos de outras cidades da região, com destaque especial para os prefeitos de Porteirinha, Janaúba e Pai Pedro. Dois deputados votados em Serranópolis na última eleição também compareceram: Sávio Souza Cruz e Paulo Guedes.

O dispositivo de honra:


O Deputado Sávio disse, em seu pronunciamento, que a prefeitura só poderia mesmo ser construída na principal praça da cidade: "A casa do povo está construída em frente à casa de Deus, e é assim que tem que ser", afirmou o parlamentar. O prefeito de Janaúba, Ivonei Abade, afirmou que não tem nenhuma sede administrativa parecida na região: "Eu venho de uma cidade de 70 mil habitantes onde construí uma nova prefeitura, mas ela não pode ser comparada com essa feita aqui em Serranópolis", disse Ivonei.

A moderna prefeitura:


Os benefícios não são apenas na área urbanística, já que a cidade ganhou o seu mais belo prédio com a construção do centro administrativo. Outra vantagem, apontada pelo prefeito Pipiu, é que a cidade economizará em torno de R$ 15 mil reais mensais com aluguéis. A nova sede do executivo abriga em seu interior todas as secretarias do município e ainda reservou um lugar de honra para a excelente biblioteca pública, que conta com mais de 2 mil livros novos. Em seu emocionado depoimento, o prefeito Pipiu se lembrou do pai, o ex-prefeito Aveny Ribeiro, já falecido. O prédio administrativo foi alcunhado de "Centro Administrativo Aveny Ribeiro", numa justa homenagem ao primeiro prefeito que a cidade teve. Todos os vereadores também puderam manifestar suas opiniões na solenidade, em breves pronunciamentos. Até mesmo uma adversária política do grupo do atual prefeito, a ex-prefeita Laury Moreira, teve oportunidade de falar, numa demonstração de democracia e civilidade do prefeito Pipiu que merece ser registrada. Depois dos pronunciamentos foi feita a benção do prédio pelo diácono de Porteirinha que, ao espergir a água benta nas instalações, rogou a Deus para que os destinos da cidade e o futuro dos serranopolitanos sempre recaiam sobre homens públicos respeitadores e honrados.

Nossa querida cidade:


Logo após o corte da fita e o descerramento da placa comemorativa, as portas do prédio foram abertas para a população. O moderno prédio então se revelou aos olhos dos moradores da cidade e dos milhares de visitantes que lá compareceram. "Não imaginei que fosse tão bonito", era um dos comentários mais comuns entre os visitantes. Mas a festa estava apenas começando. Depois da parte solene todas as atenções voltaram para o enorme trio elétrico, o maior que já foi em Serranópolis. As atrações também foram bastante gabaritadas. A noite foi aberta com o grupo Pisadão da Pancadinha, de Montes Claros, e a grande atração da noite foi o Batukerê, atração de renome nacional, que levou seu axé e simpatia aos serranopolitanos e visitantes.

Batukerê na praça:


O público recorde:


Nos intervalos dos shows foi realizado o sorteio do IPTU Premiado, que presenteou cidadãos serranopolitanos em dia com o tributo municipal com DVDS players e TV de 29 polegadas. Também foram exibidos dois videos, um que mostrou as ações da administração municipal e outro que mostrou à multidão as belezas naturais de Serranópolis. O último video faz parte de um projeto idealizado pelo comerciante Almir Alves, que traz fotos e videos da cidade.


Video que foi exibido na praça

A noite se completou com o mais belo show pirotécnico que Serranópolis de Minas já viu. Fogos multicoloridos iluminaram os céus da jovem cidade enquanto as bandas tocavam no alto do trio, numa festa que demorará muito para ser superada.

posted by DÉLIO PINHEIRO 9:29 PM


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Quarta-feira, Janeiro 30, 2008



O asfalto chega a Serranópolis

Novos videos:

Parque Estadual do Talhado


Fazenda Casa velha- Alma Sertaneja posted by DÉLIO PINHEIRO 9:10 AM


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Domingo, Dezembro 02, 2007

Dicas para um bom turista:






posted by DÉLIO PINHEIRO 1:11 PM


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Terça-feira, Novembro 20, 2007


É hora de proteger o Talhado

Na manhã quente do último domingo a expectativa em Serranópolis de Minas era em torno da chegada da expedição “Caminhos dos Geraes”, quando uma frota de veículos portentosos traria para a cidade turismólogos, biólogos, jornalistas e outras pessoas interessadas no mapeamento de nossa realidade ecológica, assunto freqüente em tempos onde o “aquecimento global” ganha destaque em todos os jornais.


