TUE Série 200 (Trensurb)
TUE Série 200 (Trensurb) | |
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Trem Série 200 durante testes, 2014. ---- Interior do trem Série 200, 2020. ---- | |
Fabricante | Alstom CAF (truques) |
Fábrica | Lapa, São Paulo |
Família | Metropolis II |
Período de construção | 2012-2014 |
Entrada em serviço | 2014- |
Período de renovação | 2015-2021 (recall e reparos) |
Total construídos | 15 trens 60 carros |
Operador | Trensurb |
Linhas | Metrô de Porto Alegre |
Especificações | |
Corpo | Aço inox |
Comprimento Total | 84 m |
Comprimento do veículo | 22 m |
Portas | 8 por carro comando elétrico |
Velocidade máxima | 90 km/h |
Aceleração | 0,90 m/s |
Desaceleração | Serviço: 1,10 m/s2
Emergência: 1,20 m/s |
Tipo de tração | elétrica (corrente alternada)
Alstom IGBT–VVVF ONIX 233 XHP |
Motor | 8 Motores Assíncronos AC Alstom 4ECA2142B |
Potência | 2520 kW [1] |
Tipo de transmissão | Manual / ATO - Automático |
Tipo de climatização | HVAC (ar condicionado) |
Captação de energia | Pantógrafo |
Freios | Freios à disco |
Acoplamento | Scharfenberg |
Bitola | 1600 mm |
O TUE Série 200 (Trensurb) é um trem unidade elétrico utilizado no Metrô de Porto Alegre. Adquiridos em 2012 por 244 milhões de reais, começaram a ser entregues em 2014, para ampliação da frota durante a Copa do Mundo de 2014. Após a entrega dos trens, diversos defeitos de fabricação causaram um acidente e várias paralisações de frota durante quatro anos.[2] As falhas provocaram investigações do Ministério Público Federal, que apurou também um suposto cartel que envolveria Alstom e CAF para licitações federais. Enquanto a CBTU adquiriu, em uma licitação sem concorrência, trens de um consórcio formado pela CAF e Alstom para o Metrô de Belo Horizonte (Consórcio Frota BH, com 93% da Alstom e 7% da CAF), a Trensurb adquiriu, com outra licitação sem concorrentes, a Série 200 do consórcio Frota PoA (formado pela Alstom com 87,30% e CAF 12,70%).[3]
História
[editar | editar código-fonte]Projeto
[editar | editar código-fonte]No final da década de 2000 a Trensurb iniciou a ampliação da Linha 1 entre São Leopoldo – Novo Hamburgo, com 9,3 quilômetros de extensão. Até 2011 a empresa pública previa a aquisição de 5 trens-unidade para atender a demanda futura trazida por essa expansão.[4] Em 2012 o então presidente da Trensurb Humberto Kasper decidiu adquirir 15 novos trens-unidade. Kasper alegou que a aquisição atenderia a demanda adicional trazida pela participação de Porto Alegre na Copa do Mundo FIFA de 2014 (embora nenhuma estação do Metrô estivesse perto do Estádio Beira-Rio) e baseando-se numa suposta projeção de demanda para os próximos anos que previa uma acrescimo de 30 mil novos passageiros por dia.[5]
Em 2012 a Trensurb realizou uma licitação para a aquisição de 15 trens-unidade de 4 carros. O único consórcio a realizar uma proposta foi o Frota PoA, formado pela Alstom com 87,30% e CAF 12,70%. A proposta acabou declarada vencedora pela Trensurb em dezembro de 2012, em um valor de 244 milhões de reais (reajustados para 256,8 milhões de reais até a conclusão do contrato) [6][7]
O primeiro trem foi entregue em maio de 2014[6], com as entregas ocorrendo até janeiro de 2015[8]:
Ano | TUE's Entregues |
---|---|
2014 | 14 |
2015 | 1 |
Total | 15 |
Operação
[editar | editar código-fonte]Com o primeiro trem entregue em fins de maio de 2014, os primeiros testes operacionais ocorreram na segunda semana de junho.[9] Apesar da expectativa de utilização no período da Copa do Mundo de 2014 (para acelerar o trâmite de testes, a Trensurb concordou com uma proposta da Alstom em não realizar testes dinâmicos de aceitação com os trens e utilizar os resultados de testes de outros produtos como comprobatórios[10]), os trens permaneceram em testes de operação até setembro de 2014, quando foram liberados os primeiros testes com passageiros.[11] Os testes de operação prosseguiram até meados de fevereiro de 2015, quando os primeiros trens foram liberados para a operação comercial[12] Para realizar a manutenção dos trens Série 200 durante quinze meses, a Trensurb contratou a Alstom (fabricante do trem) por 5,9 milhões de reais.[13]
Pouco tempo após a liberação comercial, o trem 226 sofreu um descarrilamento na estação São Pedro. O acidente provocou o recolhimento de toda a frota para análise e a Trensurb descobriu 20 falhas de fabricação nos trens[14]:
Componente | Falha |
---|---|
Truque | * Parafusos de fixação do truque ao estrado * Infiltração nos rolamentos das rodas *Infiltração de água nos eixos das rodas * Perfil das rodas incompatível com perfil dos trilhos *Falha nas bolsas de ar (suspensão primária) * Vazamento de óleo dos amortecedores (suspensão secundária) *Vazamentos nas tampas de graxa * Odômetro descalibrado * Anéis de vedação das tampas dos rolamentos com desgaste precoce *Defeitos nas tampas dos rolamentos |
