Usuário(a):Marcelo Pereira Orfão/Testes

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A RELAÇÃO ENTRE CULTURA E MÍDIA

- IDEOLOGIA E CULTURA DA MÍDIA

A influência da ideologia na modelação cultural da sociedade serve historicamente de objeto de pesquisa e análise nos mais variados campos de observação, sejam eles técnicos, acadêmicos, ou participantes dos segmentos que fazem e vivem o ambiente da cultura. Com a perspectiva de diagnosticar características importantes na relação que envolvam a cultura e a mídia, é importante destacar aspectos que enredam esta relação. O aspecto que aponta para a determinante influência de uma ideologia na formatação cultural da sociedade, e a enraizada influência da ideologia na própria mídia e sua interferência na produção cultural da sociedade contemporânea. Tais observações começam a ter merecida atenção no século XX como aponta o trecho a seguir: “O marxismo clássico de Marx e Engels, a II e a III Internacional tendiam a dar ênfase à primazia da economia e da política e não dar atenção à cultura e à ideologia. No entanto, durante os anos 1920, Lukacs, Korsch, Bloch e Gramsci ressaltaram a importância da cultura e da ideologia, e a Escola de Frankfurt e outras versões do marxismo ocidental também viram a importância da crítica da ideologia como importante componente da crítica da dominação. Os estudos culturais britânicos também, em seu período de formação, puseram o conceito de ideologia no centro do estudo da cultura e da sociedade...”[1] Portanto, acerca dessa análise, é impossível desconsiderarmos a decisiva influência da ideologia na formatação da cultura da sociedade contemporânea, nos seus mais amplos canais, precisamente naquele que tem por característica essencial potencializar esta ideologia e esta cultura dirigida, que é a mídia, que por si só é refém desta estrutura e absorvida por essa cultura que condiciona a criar a sua própria cultura, a cultura da mídia. Este instrumento poderoso de controle ideológico e cultural, que é a cultura da mídia, exerce função fundamental na manutenção das bases estruturais da política, economia, da cultura e consequentemente da ideologia dominante conforme análise que segue: “Tal crítica da ideologia é multicultural, discernindo um espectro de formas de opressão de pessoas de diferentes raças, etnias, sexo e preferência sexual, traçando os modos como as formas e os discursos culturais ideológicos perpetuam a opressão. A crítica multicultural da ideologia exige levar isso a sério as lutas entre homens e mulheres, feministas e antifeministas, racistas e antirracistas, gays e anti-gays, além de muitos outros conflitos, que são considerados tão importantes e dignos de atenção quanto os conflitos de classe o são pela teoria marxista. Parte-se assim do pressuposto de que a sociedade é um grande campo de batalha, e que essas lutas heterogêneas se consumam nas telas e nos textos da cultura da mídia e constituem o terreno para um estudo crítico da cultura da mídia...”[2] Os elementos da cultura de massa, a música, as artes visuais, encontram em instrumentos midiáticos como o rádio, a TV e o cinema, canais de expressão e difusão, que estrategicamente são absorvidos pela influência da ideologia na cultura da mídia. Estabelecendo as diretrizes da formação cultural da sociedade, deliberando o que deve ser consumido e assimilado. “A cultura da mídia, assim como os discursos políticos, ajuda a estabelecer a hegemonia de determinados grupos e projetos políticos. Produz representações que tentam induzir anuência a certas posições políticas, levando os membros da sociedade a ver em certas ideologias “o modo como as coisas são”[...] Os textos culturais populares naturalizam essas posições e, assim ajudam a mobilizar o consentimento às posições políticas hegemônicas”[3] Nesse contexto entre ideologia e cultura da mídia X cultura, percebe-se um conflito de pretensões a partir do princípio que a cultura cumpriria em determinado momento o seu papel transformador e libertador das correntes da ideologia hegemônica, abafado pela ação desta mesma ideologia hegemônica através do estabelecimento da cultura da mídia, que de forma dominante é conservar fronteiras e legitimar o domínio da classe, da raça e do sexo hegemônico.


