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Usuário(a):Fábio Bonilha/Testes

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José Perez Sanchez Bonilha - PROFISSÃO: COMERCIANTE

“COMEÇO DE MINHAS ATIVIDADES

Início de hum mil, novecentos e cinqüenta e seis. Eu acabara de servir o exercito no final do ano anterior, pelo Tiro de Guerra 16. Meu pai (Thomaz Perez Bonilha) era gerente da loja de móveis “A Catanduva Progride” em Catanduva – SP desde 1943. Essa loja era, na época, filial de uma grande fábrica na cidade de Jaú –SP, onde nasci a dez de dezembro de 1936. Meu pai queria que eu trabalhasse em alguma coisa. Foi quando ele pensou em montar uma loja de móveis para mim, que era o que ele tinha grande experiência e conseqüentemente, passaria esse conhecimento para minha pessoa. Alugamos então um pequeno salão de 10m x 10m na Rua Cuiabá, que não era a principal de comércio, mas também não ficava muito longe dela, e estava próxima da Igreja Matriz da cidade. Então, era preciso ter alguns móveis em estoque para iniciarmos as vendas. Foi quando de um viajante (representante) amigo, meu pai encomendou três pequenos guarda roupas de duas portas. Quando eles chegaram, eu me preocupei, porque não tinha ainda nenhuma experiência em vendas, mas enfrentei a situação (desafio). O primeiro guarda roupinha, ainda me lembro, eu o vendi para uma prostituta, cujo nome até hoje não me esqueci. Ela se chamava “Alice”, e nos pagou corretamente. Naquela época, as freguesas deste tipo, faziam os seus pagamentos semanalmente, às segundas feiras. Era uma negociação correta, séria e de muito respeito. Daí em diante, comecei a deslanchar com o meu negócio. Meu pai havia deixado a gerencia em que ele estava, devido a um incêndio na loja, e não aceitando gerenciar uma outra filial em Presidente Prudente (SP) que a empresa havia lhe oferecido, juntou-se a mim e iniciamos a nossa difícil, mas agradável jornada. Naquela década de 50, São Bernardo do Campo (SP) era o maior centro industrial moveleiro do país. De lá, comprávamos 80% de nossos móveis de madeira. Foi quando pela primeira vez encomendamos e recebemos dois dormitórios. Um de cerejeira e um de imbuia, os quais tinham dez peças cada um, assim distribuídas: um guarda roupas de 3 corpos, um de dois corpos, uma cama de casal, dois criados mudos, uma cômoda com 5 gavetas, uma penteadeira, uma banqueta e duas cadeiras. Vendíamos cada um desses dormitórios, por 12.000,00, com um bom lucro, pois naquele tempo, obtinha-se maiores lucratividades que nos dias atuais. Dependíamos da venda desses moveis para efetuarmos o pagamento das duplicatas dos mesmos. Mas tinha-se a vantagem no prazo do faturamento que era de 60/90/120dd e na maioria das vezes fora o mês, isto é, se o faturamento era feito durante um determinado mês, o primeiro vencimento seria daí a 60 dias a contar do primeiro dia do mês seguinte. Dessa forma, íamos administrando as nossas compras, nossas vendas e nossos pagamentos. Todas as mercadorias que vinham de São Paulo e São Bernardo do Campo eram transportadas pela estrada de ferro Araraquarense, que ali chegava. As embalagens dessas mercadorias que eram sofás, dormitórios, entre outras, eram engradadas com ripas e sarrafos de pinho. Por baixo dessas ripas, os sofás eram protegidos por papel celofane. O nosso carroceiro, Sr. Domingos Garcia, um espanhol boníssimo, retirava as mercadorias da estação férrea, onde fazia ponto com sua carroça, e as levava até nossa loja. As entregas, nós as fazíamos todas com a carroça do Sr. Garcia, o qual juntamente comigo, carregava na loja para então descarregarmos nas residências dos fregueses.


OS SACRIFÍCIOS

Lembro-me muito bem que quando desmancháva-mos os engradados, meu pai tirava todos os pregos das ripas e sarrafos e os endireitava um a um para aproveitá-los na montagem de estrados para camas. Assim que juntávamos um bom feixe dessas ripas, eu as levava a uma marcenaria para aparelhar (alisar) uma de suas faces para fazer a montagem dos estrados. As camas de casal e de solteiro avulsas, vinham todas sem os estrados. Assim, a grande dificuldade por que passei neste primeiro ano foi porque, por falta de tempo, tendo que atender fregueses na loja, fazer montagem de móveis e algumas cobranças, as entregas e a falta de mais espaço dificultavam minhas horas para a confecção dessas peças. Resolvi, então, fazê-los à noite, pois com isso não tomaria algumas horas de meu trabalho diário. Mas como trabalhar à noite, se não tínhamos luz na loja?

