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Usuário(a):Bakongo/Testes

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1. Igreja Nossa Sra. de Fátima[editar | editar código-fonte]

Datada dos anos 30, a igreja Nossa Senhora de Fátima, surge num período muito importante em Portugal, período este que serviu de charneira no que diz respeito à arquitectura moderna. Tendo este período, sido marcado por dois grandes acontecimentos: a Exposição do Mundo Português, organizada pelo Governo, liderado pelo estadista e professor catedrático português António de Oliveira Salazar ou simplesmente Salazar (1889-1970), e a construção de uma nova igreja para o Patriarcado de Lisboa, com o intuito de ser a primeira igreja modernista em Portugal. Surgindo assim a Igreja Nossa Senhora de Fátima, construída sob orientação do Cardeal Patriarcal de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), que queria que a nova igreja satisfazesse três condições: primeira ser uma igreja, segunda ser uma igreja moderna e por último ser uma igreja moderna bela. A sua construção provocou um grande impacto e polémica face suas características modernistas, tendo ainda sido encomendada com o intuito de substituir a igreja de São Julião, uma igreja localizada na baixa lisboeta que se pretendia demolir, para que se edificasse uma nova e monumental sede do Banco de Portugal. A igreja possuía um projecto arrojado, com uma construção verdadeiramente de compromisso, entre a modernidade com uma aparência exterior chocante, e um espaço interno com grandes referências da espiritualidade gótica. Foi a primeira a desafiar os códigos tradicionalistas e revivalistas, inspirando-se nos mais recentes e modernos projectos franceses daquela época. A execução do projecto foi responsabilizada ao arquitecto português Porfírio Pardal Monteiro, que inspirou-se nos modelos arquitectónicos franceses, as igrejas de Raincy e Montmagny construídas por Auguste Perret isso nos anos 20. [1] A construção da igreja Nª. Sª. de Fátima segundo o Cardeal Cerejeira marcou o início de uma nova era e de uma transformação em toda arte religiosa. É neste ponto, que várias personalidades da sociedade portuguesa e anónimos discordaram totalmente, defendendo uma arte nacional, contra o que consideravam ser o internacionalismo comunista, como foi referido pelo coronel português Arnaldo Ressano Garcia (1880-1947), na altura Presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes. [2]

1.1. História[editar | editar código-fonte]

A Igreja de Nossa Senhora de Fátima surge com o intuito de substituir uma outra, ou seja, quando o Banco de Portugal compra a Igreja de S. Julião para alargar as suas instalações, teve que procurar um outro sítio para assim implantar um outro templo. Foi então criada uma comissão que ficou encarregue do trabalho, passando-se a chamar Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada do Progresso de Portugal. A freguesia de S. Julião onde estava localizada a antiga igreja foi extinta, visto ter diminuído grandemente a população nas freguesias centrais, em consequência da concentração comercial no centro de Lisboa. Por outro lado, era necessário desdobrar a freguesia de S. Sebastião da Pedreira, cuja igreja paroquial, por ser demasiado pequena, já não respondia às condições necessárias ao culto católico, por parte da população das Avenidas Novas, compreendidas nos limites daquela freguesia, então assim o arquitecto português Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957) ficou incumbido de realizar o projecto da nova igreja, que substituindo a Igreja de S. Julião viesse a ser a paróquia da nova freguesia. E aos 30 de Janeiro de 1934 torna-se público a aprovação dos estudos de Pardal Monteiro para a elaboração do projecto definitivo da nova igreja, a igreja da Nossa Senhora de Fátima, com a colaboração do arquitecto português Raul Rodrigues Lima (1909-1980) e de alguns estudantes então a trabalhar no atelier de Pardal Monteiro, onde se destaca João Faria da Costa (1906-1971), primeiro arquitecto urbanista português com formação no exterior. Esses estudos foram elaborados com a cooperação de dois beneditinos, Don Bellot (1876-1944), arquitecto francês e Don Martin (s.d.) personagem de relevo na renovação da arquitectura litúrgica [3]

