Usuário(a):Nailton Gama/Cefaleia-de-sorvete

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Dor de cabeça por estímulo frio
Outros nomes     Cefaleia do sorvete, congelamento do cérebro[1][2]

Uma menina tomando sorvete apressadamente, uma causa comum de dor de cabeça por estímulo frio.

Especialidade    Neurologia

Duração              20 segundos a 2 minutos a depender da severidade

Causas               Consumo rápido de comidas e bebidas geladas ou exposição oral prolongada a estímulos frios

Tratamento         Remoção do estímulo frio da cavidade oral e direcionamento da língua à ponta do nariz ou ao céu da boca para aliviar a dor. A ingestão de água morna também pode reduzir a dor.

A dor de cabeça por estímulo frio ou dor de cabeça por estímulo gelado, conhecida popularmente por cefaleia do sorvete ou por congelamento do cérebro, é uma forma de dor de cabeça geralmente associada ao consumo (particularmente ao consumo rápido) de bebidas ou comidas geladas, tais como sorvete ou picolé. É causada pelo contato de algo frio com o céu da boca, e acredita-se ser o resultado de uma resposta nervosa que leva a rápida constrição e inchaço de vasos sanguíneos[3] ou uma dor referida do céu da boca na cabeça.[4][5] A taxa de ingestão de alimentos gelados tem sido estudada como um fator contribuinte.[1][6] A dor de cabeça de estímulo frio é diferente da hipersensibilidade dentinária, um tipo de dor de dente que pode ocorrer sob circunstâncias similares.

Gatos e outros animais têm sido observados experienciando reações semelhantes quando submetidos a estímulos análogos.[7]

Terminologia[editar | editar código-fonte]

O termo cefaleia do sorvete provém do inglês ice-cream headache e tem sido usado desde 31 de janeiro de 1937, estando presente em um diário de Rebecca Timbres publicado na obra de 1939 We Didn't Ask Utopia: A Quaker Family in Soviet Russia.[8] O primeiro uso publicado do termo inglês para congelamento do cérebrobrain freeze — no sentido de dor de cabeça por estímulo frio foi em 1991.[9][a] 7-Eleven tornou o termo uma marca registrada.[10]

Causa e frequência[editar | editar código-fonte]

Uma dor de cabeça de estímulo frio é o resultado direto do rápido resfriamento e aquecimento dos capilares dos seios da face, o que leva a períodos de vasoconstrição e de vasodilatação. Uma resposta similar, mas menos dolorosa, de vasos sanguíneos leva à aparência do rosto avermelhado quando se permanece fora de casa durante dias frios em países temperados. Em ambas as situações, a baixa temperatura leva os capilares dos seios da face a se contraírem e, então, a experienciarem dilatações restauradoras extremas à medida que se reaquecem.[11]

No palato, essa dilatação é sentida por receptores de dor ao redor, os quais enviam sinais, em resposta, ao cérebro pelo nervo trigêmeo, um dos principais nervos da área facial. Esse nervo também sente dor facial. Então, à medida que os sinais nervosos são conduzidos, o cérebro interpreta a dor como vinda da testa — o mesmo fenômeno de dor referida visto em ataques cardíacos —. A dor do congelamento do cérebro pode durar de alguns segundos a alguns minutos. Pesquisas indicam que o mesmo mecanismo vascular e nervo estimulados no "congelamento do cérebro" causa a aura (distúrbio sensorial) e fases pulsantes (dor latejante) de enxaqueca.[12]

É possível ser acometido pela dor de cabeça por estímulo frio tanto em clima quente quanto em frio, porque o efeito depende mais da temperatura do alimento sendo consumido que da ambiental. Outros sintomas que podem se assemelhar à dor de cabeça por estímulo frio incluem aquele produzido quando uma broca de alta velocidade atravessa a tábua inferior do crânio em pessoas acordadas ou sedadas em procedimentos cirúrgicos.

Teoria da artéria cerebral anterior[editar | editar código-fonte]

O nervo trigêmeo, mostrado em amarelo, conduz sinais dos vasos sanguíneos palatais em dilatação até o cérebro, o qual interpreta a dor como vinda da testa.
O nervo trigêmeo, mostrado em amarelo, conduz sinais dos vasos sanguíneos palatais em dilatação até o cérebro, o qual interpreta a dor como vinda da testa.
O nervo trigêmeo, mostrado em amarelo, conduz sinais dos vasos sanguíneos palatais em dilatação até o cérebro, o qual interpreta a dor como vinda da testa.