Lembrei-me de um poste de iluminação que ficava na frente de nossa loja e não perdi muito tempo. No mesmo dia, lá estava eu à noite, 

fazendo os estrados na calçada, sob a luz daquele poste, que era fraca mas suficiente para efetuar o meu trabalho, cujo tempo demorava por volta de duas horas por noite. Logo sentimos a necessidade da instalação de energia elétrica na loja, mas não tínhamos disponibilidade para arcar com essa despesa. Foi quando meu pai se lembrou de boa amizade que mantinha com o gerente da empresa elétrica (Dr. Reinaldo) e ele, por exceção, nos concedeu o empréstimo de um relógio (medidor) de luz. À partir daí, instalamos algumas lâmpadas fluorescentes, para iluminar o ambiente interno, que era escuro, pois além das duas portas de ferro da frente, não havia nas outras três paredes, nenhuma outra abertura para entrada de luz natural. O local onde trabalhávamos não tinha nenhum compartimento onde poderíamos instalar um banheiro, ou ao menos um lavatório para lavarmos as mãos. Servíamos de um mitório público que havia na esquina a 70 metros de distância. Para tomar água, levávamos um filtro de barro que deixávamos escondido atrás de uma peça no fundo da loja e o abastecíamos, quando necessário, com a água de um garrafão de 5 litros que trazíamos de casa.


SEGUEM-SE AS DIFICULDADES

Apesar de todas essas dificuldades, trabalhávamos com muita harmonia e com grande amizade, pois o Sr. Thomaz tinha pouca idade (48 anos) e muita disposição para o trabalho, juntamente comigo. Quanto ao telefone, não podíamos instalar, mas por nossa sorte, a empresa de Jaú, do qual meu pai era funcionário durante muitos anos, nos cedeu, da loja que se extinguiu em Catanduva, o número 2114 que veio para nossa posse e o qual permaneceu conosco durante muitos anos. As dificuldades da época se estendiam até no serviço telefônico, pois quando se tinha que fazer uma ligação interurbana para São Paulo, por exemplo, era um verdadeiro sufoco. Pedia-se uma ligação via telefonista de manhã e a mesma, geralmente, não era completada até às 18:00hrs. Então, o problema era transferido para o dia seguinte. Naquele tempo, fazia-se a comunicação com as empresas via correio, que era lento mas a única solução além da precariedade do telefone. Deparamo-nos com mais esse problema, pois, para fazer as correspondências para as firmas, preencher duplicatas, faturas e recibos, entre outros, necessitávamos de uma máquina de escrever, e não podíamos comprá-la, porque na ocasião era uma peça de valor elevado para nós, devido a estar no auge de sua utilização. Ao comentar essa situação com o Sr. Francisco Sanches, proprietário de um escritório despachante na cidade de Catanduva, e ao qual chamávamos amigavelmente de “Primo Rico”, porque tinha o mesmo sobrenome meu e para nosso alívio, nos ofereceu uma máquina de escrever, já usada, que ele havia substituído por outra nova. Estipulou o preço de 1.500,00 mas, para pagá-lo somente quando pudéssemos. Na ocasião, essa máquina americana de marca “Royal”, deveria ter pelo menos seus dezoito anos de uso. Mandamos fazer, numa oficina de máquinas de escrever, uma limpeza geral, regulagem das teclas e fitas, assim como substituir alguma peça que fosse necessária. Isso feito, a utilizamos com muita satisfação até o ano de 1970, quando compramos uma nova e mais moderna. Mantenho em meu poder essa relíquia exibindo-a, orgulhosamente em meu escritório, até hoje. Como já expliquei anteriormente, trabalhávamos com todos os afazeres da loja durante a longa semana que ia de segunda feira a sábado, das 8:00 às 18:00hrs. Desta forma, não restava outra alternativa que trabalhar aos domingos para fazermos todas as nossas correspondências. Íamos então para a loja no domingo de manhã e ficávamos todo esse período, quando eu fazia as cartas todas que se acumulavam com os acontecimentos dos seis dias anteriores. Assim, conduzíamos a nossa trajetória de sucesso.