1.2 Projecto[editar | editar código-fonte]

Após a escolha da comissão delegada para a construção da igreja e o seu arquitecto, surge a escolha do lugar. Este, é o talhão contornado pelas Avenidas de Berna, Marquês de Tomar, Barbosa da Bocage e a Rua Poeta Mistral, por estas reunirem um grande número de condições favoráveis para a sua implantação. Tais como, a posição central em relação aos limites da freguesia que viria a ser criada. A orientação do edifício, não sob ponto de vista litúrgico mas quanto a valorização estética do local. Quanto a orientação, duas soluções foram apresentadas como viáveis, uma orientando o edifício ao Norte, nesse caso para a Avenida de Berna, por ser a artéria mais importante, e a outra orientação seria a Nascente.[4] A primeira solução infelizmente teve de ser abandonada porque implicava a compra de todo o quarteirão e consequentemente o desperdício de fundos que mais tarde iriam afectar os planos grandiosos para a futura construção. Sem mencionar que alguns proprietários de alguns lotes não estavam dispostos a vender as suas partes. A segunda embora com todos os inconvenientes da futura vizinhança de construções de destino e de arquitectura muito diferente, apresentava entre outras vantagens, a de não se gastar quantias avultadas no terreno e de permitir a colocação da igreja como fundo de perspectiva da Avenida Elias Garcia. E assim foi essa por consequência adoptada apesar dos seus inconvenientes. [5] E assim no ano da publicação do seu projecto, em 1934, a igreja começa a ser construída, com uma planta rectangular irregular, dividida entre igreja e um centro paroquial, separados apenas por um pequeno corredor longitudinal pavimentado de calçada de calcário. Igreja formada por três naves escalonadas, sendo a central mais larga sem colunas, pilares ou outro qualquer elemento de estrutura que estorvasse a vista do altar, tendo cerca de dezoito metros de largura podendo albergar até oitocentas pessoas sentadas. Adossadas a nave central estão seis capelas três de cada lado, antecedidas por exo nártex, que apenas dá para esta nave central, tendo o baptistério e a torre sineira adossados ao lado direito, com uma capela-mor estrita com várias dependências adossadas à fachada posterior, dando origem as capelas mortuárias no piso térreo e as dependências paroquiais no piso superior, com coberturas diferenciadas em terraços não acessíveis, de betão com tela asfáltica e material drenante, formado por gravilha.[6] [7]

1.2.1-Fachadas[editar | editar código-fonte]

As fachadas da igreja são percorridas por um alto embasamento de cantaria cinza saliente, coroado por placas do mesmo material, interrompidas equidistantes por frisos salientes de calcário, as paredes à cima rebocadas e pintadas de branco, rematadas por friso de betão. [8] A fachada principal, orientada a Este, marcada no seu lado esquerdo por um cunhal mais alto que o edifício, onde é erguida uma imagem do orago, em cantaria de calcário, evocando o Art Déco é rasgada por três janelões retangulares divididos por molduras salientes e protegidos por vitral. Na zona inferior, o corpo saliente do exo nártex, coroado por treze edículas retangulares em que cada uma alberga um apóstolo, marcado por um amplo vão rectangular. Anda essa fachada é flanqueada por dois corpos de menores dimensões, marcando os vestíbulos e as naves laterais, surgindo no lado direito, a torre sineira, quadrangular, mas com ângulos truncados por pequenos ressaltos, rematada em coruchéu octogonal, com um cata-vento de bronze no topo, cada face é rasgada por cinco pequenas frestas que dão luz as escadas de acesso às sineiras, estas protegidas por adufas geométricas, a frontal e posterior ostentando a enorme cruz latina. Ao lado da torre, como um corpo individualizado, mas articulado com a igreja, está o Baptistério, de planta circular e cobertura em falsa cúpula escalonada em betão com uma cruz no vértice, toda a sua superfície é revestida a cantaria de liós, com os habituais frisos salientes cinzas, tendo no lado NE., sete vãos rectilíneos divididos por colunas cilíndricas protegidos por vitrais. [9] O nártex acede ao templo por portal axial de verga recta, amplo e com duas folhas de madeira e por duas portas laterais, com o mesmo perfil mas só com uma folha de madeira, estas duas portas dão acesso a dois pequenos vestíbulos. [10] As fachadas laterais possuem características semelhantes a principal, tendo no corpo da nave um ressalto e seis pequenos contrafortes que ajudam a escorar a cobertura interna onde surgem cinco frestas longilíneas protegidas por vitral. Num nível inferior, os corpos das naves laterais são iluminadas por frestas rasgadas nas faces laterais. [11] A fachada posterior é marcada por um presbitério sem vãos e ligeiramente mais estreito que a nave, a capela-mor forma um polígono de cinco faces, marcadas por contrafortes de cantaria, sendo estas faces totalmente preenchidas por vitrais, inscritos em quadrados com molduras vazadas. Na base da capela-mor está um corpo de dois pisos, o primeiro corresponde às capelas mortuárias, rasgadas por sete janelas rectilíneas, e no segundo piso está a zona do cartório e da sacristia, com igualmente sete janelas mas nesse caso angulares, com molduras recortadas superiormente. [12]