Desde a noite anterior, eu e uma turma de familiares e amigos, estávamos acampados na entrada da serra, onde os expedicionários chegariam no dia seguinte para começar uma caminhada pelo canyon do Talhado, no município de Serranópolis de Minas. A noite de acampamento no sopé da majestosa serra foi das mais aprazíveis, apesar da imediata constatação da presença de muito lixo naquele lugar tão belo. Na noite que passamos lá fizemos nossa parte para não agravar aquela situação. Guardamos todo o lixo produzido no acampamento e no final de nossa estada o levamos conosco, como a mais elementar das cartilhas do bom turista preconiza.


No dia seguinte, quando o sol despontou por sobre a barreira de pedra, a situação que presenciamos foi bem diferente daquela que vivemos durante a noite. A tranqüilidade foi substituída por graves ofensas à natureza. A quantidade de turistas que apareceu por lá na manhã ensolarada foi totalmente desproporcional ao clima de descanso e tranqüilidade que o ambiente sugere. Era possível contabilizar mais de uma centena de visitantes, em um local onde não se via nenhuma lixeira e nenhum tipo de fiscalização, que impedisse as cenas de descaso que pude visualizar in loco. O lixo desses turistas, com honrosas exceções, era jogado em qualquer lugar. Até mesmo latinhas vazias de cerveja eram arremessadas diretamente no rio Mosquito, onde eram levadas pelas águas até encontrarem abrigo em algum recôndito cantinho, entre as águas e os seixos. Algumas senhoras, aproveitando os ônibus apinhados de gente, levaram suas roupas sujas para serem lavadas lá mesmo, naquele santuário ecológico que está cotado para se transformar em Parque Estadual, como deseja o idealizador da expedição “Caminhos dos Geraes”, Paulo Ribeiro, que até aquele momento ainda não havia chegado ao Talhado.

Flagrantes de desrespeito à natureza:


Como se não bastasse a poluição do rio e das margens com sacos plásticos, garrafas vazias de bebidas e toda sorte de lixo esquecido pelos péssimos turistas que passaram por lá, percebi que outro tipo de desrespeito acontece sistematicamente nos fins de semana do Talhado: As competições de som automotivo. Neste dia dois proprietários de carro disputavam a primazia de empurrar para todos os freqüentadores da serra seus lamentáveis gostos musicais, já que o metié sonoro incluía músicas de baixíssimo calão, sem nenhuma exceção. Vale lembrar que lá é um local onde animais silvestres vivem, e esse tipo de poluição, a sonora, também é condenável. Acrescente-se a essa descrição de ambiente, que em pleno paraíso ecológico remete ao inferno sonoro de Dante, o fato de não haver um único local no Talhado onde os freqüentadores possam esvaziar-se das delícias de nossa culinária geraiseira, como os pratos feitos com pequi e os generosos nacos de carne que são assados em disputados churrascos à beira-rio, e temos a cena completa de um dia no paraíso profanado do Talhado. Por volta das 13h30 finalmente a expedição chegou ao sopé da serra. E dos veículos desceram os expedicionários que estavam ali para conhecer as belezas do Talhado, um tanto quanto prejudicadas pela maior seca dos últimos trinta anos, que estamos tendo o desprazer de vivenciar. À frente da expedição, como guia, estava meu pai, o comerciante de Serranópolis, Almir Alves, maior defensor da serra, mostrando o enorme canyon para os visitantes de Montes Claros, que ali estavam para ajudar Serranópolis de Minas a se desenvolver, criando meios para que o Talhado se transforme no mais novo Parque Estadual de Minas.


A monumental Serra do Talhado

Ao mesmo tempo em que percebo que existem iniciativas nobres como essa sendo postas em prática, também noto que as próprias pessoas de Serranópolis ainda não possuem consciência ambiental devidamente desenvolvida a respeito da necessidade de se proteger nossa maior riqueza. Chegou a hora de a população vestir a camisa de defensor do Talhado, e instruir os turistas, que cada vez mais freqüentam aquele lugar, a levarem todo o lixo que produzirem para suas casas, protegendo não apenas a entrada do canyon, mas todo o Talhado, onde podemos encontrar cachoeiras lindíssimas, pinturas rupestres de milhares de anos e outras atrações singulares que, em virtude do pouco tempo que dispunham, os expedicionários não tiveram a oportunidade de conhecer.

