Usuário(a):Inês El-Jaick Andrade/Testes

CERES EL-JAICK ANDRADE (Nova Friburgo, 18 de agosto de 1945-) é uma médica e psiquiatra brasileira. Integrou o movimento antimanicomial na década de 1980 dentro do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Ipub), em que foi vice diretora na gestão de Raffaele Infante (1985 a 1994).

Filha do advogado e juiz de origem libanesa Tuffy José El-Jaick e da professora primária Aracy Florim El-Jaick, nasceu em Nova Friburgo, cidade serrana do Estado do Rio de Janeiro, em 1945. Foi a quarta em uma família de sete filhas.

Formou-se professora primária no Curso Normal, recebendo nomeação prêmio por ter se destacado durante o curso. Exerceu função de professora e orientadora educacional no Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho, em Niterói. Graduou-se em pedagogia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1967 e estagiou no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba de 1969 a 1973.

Nesta época, atuou politicamente contra a ditadura militar, fazendo parte da Juventude Católica e depois da Ação Popular, sendo detida pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) em fevereiro de 1969 junto com sua irmã Flora, ficando presa na fortaleza de Santa Cruz em Niterói, onde também estava detido Darcy Ribeiro.

Graduou-se em medicina na UFF em 1974. Fez residência médica em psiquiatria na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) entre 1976 e 1977 e especialização na mesma instituição entre 1975 e 1976. Estagiou na Unidade de Emergência Psiquiátrica do centro psiquiátrico Pedro II em Engenho de Dentro (Rio de Janeiro) e em outros hospitais federais e estaduais.

Em 1978 ingressou como professora Auxiliar de Ensino no departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFRJ, depois passou à professora Assistente e a Adjunta, quando defendeu a tese de doutorado intitulada “Psicoses esquizoafetivas : localização no campo das psicoses endógenas” em 1992, realizada no Instituto de Psiquiatria da UFRJ, sob a orientação do professor livre docente Raffaele Infante. Fez estágios na Universidade de Birmingham (Inglaterra) sob a supervisão de Ian F. Brockington entre 1987 e 1988 e no Institute of Psychiatry of London (Inglaterra), acompanhando o trabalho desenvolvido no District Services Centre do Maudsley Hospital em 1988 e 1989 . Ministrou disciplinas para vários cursos de graduação e supervisionou os cursos de pós-graduação e residência médica.

No interstício entre 1985 e 1987 e 1989 e 1994 foi vice-diretora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB), substituindo Raffaele Infante na direção. Esta diretoria foi reeleita por três mandatos sucessivos na instituição, porém não assumiu o terceiro mandato em decorrência de intervenção de motivação política da Reitoria da UFRJ. Durante o seu mandato, adotou um conjunto de iniciativas desde a efetivação de novas modalidades assistenciais na enfermaria, incluindo a recente criação de um espaço psicossocial extra-enfermaria para os clientes internados, a criação do Hospital-Dia/Centro de Atenção Psicossocial das oficinas terapêuticas e comunitárias, até a organização de ações ressocializantes.

Ceres El-Jaick Andrade também era responsável pela Divisão de Extensão do IPUB e coordenou as comissões de estruturação do Programa do Museu da Memória Psiquiátrica do IPUB e do Hospital dia “José Octávio de Freitas Júnior” e do Pró-patrimônio Histórico do Instituto de Psiquiatria no Campus da Praia Vermelha , de Planejamento da implantação do projeto “Clube de Esquina” de ressocialização a pacientes egressos da instituição psiquiátrica , do programa “Recriar” (Reintegração Social, Crítica, Ambiente Popular) e do Serviço de Saúde Mental Comunitário do IPUB . Participou de projetos de acervos áudio visuais, cinematográfico e fotográfico e coordenou os projetos “Cine Arte Cuca” de exibição de filmes e debates, assim como o projeto “Pinte no Museu” que objetivavam levar à comunidade conhecimento sobre a História da Psiquiatria no Brasil e tentavam uma aproximação dos pacientes com as diversas formas de manifestação artística, integrando pacientes psiquiátricos comunitários, alunos de escolas públicas próximas ao Campus da Praia Vermelha (sede do IPUB), artistas plásticas, músicos e poetas do meio acadêmico e popular com eventos realizados nos jardins da instituição ou externo ao Campus da Praia Vermelha no ano de 1991 e 1992.

Nesta época em que ocupavam a direção, Ceres El-Jaick Andrade, junto com o Diretor e com uma equipe, criaram o Hospital Dia em agosto de 1987, vinculado à Divisão de Assistência do IPUB, para prestar tratamento em regime parcial, evitando internações. A filosofia que norteava sua implantação era a de estimular as capacidades do paciente utilizando para isto práticas sócio-terápicas e profissionalizantes que compreendem e aceitem o doente, ao mesmo tempo em que o mantém em seu convívio familiar, facilitando a reintegração do paciente à sociedade . As atividades, conduzidas por uma equipe multidisciplinar, incluíam desde atividades da vida diária, atividades de musicoterapia, linguagem corporal, teatro terapêutico e psicodrama, expressões artísticas, horticultura, trabalhos artesanais e profissionalizantes que, procurando agregar a comunidade ao redor do IPUB, visavam humanizar o tratamento de saúde mental.

