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Logoaudiometria[editar | editar código-fonte]

A Logoaudiometria, ou avaliação da percepção de fala, é um teste que avalia a habilidade do indivíduo para detectar e reconhecer a fala. Por meio da logoaudiometria, é possível avaliar o Limiar de Detecção de Voz (LDV), o Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF) e o Índice Percentual de Reconhecimento de Fala (IPRF)[1]. O teste é realizado através do equipamento audiômetro, sendo um requisito necessário o controlador de unidades de volume (VU meter), a entrada para fonte de áudio externa e microfone para testes a viva voz.

Testes Logoaudiométricos[editar | editar código-fonte]

Limiar de Detecção de Voz (LDV)[editar | editar código-fonte]

O Limiar de Detecção da Voz é um teste que tem por objetivo avaliar qual é a mínima intensidade sonora (dB) em que o indivíduo pode detectar a presença de fala. Neste teste, o indivíduo não precisa identificar ou compreender o que está sendo falado, mas apenas sinalizar a presença ou ausência do estímulo. O LDV é realizado quando não é possível aplicar o teste de Limiar de Reconhecimento da Fala (LRF), de modo que isto ocorre quando o paciente tem dificuldade no reconhecimento de palavras, seja por perda auditiva neurossensorial severa ou profunda, ou por distúrbios muito severos de linguagem.

Para pesquisar o limiar de detecção de voz, o fonoaudiólogo deve apresentar repetições de sílabas sem sentido - como “Pa, Pa, Pa” - e o paciente deve repeti-las, até ser encontrado a mínima intensidade sonora na qual o indivíduo repete corretamente dois dos quatro estímulos apresentados, equivalente a 50% de acertos. O resultado do LDV é dado em dBNA e deve ser semelhante com o melhor limiar de via aérea na região entre 500 Hz e 4.000 Hz.

A pesquisa do LDV também deve ser realizada com mascaramento, quando houver qualquer possibilidade de a orelha oposta responder pela orelha testada, ou seja, quando ocorrer audição cruzada. O valor de mascaramento utilizado deve constar no laudo do exame.[2]

Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF ou SRT)[editar | editar código-fonte]

O Limiar de Reconhecimento de Fala tem por objetivo encontrar a menor intensidade sonora (dB) em que o indivíduo é capaz de reconhecer e repetir 50% dos estímulos de fala apresentados. Além disso, o LRF deve confirmar os limiares audiométricos realizados por condução aérea, de forma que o valor encontrado no teste deve ser igual ou até 10dB acima da média dos limiares audiométricos encontrados nas frequências de 500 HZ, 1000HZ e 2000HZ.

Para pesquisar o limiar de reconhecimento de fala, o fonoaudiólogo deve apresentar palavras dissílabas, trissílabas, polissílabas bastante familiares, sentenças, ou até mesmo pode ser realizado perguntas simples, como “Onde o senhor mora?”. O valor do LRF é dado quando se encontra a menor intensidade sonora (dB) em que o indivíduo testado consegue repetir duas de quatro palavras apresentada ou responder duas de quatro perguntas, de forma correta, sem repetição.

Quando o teste de limiar de reconhecimento de fala não confirma os limiares da audiometria tonal limiar, é um indicativo de inconsistência dos resultados do teste, levando à suspeita de alterações nos componentes funcionais da via auditiva, como uma lesão retrococlear. Dessa maneira, avaliações audiológica complementares deverão ser realizadas.

Deve-se observar se há a possibilidade de ocorrência de audição cruzada na pesquisa do LRF, sendo necessário mascarar a orelha não testada quando houver esta possibilidade. O valor de mascaramento utilizado deve constar no laudo do exame.[2]

Índice Percentual de Reconhecimento de Fala (IPRF ou IRF)[editar | editar código-fonte]

O índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF) indica a porcentagem de palavras que um indivíduo consegue repetir corretamente, em uma intensidade sonora fixa (dB). Este teste tem como objetivo avaliar a inteligibilidade da fala.