Os turistas que aqui chegarem serão sempre vindos, mas eles precisam proteger nosso paraíso, assim como fazemos


Ao contrário do que foi dito aos expedicionários, a prefeitura de Serranópolis não recolhe o lixo toda semana no Talhado, muito pelo contrário. O lixo que lá estava era de muitos meses. A população é que tem que ficar atenta, porque diante do descaso das autoridades, é preciso que nós tomemos conta de nosso maior tesouro, que poderá representar a redenção econômica de Serranópolis com a exploração sustentável do turismo ecológico, e não esperar somente pela ajuda que vem de fora, como a valorosa expedição “Caminhos dos Geraes”, que levou esperança ao nosso belo e judiado cartão postal. posted by DÉLIO PINHEIRO 11:24 PM


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Segunda-feira, Outubro 08, 2007

Características de Serranópolis de Minas:


Altitude: 621 metros acima do nível do mar População: 3979 habitantes, segundo censo de 2004 homens......................... 2.002 mulheres....................... 1.977 densidade populacional..: 7,17 hab/km2


Indicadores:

IDH 0,655 PNUD/2000 PIB R$ 8.634.969,00 IBGE/2003 PIB per capita R$ 2.199,43 IBGE/2003


N° de escolas existentes no ensino fundamental: Municipais: 8 Estaduais: 1 Área total do município: 555,0 km² CEP: 39518-000 Temperatura média anual: 24° C Índice médio de chuva anual: 827,7 mm Adoção do nome e emancipação: 1995 (Lei 12.030, de 21/12/1995) Criação do distrito: 31/12/1943 Denominações anteriores: Serranópolis, Jatobá Adjetivo pátrio: serranopolitano Município de origem: Porteirinha Municípios limítrofes: Porteirinha, Riacho dos Machados e Rio Pardo de Minas


Desfile de sete de setembro da Escola Estadual Ananias Alves


Procissão de fé posted by DÉLIO PINHEIRO 10:32 PM


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Domingo, Outubro 07, 2007



Um pouco da história do Talhado e de Serranópolis de Minas:



Vegetação, fauna e formação do Talhado

A vegetação da Serra do Talhado é extremamente variada e possui um grau de endemismo muito grande, ou seja, algumas espécies só existem na região da Serra do Espinhaço, onde se localiza o Talhado. Além disso, a região abriga a mais extraordinária amostra de campos rupestres do Brasil.

A flora rica do Talhado:





Algumas atividades extrativistas são desenvolvidas na serra. Moradores de Serranópolis se deslocam até lá para colher pequi, condombá, que é uma uma raiz usada para acender fogão a lenha e Sempre-Viva, uma planta usada em decorações de ambientes.

As Sempre-vivas


A fauna da região é muito vasta, porém pouco conhecida. Possui também alto grau de endemismo entre insetos e anfíbios. Abriga ainda várias espécies ameaçadas de extinção, como: lobo-guará, cachorro-do-mato, micos, tucanos, jacú, paca, melete, tamanduá-bandeira, teú, veado-campeiro, onça-parda e gato-maracajá.

Dois exemplos da fauna:



A história geológica da região é bastante antiga, datando do período Pré-Cambriano. Os quartzitos, rochas arenosas predominantes na serra foram formados por depósitos marinhos há cerca de 1 bilhão e 700 milhões de anos. Depois do afastamento das águas e soerguimento das montanhas formou-se a Cadeia do Espinhaço. A alteração das rochas deu origem, no Cretáceo, aos solos hoje ocupados pelos cerrados, campos rupestres e matas de galerias.

Belas formações rochosas:



posted by DÉLIO PINHEIRO 11:24 PM


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Sexta-feira, Outubro 05, 2007


As belezas naturais de Serranópolis de Minas

Serranópolis de Minas poderia ser apenas mais uma cidade do norte do Estado, com problemas e características típicas das pequenas cidades da região. Mas existe um grande diferencial em Serranópolis, a sua imensa vocação para o turismo. Existe no município algumas das paisagens mais belas criadas pela Serra Geral, que corta boa parte do país. São dezenas de nascentes d’água, rios, cachoeiras, picos altíssimos e belas formações rochosas, que enchem os olhos dos visitantes. Nas imediações de Serranópolis de Minas tem uma bela barragem construída pela CEMIG, que tem o objetivo de perenizar o rio Mosquito, que deságua no rio Gorutuba. Dois rios que pertencem à bacia do São Francisco.


Barragem do Rio Mosquito

Na barragem e na serra é possível explorar racionalmente o turismo, pois a região oferece a prática de diversos esportes, como trekking, rapel, escalada, montanhismo, corridas de aventura, jet ski, mergulho e outros. E pode também oferecer passeios a cavalo e caminhadas pela trilha que atravessa o Talhado.