INÍCIO DO NOSSO PROGRESSO

Resolvemos então diversificar nossa linha de mercadorias, quando compramos alguns jogos de sofá de uma fábrica de São Paulo, Tapeçaria DOV, instalada na época à Rua São Caetano, 817, a qual permanece até os dias de hoje nesta capital, mas em outro endereço. Pouco a pouco fomos progredindo, e em alguns meses, tínhamos a loja cheia de móveis que iam além de dormitórios e sofás, até salas de jantar, copas, tapetes, cadeiras para varanda, carrinhos para criança, colchões de molas, peças avulsas, etc.


NOSSA NOVA LOJA

Nosso maior problema estava sendo o pouco espaço e precariedade nas instalações. Havia um pequeno salão também de 10x10m, ao lado do nosso, dividido apenas por uma parede. Ele servia como depósito de uma firma de secos e molhados que mantinha ali um depósito fechado. Em 1959, a firma vizinha desocupou esse salão e nós acertamos o aluguel dos dois. Reformamos os dois salões. Demolimos a parede que os dividia. Como não existia forro, fizemos um com eucatex e remodelamos o piso que era somente cimentado. Abrimos mais uma porta na fachada entre os dois salões, que se tornou um só, com 5 portas. Dessa maneira, a loja ficou com o dobro do tamanho e uma fachada de 20 metros. Fizemos o grande letreiro de “GALERIA DOS MÓVEIS”, que era nosso nome fantasia, e passamos a admirar aquilo que se tornou uma grande loja de móveis em Catanduva. Sua iluminação interna e externa era muito intensa e assim chamava a atenção por ser a única instalação comercial daquele quarteirão. (FOTO ABAIXO)


No ano seguinte (1960) compramos uma caminhonete 0km Chevrolet Brasil, que veio a facilitar e agilizar nosso trabalho. Em 1961 realizamos a maior compra de mercadorias da época quando recebemos numa carreta furgão (naquele tempo chamada de “jamanta”) 30 jogos de sofás cama, um total de 90 peças que nos enviou a fábrica “Hermenegildo Morbin”. Tivemos dificuldade para armazenar todos esses móveis, o que nos obrigou a alugar um salão para depósito, onde pusemos grande parte dessa carga, assim como o estoque de colchões que se acumulava na loja.


IDÉIAS ORIGINAIS QUE MARCAM

Lembro-me que nesse ano, a fábrica da original “Cadeira do Papai”, lançou e promoveu a venda da “Cadeira da Mamãe”. Recebemos grande quantidade dessas cadeiras e praticamos a promoção de venda das mesmas para o dia das mães daquele ano. Colocamos uma dessas cadeiras com a banqueta, em cima da cabine da caminhonete e a deixamos na rua para que todos que passassem pudessem vê-la. Conclusão: vendemos todas as peças em poucos dias!!! Já em 1962, havia crescido tanto o número de nossos “fregueses” (termo que usava na época) que havíamos formado uma vasta carteira de duplicatas e prestações em conta corrente. O resultado disso nos deu agradáveis ganhos.


      MINHA VIDA PESSOAL GANHA NOVO BRILHO

Em maio deste mesmo ano, eu e a Ignez iniciamos o nosso namoro. Eu havia marcado com ela, encontro às 19:30 hrs num sábado, mas não pude evitar o atraso, porque fui a Ibirá (pequena cidade da região) entregar uns móveis; a estrada era de terra e furaram dois pneus. Eu precisei ficar ali esperando, até que passasse uma caminhonete igual à minha para tomar emprestado um estepe e substituir o segundo pneu furado, para seguir viagem. Fui encontrá-la somente às 20:40hrs. Meu pai, juntamente com minha mãe (Isabel), ficaram muito felizes com esse meu namoro que já naqueles dias, começaram a preparar o nosso futuro. Dos pagamentos que entravam na loja, recebíamos em cheques ou em dinheiro. Os cheques, o Sr. Thomaz depositava nos bancos, onde mantínhamos contas para efetuar os pagamentos da loja e demais despesas. Quanto ao dinheiro, ele juntava pequenos pacotes de dez notas de 1.000,00 cada um, e os guardava no fundo de uma cômoda em casa, para custear a construção de uma residência para mim, o que aconteceu no início de 1964. Em dezembro de 1963, casei-me com a Ignez, minha querida esposa, que me acompanha em casa e no trabalho até os dias de hoje! Em dezembro de 1965, nasceu nosso primeiro filho (José Antônio) que no futuro se tornou nosso grande colaborador, juntamente com o Fábio, nosso segundo filho.