O projeto “Rio Zona Sul” foi iniciado em 1988, compreendia vários outros projetos e foi desenvolvido junto a comunidades do Rio de Janeiro, articulado com as associações de moradores visando a promoção da cultura nacional e regional, a divulgação das manifestações de pensamento, da arte e do saber popular, incluídos a forma de expressão e os modos de fazer e viver, tendo como objetivo geral a integração social em todos os níveis .

O programa “Recriar” foi implementado em março de 1990 a partir da discussão com membros da comunidade sobre o trabalho que seria desenvolvido. Nesta ocasião foram inaugurados a vivência “Montagem da Casa dos Sonhos”, em argila com a participação de professores, técnicos e pacientes da instituição, os projetos “Clube da Esquina” e “Caminhar”. Ainda em março, foram iniciados os projetos “FazerArte”, o projeto “Caipira” (Cooperativa Agrícola do Instituto de Psiquiatria para Integração e Retorno à Atividade) e o projeto Comunicação. O “Recriar” compreendia atividades diárias: cursos teórico–práticos de atividades artísticas, plantio de horta e plantas medicinais, criação de animais para aprimorar novos conhecimentos técnicos para repassar aos pacientes do Hospital Dia e Ambulatório. Em 1988 coordenou a criação do “Museu da Memória Psiquiátrica” na gestão do professor Raffaele Infante, que reunia trabalhos artísticos produzidos por pacientes assim como documentos da história do atendimento psiquiátrico no Rio de Janeiro datando a partir de 1894.

Em 1991 foi inaugurado o Teatro Qorpo Santo em homenagem ao pioneiro do teatro contemporâneo de vanguarda, José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo Santo, que foi paciente do Hospício Dom Pedro II no século XIX. O teatro foi instalado em um dos prédios remanescentes do conjunto arquitetônico do antigo Hospício D. Pedro II e foi um espaço exclusivamente dedicado a sediar montagens teatrais, cursos, seminários palestras e um banco de dados sobre Teatro do Absurdo, Teatro de Loucura e Teatro Expressionista, além de atividades de Psicodrama e Teatro Terapêutico .

Em 1993, solicitaram o tombamento da área do IPUB e, no ensejo da ECO-92, o tombamento das árvores centenárias localizadas no terreno do Instituto no Campus da Praia Vermelha. No documento encaminhado ao Instituto do Patrimônio e à Prefeitura do Rio de Janeiro assinavam personalidades como Burle Marx, Nise da Silveira, Jô Soares entre outros . Finalmente, os prédios e toda a área foram tombados pela Lei 3267 de 07 de outubro de 1999.

Aposentou-se em 1995, tendo publicado vários artigos, principalmente na Revista Brasileira de Psiquiatria. Em 1999, rendeu homenagem a Rafaelle Infante, falecido em 1998 e a seu legado como diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.

Bibliografia

ANDRADE, Ceres El-Jaick. Psicoses esquizoafetivas : localização no campo das psicoses endógenas. Tese de Doutorado defendida no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 1991

ANDRADE, Ceres El-Jaick. A exclusão do subtipo esquizofrenia esquizoafetiva da nosologia psiquiátrica: fundamentos e controvérsias. Jornal Brasileiro de Psiquiatria ; 10(41): 513-520, nov./dez. 1992.

ANDRADE, Ceres El-Jaick. A Esquizofrenia na Prática Clínica. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 1993; 42(1):37-44.

ANDRADE, Ceres El-Jaick. A esquizofrenia esquizoafetiva na prática clínica. Jornal Brasileiro de Psiquiatria; 1(42): 37-44, jan. 1993.

ANDRADE, Ceres El-Jaick et al. Compromisso e perspectivas. Jornal Brasileiro de Psiquiatria; 10 (42): 515, 1993.

ANDRADE, Ceres El-Jaick et al. Oficinas Comunitárias –Um programa de atenção psicossocial. Jornal Brasileiro de Psiquiatria; 1(43):39-43, 1994.

ANDRADE, Ceres El-Jaick. Reinserção Social de Pacientes Esquizofrênicos – A experiência das Oficinas Comunitárias. Jornal Brasileiro de Psiquiatria; 10 (43) 1994.

Andrade, Ceres El-Jaick. “A integração através da arte”. Entrevista publicada no jornal Comunidade Urca, editado pela Escola de Comunicação –UFRJ , Ano 1, Número 3, página 9 , em agosto de 1993.