O Talhado e sua vocação para a aventura

A cidade não conta com estrutura turística. A inexistência de hotéis e restaurantes é um grande empecilho para a realização desta atividade. Isso se deve, principalmente, à falta de ação das administrações municipais nessa área, que poderia representar a redenção de Serranópolis de Minas, que conta com índices irrisórios de desenvolvimento turístico. Quando se fala em explorar o turismo, tem que se ter em mente que esta exploração precisa ser auto sustentável. É preciso proteger a serra da ação dos vândalos que provocam incêndios e deixam lixo por onde passam.


A fazenda centenária de Zizi Aguiar

A primeira iniciativa seria a criação de um parque ambiental que pudesse abranger a região da serra e pudesse proteger suas riquezas ambientais, com a presença de guardas e de guias treinados para conduzir os turistas pelas diversas atrações do local. Essa atividade, além de propiciar a criação de empregos para pessoas do município, também asseguraria a preservação do Talhado e a segurança dos visitantes. Enumerar as diversas atrações da Serra do Talhado é uma missão difícil, pois a região é muito extensa, mas alguns destinos são absolutamente imperdíveis para os amantes da natureza.

A bela barragem do rio Mosquito, que fica próxima da serra, propicia uma visão inesquecível:


A travessia do enorme canyon por onde o rio Mosquito corre também é uma experiência singular. Dois enormes paredões guiam os turistas através de uma trilha íngreme em meio a uma mata nativa, e a presença do rio, com inúmeras pequenas cachoeiras, formam a paisagem, que parece nos transportar para um jardim do éden:


A caminhada de meia hora pelo Talhado leva o visitante até o local onde estão duas grutas em homenagem à padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. A primeira imagem da santa foi levada por meu pai, o comerciante Almir Alves Pinheiro, no ano de 1980.


Desde então criou-se uma peregrinação anual até o local sempre no dia 12 de outubro. No local tem também um cruzeiro e uma mina d’água, que alguns visitantes acreditam ter propriedades medicinais pelo fato de ter sido benzida pelo padre Rocha no dia 12 de outubro de 1980, quando a imagem da “Padroeira do Talhado” foi levada para a serra.

Depois do local onde estão as grutas, a caminhada ainda reserva mais surpresas como o Poço da Sereia. Onde, segundo a lenda, mora uma mãe d’água.


O local é lindo. Trata-se de uma enorme piscina natural com águas escuras e com muita profundidade. Na margem direita do poço existe um pequeno riacho, chamado de córrego da Água Branca, basta segui-lo e, em menos de 5 minutos, se chega a uma cachoeira lindíssima, conhecida por Cachoeira da Esperança. No tempo das chuvas esta cachoeira oferece um espetáculo inesquecível. Continuando a caminhada por dentro da serra se chega ao local mais bonito do Talhado, as Sete Quedas, também conhecida como cachoeira do Bromado. Uma série de belíssimas cachoeiras, no total de sete, formadas pelo rio Mosquito antes de fazer a curva que o conduz até o majestoso canyon:


Um pouco acima do Bromado tem formações rochosas muito bonitas e uma gruta, onde é possível entrar e contornar as rochas tendo como recompensa uma paisagem surpreendente.


Uma descrição apenas razoável poderia comparar o lugar a um vale lunar ou às formações típicas de oceanos. Estudos indicam que a região já foi um imenso mar à milhões de anos atrás. Talvez assim seja possível justificar a gênese destas formações exóticas. Ainda nas proximidades do Bromado estão as pinturas rupestres que, segundo estudos, indicam ter sido feitas há pelo menos 5.000 anos atrás, por nossos antepassados. As pinturas mostram cenas do cotidiano destes moradores primitivos do Talhado, como caçadas, plantações e marcações de tempo:


Na serra ainda existe pelo menos mais um local onde é possível encontrar pinturas rupestres, na região conhecida por Vereda D’água. Mas é possível que ainda existam locais desconhecidos do homem moderno e que podem conter traços importantes da pré história. O ponto mais alto da serra no município de Serranópolis é o local conhecido por Pico do Sanharol, uma elevação rochosa que pode ser avistada de Serranópolis e de diversos pontos do município:


Outras atrações turísticas do município são: O rio das Patacas, a Cachoeira da Ventura e a ponte da Lagoa Grande, e a própria lagoa, que se localiza na propriedade de José Alves:


As opções são variadas e o grau de dificuldade para se chegar a estes locais também. Alcançar o cume do Pico do Sanharol ou um dos paredões do canyon é para poucos aventureiros, pois as trilhas, quando existem, são íngremes e as caminhadas podem durar horas. Em contrapartida, visitar a barragem ou o local onde se localizam as grutas da santa são programas divertidos e possíveis para qualquer pessoa que tenha disponibilidade para caminhar. Seja qual for o seu programa, lembre-se: você será sempre bem vindo se respeitar a Serra do Talhado. Por isso, não caçe, a não ser que você precise disso para sobreviver, não polua e não deixe lixo na serra. Traga-o de volta em sacos plásticos e o atire na primeira lata de lixo que encontrar. Somente respeitando a natureza é que poderemos preservar as belezas da serra para nossos descendentes.

O sol de pondo visto do alto do Pico do Sanharol, ou Pico do Bicão, como muitos o conhecem posted by DÉLIO PINHEIRO 11:46 PM


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Quarta-feira, Outubro 03, 2007

O valente Rio Mosquito:

posted by DÉLIO PINHEIRO 10:07 AM


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Terça-feira, Setembro 18, 2007


A emancipação de Serranópolis de Minas

Comecei minha carreira no rádio trabalhando na FM Independente de Porteirinha. Foram dois anos de muito aprendizado. Eu comecei no final de 1993 e fiquei até o final de 95. E vivi muitas estórias interessantes nesse período de descobertas. A mais importante delas foi a que envolveu a emancipação de Serranópolis de Minas. Todo o processo de emancipação foi acompanhado por mim. Do início do sonho até o desfecho. Eu também ajudei para a realização deste projeto: transformar o então distrito de Porteirinha numa cidade. Fatos curiosos envolveram o processo de gestação da cidade, que hoje continua sua vida, com seu povo trabalhador e festeiro. O meu interesse através desse texto é prestar uma justa homenagem aos homens e mulheres que lutaram para a realização desse sonho. E aguardar, esperançoso, que o futuro possa ser mais generoso com minha cidade no que diz respeito, principalmente, às administrações públicas, que precisam sempre respeitar a cultura e os interesses do povo.


Bela visão da praça

Muitas tentativas de emancipação aconteceram na história de Serranópolis, que, em outros tempos se chamava Jatobá. Sempre havia empecilhos que adiavam o sonho do distrito de se emancipar. Quando Porteirinha se tornou cidade, em 1938, Serranópolis dispunha de um comércio quase tão movimentado quanto o de lá. Os critérios utilizados na época valorizaram a estratégica localização de Porteirinha, localizada na rota que leva à Espinosa, que havia sido fundada 15 anos antes, já na fronteira com o Estado da Bahia. Depois, em 1962, foi a vez de Riacho dos Machados ascender à condição de cidade e, mais uma vez, Serranópolis ficou de lado. Mudavam se os critérios a cada nova lei de emancipação, e, por um motivo ou outro, Serranópolis não lograva êxito em suas tentativas. Em alguns casos, como na década de 1980, quando o prefeito de Porteirinha era o empresário Wilson Cunha, foram motivos pessoais que inviabilizaram o projeto. Meu pai, o comerciante Almir Alves Pinheiro, levou os papéis para o então prefeito, e este, ao ser informado que Sandoval Coelho, seu rival político, estava envolvido com o projeto, não quis apoiar o desmembramento, dizendo que não se poderia “dar asas a uma cobra”, se referindo à Sandoval. Este, por sinal, foi um dos grandes responsáveis pela emancipação que, finalmente, aconteceria em 1997. Sinto muito orgulho de ter participado do processo de emancipação política de Serranópolis porque, pelo menos, três gerações de minha família também alimentaram esse sonho. Meu pai, Almir Alves Pinheiro, meu avô, Délio Pinheiro de Aguiar e também meu bisavô, o Coronel Ananias José Alves. Todos nós tivemos, em tempos diferentes, o mesmo objetivo, ver nossa querida Serranópolis promovida à condição de cidade.


