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Movimento de Arte Pornô (Rio de Janeiro, 1980-1982)


O Movimento de Arte Pornô foi um movimento artístico brasileiro de vanguarda que começou em 1980 e terminou em 1982. O movimento foi pioneiro no uso da pornografia como um meio inovador de arte e como uma forma de resistência política, durante a ditadura militar. [1] O movimento foi experimental do ponto de vista formal, politicamente progressista e socialmente não-normativo. O uso da palavra "pornô" foi deliberado, no entanto não houve produção de pornografia convencional, muito pelo contrário, rejeitou-se o erotismo — que era aceito pela ditadura e subverteu-se a lógica da pornografia para criar alternativas sociais, políticas e estéticas em que eram empregados humor, escatologia, surpresa, poesia, performance, política do corpo e pansexualidade. As atividades do movimento terminaram em 1982, mas algumas performances isoladas foram realizadas e algumas publicações foram feitas até 1984. O livro “Antolorgia”, publicado em 1984, foi a última publicação do movimento.[2]

História[editar | editar código-fonte]

O Movimento de Arte Pornô, também conhecido como Poesia Pornô ou Pornismo, foi concebido por Eduardo Kac em janeiro de 1980, no Rio de Janeiro.[3] Kac convidou Cairo Trindade [4] para juntos desenvolverem o movimento, que foi lançado publicamente em 30 de março de 1980, através da uma intervenção chamada “Pelo Topless Literário” no Posto 9 na Praia de Ipanema.[5] A intervenção consistiu em performances, leituras de poesia, exibição de banners com os slogans do grupo e distribuição de publicações. O Posto 9 foi uma escolha estratégica: era considerado na época o epicentro da praia (e, como consequência, um importante ponto focal da cidade).

Logo após o “Topless Literário”, Kac e Trindade convidaram Teresa Jardim para se juntar a eles e formar o braço performático do movimento — “Gang”. Braulio Tavares, Ana Miranda, Cynthia Dorneles e Sandra Terra também se apresentaram com o grupo.

Kac e Trindade criaram o “Manifesto Pornô” em Maio de 1980, que foi publicado no zine “Gang”, n. 1 em Setembro de 1980. O movimento publicou três edições da zine “Gang”, além de livretos, etiquetas, camisetas, gravuras, histórias em quadrinhos, livros de artista e antologias[6]

Entre 1980 e 1982, todas as sextas-feiras a "Gang" realizou performances na Cinelândia — principal praça do Rio de Janeiro, circundada pelo Teatro Municipal, Biblioteca Nacional, Câmara Municipal e Museu Nacional de Belas Artes.[7]

Em 9 de setembro de 1980, os membros da “Gang” leram em voz alta o “Manifesto Pornô” na Cinelândia para um público composto de intelectuais e transeuntes. A localidade foi uma manobra estratégica, pois a Cinelândia era considerada o coração do Rio de Janeiro.

Em 13 de fevereiro de 1982, a “Gang” apresentou no Posto 9 da Praia de Ipanema[8] a sua última grande intervenção pública que foi considerada formalmente o fim do movimento.[9] O evento explorou o repertório desenvolvido pelo movimento durante os dois anos anteriores, incluindo uma grande variedade de obras, publicações, e adereços, e culminou com uma passeata nudista ao longo da praia, terminando com um mergulho coletivo no mar — simbolizando auto-renovação, o início de um caminho melhor para além do conservadorismo político e estético vigente.[10] O nudismo na praia de Ipanema era e ainda é proibido por lei, assim como em toda orla.[11]

O cinegrafista e fotógrafo Belisário Franca acompanhou a “Gang” entre 1980 e 1982, produzindo a documentação fotográfica de muitas de suas intervenções/performances.

O Movimento de Arte Pornô antecipou o uso da pornografia como uma forma crítica e criativa de arte, o que foi visto posteriormente na obra de Jeff Koons, Annie Sprinkle, Sue Williams, Santiago Sierra, Shu Lea Cheang, Wim Delvoye e os artistas incluídos na compilação “Destricted” (2006)[12]

O movimento começou a ser redescoberto em 2010, quando a galeria de arte Laura Marsiaj exibiu a série “Pornogramas” (1980-1982) de Eduardo Kac. A primeira exposição em museu do Movimento de Arte Pornô foi no Museu Reina Sofia, em Madrid, na exposição “Perder a Forma Humana,” realizada em outubro de 2012, e documentada em catálogo. [13]

Principais Participantes[editar | editar código-fonte]

  • Eduardo Kac
  • Cairo Trindade
  • Teresa Jardim
  • Glauco Mattoso
  • Braulio Tavares
  • Cynthia Dorneles
  • Hudnilson Jr.
  • Leila Miccolis
  • Ota
  • Siegbert Franklin
  • Alberto Harrigan
  • Hélio Lete (Hélio Leites)

