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Narração Multimodal

A Narração Multimodal, como documento, é uma descrição cronológica, autocontida e multimodal do que professor e alunos fazem e dizem num dado contexto de ensino, agregando e transformando todos os dados recolhidos (dados independentes do professor e dados que dependem do seu ponto de vista) seguindo um protocolo previamente definido e publicado (Lopes et al., 2014). Assim, uma narrativa multimodal agrega e organiza dados de práticas de ensino num único documento e tem um primeiro tratamento dos dados, aproveitando a própria perspetiva do professor sobre o que se passa na sala de aula (Lopes et al., 2014). Ou seja, uma NM é um documento autónomo e conciso que pode ser posteriormente analisado, evitando a dificuldade de lidar com múltiplas fontes de dados (Lopes et al., 2014). Incorpora excertos de dados recolhidos e a descrição de intenções, decisões, atitudes, silêncios ou gestos do professor e alunos. Depois de elaborada pelo narrador, uma narrativa multimodal é trabalhada e validada por investigadores independentes de modo a assegurar que seja legível, autocontida, fidedigna e congruente com os dados recolhidos (Lopes et al., 2014). Uma vez validada, uma narrativa multimodal não é alterada, pode-se tornar pública e pode ser usada para diversas finalidades. Note-se a diferença para uma gravação de vídeo ou áudio de uma aula ou outro tipo de dados, que se vistos isoladamente, não representam uma descrição integrada, intersubjetiva e articulada do que aconteceu na sala de aula. (Lopes, Viegas & Pinto, 2018).

Elaborar uma Narração Multimodal

A Narração Multimodal é um instrumento multifacetado que permite aglomerar diversos dados que atestam o modo como decorreu determinada aula. Assim sendo, as NM tornam-se muito úteis e facilitam toda a estruturação dos dados recolhidos ao longo da(s) aula(s), sejam gravações, documentos do docente, registos e relatórios realizados pelos alunos, fotografias, plano(s) de aula e anotações do professor, entre outros.

O processo de construção de uma narrativa multimodal, embora complexo, permite estruturar os dados recolhidos, ajudando à reflexão sobre a prática de ensino e a melhoria da perceção que o próprio professor teve da sua aula. Com alguma prática, a interiorização do processo torna a sua construção num sistema metódico, útil, permitindo uma (auto) reflexão acerca das práticas de ensino.

Este processo passa por três fases essenciais estabelecidas num protocolo:

(a) recolha de dados da sala de aula;

(b) construção da narrativa multimodal pelo narrador, fazendo um documento único;

(c) validação da narrativa multimodal.

Protocolo para elaborar uma Narração Multimodal:

• Reunir, comparar e organizar os dados independentes e dependentes;
• Ouvir a gravação (áudio ou vídeo) e identificar o cruzamento com os vários aspetos multimodais recolhidos;
• Identificar todos os episódios;
• Elaborar um relato resumido de toda a narrativa multimodal (contextualização e breve descrição de cada episódio apresentando todos os episódios pela ordem em que ocorreram);
• Narrar cada episódio (ouvindo novamente a gravação com mais detalhe, focando em ações e linguagem dos intervenientes);
• Enriquecer progressivamente a narrativa multimodal com todos os elementos multimodais. (Lopes, Viegas & Pinto, 2018).