A esquina de Maria de Aurindo

Depois de frustradas as tentativas anteriores, no ano de 1995 surgiu a possibilidade da emancipação através de um novo projeto federal. Uma das condições dessa vez, segundo a lei, é que o distrito deveria possuir um número mínimo de 3.000 habitantes e ter, pelo menos, 400 moradias em sua parte urbana. Os primeiros passos foram traçados pelas pessoas que abraçaram o projeto da emancipação: Alvimar Cardoso, Sandoval Coelho, Ramiro Ribeiro, Laury Moreira, Eilson Cangussú, Osmani Antunes, Aveni Ribeiro, além de meu pai, entre outros. Para começo de conversa era preciso contar as moradias. Eu me ofereci para fazer este trabalho. Numa bela manhã do ano de 1995 eu e Adival Cordeiro, pusemo-nos a contar, uma por uma, todas as casas de Serranópolis. Foram horas com a prancheta na mão. Lembro-me de que muitos curiosos perguntavam o que estávamos fazendo. Diante de nossa resposta, que estávamos trabalhando para emancipar Serranópolis, alguns riam. De certo imaginavam que isso nunca daria certo. Outros, no entanto, demonstravam otimismo. E foi com muito otimismo que todas as etapas foram sendo vencidas nessa batalha pela emancipação. Quando eu e Adival computamos todas as casas, depois de contá-las uma por uma, tivemos uma decepção, Haviam 368 moradias. Faltavam, portanto, trinta e duas para o número mínimo exigido por lei. Este foi um balde de água fria na disposição das pessoas que lutavam pela emancipação. Outra vez um detalhe burocrático vinha azedar os planos de uma comunidade inteira que sonhava com dias melhores.


Rua percorrida no sonho emancipacionista

O que poderia ser um entrave, no entanto, serviu de estímulo para aqueles que compunham a comissão informal da emancipação. A primeira providência foi considerar as casas existentes em um raio de um quilômetro como pertencentes à região metropolitana da futura cidade. Existiam 20 casas nestas condições. Ainda assim ficava faltando 12 casas para atender a exigência legal. Osmani, Almir, Alvimar, além dos outros, resolveram construir as casas que faltavam. Um grande mutirão foi feito e todos colaboraram no que foi possível. Com dinheiro, com material de construção, com madeira e com transporte para levar essas aquisições. Os donos dessas casas seriam pessoas humildes da comunidade. Um grande esforço foi feito porque era preciso obedecer os prazos previstos pela lei. Os tijolos e telhas comprados pela “comissão” começaram a chegar e as casas foram sendo erguidas. A lista dos colaboradores foi extensa: Lia do cartório colaborou com 500 tijolos, meu pai com outros 1000, Odilon Antunes com 1500, Sandoval Coelho com 5.000. Vários sacos de cimento foram doados por Laury, Dãozão do Brutiá, Valdomiro Santos, Afrânio Pinheiro, Natalino, Zé Bagre, João Coragem, Zedey Ribeiro, Anelito e outros. Alvimar Cardoso deu 5.000 telhas, Aveni colaborou com madeiras de sua fazenda, Omir Antunes doou ripas e esquadrilhas, o pedreiro Valcir ofereceu seu trabalho para construir as casas. Contribuições em espécie também foram doadas neste processo que mobilizou toda a cidade. Zezé Cordeiro, José Carlos Aguiar, Ananias Pinheiro Alves, José Mendes de Aguiar foram alguns que desembolsaram somas consideráveis para o mutirão. Mas o que mais chamou a atenção dos organizadores do mutirão foram as pequenas contribuições, na maioria das vezes de apenas R$ 1 real. Uma demonstração inequívoca de que a população de Serranópolis estava abraçando o projeto, movidos outra vez pela esperança. Badé, Zé Vermelho, Barnabé, Joaquim Teixeira, João Escurinho e outros tantos colaboraram, à seu modo, para o mutirão.


Gente serranopolitana

Alguns moradores não estavam entendendo aquela movimentação e começaram a pedir material de construção também, mas não por que precisassem de casas, mas sim para fazer muros, construir banheiros. Nessas horas era preciso agir com diplomacia, explicar as razões daquele esforço e que somente pessoas carentes seriam atendidas com as casas. Cada vez mais a população se convencia de que era possível realizar o sonho de tornar Serranópolis uma cidade. E o mutirão foi crescendo, mas o dinheiro era curto. A criatividade foi colocada em prática nessas horas. Um bom exemplo foi o burro doado por Osmani Antunes, com o qual se decidiu fazer um bingo para arrecadar fundos para a construção das casas. Antes mesmo de marcada a data do sorteio, Dr. Edilson Villas Boas, então vice prefeito de Porteirinha, comprou o burro da “comissão” e tornou doá-lo para se realizar o sorteio. Vale registrar que esse bingo, na verdade, nunca aconteceu. Muitos eram os afazeres dos que estavam envolvidos com o projeto que o bingo foi sendo adiado e adiado. Ao cabo de algumas semanas as casas estavam erguidas, e Serranópolis, que já dispunha do número mínimo de moradores, agora também tinha as 400 moradias exigidas pela lei. Tudo estava caminhando muito bem. Desta vez, ao contrário de outros anos, houve muito interesse do então prefeito de Porteirinha, José Aparecido Martins, o saudoso Zé Bonitinho, em colaborar com a emancipação. A prefeitura da antiga capital mineira do algodão, inclusive, contribuiu com 5.000 tijolos e 20 sacos de cimento para o mutirão.