1.2.2- Interior[editar | editar código-fonte]

O interior da igreja é composto por quatro vestíbulos em cada ângulo, revestidos a cantaria com tectos planos e pavimento em lajeado, possuindo uma porta principal de acesso e uma de acesso aos anexos. Tem três naves de oito tramos, o primeiro ocupado pelo coro-alto, separadas por amplos pilares de cantaria, onde surgem as cruzes de sagração pintadas de dourado, ao longo das quais estão exteriormente dois corredores junto à cobertura que funcionam como piso técnico para ventilação lateral e acesso aos holofotes de iluminação e manuseamento dos candeeiros da nave central. As paredes apresentam alto lambril de cantarias, com a zona superior e coberturas pintadas de azul. O pavimento é em cantaria de calcário com parquet na zona dos bancos dos assistentes e coberturas diferenciadas, planas e em betão, cortada, na nave central por sete arcos diafragma de perfil apontado também em betão e possuindo as zonas superiores vazadas em quadrículas ornada com candelabros, cálices, pombas e cruzes de cristo e o intradorso pintado com estrelas. Junto aos portais encontramos pias de água benta em mármore preto de perfis poligonais com um nicho da mesma forma assentes sobre mísula. O coro-alto em betão com guarda plena pintada com a coroação da Virgem ao centro flanqueada pelas figuras de São Teotónio, Bento Nuno Álvares, João de Deus, São Gonçalo, Santo António e São João de Brito, surgindo no lado oposto as Virgens Júlia e Máxima, Beata Teresa, Santa Isabel, Santa Luzia e Beata Beatriz. Sobre o coro ergue-se um grande órgão e é iluminado por vãos protegidos por vitral, compondo uma crucificação tripartida. As frestas existentes nas naves também em vitrais apresentam imagens da virgem, com dez invocações e cenas bíblicas ou profanas. Em cada uma das naves laterais abrem três capelas de perfil poligonal, revestidas a brecha da Arrábida, iluminadas por duas frestas com vitrais a representar turíbulos. São dedicadas a Santo António, Nossa Senhora do Carmo e Sagrado Coração de Jesus, no lado do Evangelho, surgindo, no oposto, Santa Teresinha, São José e Nossa Senhora das Dores. Nos ângulos das naves surgem dois espaços rasgados no muro com acesso por um degrau onde estão quatro confessionários e no lado oposto dois, todos eles em madeira. No centro do altar está a pia baptismal circular metálica, centrada pela figura de São João Batista. O presbitério é marcado por grande arco onde estão inscritos símbolos salvíficos, identificados por dísticos latinos. Este altar-mor é em cantaria por detrás do qual surge o sacrário embutido num cibório composto também por base de cantaria onde surge uma estrutura de quatro pilares que sustentam a cobertura piramidal, forrada a mosaico dourado e com símbolos eucarísticos que amparam trono expositivo de cinco degraus escalonados, tendo este o acesso por duas escadas de perfil curvo também em cantaria e com guardas escalonadas do mesmo material. Este espaço que comporta o altar é coberto por um tecto plano onde surge a figura do Espírito Santo, contra um fundo azul. [13] Ao lado da igreja está o centro paroquial onde funcionam várias actividades e também onde se encontra a habitação dos párocos. Colado a si está também um edifício de cinco pisos que também alberga várias funções, tendo a sala de catequese, salão de festas, refeitório, cozinha, hospedaria e casa do pároco com o acesso ao Sul por um alpendre gradeado. Esse edifício multifuncional possui as fachadas rasgadas regularmente por vãos rectilíneos que no lado Norte correspondem no piso inferior a portas de acesso as diferentes dependências protegidas por palas de betão. [14])

1.2.3- Estrutura[editar | editar código-fonte]

