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Eremias Delizoicov
Nascimento 27 de março de 1951
São Paulo, Brasil
Morte 16 de outubro de 1969 (18 anos)
Rio de Janeiro, Brasil
Nacionalidade Brasil brasileira
Ocupação estudante, militante

Eremias Delizoicov (São Paulo, 27 de março de 1951Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1969) foi um militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), assassinado aos 18 anos de idade por agentes do DOI-COI que tentavam prendê-lo. Seus restos mortais não foram entregues à família Delizoicov até hoje, sendo a sua morte mais uma prova dos crimes de ocultação de cadáveres cometidos com frequência no período da Ditadura Militar no Brasil. .

Biografia[editar | editar código-fonte]

Texto de Demétrio Delizoicov Neto, irmão de Eremias.

"Eremias viveu toda a sua infância e boa parte da sua curta adolescência na Mooca. Completou o curso primário, em 1961, no Grupo Escolar Pandiá Calógeras e o ginasial em 1965, no Colégio Estadual M.M.D.C. Neste mesmo colégio iniciou, em 1966, o curso clássico. Em 1967 foi aprovado no exame de seleção da Escola Técnica Federal de São Paulo e cursou, simultaneamente com o clássico, o curso de mecânica.

Sensível e criativo, destinava suas horas de lazer ao esporte e à música. Tocava violão várias horas por dia. Estudou música clássica e, a partir de 66, imbuído de um ‘espírito nacionalista’, começou a expressar seus sentimentos interpretando músicas nacionais, notadamente aquelas enquadradas como ‘Bossa Nova’. Tentou, com um colega pianista e outro baterista, formar um trio.

Como esportista, em 1962 disputou o torneio paulista de Judô, tendo tirado a primeira colocação na sua categoria. Treinou natação durante 65 e 66 e participou de algumas competições. Em 1967, integrou a equipe de remadores do Corinthians e começou a treinar capoeira. Organizava seus horários de tal modo a, paralelamente, auxiliar o pai nas atividades do comércio.

Iniciou a leitura das obras de Aluísio de Azevedo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Ficou particularmente sensibilizado com as poesias de Augusto dos Anjos e passou a questionar a realidade brasileira ao ler ‘Geopolítica da Fome’, de Josué de Castro. Em 1967, no Colégio Estadual M.M.D.C., articulou-se com outros colegas para formar uma chapa que disputaria as eleições para o grêmio estudantil, iniciando sua militância política.

Ficou conhecendo detalhes do acordo MEC-USAID e engajou-se no movimento estudantil contra tal acordo. Passou a interagir com estudantes de outras escolas secundárias e articularam uma chapa para disputar, em 68, as diretorias da União Paulista de Estudantes Secundaristas (UPES) e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES). Organizou, juntamente com o grupo, o movimento estudantil secundarista nas escolas da zona leste de São Paulo. Eremias, em 1968, passou a liderar um movimento reivindicatório de alunos no Colégio Estadual M.M.D.C., organizando uma greve e comícios. Em virtude disso, foi transferido compulsoriamente, juntamente com alguns colegas, pela Direção do Colégio, contestada por alguns professores. Conseguiu matricular-se no Colégio Estadual Firmino de Proença, terminando o ano. Paralelamente continuou seu curso técnico.

Durante as greves operárias de 68, em Osasco, assistiu a algumas assembléias sindicais, com outros colegas que levavam o apoio dos estudantes aos operários em greve. Engajou-se na campanha para obter fundos de greve.

No início de 1969, entrou para a VPR. Simulou uma discordância com os pais e passou a morar fora de casa, mas visitava-os semanalmente. Confidenciava ao seu único irmão, um ano mais velho, e, então, estudante universitário, com quem mantinha uma estreita ligação e com quem discutia posições políticas.