MUDANÇA DE RUMO

No ano seguinte (1966), por um desacordo no aumento do valor do aluguel do prédio, implacavelmente, a proprietária nos despejou do mesmo. Ficamos então, desalojados. Nosso primeiro filho havia nascido havia poucos meses, e isso me deixou muito preocupado com o nosso futuro. Preocupados, desalojados, mas não desanimados. Alugamos um pequeno salão de 70 metros quadrados na rua Minas Gerais, que era outra travessa da rua principal e continuamos com a nossa batalha. O espaço era muito pequeno, mas, nos utilizamos de uma velha residência que havia nos fundos, o que nos desafogou um pouco esta questão.


AS SURPRESAS DA PERSISTÊNCIA

Na Praça 9 de Julho, 80, um dos melhores locais do comercio de Catanduva, havia uma residência antiga que abrangia um terreno de 400metros quadrados. Iluminou-nos a idéia de comprarmos aquela casa e construirmos ali o que concretizaria nosso grande sonho. Fomos pesquisar quem era o proprietário desse imóvel, mas logo nos desanimaram, dizendo que havia um pretendente em nossa frente, pessoa essa que mantinha uma loja vizinha do mesmo. Continuamos com a nossa pesquisa e viemos a saber que o proprietário daquela casa era o Dr. Fontes, residente em São Paulo, antigo morador de nossa cidade e grande amigo de meu pai. Então, partimos em direção à capital e visitamos esse senhor para tratarmos do assunto da compra daquele casarão antigo. Prontamente, ele passou a preferência para o Sr. Thomaz, desde que pudesse efetuar a venda, pois o mesmo estava vinculado a menores da família (tratava-se de herança). Entretanto, esse vínculo foi transferido para uma outra propriedade na cidade de Piracicaba e finalmente, pudemos concretizar a compra. O grande desafio agora, era pagar o prédio, cujo valor na época era de 35.000.000,00, divididos da seguinte maneira: Quinze milhões de entrada e os restantes vinte milhões divididos em 4 x de cinco milhões pagáveis a cada seis meses. O prazo era bom, mas a entrada era difícil e muito pesada. Deus sempre conduziu e protegeu as nossas vidas. Prova está que, naqueles dias, efetuamos uma boa e grande venda de móveis no valor de 15.000.000,00 quinze milhões para um fazendeiro, o Sr. José Ayusso de Ariranha, uma pequena cidade da região. Ele nos pagou à vista e com a importância, fizemos o primeiro pagamento da nossa compra. Estávamos, então, aliviados e confiantes em Deus e no futuro, que já se anunciava mais próximo da realização do nosso grande desejo que era construir ali nossa moderna loja! Em meados de 1967, meu pai, sempre muito atirado e confiante, iniciou a demolição daquele velho casarão. Me recordo, que da rua, vendo cair os primeiros tijolos, me senti abalado e com medo mediante as grande dificuldades que teríamos de enfrentar a partir daí. O nosso sucesso no comercio, foi abalado por termos menos oportunidades de vendas na acanhada loja em que estávamos, e precisaríamos produzir muito para suportar as despesas decorrentes da construção e do acumulo de vencimentos de duplicatas, que aos poucos fomos administrando. No final deste mesmo ano, meu pai vendeu um apartamento em fase final de construção num edifício da cidade, para poder concluir a obra. Sufocados por essa difícil mas, para nós, heróica empreitada, finalmente, em junho de 1969 concluímos o que seria em breve nossa maravilhosa loja!