A igreja tem na sua constituição o betão como material base. Em relação a elaboração do projecto e da execução da estrutura de betão armado nada de muito chamativo existe, apenas ressaltar que tiveram muito pouco tempo para as realizar. A estrutura da igreja é formada por arcos de três articulações, originadas de cruzamento das armaduras e apoiados em pórticos formados pelos pilares, vigas das coberturas e pavimentos das capelas laterais. Para se obter esforços verticais sobre as fundações empregaram-se tirantes de betão armado enterrados reunindo os dois pórticos e apoios de cada arco. O problema mais difícil que encontraram foi o do contraventamento longitudinal dos arcos, pois que por condições impostas por Pardal Monteiro, era impossível colocar as peças de contraventamento na sua posição corrente. Isso foi solucionado utilizando vigas longitudinais ligadas aos arcos por prumos encastrados nas duas extremidades. Os arcos principais da igreja têm de vão 17,20 metros e de altura máxima acima do terreno primitivo 22 metros. A altura dos arcos no fecho é de 80 cm e a sua espessura 45 cm. [15] Muitos outros trabalhos em betão armado foram feitos, mas não que tenham tanto protagonismo, a não ser a construção da torre sineira que tem uma altura de 45 metros. O prazo para a execução de todo o trabalho foi de seis meses e que tal foi muito bem cumprido. Realçar ainda que esse trabalho contou com a direcção do engenheiro João Faria da Costa. [16] Em suma a Igreja de Nossa senhora de Fátima até a data da sua construção foi edifício que muito dividiu opiniões, isso porque ela surge período único de Portugal, em que este estava a sofrer alterações que iam da política até questões socias. Ela marca com a sua construção uma mudança em toda a arte religiosa em Portugal. Uma das alterações que Portugal sofria era a afirmação nacionalista e por Pardal Monteiro ter sido influenciado em obras internacionais justificaria até um certo ponto algumas opiniões divididas. Mas tudo foi ultrapassado e surgiu nas Av. Novas uma igreja renovadora de planta rectangular acompanhada de um centro paroquial, a igreja alberga três naves escalonadas, sendo a central mais larga sem colunas e pilares que tapassem a visibilidade para o altar iluminado por graciosos vitrais, as naves laterais albergam também três capelas cada e através da nave à direita chega-se ao baptistério e a torre sineira toda ela em betão armado, material predominante na construção da igreja. Nas fachadas o que mais chama atenção é o seu alto embasamento de cantaria e as várias frestas tapadas por vitrais iluminando assim de forma graciosa a igreja, criando um ambiente muito litúrgico.

  1. Universidade Católica Portuguesa (2000). Revista Lusitania Sacra - Protestantismo e Catolicismo nos séculos XIX-XX. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa. 413 páginas 
  2. Universidade Católica Portuguesa (2000). Revista Lusitania Sacra - Protestantismo e Catolicismo nos séculos XIX-XX. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa. pp. 413–414 
  3. Universidade Católica Portuguesa (2000). Revista Lusitania Sacra - Protestantismo e Catolicismo nos séculos XIX-XX. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa. pp. 419–420 
  4. Almeida, Leopoldo (1938). Revista Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitectos nº 7. Lisboa: -. pp. 188–199 
  5. Almeida, Leopoldo (1938). Revista Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitectos nº 7. Lisboa: -. 189 páginas 
  6. Figueredo, Paula (2008). «Monumentos». Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Consultado em 04 de Março de 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  7. Almeida, Leopoldo (1938). Revista Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitectos nº 7. Lisboa: -. 196 páginas 
  8. Figueredo, Paula (2008). «Monumentos». Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Consultado em 04 de Março de 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  9. Figueredo, Paula (2008). «Monumentos». Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Consultado em 04 de Março de 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  10. Figueredo, Paula (2008). «Monumentos». Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Consultado em 04 de Março de 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  11. Figueredo, Paula (2008). «Monumentos». Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Consultado em 04 de Março de 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  12. Figueredo, Paula (2008). «Monumentos». Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Consultado em 04 de Março de 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  13. Figueredo, Paula (2008). «Monumentos». Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Consultado em 04 de Março de 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  14. Figueredo, Paula (2008). «Monumentos». Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima. Consultado em 04 de Março de 2015  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  15. Almeida, Leopoldo (1938). Revista Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitectos nº 7. Lisboa: -. 214 páginas 
  16. Almeida, Leopoldo (1938). Revista Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitectos nº 7. Lisboa: -. 214 páginas