No teste, são apresentados 25 palavras monossílabas, uma vez que o objetivo do IPRF é identificar a capacidade do indivíduo em reconhecer unidades mínimas de fala e as palavras monossilábicas são suficientemente pequenas, de forma que os indivíduos precisam escutar todos os seus elementos para poderem reconhecê-las. Cada palavra correta corresponde a 4% de reconhecimento de fala. Para ter um resultado dentro do padrão de normalidade, é preciso ter uma porcentagem entre 100% e 92%, assim, em resultados iguais ou menores que 88%, o teste deverá ser feito apresentando 25 palavras dissílabas. No quadro abaixo se encontra a classificação do IPRF(Jerger, Speaks, e Trammell, 1968), de acordo com a porcentagem do resultado do teste.

Classificação do IPRF (Jerger, Speaks, e Trammell, 1968)[1]
Resultado de IPRF Dificuldade de compreensão da fala
100% a 92% Nenhuma dificuldade para compreender a fala.
88% a 80% Ligeira/discreta dificuldade para compreender a fala.
76% a 60% Moderada dificuldade para compreender a fala.
56% a 52% Acentuada dificuldade para acompanhar uma conversa.
Abaixo de 50% Provavelmente incapaz de acompanhar uma conversa.

No IPRF também deve-se observar se há a possibilidade de ocorrência de audição cruzada, sendo preciso mascarar a orelha não testada quando houver esta possibilidade. O valor de mascaramento utilizado deve constar no laudo do exame.[2]

Referências Bibliográficas:[editar | editar código-fonte]
  1. a b Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), Academia Brasileira de Audiologia (ABA) (25 de agosto de 2020). «Guia de Orientação na Avaliação Audiológica». Fonoaudiologia. Consultado em 28 de setembro de 2022 
  2. a b c BOECHAT, E. M et al. (Org.). (2015). Tratado de Audiologia 2ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 

Verbete: Habilitação e reabilitação auditiva[editar | editar código-fonte]

Avaliação das habilidades auditivas e linguagem[editar | editar código-fonte]

As habilidades auditivas constituem um pré-requisito para a aquisição da habilidade de linguagem oral, bem como para a habilidade de linguagem escrita. Dessa forma, é imprescindível que nos primeiros anos de vida, em especial os seis primeiros meses, ocorra o desenvolvimento das habilidades auditivas em crianças, as quais evoluem desde o nascimento até os dois anos de idade. O desenvolvimento das habilidades auditivas para crianças com audição normal e com perdas auditivas procede da mesma maneira. Entretanto, nas crianças que possuem uma perda auditiva, o desenvolvimento terá um ritmo mais lento.

Para que se tenha um desenvolvimento e aquisição normal da linguagem, é necessário uma integridade anatômica e funcional do sistema auditivo central e periférico, uma vez que a exposição às experiências auditivas constituem um pré requisito para a aquisição da habilidade de linguagem oral, bem como para a habilidade de linguagem escrita. Contudo, se a criança possui uma perda auditiva, haverá um déficit em sua aquisição de linguagem, tendo em vista a dificuldade para captar, reconhecer e aprender as palavras provenientes de um estímulo sonoro. Dessa forma, para o desenvolvimento da audição e linguagem, é necessário que a criança aprenda um conjunto de habilidades auditivas essenciais, que são adquiridas de modo hierárquico, sendo elas:

  1. Detecção;
  2. Discriminação;
  3. Localização;
  4. Reconhecimento Auditivo;
  5. Compreensão Auditiva.

A detecção é a habilidade de perceber a presença e a ausência de sons. Esta habilidade se desenvolve na vida intrauterina, a partir da 20ª semana gestacional, no qual estímulos sonoros produzidos externamente chegam na cavidade intra uterina, de forma que sons contidos em baixas frequências, como vogais e aspectos suprassegmentais da fala, podem ser detectados e confirmados através das mudanças nos batimentos cardíacos do feto. Ademais, a habilidade de detecção depende de uma integridade do sistema auditivo periférico (cóclea e nervo acústico) e essa habilidade é a base para o desenvolvimento das demais.