BONILHA MÓVEIS E DECORAÇÕES

Por qual nome, então, iríamos chamá-la? Nos implicou muito essa pergunta, quando inesperadamente o Sr. Flávio Bomben, um viajante que nos visitava periodicamente, apareceu na loja e sugeriu então que a chamássemos BONILHA MÓVEIS E DECORAÇÕES. Prontamente aceitamos a sua opinião, que foi aprovada por todos nós. Naquele dia mesmo mandamos confeccionar um letreiro luminoso que abrangia toda a fachada superior do prédio. Incluímos o meu irmão Thomazinho Filho como terceiro sócio da empresa e começamos a trabalhar junto com ele. Queríamos ter os mais belos conjuntos de móveis da época para apresentar nas nossas novas vitrines. Foi quando eu e o Thomazinho fomos para São Paulo para comprar essas mercadorias, que se tornariam o grande sucesso de nossa belíssima loja. Encomendamos móveis de algumas fábricas importantes, entre elas, a “Ornamento” que fazia conjuntos estofados muito bonitos, diferentes e dificilmente copiáveis. Da “Móveis Cimo”, tradicional fábrica do Estado do Paraná, encomendamos dormitórios, salas de jantar e alguns jogos de sofás com revestimento em couro natural. De “Móveis Lafer”, compramos todos os modelos que fabricavam. Fornecia-nos muitas peças em vinhático, madeira da mata atlântica, a fábrica “DEARTE”e “Ciro & Eloy”, instaladas na cidade de Petrópolis. Estocamos também colchões “Epeda” e tapetes da “Ita” e “Bandeirantes”.


O ENCANTO NA PROFISSÃO

Nós estávamos eufóricos e tão felizes com nossa atividade comercial e com os resultados positivos que vínhamos obtendo,que embalados pelo efeito visual da loja, aos domingos, após o jantar, sentávamos em um banco da Praça da Matriz, em frente à mesma e dali ficávamos admirando sua beleza e orgulhosos pelas pessoas que passavam admirando-a.


NOSSAS ORIGENS

Sentimos os prazeres do comércio, profissão que corre em nossas veias desde gerações e tempos remotos de nossa origem. Meu pai, o Sr.Thomáz, nasceu na Espanha, na cidade de Berja, província de Almeria, a 10 (dez) de janeiro de 1912. Berja é uma pequena cidade que se situa no litoral do Mar Mediterrâneo, e ao sudeste da Espanha. Cidade esta, que fica incrustada entre o mar e a “Cierra Nevada”. Berja, juntamente com outras duas povoações (Adra e Dalias) formam uma região que como dizem os espanhóis, é chamada de “Paraíso Escondido, onde olhos humanos não terão com o que comparar”. Por que temos tanta afinidade com o nosso trabalho no comércio de compras e vendas? Concluímos que seja devido à nossa descendência, sobre a qual citamos algumas fases: Em três milênios anteriores, vieram se sucedendo nessa região da Península Ibérica, domínios de raças inúmeras que ali aportavam para implantar seus mercados. Explica-se que todos esses povos, desde a antiguidade deu origem às nossas famílias que trouxeram no sangue os estímulos do comércio. Ao domínio de mercadores e navegantes Fenícios e Gregos e dos dominadores Cartagineses e Romanos, além dos Mouros e Árabes, foram cristalizando nesse rincão do sudeste espanhol até a cultura Ibérica de nossos dias. Desde a geração de meu pai, que começou a trabalhar em uma loja de móveis na cidade de Jaú, em 1928, aos 16 anos, estamos hoje na terceira geração neste mesmo comércio, com meus filhos José Antônio e Fábio. Assim faz-se melhor a comprovação de nossa origem e de nosso amor pelo comércio.


MINHA FAMÍLIA, MINHA VIDA!

“Sinto-me completamente realizado, e por muita coisa ainda por realizar, enquanto estiver trabalhando com eles, na companhia da minha esposa Ignez”.