Em meados de julho de 69, os órgãos de repressão já sabiam da sua militância. Dias antes, Eremias, sabendo do inevitável, reuniu-se com os pais e os pôs a par da sua real situação. Estes esforçaram-se para uma saída segura: enviá-lo ao exterior, mas Eremias optou pelo Brasil e pela clandestinidade. Nunca mais o viram, vivo ou morto". [1]

Morte[editar | editar código-fonte]

Eremias Delizoicov morreu assassinado, aos 19 anos de idade, após a invasão do "aparelho" onde o jovem realizava atividades de militância da Vanguarda Popular Revolucionária. No dia 16 de outubro de 1969, na rua Tocopi, 59, em Vila Cosmos, Rio de Janeiro, quando reagiu ao cerco montado pelos agentes do DOI-CODI/RJ que tentavam prendê-lo, o jovem foi morto depois de receber 19 tiros. O corpo do estudante foi para o Instituto Médico Legal (IML) como desconhecido e, mais tarde, identificado pela polícia com outra identidade. Após investigação da família, o crime de ocultação de cadáver foi descoberto, no entanto, a família nunca recebeu os restos mortais do estudante, uma vez que, durante o período de buscas, o corpo identificado foi incinerado. Eremias foi enterrado no Cemitério São Francisco Xavier, em 21 de outubro de 1969, na cova 59.262, quadra 45.

Após o óbito, o estudante foi identificado e enterrado como José Araújo Nóbrega — o sargento Nóbrega — que até hoje se encontra vivo e, à época dos fatos, era também um perseguido político e militava na VPR. Os órgãos de repressão aparentemente pareciam confusos e não sabiam qual a verdadeira identidade daquele cadáver. No entanto, muitos acreditam que isso não era verdade, condenando o órgãos repressores de, mais uma vez, cometerem o crime de ocultação de cadáver. De fato, as impressões digitais de Eremias Delizoicov já estavam confirmadas pelo datiloscopista da Delegacia de Crimes Contra a Pessoa, de São Paulo, no dia 11 de dezembro de 1969, conforme comunicado n. 76/69 da Secretaria de Segurança Pública. Ou seja, ao enterrarem aquele cadáver, tudo indica que sabiam que o corpo era de Eremias Delizoicov. O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que foi "morto em 16/outubro/69, em tiroteio com membros dos Órgãos de Segurança" e o da Marinha afirma que "morreu ao resistir ao cerco da Polícia do Exército, em Vila Cosmos/RJ". [2]

Atestado de Óbito[editar | editar código-fonte]

O pai de Eremias, Jorge Delizoicov, lutou incansavelmente para encontrar o filho. Chegou a visitar no DOPS-SP o delegado Sérgio Paranhos Fleury. Enquanto o aguardava, a porta estava entreaberta quando escutou Fleury numa conversa, na qual teve a confirmação de que seu Eremias estava de fato morto. Foi assim, de forma ríspida e seca, que Jorge Delizoicov soube da morte do filho, sem conseguir saber detalhes das circunstâncias do assassinato ou do paradeiro do corpo.

Não bastasse isso, a certidão de óbito com data de 21 de outubro de 1969 tinha o nome trocado. Apenas em 1993, através de uma ação judicial, a família conseguiu o atestado de óbito com o nome de Eremias Delizoicov. Jorge esteve no Rio de Janeiro e o informaram que o corpo do filho fora cremado em 1975. Ele nunca abandonou o propósito de esclarecer o que aconteceu e faleceu em 2010 sem saber a verdade.

A mãe de Eremias, Liubov Gradinar Delizoicov, hoje com 84 anos, ainda tem esperança de que a verdade apareça sobre seu filho. O irmão Demétrio Delizoicov solicitou à [[Comissão da Verdade “Rubens Paiva”, do Estado de São Paulo, que ajude na localização dos restos mortais e também na retificação do atestado de óbito, para que nele contenha a versão real de sua causa mortal, ou seja, que as descrições no óbito descrevam precisamente o mutilação de seu corpo em função dos inúmeros tiros que Eremias recebeu.[3]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

A Comissão “Rubens Paiva” realizou audiência no Instituto Federal de São Paulo, onde Eremias estudou, e contou com grande público. Valdir Oliveira, que foi professor de Eremias, relatou sobre o silêncio imposto após saberem da morte.

Os membros da reitoria e diretoria Eduardo Antonio Modena e Wilson de Andrade Matos, Luís Cláudio Lima Jr. entregaram aos familiares um certificado de conclusão do curso de Eremias. Também foi entregue à Comissão “Rubens Paiva” um violão que Eremias deixou. Muitos alunos acompanharam o evento e manifestaram-se pedindo que prossigam os trabalhos de investigação, que a verdade seja apurada e a justiça seja feita com relação ao caso de assassinato do jovem, morto durante a Ditadura Militar no Brasil.[4]

Ver também[editar | editar código-fonte]


Notas e referências

Notas

Referências

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Eremias Delizoicov
Nascimento 27 de março de 1951
São Paulo, Brasil
Morte 16 de outubro de 1969 (18 anos)
Rio de Janeiro, Brasil
Nacionalidade Brasil brasileira
Ocupação estudante, militante

Eremias Delizoicov (São Paulo, 27 de março de 1951Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1969) foi um militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), assassinado aos 18 anos de idade por agentes do DOI-COI que tentavam prendê-lo. Seus restos mortais não foram entregues à família Delizoicov até hoje, sendo a sua morte mais uma prova dos crimes de ocultação de cadáveres cometidos com frequência no período da Ditadura Militar no Brasil. .