Estrado | *Desgaste precoce dos batentes laterais |
Carroceria | *Limitadores verticais da carroceria soltos |
Equipamentos elétricos | * Cabos de energização mal fixados *Tampas soltas dos equipamentos de aterramento elétrico * Desgaste precoce das escovas de aterramento *Ruído excessivo nos rolamentos dos motores de tração (trens 228 e 229) *Transformador com falha de fabricação (dois trens apenas) *Vazamento nas válvulas dos pantógrafos |
Acabamento | * Falhas nos assentos (trem 234 apenas) |
Após reparos efetuados pela Alstom, seis trens Série 200 foram liberados para a operação em julho de 2016 enquanto outros nove permaneceram em recuperação até meados de 2018.[15] Treze trens encontravam-se em operação em fevereiro de 2019[16], porém novos defeitos obrigaram o recolhimento da frota para reparos em dezembro de 2019.[17]
Os recorrentes defeitos de fabricação da Série 200 motivaram o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul a realizar a abertura de inquérito de investigação.[18][19] Paralelamente o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) incluiu a licitação em suas investigações sobre licitações no transporte público. Em julho de 2019 o CADE multou onze empresas em 535,1 milhões de reais, incluindo Alstom (128.629.879,38 reais) e CAF (167.057.982,53 reais), por conta de praticarem cartel na aquisição de equipamentos e projetos ferroviários. Sobre o contrato da Trensurb com o consórcio Frota PoA (formado por Alstom e CAF), o CADE declarou:
“ | ...A atuação coordenada das empresas teve como objetivo eliminar a competição das licitações e elevar o preço final dos projetos. | ” |
— Nota do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE)[20] |
A Trensurb, por fim, multou o consórcio Frota PoA no valor de 2% sobre o valor final do contrato.[19]
Após um breve período de circulação, novas falhas obrigaram ao recolhimento da frota para reparos em setembro de 2020.[21] Em janeiro de 2021 havia onze dos quinze trens em operação e a Trensurb iniciou um projeto para acoplamento dos trens (que passariam de trens de 4 carros para 8 carros), porém falhas em sistemas impediram o projeto de ser implementado até meados de outubro.[22][23]
Desempenho
[editar | editar código-fonte]Segundo o manual fornecido pela Alstom, o trem Série 200 deveria ter uma quilometragem média entre falhas (MKBF) de 2500 km. Por conta das diversas falhas, que motivaram um recall de toda a frota, apenas em 2017 o MKBF passou a ser medido:
Ano | Quilometragem média entre falhas MKBF (meta) |
Quilometragem média entre falhas MKBF (obtida) |
---|---|---|
2017 | 2500 km | 1458,9 km |
2018 [24] | 1610,9 km | |
2019[25] | 1444,5 km | |
2020[26] | 1026,7 km |
Acidentes e incidentes
[editar | editar código-fonte]- 7 de abril de 2015 - Trem da Série 200 descarrilou quando estacionava na Estação São Pedro. O descarrilamento provocou um pequeno choque do trem com a plataforma, destruindo um trecho dela e danificando o trem. Apesar do acidente, nenhum passageiro ou funcionário se feriu.[27] Após o acidente, a Trensurb recolheu toda a frota de 15 trens para avaliação. A avaliação da Trensurb descobriu vários defeitos de fabricação e provocou o maior recall de trens-unidade do Brasil.[28] Os trens da Série 200 inicialmente ficaram parados até junho de 2016 quando os reparos foram efetuados.[29] Novas falhas provocaram um novo recolhimento em novembro de 2017, que durou até março de 2019. Em dezembro daquele ano, nova falha de fabricação obrigou ao recolhimento de 9 trens.[30][31]
- 17 de agosto de 2022 - Durante manobra no pátio da estação Mercado, um trem da Série 200 descarrilou e colidiu com um poste da rede aérea do metrô. O acidente não deixou feridos, porém causou a interdição do trecho entre as estações São Pedro e Mercado por três horas.[32]
Referências
- ↑ «Frota Trensurb-Porto Alegre» (PDF). Revista Ferroviária, página 67. Novembro de 2017. Consultado em 11 de julho de 2020
- ↑ Humberto Trezi, Jeniffer Gularte e Jocimar Farina (23 de maio de 2018). «Falhas graves, custo milionário: por que os trens "novos" da Trensurb não funcionam». Zero Hora. Consultado em 7 de julho de 2020
- ↑ Larissa Arantes (15 de agosto de 2013). «Licitação de vagões do metrô de BH é investigada em SP». O Tempo (MG). Consultado em 7 de julho de 2020