Não poderia deixar sem registro, a fase obscura e negativa de minha vida, para a qual faço um parênteses nesta história para relatá-la. Iniciei minha trajetória com a bebida alcoólica aos 16 anos. Fui me acostumando com ela e sentindo a satisfação de seus efeitos e prazeres que proporcionava. Com isso, não mais deixava de tomar minhas cervejas nos finais de semana. O alcoolismo é uma doença progressiva, incurável e fui acometido por esse mal, aumentando os meus maus hábitos e logo, bebia um pouco todos os dias. A cerveja foi se tornando uma bebida fraca e insuficiente para minha necessidade, devido ao vício que, sem que eu me desse conta, me acometia. Então, intercalava entre alguns copos da mesma, uma dose de “cachaça”. Apesar de minhas bebedeiras que já se intensificavam desde 1966, não chegava a prejudicar a minha imagem pessoal, e nossa atividade comercial, porque não me expunha onde a classe alta, a qual era nosso relacionamento principal poderia me reconhecer naquela situação. Eu freqüentava os bares e botecos da periferia da cidade de Catanduva, onde meus colegas de balcão eram de classe pobre e trabalhadora, como mecânicos, pintores de parede, marceneiros, desempregados, entre outros, das mais variadas categorias. Pessoas essas, infelizes como eu, que não tinham o menor conhecimento sobre os problemas que o álcool poderia acarretar, entre eles, a dissolvição das famílias e até mesmo a morte prematura. Segui minha trajetória, que era de mais tristezas do que alegrias, porque me proporcionava dissabores para meus familiares, especialmente à Ignez e meus filhos, que passivamente suportavam essa minha condição de constante embriaguez. Em muitas vezes passei por momentos de vexames e podemos dizer até de humilhação (íntima). Numa dessas vezes senti a presença e proteção de Deus no meu amparo, quando tarde da noite, voltando para casa, num momento adormecido ao volante, acordei repentinamente com a freada da camionete que dirigia, e quando olhei à frente, me deparei com a carroceria de aço de um caminhão basculante estacionado a poucos centímetros do veículo em que eu estava. Essa minha condição daquele instante pode ser chamada pelo AA (Alcoólicos Anônimos) de “apagamento”. Esse termo define uma situação em que o alcoólatra permanece em total ausência de suas atitudes, e ao dia seguinte não tem nenhuma lembrança do que ocorreu no anterior. Não foi o que se deu comigo, porque na manhã seguinte me veio à memória somente o ocorrido naquele instante. Em outra ocasião, quando voltando para casa já após a meia noite, em minha casa cheguei. Estava tão “alto” que não me arrisquei a entrar com a camionete no abrigo, deixando-a na rua, com a chave na ignição e os vidros abertos. Naquele tempo, felizmente, não havia muito roubo de veículos e ao sair pela manhã encontrei-a exatamente como deixei. Com dificuldade, abri a porta de casa e entrei. Já dentro de casa, ao fechá-la, desequilibrado, caí e sem me levantar fui engatinhando até o banheiro. Pelas quatro horas da madrugada a Ignez me acordou. Eu estava dormindo dentro da banheira Em outro dia, num veículo estacionado, dei-lhe forte batida, danificando bastante a frente da camionete. Meu pai chegou em casa no dia seguinte, domingo pela manhã, e a Ignez humildemente disse a ele que ela havia causado o acidente, pois estava dirigindo. A minha esposa sempre foi a pessoa que me ajudou, amparou e me perdoou por tudo que passei naquela fase de inúmeras “tristezas”.

ADVERSIDADES – Enumerar todas elas seria praticamente impossível pelo espaço e tempo que tomariam!


A RECUPERAÇÃO E RECAÍDA

Dessa forma, cheguei a 1969, alguns meses antes da inauguração da nova loja em Catanduva, a ser internado em um hospital para desintoxicação e provavelmente parar com o vício. Fiquei durante 1 ano sem beber. Quando, para comemoração de uma vitória do Brasil na Copa Mundial de Futebol de 1970, resolvi ir ao boteco, e, tentado por alguns amigos, me decidi a tomar uma cerveja. Daí, veio mais uma e mais outra, e infelizmente, voltei para casa já “alto” pelo efeito da bebida. Daquele momento em diante, desencadeou-se o que todos sabemos:- A volta ao vício vem com maior intensidade e com mais força. Nesse período, passei a beber cachaça durante o dia, até as 8 horas da noite, e daí em diante a cerveja até 10 ou 11 horas da noite. Ao chegar em casa a esta hora, e em um estado de total embriaguez, encontrava ali até a mesa posta e a minha esposa me aguardando para jantar. Ela acabou indo dormir sem comer nada, assim como também eu. O dia seguinte era para mim de completo arrependimento que chegava até a chorar nos braços da Ignez, que me consolava e animava a parar com aquela triste sina. A RECUPERAÇÃO DEFINITIVA