Formas Artísticas[editar | editar código-fonte]

O Movimento de Arte Pornô produziu trabalhos em uma variedade de meios, incluindo performance, poesia, grafite, desenho, fotografia, quadrinhos e artes gráficas. Glauco Mattoso criou o Jornal Dobrábil, uma folha impressa frente e verso, escrita e com design realizado inteiramente em máquina de escrever. O jornal era visualmente instigante e continha indiscriminadamente pornografia clássica, experimental e popular.[14] Hudinilson Jr. criou um vocabulário visual com base em uma amostragem sistemática de seu próprio corpo por meio de reprografia (fotocopiadora). Leila Miccolis, Teresa Jardim e Cynthia Dorneles desenvolveram suas respectivas vozes poéticas por meio de uma forma de feminismo que combinou uma pornografia livre e um posicionamento político liberal. Ota produziu cartuns, convites, cartazes e histórias em quadrinhos por meio dos quais ele divulgou as propostas e os eventos do movimento com humor. A poesia de Braulio Tavares e os desenhos de Siegbert Franklin também foram importantes contribuições para o movimento. Eduardo Kac usava uma mini-saia rosa no dia-a-dia publicamente como uma forma de forjar uma nova subjetividade. Kac também desenvolveu os Pornogramas, um híbrido de arte corporal, design, resistência política, performance, ativismo, fotografia e poesia. Nesta série Kac usa a fotografia para explorar as possibilidades de escrever com o corpo, inscrever o corpo no espaço e escrever o próprio corpo (ou seja, criar um novo corpo). Kac incluiu dois Pornogramas em seu livro de artista “Escracho”, publicado em 1983.

Referências

  1. Cunha, Maria C. “Arte Pornô, a última dos novos poetas.” Folha de S. Paulo (Ilustrada), 10 de Fevereiro de 1981.
  2. Kac, Eduardo; Trindade, Cairo. (orgs.). Antolorgia (Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1984).
  3. Kac, Eduardo; Trindade, Cairo. (orgs.). Antolorgia (Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1984), p. 188.
  4. Rodrigues, Dolores. “Poesia Pornô: Liberta, aberta e honesta”. ArteManha, Rio de Janeiro, Janeiro/Fevereiro 1982, p. 8.
  5. Gang, n. 1, Maio 1980, p. 1.
  6. Kac, Eduardo; Trindade, Cairo. (orgs.). Antolorgia (Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1984), p. 178.
  7. Kac, Eduardo; Trindade, Cairo. (orgs.). Antolorgia (Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1984), p. 176.
  8. Kac, Eduardo; Trindade, Cairo. (orgs.). Antolorgia (Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1984), p. 177.
  9. Kac, Eduardo; Trindade, Cairo. (orgs.). Antolorgia (Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1984), p. 189.
  10. Ronái, Cora. “A Caminhada Pornô,” Pasquim, n. 660, 18 a 24 de Fevereiro de 1982, p. 6.
  11. Em 2011, policiais do Rio de Janeiro prenderam três turistas holandeses por estarem pelados na praia de Copacabana.
  12. O DVD Destricted, organizado pelo curador Neville Wakefield do Centro de Arte Contemporânea P.S.1 apresenta artistas como Marina Abramović, Larry Clark e Matthew Barney.
  13. Nogueira, Fernanda; Henaro, Sol. “Overgoze,” in: Vv.Aa., Perder la forma humana. Una imagen sísmica de los años ochenta en América Latina (Madrid: Museo Reina Sofia, 2012), pp. 199-203.
  14. Glauco Mattoso, Jornal Dobrabil (São Paulo: Iluminuras, 2001).

Bibliografia Adicional[editar | editar código-fonte]

  • Alencar, Martha. “Careta apresenta a primeira porno-entrevista da porno-imprensa porno-protagonizada pelos porno-poetas do movimento pornô”, Careta, n. 2739, 22 de Agosto de 1981, pp. 34–36.
  • Anônimo. “Sem Erotismo. Corpos e palavras como são”, Visão, 15 de Março de 1982, p. 45.
  • Kac, Eduardo; Trindade, Cairo. (orgs.). Antologia do Poema Pornô (Rio de Janeiro: Editora Trote, 1981).
  • Kac, Eduardo; Trindade, Cairo. (orgs.). Antolorgia (Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1984).
  • Mattoso, Glauco. “O vaivém da poesia pornô”, Lampião, Abril, 1981, p. 9.
  • Mattoso, Glauco. Jornal Dobrabil (São Paulo: Iluminuras, 2001).
  • Tinoco, Bianca. “Eduardo Kac e a escrita do corpo no espaço”, Revista Concinnitas, Instituto de Artes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, n. 17, 2010, pp. 120–127.

Links Externos[editar | editar código-fonte]