Biografia[editar | editar código-fonte]

Durante a sua infância até boa parte da sua curta adolescência, Eremias viveu no bairro da Mooca, em São Paulo. Em 1961, completou o curso primário no Grupo Escolar Pandiá Calógeras, mais tarde, em 1965, no Colégio Estadual M.M.D.C., finalizou o ginásio. Neste mesmo colégio iniciou, em 1966, o curso clássico. Em 1967, foi aprovado no exame de seleção da Escola Técnica Federal de São Paulo e cursou, simultaneamente com o clássico, o curso de mecânica.

Eremias era visto como um garoto sensível e criativo, e gostava de dedicar-se ao esporte e à música no seu tempo livre, passando várias horas do seu dia tocando violão. Estudou música clássica e, a partir de 1966, imbuído de um ‘espírito nacionalista’, começou a expressar seus sentimentos interpretando músicas nacionais, principalmente as caracterizadas como ‘Bossa Nova’. Tentou, com um colega pianista e outro baterista, formar um trio.

Como esportista, em 1962, disputou o torneio paulista de Judô, sendo primeiro colocado na sua categoria. Treinou natação durante 1965 e 1966 e participou de algumas competições. Em 1967, integrou a equipe de remadores do Corinthians e começou a treinar capoeira. Organizava seus horários de tal modo a, paralelamente, auxiliar o pai nas atividades do comércio.

Delizoicov tinha afinidade com as obras de Aluísio de Azevedo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Na literatura, foram as poesias de Augusto dos Anjos que o sensibilizaram e o fizeram passar a questionar a realidade brasileira, tendo lido também ‘Geopolítica da Fome’, de Josué de Castro. Em 1967, no Colégio Estadual M.M.D.C., articulou-se com outros colegas para formar uma chapa que disputaria as eleições para o grêmio estudantil, iniciando sua militância política.

Depois de conhecer detalhes do acordo MEC-USAID, o estudante engajou-se no movimento estudantil contra tal decisão. Passou a interagir com estudantes de outras escolas secundárias e articulou, com eles, uma chapa para disputar as diretorias da União Paulista de Estudantes Secundaristas (UPES) e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), em 1968. Organizou, juntamente com o grupo, o movimento estudantil secundarista nas escolas da zona leste de São Paulo. Também em 1968, Eremias foi o líder de um movimento estudantil no Colégio Estadual M.M.D.C., onde articulou greves e comícios. Em virtude disso, foi transferido compulsoriamente, juntamente com alguns colegas, pela Direção do Colégio, mesmo que sua transferência tenha sido contestada por alguns professores. Conseguiu matricular-se no Colégio Estadual Firmino de Proença, terminando o ano. Paralelamente, continuou seu curso técnico.

Ainda em 1968, durante as greves operárias em Osasco, assistiu a algumas assembleias sindicais com outros colegas, que levavam o apoio dos estudantes aos operários em greve e buscavam a obtenção de fundos de greve.

No início de 1969, passou a fazer parte da VPR. Inventou um motivo para contrariar os pais e foi morar fora de casa, mas visitava a família toda semana. Mesmo fora, mantinha uma estreita ligação com seu único irmão, Demétrio Delizoicov Neto, a quem contava e discutia posições políticas.