Sentia-me já enfraquecido fisicamente pelo mal que me afligia, até que meu irmão Thomazinho e um cunhado (Fioravante) visitaram um membro fundador do AA (Alcoólicos Anônimos) em Catanduva, para que ele interferisse no meu caso e me convidasse para assistir a uma reunião dessa irmandade. De início, relutei em aceitar o convite, mas diante da expectativa que eu teria em parar de beber, resolvi aceitá-lo. No dia 1 de julho de 1978, um sábado, compareci as 15:00hrs à uma reunião do AA e qual foi a minha grande surpresa ao encontrar ali, sóbrios e recuperados vários amigos que eu nem havia notado suas ausências nos bares. Eles me receberam tão bem que traziam estampados em suas eufóricas faces, transbordantes sinais de alegria, enquanto me abraçavam. Foi o grande dia da minha vida, que marcou uma transição maravilhosa e tanto desejada por todos nós. Naquela mesma tarde, ao chegar em casa, saí com a Ignez para dar uma volta pela cidade e contar-lhe em detalhes o que se passou naquela reunião. Nos surpreendemos pois, ao chegar em casa, não encontrarmos nossos filhos. O José Antonio, em companhia de uma vizinha haviam levado o Fábi ao hospital. Pois ele, escalando o muro do fundo do nosso quintal, feriu-se com certa gravidade ao cair com a parte posterior da coxa em cima de um mourão de cerca de lasca de aroeira que dividia a casa vizinha. Felizmente o Fábio se recuperou, mas traz até hoje a lembrança do que aconteceu, com uma grande cicatriz na perna. Daquele dia em diante, nunca mais pus uma gota de bebida alcoólica na boca. Feliz e animado com a total sobriedade, coisa que não sentia a tanto tempo, me entusiasmei com a participação do AA, que por muito tempo freqüentei suas reuniões e com a intenção de ser útil a outras pessoas que necessitassem. Me dediquei a conduzi-las a esse caminho tão saudável e útil para a vida. Após essa minha grande vitória, para não dizer que tudo seria um mar de rosas, passados alguns dias de minha recuperação pelo álcool, fui acometido de profunda depressão, acompanhada de intensa tristeza interior. Soube me controlar desses males que haviam me acometido e os dias foram passando cada vez mais lentamente. Até que um dia, para minha grande surpresa, todos aqueles sintomas desapareceram surpreendentemente como por encanto. Foi quando me dei conta de que esse episódio se deu a exatamente um ano após a minha recuperação e, portanto, tudo voltou ao normal, felizmente No ultimo dia 1 de julho comemorei o vigésimo oitavo ano de minha sobriedade e abstinência total. Dedico até hoje e dedicarei sempre à Ignez o título de “Heroína” por ter pacientemente suportado todas as adversidades a que lhe impus.


    VOLTANDO À SOBRIEDADE TOTAL E DEFINITIVA

Apesar desse triste período que passei, mantive minhas atividades na loja com todo empenho no meu trabalho, como sempre o fiz.


UMA GRANDE ALEGRIA

Voltando ao ano de 1976, no dia 21 de agosto, fomos agraciados com o nascimento de nossa querida filha Luciana, que nos encheu de alegria e nos proporcionou sempre momentos de muita satisfação e felicidade. A Luciana sempre foi uma criatura de extrema bondade e sempre trouxe em seu semblante um sorriso meigo, agradável e muito cativante. Felizes fomos sempre eu e a Ignez por termos três filhos maravilhosos, que nunca nos causaram qualquer transtorno, por terem sido sempre aplicados em seus estudos e trabalhos.


     COMO MARINGÁ ENTRA PARA NOSSA HISTÓRIA

Continuamos com nosso trabalho na loja, até que no final do ano de 1974, eu e o Thomazinho efetuamos uma venda para um cliente de Maringá no Paraná, e fomos até lá para fazermos a entrega das mercadorias correspondentes. Após terminado o serviço, demos uma volta pela cidade a fim de conhecê-la melhor; fiquei encantado com a beleza da mesma, por sua topografia plana, sua intensa arborização, suas amplas avenidas, além de um clima agradável e ameno e de uma natureza pródiga e na sua rica e próspera região. Fiquei deslumbrado com aquela cidade e logo me veio à cabeça a possibilidade de um de nós estendermos ali nossa atividade comercial.