A discriminação refere a capacidade de diferenciar dois sons, ou seja, verificar se os sons são iguais ou diferentes. Esta habilidade se faz presente no recém nascido, que é capaz de diferenciar a voz de sua mãe dentre outras vozes de mulheres. Entretanto, a predisposição para discriminar os sons de qualquer língua não persiste para sempre, decrescendo com o aumento da idade e experiência linguística. A partir de um mês de vida já se pode constatar a capacidade de o bebê discriminar sons.

A localização envolve a capacidade de identificar de onde o som vem. As etapas de localização sonora se desenvolvem dos 4 aos 24 meses, e evolui com o aumento da idade da criança. Inicialmente ocorre a localização no eixo horizontal (lateral direita/esquerda, para baixo e para cima) que evoluiu da maneira indireta (olhar primeiro para o lado e depois para baixo ou para cima) para a direita (olhar diretamente para a fonte). Na sequência ocorre a localização no eixo longitudinal (acima da cabeça) e transversal (sons situados à frente e atrás da cabeça). A habilidade de localizar sons envolve o sistema auditivo central: tronco encefálico (complexo olivar superior e colículo inferior) e córtex (lobo temporal).

O reconhecimento auditivo é a habilidade que ocorre quando há uma associação de significante–significado, ou seja, apontar figura ou partes do corpo nomeadas, cumprir ordens, repetir palavras.  A habilidade de reconhecimento auditivo surge no final do 1 ano de vida. Tal reconhecimento parece evoluir, dos níveis mais simples para os mais complexos: as crianças de 8 a 10 meses inibem suas atividades ao reconhecer a palavra “não”. Entre 9 e 13 meses são capazes de reconhecer comandos verbais simples, tais como “dá tchau!”, “joga beijo!” e “bate palma!”. Além disto, a partir de 12 meses pode­-se verificar se a criança reconhece o próprio nome.

Por fim, a habilidade de compreensão auditiva, ocorre dos 18 meses aos 2 anos, e consiste em ser capaz de compreender histórias e fala, responder a perguntas relacionadas a um evento ou uma história e conseguir recontar o que previamente foi exposto, como contos, fatos, eventos e histórias.

Para avaliar as habilidades auditivas no primeiro ano de vida, utiliza-se estímulos sonoros, sendo esperado que a criança responda produzindo uma mudança detectável no comportamento. As avaliações são realizadas em Unidades Básicas de Saúde, em programas de saúde da família, em consultórios de pediatras e em acompanhamento de crianças de risco ou nascidas pré-termo.

Todas as habilidades auditivas são de extrema importância no desenvolvimento da criança, dado que a partir delas a linguagem será adquirida, portanto, é essencial que haja o acompanhamento das habilidades durante o crescimento infantil, pois permiti um diagnóstico precoce em atrasos auditivos, proporcionando a intervenção imediata.[1]

A literatura científica aponta que o desenvolvimento auditivo e linguístico de crianças implantadas ou usuárias de dispositivos eletrônicos (Como o Dispositivo de Amplificação Sonora Individual) precocemente pode ser semelhante ao desenvolvimento destas habilidades em crianças ouvintes, quando associadas à terapia fonoaudiológica adequada. [2]

  1. BOECHAT, E. M et al. (Org.) (2015). Tratado de Audiologia. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 
  2. Melo, Tatiana Mendes de; Lara, Jessica Domingues (2012). «Habilidades auditivas e linguísticas iniciais em crianças usuárias de implante coclear: relato de caso». Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia: 390–394. ISSN 2179-6491. doi:10.1590/S2179-64912012000400017. Consultado em 25 de outubro de 2022