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Usuário(a):Jéssica Lury/Testes

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TESTE 2019 UNIFESP

Teste 27/11 :3


Ensaios[editar | editar código-fonte]

Ensaios (Essais em francês) é o título da principal obra do francês Michel de Montaigne (1533-1592), publicada pela primeira vez em 1580, foi pioneira no gênero literário chamado "ensaio".

Montaigne não tinha a intenção de inaugurar um gênero literário e nem o objetivo direto de escrever uma série de 3 livros. Não fazia ideia de que a princípio o que seria analisado em seus livros seria a sua estrutura, e não exatamente o seu conteúdo, este que consiste em relatos de experiências e lições que fez durante a vida.[1] No geral, abrange todos os assuntos possíveis, sem ordem aparente: medicina, livros, assuntos domésticos, doença, morte, dor, sabedoria, solidão filosófica etc.

Para muitos, Montaigne tinha começado a escrever Os Ensaios, como um pretenso estoico, o francês estava endurecido após tantas guerras e perdas, e para ele, a filosofia não era apenas fazer livros e artigos, mas seria “modo de vida”. Por isso, uma das principais características da obra do autor é falar do dia a dia, feitos diários do mesmo, por isso autores modernos, apelidaram os Ensaios como uma “auto escrita”: “um exercício ético para “fortalecer e esclarecer” o próprio julgamento de Montaigne, tanto quanto o de nós leitores”.[2] É certo dizer que podemos conhecer Michel de Montaigne através de sua obra.

Montaigne não era um pensador sistemático, algumas de suas intenções não coincidiam, o escritor tinha como contexto histórico a França do século XVI, onde ocorria a Reforma Protestante, a Revolução Científica e a Descoberta do Novo Mundo. Os filósofos e os cientistas então, acrescentam um requisito intelectual: a virtude da "dissimulação honesta", que era nada mais que a "ocultação" de verdadeiras intenções e sentimentos, o que foi necessário em um período onde qualquer "novidade" corria o risco de tornar-se uma ameaça para a ordem natural e para a vida civil.[3]

Os Ensaios vão da dissimulação ao relativismo – os pontos de vista não têm uma verdade absoluta – a fim de recriar uma natureza que precisa ser reescrita, desmanchando um enredo criado pela cultura europeia. Neste sentido, quando se trata das formas de se interpretar o Novo Mundo, Montaigne num primeiro momento destrói progressivamente a imposição de interpretações já estabelecidas proporcionando aos leitores uma compreensão diferente.[3]

Conteúdo da obra[editar | editar código-fonte]


Edições[editar | editar código-fonte]


Influência da obra[editar | editar código-fonte]


Dos canibais[editar | editar código-fonte]

O ensaio Dos Canibais tem grande relevância no Brasil, pois trata-se da história dos povos nativos brasileiros. Montaigne fez esse ensaio com base nos testemunhos orais[4] de um viajante que viveu dez ou doze anos nas terras que foram nomeadas de França Antártica por Villegagnon[5], que tinha acabado de fazer uma expedição ao Brasil, acredita-se que ele escreveu esse ensaio após 1579[4].

O ensaio começa com Montaigne dizendo que a descoberta desse país infinito parece ser considerável, mas não garante que no futuro não possa ter outra descoberta, e teme que a curiosidade seja maior que a capacidade. Montaigne volta a falar do homem que lhe deu o testemunho, e diz que ele era simples e grosseiro e essa era a prova de que o testemunho era verdadeiro, pois por ser simples não tinha como construir invenções falsas. Retomando sobre o Brasil, o autor diz que não tinha nada de bárbaro e selvagem nessa nação[6], isso baseado no que tinham relatado para ele, ele ainda ressalta que não parecia que eles tinham outro padrão de verdade e razão ao não ser o que era usado em seu país. Para o autor a nação só era bárbara em relação a ter pouco do espírito humano formado, e por serem muito próximos de sua naturalidade original[6]. A pureza dos nativos causava no Montaigne desgosto por não terem os conhecido antes, e diz que outros homens como Platão e Licurgo poderiam ter julgado melhor que eles. E que ele diria a Platão que é os nativos daqui não tinham o conhecimento das letras, dos números, nenhum nome para os magistrados, nenhuma vestimenta, nenhum metal, que eles eram “viri a diis recentes”[7]. Mas que sobretudo, a terra era agradável e bem temperada, e que era raro ver um homem doente, havia muitos peixes e carnes que era diferentes das deles e o único método de comer elas era cozinhando. É falado sobre as casas, que eram construções bem grandes que cabiam muitas pessoas, dos modos deles como o de se levantar com o sol e dos costumes como o da dança. É falado das crenças dos nativos em relação a alma, Montaigne diz que eles acreditam que as almas são eternas, e que as boas estão no céu, onde o sol nasce e as más no lado do ocidente. Montaigne descreve como eram as guerras: eles vão totalmente nus, com arcos ou espadas de madeiras e geralmente guerreavam com nações que viviam além das montanhas[6], o modo de combate deles era muito admirável para Montaigne, eles só terminavam com a morte ou efusão de sangue, nada se sabe sobre medo ou fugas. Cada um levava como troféu a cabeça do inimigo que ele matou, e a pregava na entrada do alojamento. Em relação aos prisioneiros, depois de um bom tempo tratando eles bem, quem está no comando faz uma grande reunião com seus conhecidos, amarra o prisioneiro, e junto de seu melhor amigo, o cortam com a espada na frente de toda a assembléia.

É nítido que Montaigne tem uma visão diferente dos companheiros de sua época, ele dizia que o ocorrido não era para se alimentarem, eles não eram canibais como todos diziam. Esses rituais era uma forma de manifestar extrema vingança[6]. A única fiança que os nativos exigiam de seus prisioneiros era a confissão, eles tinham que confessar que tinham sido derrotados. Mas na maioria das vezes os prisioneiros preferiam morrer do que se declarar derrotados. Geralmente os homens tinham várias mulheres, e essas mulheres não tinham ciúme, pelo contrário, elas se juntavam para conseguir mais amantes ao maridos, o autor até faz uma comparação com a história bíblica de Jacó, onde suas mulheres Lia, Raquel, Sara, e as outras ofereciam as servas mais belas a seus maridos[4]. O ensaio termina com Montaigne mostrando que alguém perguntou para os indígenas o que eles tinham achado mais admirável, e foram três coisas, mas a terceira ele perdeu. A primeira era que eles acharam estranho que grandes homens, bárbaros, respeitassem uma criança, e não escolhessem, entre eles alguém para comandar. E a segunda era que alguns homens viviam satisfeitos e gozando de todas as comodidades, enquanto outros mendigavam em suas portas, cheios de fome e pobreza, eles acharam estranho que mesmo vivendo em tal injustiça eles não se vingasse, e assim termina o ensaio.

Os ensaios[editar | editar código-fonte]

  1. BURKE, Peter (2006). Montaigne. São Paulo: Edições Loyola 
  2. SHARPE, Matthew. Guide to the classics: Michel de Montaigne’s Essays. Massachusetts, EUA: [s.n.] 
  3. a b MONTAIGNE, Michel de (2002). Os Ensaios. São Paulo: Martins Fontes 
  4. a b c MONTAIGNE, Michel de (2002). Os Ensaios - Livro II. São Paulo: Martins Fontes. pp. p. 301 
  5. MARIZ, Vasco (2008). «Villegagnon: herói ou vilão?». História (São Paulo) 
  6. a b c MONTAIGNE, Michel de (2009). Dos canibais. São Paulo: Alameda 
  7. “Homens recém criados por Deus.” (Sêneca, Epístolas, XC)