      		     A VINDA PARA MARINGÁ

Após seis anos, no início de 1980, retornamos a Maringá com o forte intuito de ali nos estabelecermos. Passamos então a procurar um salão em bom ponto comercial quando nos deparamos com um muito bonito, recém acabado, que nos agradou, Pois não era muito grande, mas poderíamos montar ali uma vitrine bastante atraente. Estava localizado estrategicamente em lugar central, na confluência de duas lindas e amplas avenidas: Av. XV de Novembro com Av. Herval. Definido o local, fizemos um contrato de locação com a imobiliária que administrava aquele imóvel a qual estipulou uma multa no valor de um aluguel (30.000,00) no caso de eventual desistência da locação. Já estávamos no mês de março quando começamos a tratar do assunto da montagem da loja em Maringá. Decidimos então que o Thomazinho iria para lá. Assim resolvemos porque ele era mais jovem e tinha suas duas filhas em idade pré escolar. Porém, ao passar alguns dias, o Thomáz se mostrou indeciso e com receio de assumir tal responsabilidade, ao não dar certo sua ida. Minha mãe, sempre muito ligada a mim, não queria que saísse de Catanduva, e se prontificou a arcar com o valor da multa no caso de minha desistência. Mesmo assim permaneci irredutível nas minhas intenções. De imediato consultei a Ignez, que concordou prontamente com a nossa ida, apesar do cargo que exercia de lecionar em ótimo colégio, o qual deveria abandonar, assim como nossos dois filhos se transferirem para um colégio de Maringá. Com tudo isso decidido, providenciamos as compras de mercadorias para estocar a nova loja. Encomendamos três belas salas de jantar, cinco conjuntos estofados, assim como peças avulsas e outras decorativas.


INÍCIO DAS ATIVIDADES EM MARINGÁ

Finalmente, num sábado, dia 28 de julho de 1980, promovemos a inauguração da loja que contou com a presença de convidados além de todos nossos familiares de Catanduva. Nesse mesmo dia efetuamos duas boas vendas, o que nos entusiasmou ao sentirmos a seqüência de prosperidade que tivemos com o comércio em nossa primeira loja. Essa prosperidade se concretizou com o grande sucesso na cidade e em toda a Região. Em pouco tempo nossa loja se tornou famosa e conhecida em quase todo o Estado do Paraná.

Com esse belo resultado, nos sentimos orgulhosos; eu, a Ignez e nossos filhos, por havermos vencido até ali essa importante etapa de nossas vidas.


VISÃO PARA O FUTURO

Existe em Maringá uma ampla avenida, a Colombo, que é a mais larga de todas e corta a cidade em toda sua extensão e possui um movimento intenso de veículos. Imaginei naquela época que ali poderia ser no futuro um próspero e promissor local de comércio, o qual já existia, mas de forma rústica para servir caminhões cujo movimento era grande, pois tratava-se ali de rodovia, hoje federal. Admirando o local, em 1981 comprei um terreno, onde funcionam uma garagem de revenda de caminhões, e no ano seguinte adquiri outro, vizinho ao anterior. Esses terrenos juntos totalizam trinta e um metros de frente. Estava então definido que ali seria futuramente nossa loja própria. No final do ano de 2001iniciamos o estudo para a construção dessa loja que teria aproximadamente mil metros quadrados, com amplo estacionamento para clientes, que era o que havia de grande dificuldade no lugar onde nos encontrávamos desde 1980. Em 2003, já no final da construção, me acometi de um infarto do miocárdio, e nesse mesmo dia rumei para São Paulo com a Ignez, e graças a colaboração da Luciana e da minha cunhada Maria Tereza, que conseguiram para mim uma vaga no INCOR, onde eu viria a sofrer uma cirurgia do coração. Fiquei internado neste hospital por um período de preparação e recuperação, até o dia 9 de julho, quando fui submetido a uma longa cirurgia. A nossa loja na Avenida Colombo ficou belíssima e de uma arquitetura moderna. No dia 27 de junho de 2003 o José Antonio e o Fábio promoveram a inauguração dessa loja que contou com um coquetel e a presença do famoso pianista Pedrinho Matar, que abrilhantou a importante noite. A minha presença não foi possível, porque eu ainda me encontrava em São Paulo, internado no INCOR.


NOSSA FAMÍLIA

Hoje estamos em 2010. O José Antonio casou-se com a Ivanize e tem uma filha de 12 anos, a Flávia. O Fábio casou-se com a Giselle e tem hoje duas filhas, a Mariana com 10 e a Isadora com 7 anos. A Luciana casou-se com o Agnaldo. Tem dois filhos e uma menina encaminhada que nascerá em outubro deste ano. O Gabriel com 2 anos e meio e a Elisa com 10 meses, são os que ela já tem. Hoje estou feliz porque nossos filhos José Antonio e Fábio herdaram de nossas gerações anteriores o dom do comércio que corre em nosso sangue!”

José Perez Sanchez Bonilha Nasceu em 10/12/1936 Faleceu em 12/01/2011

Estará sempre em nossos corações seu amor, entusiasmo, alegria e juventude!