A entrada da cidade

Pelas exigências da lei era preciso fazer um mapa com a localização das moradias. Esse trabalho coube a meu pai que, apesar de não ser cartógrafo, fez um bom trabalho. Elogiado, inclusive, por Zé Bonitinho, que disse, quando examinava os papéis, que nem iria conferir o mapa pois, já que Almir o fizera, com certeza estava correto. E este foi um trabalho hercúleo, pois além de desenhar o mapa era preciso especificar os moradores de cada uma das casas. Com todos os trâmites legais cumpridos foi marcado um plebiscito. A população de Serranópolis seria ouvida. As opções nessa eleição eram “sim” e “não” . A população iria decidir se queria que o distrito se tornasse uma cidade . No mesmo dia, outros dois distritos de Porteirinha também realizavam o referendo público, Nova Porteirinha e Pai Pedro. A data foi estabelecida e o plebiscito mobilizou a população. Um novo desafio aguardava os serranopolitanos que, naquela manhã, nem desconfiavam do imenso esforço que os aguardavam. A não obrigatoriedade do voto levou um número reduzido de eleitores à votação. Sandoval Coelho, no dia do plebiscito, mandou abater uma vaca e dois carneiros, e pessoas do distrito organizaram um desjejum para os eleitores, que, muitas vezes, saíam de zonas rurais distantes de Serranópolis. Quando restavam duas horas para o fim da votação meu pai, Almir Alves, que nesse momento lia os estatutos, observou um item que previa a validação do plebiscito somente se 50% mais um eleitores votassem. Isso era grave. Meu pai deu o alerta: se não houvesse o quorum, nada feito. Não houve tempo para abatimentos desta vez.


"...Meu pai deu o alerta: se não houvesse o quorum, nada feito"

Todos os envolvidos na emancipação se mobilizaram para buscar eleitores onde quer que fosse. Vários carros partiram em todas as direções do município em busca daqueles que não foram votar. Mesmo em Serranópolis os esforços foram multiplicados nas duas horas que restavam para o fim do plebiscito. Pessoas que se convalesciam de enfermidades eram convidadas para se deslocarem até o local da votação, o antigo mercado. Pelos cálculos de meu pai eram necessários pouco mais de 120 pessoas para se obter quorum. Em alguns casos era preciso convencer as pessoas a se deslocarem de suas casas. “É pra Serranópolis virar cidade, se não for, não vira”, diziam os homens, levando em seguida para o mercado senhoras aposentadas, para as quais o voto era facultativo. Uma hora depois os carros começavam a chegar trazendo famílias inteiras da zona rural e até mesmo de Porteirinha. Quando restavam menos de uma hora ainda eram necessários pelo menos 70 eleitores. A essa altura a tensão estava fortíssima. Bastava alguém se lembrar de uma família de alguma localidade que não havia aparecido para votar, que Alvimar e os outros, mandavam uma caminhonete para buscar. “Vá ligeiro”, gritavam. E os carros, de novo, iam buscar gente. E mais pessoas iam chegando para votar. Valmir Alves, Sídio, Ananias e tantos outros, corriam atrás de pessoas que ainda não haviam votado. Eu me lembro de estar tão ocupado nessa tarde, atrás das pessoas para votarem, que ainda não havia me dado conta, que eu próprio, ainda não tinha votado. Eu corri ao local e cumpri com minha obrigação. A esta altura ainda faltavam uns vinte eleitores para votar. A única pessoa, entre os que se dispuseram a ajudar desde o primeiro minuto, que não se mobilizou nesse esforço final para se obter o quorum, foi Aveni Ribeiro, que estava, vejam vocês, pedindo voto para a eleição que, se tudo desse certo, aconteceria no próximo ano. “Eu vou ser candidato na eleição e queria te pedir um votinho”, dizia Aveni, antes mesmo de Serranópolis se tornar cidade.