Em meados de julho de 1969, os órgãos de repressão do Regime Militar já tinham conhecimento da sua militância. Dias antes, Eremias, ciente do perigo que corria, encontrou os pais e os colocou a par da sua complicada situação. A mãe e o pai de Eremias queriam proteger o filho e tentaram convence-lo a deixar o Brasil e ir morar no exterior, mas o militante não quis deixar o país e optou voluntariamente pela clandestinidade. Depois daquele dia, ninguém mais viu Eremias. [1]

Morte[editar | editar código-fonte]

Eremias Delizoicov morreu assassinado, aos 19 anos de idade, após a invasão do "aparelho" onde o jovem realizava atividades de militância da Vanguarda Popular Revolucionária. No dia 16 de outubro de 1969, na rua Tocopi, 59, em Vila Cosmos, Rio de Janeiro, quando reagiu ao cerco montado pelos agentes do DOI-CODI/RJ que tentavam prendê-lo, o jovem foi morto depois de receber 19 tiros. O corpo do estudante foi para o Instituto Médico Legal (IML) como desconhecido e, mais tarde, identificado pela polícia com outra identidade. Após investigação da família, o crime de ocultação de cadáver foi descoberto, no entanto, a família nunca recebeu os restos mortais do estudante, uma vez que, durante o período de buscas, o corpo identificado foi incinerado. Eremias foi enterrado no Cemitério São Francisco Xavier, em 21 de outubro de 1969, na cova 59.262, quadra 45.

Após o óbito, o estudante foi identificado e enterrado como José Araújo Nóbrega — o sargento Nóbrega — que até hoje se encontra vivo e, à época dos fatos, era também um perseguido político e militava na VPR. Os órgãos de repressão aparentemente pareciam confusos e não sabiam qual a verdadeira identidade daquele cadáver. No entanto, muitos acreditam que isso não era verdade, condenando o órgãos repressores de, mais uma vez, cometerem o crime de ocultação de cadáver. De fato, as impressões digitais de Eremias Delizoicov já estavam confirmadas pelo datiloscopista da Delegacia de Crimes Contra a Pessoa, de São Paulo, no dia 11 de dezembro de 1969, conforme comunicado n. 76/69 da Secretaria de Segurança Pública. Ou seja, ao enterrarem aquele cadáver, tudo indica que sabiam que o corpo era de Eremias Delizoicov. O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que foi "morto em 16/outubro/69, em tiroteio com membros dos Órgãos de Segurança" e o da Marinha afirma que "morreu ao resistir ao cerco da Polícia do Exército, em Vila Cosmos/RJ". [2]

Atestado de Óbito[editar | editar código-fonte]

O pai de Eremias, Jorge Delizoicov, lutou incansavelmente para encontrar o filho. Chegou a visitar no DOPS-SP o delegado Sérgio Paranhos Fleury. Enquanto o aguardava, a porta estava entreaberta quando escutou Fleury numa conversa, na qual teve a confirmação de que seu Eremias estava de fato morto. Foi assim, de forma ríspida e seca, que Jorge Delizoicov soube da morte do filho, sem conseguir saber detalhes das circunstâncias do assassinato ou do paradeiro do corpo.

Não bastasse isso, a certidão de óbito com data de 21 de outubro de 1969 tinha o nome trocado. Apenas em 1993, através de uma ação judicial, a família conseguiu o atestado de óbito com o nome de Eremias Delizoicov. Jorge esteve no Rio de Janeiro e o informaram que o corpo do filho fora cremado em 1975. Ele nunca abandonou o propósito de esclarecer o que aconteceu e faleceu em 2010 sem saber a verdade.

A mãe de Eremias, Liubov Gradinar Delizoicov, hoje com 84 anos, ainda tem esperança de que a verdade apareça sobre seu filho. O irmão Demétrio Delizoicov solicitou à [[Comissão da Verdade “Rubens Paiva”, do Estado de São Paulo, que ajude na localização dos restos mortais e também na retificação do atestado de óbito, para que nele contenha a versão real de sua causa mortal, ou seja, que as descrições no óbito descrevam precisamente o mutilação de seu corpo em função dos inúmeros tiros que Eremias recebeu.[3]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

A Comissão “Rubens Paiva” realizou audiência no Instituto Federal de São Paulo, onde Eremias estudou, e contou com grande público. Valdir Oliveira, que foi professor de Eremias, relatou sobre o silêncio imposto após saberem da morte.

Os membros da reitoria e diretoria Eduardo Antonio Modena e Wilson de Andrade Matos, Luís Cláudio Lima Jr. entregaram aos familiares um certificado de conclusão do curso de Eremias. Também foi entregue à Comissão “Rubens Paiva” um violão que Eremias deixou. Muitos alunos acompanharam o evento e manifestaram-se pedindo que prossigam os trabalhos de investigação, que a verdade seja apurada e a justiça seja feita com relação ao caso de assassinato do jovem, morto durante a Ditadura Militar no Brasil.[4]

Ver também[editar | editar código-fonte]


Notas e referências

Notas

Referências

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