- A INTERFERÊNCIA DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL[4]

Nas sociedades de consumo e de predomínio da mídia, surgidas depois da Segunda Guerra Mundial, a identidade tem sido cada vez mais vinculada ao modo de ser, à produção de uma imagem, à aparência pessoal. É como se cada um tivesse de ter um jeito, um estilo e uma imagem particular para ter identidade embora, paradoxalmente, muitos dos modelos de estilo e aparência provenha da cultura de consumo, portanto, na sociedade de consumo atual, a criação da individualidade passa por grande mediação. Enquanto a intervenção pós-moderna nas artes é muitas vezes interpretada como reação ao modernismo, a canonização elitista e sufocante das artes operada por este, é uma reação contra o realismo e o sistema de gêneros codificados (humorismo, novela, ação/aventura, etc.). Nesse Sentido, as intervenções pós-modernas na televisão reproduzem um ataque sofrido pelo realismo e pela divisão em gêneros que o próprio modernismo antes fizera, estabelecendo para o telespectador o papel de um mero “termo terminal” da informação e da mídia. Dessa visão pós-moderna dos textos e dos eus, segue-se uma teoria cultural pós moderna que deve contentar-se em descrever as superfícies ou formas dos textos culturais, em vez de procurar significados ou significâncias. As pessoas assistem com regularidade a certos programas e eventos; há fãs de várias séries e estrelas com um grau incrível de informação e conhecimento sobre o objeto de sua fascinação; as pessoas realmente modelam comportamentos, estilos e atitudes pelas imagens da televisão; os anúncios por ela vinculados, de fato desempenham certo papel na manipulação da demanda do consumidor. Cumprindo assim a televisão e outras formas de mídia papel fundamental na reestruturação da identidade cultural contemporânea e na conformação de pensamentos e comportamentos, determinando de certa forma que tipo de cultura consumir, produzir, como consumir e como produzir. A cultura da mídia estrategicamente põe à disposição, imagens e figuras com as quais seu público possa identificar-se, imitando-as. Portanto, ela exerce importantes efeitos socializantes e culturais por meio de seus modelos de papéis, sexo e por meio das várias “posições de sujeito” que valorizam certas formas de comportamento e modo de ser, enquanto desvalorizam e denigrem outros tipos. A mídia utiliza-se dos recursos culturais, imagens ligadas à moda, do sexo e do modo de ser vinculados a determinados teores e valores e, assim, constituem determinadas modalidades e formas de cultura e de identidade. Da mesma maneira, as imagens e as narrativas da cultura da mídia também são saturadas de ideologia e de valores, de tal sorte que a identidade nas sociedades contemporâneas (ainda) ser interpretada como um constructo ideológico, como um meio pelo qual a cultura age no sentido de produzir “posições de sujeito” que reproduzam valores e modos de vida capitalista e masculinas dominantes.

- A MÚSICA E A RELAÇÃO COM A MÍDIA E A SOCIEDADE[5]