As festas e a religiosidade de nossa gente

Com a chegada dos carros finalmente o quorum foi conseguido. Em seguida houve uma grande confraternização entre as pessoas envolvidas no projeto. Agora era só esperar a confirmação que viria no mesmo dia. Até aquele momento eu não supunha que seria o porta voz da melhor notícia que o povo de Serranópolis poderia ouvir em sua história. Logo após o término do plebiscito eu fui para Porteirinha. Eu tinha programa naquela noite na Rádio Independente FM. Assim que cheguei, o advogado Dr. Binha, meu ex-patrão, ligou para a emissora, já com o resultado dos plebiscitos dos três distritos: Nova Porteirinha, Pai Pedro e Serranópolis. Dr. Binha disse: “Délio, avisa aí que só Serranópolis virou cidade. Pai Pedro e Nova Porteirinha não conseguiram, essas não tiveram quorum.” Antes de entrar no ar para dar essa notícia eu estava radiante de felicidade e, ao mesmo tempo orgulhosíssimo de meu pai, que com sua curiosidade permitiu a Serranópolis passar sem problemas por esse plebiscito. Eu dei a notícia na rádio com toda a alegria do mundo parabenizando o povo de Serranópolis, que agora havia se tornado legalmente uma cidade. Ao mesmo tempo eu estava consternado pelos outros dois distritos que, por certo, também mereciam a emancipação. A razão de Serranópolis ter obtido êxito no plebiscito se deu porque foi observada a necessidade do quorum, detalhe ignorado nos outros dois distritos. Logo depois da notícia ter sido divulgada lembro-me que pessoas de Pai Pedro ligavam atônitas para a rádio, “mas como é que é isso?” Perguntavam desesperadas: “Só Serranópolis conseguiu?”


Serranópolis vista de muito longe, do espaço

O que aconteceu no resto daquela noite, em 1995, só é possível supor através de um exercício de imaginação, mas o fato é que no dia seguinte, pela manhã, os dois outros distritos haviam conseguido aprovar suas emancipações, mesmo sem atingir o quorum necessário previsto pela lei. A pessoa que poderia explicar o acontecido, Dr. Binha, com quem eu tive a honra de conviver e que era advogado da prefeitura de Porteirinha, já não está mais conosco. O fato é que Pai Pedro e Nova Porteirinha, no dia seguinte, puderam fazer suas festas também. Eu tenho uma teoria para o acontecido. Na minha opinião o famoso “jeitinho brasileiro” pode, muito bem, ter sido o responsável por esse feito. Serranópolis e Pai Pedro se eqüivaliam na época. Tinham mais ou menos a mesma população e os mesmos indicadores econômicos e sociais. Nova Porteirinha, no entanto, era o mais próspero dos três distritos. Era mais rico e mais desenvolvido, pois parte do projeto Gorutuba de irrigação fica em seu território e, portanto, era dada como certa a sua emancipação. Diante dessa informação é que o fato de Serranópolis ter conseguido em detrimento, principalmente de Nova Porteirinha, é que essa “solução” pode ter sido dada e os três distritos foram emancipados. Ainda nessa linha de raciocínio é possível dizer que se não fosse pelo esforço dos homens envolvidos com a emancipação de Serranópolis, desde meu pai que deu conta que era necessário um número mínimo de eleitores, até os homens que disponibilizaram seus carros e seus esforços para buscar os eleitores, nenhum dos três distritos teria ascendido à condição de cidade.


A posse do primeiro prefeito, Aveni Ribeiro

Os votos favoráveis a emancipação de Serranópolis foram esmagadores no plebiscito. Foram 1319 votos no “Sim” e apenas 98 no “Não”. No dia 1o de janeiro de 1996 Serranópolis tornou-se oficialmente cidade. E já naquele ano elegia seu primeiro prefeito, Aveni Ribeiro, que já pedia votos mesmo antes da emancipação. Agora Serranópolis ganhava também um acréscimo em seu nome, passando a se chamar Serranópolis de Minas.

Quanto ao burro que seria sorteado no bingo, ninguém soube de seu paradeiro após a emancipação.

Nota: Muitas outras pessoas também ajudaram na emancipação. Não seria possível citar todas neste texto. posted by DÉLIO PINHEIRO 12:57 PM







Geografia

Sua população estimada em 2004 era de 3.895 habitantes.

Referências

  1. «Estimativas da população para 1º de julho de 2008» (PDF). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 29 de agosto de 2008. Consultado em 5 de setembro de 2008 
  2. «Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil». Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2000. Consultado em 11 de outubro de 2008 
  3. a b «Produto Interno Bruto dos Municípios 2002-2005» (PDF). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 19 de dezembro de 2007. Consultado em 11 de outubro de 2008 
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