Outra teoria sobre a causa de dores de cabeça por estímulo frio baseia-se em um elevado fluxo sanguíneo para o cérebro pela artéria cerebral anterior, a qual providencia sangue oxigenado para a maioria das porções mediais dos lobos frontais e dos lobos parietais superiores. Acredita-se que tal aumento do volume de sangue e consequente aumento do calibre dessa artéria proporcionam a dor de cabeça por estímulo frio.

Quando a artéria cerebral anterior se contrai, controlando a resposta a esse elevado volume de sangue, a dor desaparece. A dilatação e a rápida contração desse vaso sanguíneo podem ser um tipo de auto-defesa do cérebro.

Esse fluxo de sangue não pode ser liberado tão rapidamente quanto ele vem durante a dor de cabeça por estímulo frio. Logo, o fluxo poderia aumentar a pressão no interior do crânio e, desse modo, induzir a dor. À medida que a pressão intracraniana e a temperatura no cérebro aumentam, os vasos sanguíneos se contraem e a pressão no cérebro é reduzida antes de atingir níveis perigosos.[13]

Pesquisa[editar | editar código-fonte]

O fenômeno é suficientemente comum para ter sido o objeto de uma pesquisa publicada no periódico The British Medical Journal e na revista Scientific American.[11][12] Um estudo conduzido por Maya Kaczorowski demonstrou uma maior incidência de dores de cabeça em sujeitos consumindo uma amostra de sorvete rapidamente, em menos de 5 segundos, do que naqueles que consumiram lentamente, levando mais de 30 segundos (27% e 12%, respectivamente).[1]

De acordo com uma pesquisa de Nigel Bird, Anne MacGregor e Marcia I. Wilkinson publicada no jornal Headache, em seus estudos, "17% dos pacientes de enxaqueca e 46% dos estudantes desenvolveram dor de cabeça após aplicação palatal ou deglutição de sorvete".[14]

Nota[editar | editar código-fonte]

  1. O primeiro registro de uso do termo inglês para "congelamento cerebral" — "brain freeze" — (com um sentido diferente) foi em 1968 em um jornal acadêmico canadense.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  1. a b c Kaczorowski, Maya; Kaczorowski, Janusz (21 de dezembro de 2002). «Ice Cream Evoked Headaches (Ice-H) Study: Randomised Trial Of Accelerated Versus Cautious Ice Cream Eating Regiem». British Medical Journal. 325 (7378): 1445–1446. PMC 139031Acessível livremente. PMID 12493658. doi:10.1136/bmj.325.7378.1445 
  2. Jankelowitz, SK.; Zagami, AS. (dezembro de 2001). «Cold-stimulus headache.». Cephalalgia. 21 (10): 1002. PMID 11843876. doi:10.1046/j.1468-2982.2001.00301.x 
  3. «What causes an ice cream headache? 1 de abril de 2000» 
  4. «Ice cream headaches Causes - Mayo Clinic» 
  5. «Definition of Ice cream headache» 
  6. «The Dairy Education eBook Series - Food Science». University of Guelph 
  7. «Do Cats Actually Get 'Brain Freeze' When They Eat Cold Treats? - petMD». www.petmd.com 
  8. Timbres, Harry; Timbres, Rebecca (1939). «We didn't ask Utopia: a Quaker family in Soviet Russia». Prentice Hall. Consultado em 19 de fevereiro de 2013. But your nose and fingertips get quite numb, though, and if you don't keep rubbing your forehead, you get what we used to call 'an ice cream headache.' 
  9. «Confessions of a City Literate». New Hampshire Union Leader. 27 de maio de 1991 
  10. «BRAINFREEZE - Trademark Details». Justia Trademarks (em inglês). Consultado em 6 de junho de 2020. Cópia arquivada em 6 de junho de 2020 
  11. a b Scientific American Mind, 1555–2284, 2008, Vol. 19, Issue 1. "Brain Freeze." Andrews, Mark A., Lake Erie College of Osteopathic Medicine.
  12. a b Hulihan, Joseph (1997). «Ice cream headache». BMJ. 314 (7091): 1364. PMC 2126629Acessível livremente. PMID 9161304. doi:10.1136/bmj.314.7091.1364 
  13. Welsh, Jennifer. «Cause of Brain Freeze Revealed». TechMediaNetwork.com. Consultado em 24 de abril de 2012 
  14. Bird, Nigel; MacGregor, Anne; Wilkinson, Marcia I. (1992). «Ice cream headache–site, duration, and relationship to migraine». Wiley-Blackwell. Headache. 32 (1): 35–8. PMID 1555929. doi:10.1111/j.1526-4610.1992.hed3201035.x