A música popular massiva se organiza em gêneros para atender a um consumo variado e segmentado, uma classificação fundamental para as estratégias da indústria da música que envolve tensões sociais e uma prática econômica na qual produzir uma diversidade mercadológica.É parte de um sistema complexo denominado indústrias culturais. O gênero reflete nas opções da audiência, no trabalho de artistas, produtores, críticos, empresários, nas relações de poder e nas pressões comerciais inerentes ao jogo econômico do qual o negócio da música é parte fundamental. Nesta perspectiva, o gênero funciona como uma estratégia eficaz de diversificação de produtos bastante funcional dentro da engrenagem da cultura popular massiva e permite que a indústria musical trabalhe com uma ampla faixa de interesses (étnico, etário, gênero, geográfico) o que significa um consumo de massa. A música é parte de um padrão de comunicação que compartilha valores, sentimentos, experiências e a forma como ela circula indica como se comunica e traz significações para determinadas práticas musicais que são resultantes dos sentidos construídos quando ouvimos música. A indústria da música é parte importante das indústrias culturais. O termo, cunhado por Horkheimer e Adorno, é usado para caracterizar o surgimento de produtos culturais massivos (filmes, novelas, programas de rádio, peças publicitárias, histórias em quadrinhos) que circulam nos meios de comunicação massivos (cinema, rádio, televisão etc.) nos quais a estandardização e a produção em série são a lógica da chamada cultura de massa. Para os autores, a indústria cultural é um ambiente dominado pela técnica e pela hegemonia do poder econômico que tem total controle sobre o consumo da sociedade atual. A indústria da música é uma organização dentro das indústrias culturais que engloba empresas ligadas à música como gravadoras, selos, estúdios, produtoras, escolas de música; fabricação, produção e comercialização de instrumentos musicais e equipamentos eletrônicos. Desta forma, entende-se a indústria da música com uma estrutura ampla que abarca a produção de shows, o mercado de instrumentos, a distribuição da música, redes sociais, mídias variadas, direitos autorais, tecnologias de gravação. Seu faturamento engloba venda de discos, de música digital, a negociação de direitos autorais, lucros com turnê, vendas de instrumento musicais, entre outros. A música popular compartilha determinados significantes que estão ligados a experiências de classe, etnia, localização geográfica e estas significações estão presentes na forma de se fazer e de se vender e de se comprar música. Para entender os gostos do público, as empresas ligadas ao consumo cultural se estruturam para criar produtos que se identifiquem com a audiência para qual aquela mercadoria é direcionada. A fórmula não é tão simples porque entender este horizonte de expectativas do gênero é um processo complexo que envolve questões ideológicas, sociológicas e econômicas, mas é inegável que a formatação dos gêneros musicais reverbera no trabalho criativo dos artistas e nas opções de consumo da audiência. A música popular massiva é, portanto, um produto proveniente da industrialização e mercantilização da cultura que atua com uma produção em série que tem como meta a busca pelo lucro. Ela é produzida para ser consumida pelo maior número de pessoas, assim como todos os produtos das indústrias culturais e, dentro desta lógica, a indústria fonográfica precisa de novidades constantemente para manter ativo o seu mercado. Uma questão que permeia este negócio é que a música precisa ser ouvida para gerar sustentabilidade. Se as pessoas não compram mais discos físicos como no século XX, elas continuam consumindo músicas através dos meios de comunicação massivos, da internet, dos festivais, dos shows, dos videogames. São inúmeras opções oferecidas para audiência e diversas as formas de consumo musical, coletivamente, individualmente. A influência cultural da música em muitos casos potencializados pela mídia, quando a mesma coloca-se a disposição nos interesses de que opera a mídia, atua em um amplo mercado musical que constrói e articula uma rede social, econômica e ideológica, coletiva e individual, pública e doméstica. A música ocupa um dos papéis mais importantes na cultura popular massiva pelo seu poder social e sua presença em nossa vida cotidiana e nos mais variados produtos culturais.

  1. Kellner, Douglas. A Cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós- moderno / Douglas Killner; tradução de Ivone Castilho Benedetti.—Bauru, SP: EDUSC, 2001. (Capítulo 2: IDEOLOGIA E CULTURA DA MÍDIA: MÉTODOS CRÍTICOS, p.78)
  2. Kellner, Douglas. A Cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós- moderno / Douglas Killner; tradução de Ivone Castilho Benedetti.—Bauru, SP: EDUSC, 2001. (Capítulo 2: IDEOLOGIA E CULTURA DA MÍDIA: MÉTODOS CRÍTICOS, p.79)
  3. Kellner, Douglas. A Cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós- moderno / Douglas Killner; tradução de Ivone Castilho Benedetti.—Bauru, SP: EDUSC, 2001. (Capítulo 2: IDEOLOGIA E CULTURA DA MÍDIA: MÉTODOS CRÍTICOS, p.81)
  4. Kellner, Douglas. A Cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós- moderno / Douglas Killner; tradução de Ivone Castilho Benedetti.—Bauru, SP: EDUSC, 2001. (Capítulo: Televisão,propaganda e construção da identidade pós moderna)
  5. JANOTTI JR, Jeder Silveira e outros (org.) Dez anos a mil: Mídia e Música Popular Massiva em Tempos de Internet. Porto Alegre: Simplíssimo, 2011. (Capítulo: O negócio da música – como os gêneros musicais articulam estratégias de comunicação para o consumo cultural / Nadja Vladi )