- ↑ Trensurb (2012). «Tabela XVII - Dados gerais da ação 7L64 - 0056» (PDF). Relatório de Gestão, página 38. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ «Trensurb busca ampliar frota de trens». Trensurb. 17 de janeiro de 2012. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ a b «Trensurb recebe primeiro dos 15 novos trens». Trensurb. 25 de maio de 2014. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ «Presidenta Dilma assina ordem de compra dos novos trens». Trensurb. 23 de dezembro de 2012. Consultado em 9 de julho de 2020
- ↑ «15º novo tremchega ao pátioda Trensurb». Trensurb. 15 de janeiro de 2015. Consultado em 9 de julho de 2020
- ↑ «Nova composição da Trensurb realiza primeiras viagens de testes». Trensurb. 10 de junho de 2014. Consultado em 9 de julho de 2020
- ↑ Jeniffer Gularte (23 de julho de 2018). «Trensurb abriu mão de testes que poderiam ter evitado problemas em novos trens». Zero Hora. Consultado em 9 de julho de 2020
- ↑ «Usuários aprovam nova composição da Trensurb». Trensurb. 22 de setembro de 2014. Consultado em 9 de julho de 2020
- ↑ «Trensurb inicia testes com trens acoplados». Trensurb. 13 de fevereiro de 2015. Consultado em 9 de julho de 2020
- ↑ «Trensurb firma contrato de manutenção preventiva dos novos trens». Trensurb. 4 de março de 2015. Consultado em 9 de julho de 2020
- ↑ Humberto Trezzi, Jeniffer Gularte e Jocimar Farina (23 de maio de 2018). «20 falhas que fizeram os novos trens da Trensurb ficarem parados:Os problemas identificados foram avaliados por técnicos da empresa e por especialistas». Zero Hora. Consultado em 9 de julho de 2020
- ↑ Amiltom Belmonte (1 de novembro de 2017). «Retirados para recall, parte dos novos trens da Trensurb segue sem circular». Jornal Novo Hamburgo. Consultado em 15 de julho de 2020
- ↑ Alexandre Pélegi (25 de fevereiro de 2019). «Trensurb consegue operar com 13 dos 15 novos trens adquiridos em 2012». Diário do Transporte. Consultado em 15 de julho de 2020
- ↑ Jocimar Farina (dezembro de 2019). «Novos trens da Trensurb voltam a ser retirados de operação por problemas de fabricação». Zero Hora. Consultado em 15 de julho de 2020
- ↑ Lucas Rivas (2 de abril de 2018). «Procurador chama de "drama mexicano" demora da Trensurb em reativar novos trens». Rádio Guaíba. Consultado em 15 de julho de 2020
- ↑ a b Tom Belmonte (11 de junho de 2018). «MPF e Cade investigam cartel na Trensurb». Extra Classe. Consultado em 15 de julho de 2020
- ↑ «Cade multa em R$ 535,1 milhões cartel de trens e metrôs». Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). 8 de julho de 2019. Consultado em 15 de julho de 2020
- ↑ Jocimar Farina (9 de setembro de 2020). «Trens da Trensurb, que custaram R$ 244 milhões, voltam a apresentar dois novos problemas». Zero Hora. Consultado em 12 de outubro de 2021
- ↑ Jennifer Gularte (12 de maio de 2021). «Seis anos após entrega, novos trens da Trensurb não apresentam falhas graves, mas pendências impedem que veículos sejam acoplados». Zero Hora. Consultado em 12 de outubro de 2021
- ↑ Alberi Neto e Samantha Klein (15 de outubro de 2021). «Superlotação, escadas rolantes paradas, banheiros interditados e falta de álcool gel: os problemas que seguem no Trensurb». Gaúcha-Zero Hora. Consultado em 18 de outubro de 2022
- ↑ Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (2019). «c) MKBF - Série 100 e 200» (PDF). Relatório de Gestão 2018, página 41. Consultado em 7 de julho de 2020
- ↑ Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (2020). «c) MKBF - Série 100 e 200» (PDF). Relatório de Gestão 2019, página 24. Consultado em 12 de outubro de 2021
- ↑ Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (2021). «3.4 Resultados e Desempenho da Gestão-3.4.1 Principais Ações e Projetos:MKBF - Série 100 e 200» (PDF). Relatório Integrado, página 25. Consultado em 18 de outubro de 2022
- ↑ G1 RS (7 de abril de 2015). «Acidente interrompe funcionamento do Trensurb em duas estações no RS». G1. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ G1 RS (8 de abril de 2015). «Após acidente, Trensurb normaliza operação e recolhe 15 novos veículos». G1. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ Renato Lobo (16 de junho de 2016). «Novos trens da Trensurb voltam a partir de 1º de Julho». Via Trólebus. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ Raphaela Suzin (20 de novembro de 2020). «Trens novos voltam a apresentar problemas e saem de circulação». Correio do Povo. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ Jeniffer Gularte (26 de dezembro de 2019). «Novos trens da Trensurb voltam a ser retirados de operação por problemas de fabricação». Zero Hora. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ Laura Becker (17 de agosto de 2022). «Trensurb tem três estações fechadas na tarde desta quarta-feira para retirada de composição avariada». Gaúcha-Zero Hora. Consultado em 18 de outubro de 2022