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Usuário(a):Turma heb/Testes

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A DÉCADA:

A década perdida foi marcada por uma grande crise financeira, produzindo uma dívida externa com partida em 1980, desencadeando a alta inflação. Os créditos que antes esbanjava e a juros reduzidos no mercado internacional se rompe no início da década perdida. Nesse período, o Brasil estava passando por um alto acumulo de dívida externa, além disso, uma dívida interna crescente por conta de um financiamento impróprio feita pelo setor público brasileiro (ABREU, 2015). Contudo, essa denominada perda, é decorrente de um período em que o crescimento econômico é promovido também pelo endividamento externo, que em algum momento seria faturado, e junto a isso, o processo de substituição de importações corrobora para o agravamento da dívida e de um padrão de crescimento que não possuía um lastro capaz de se conter, ou de ser mantido sem tamanha dependência, algo que, o choque do petróleo do ano de 1979, permite perceber a deficiência por meio dos suporte externos. Na década de 80, chamada "década perdida", as transformações no cenário internacional contribuíram para realçar, novamente, a vulnerabilidade da economia brasileira em relação aos condicionamentos externos. Por causa do segundo choque do petróleo, ocorrido em 1979, a constante elevação da taxa de juros e as adversidades apresentadas sobre as condições de financiamentos internacionais contribuíram para o avanço do endividamento externo. Assim, o resultado disto foi uma profunda crise cambial, fazendo com o que o governo adotasse uma nova política econômica (ortodoxa), chamada de ajustamento voluntário (sem auxílio do FMI), no qual visava obter o controle da demanda interna para que houvesse uma retração das divisas estrangeiras. Deste modo, o objetivo era a diminuição das importações a fim de melhor a questão das transações externas e assegurar o equilíbrio do saldo da balança comercial. O contexto internacional adota medidas por conta dos acontecimentos da década anterior: s juros da dívida, a reorientação do fluxo de capitais, que deixam de alcançar contextos periféricos e ficam em torno dos EUA e da Europa, a nossa exportação sofre um ataque pelos preços que são oferecidos por nossas produções e matérias primas (OMETTO, 1995). A moratória mexicana (SAFATLE, 2012) em 1982 marca o início da década, assombrando os anos posteriores e foi o que de fato aconteceu, logo, as questões econômicas do início da década, e seus desdobramentos serão observados a seguir. Década Perdida: Governo Militar No Governo de João Figueiredo (1979-1985) foram inseridas decisões peremptórias por conta da crise, o objetivo inicial era impedir a apreciação da moeda nacional, estimular as exportações e fazer frente ao aumento do déficit em conta corrente. No final de 1979, o cruzeiro foi desvalorizado 30%, logo, fixa a desaceleração econômica, o descontrole inflacionário e o desarranjo nas contas públicas. A inflação chega ao nível de 100 % no ano de 1980, os preços elevados dos importados não supre a necessidade do balanço de pagamento que registrou enormes déficits. No final de 1980, decorrente a um déficit em conta corrente de US$12,7 bilhões e da escassez de financiamento externo, as reservas cambiais brasileiras haviam reduzido cerca de US$3 bilhões. Do final de 1980 a meados de 1984, a política macroeconômica passou a ser ditada pela disponibilidade de financiamento externo. Nesse sentido, teve-se como resultado desta política econômica de ajustamento o quadro de queda de crescimento e profunda recessão que marcaram a história da economia brasileira. No ano posterior, o País passa por uma recessão que permaneceria até a segunda metade do ano de 1982. No ano de 1981, os bancos americanos suspenderam os financiamentos dados ao Brasil, motivados pela impossibilidade de concessão de empréstimos com valores superiores a doze vezes seus capitais. Já no ano de 1982, o marco foi o auxílio dado pelo FMI à economia brasileira, uma vez que devido ao quadro recessivo da época, houve uma constante queda das exportações, levando percalços ao projeto de ajustamento econômico do governo. Visava-se, então, o equilíbrio da balança de pagamento e, para tanto, reformas estruturais na economia brasileira faziam-se necessárias de maneira que os recursos obtidos fossem suficientes para garantir o pagamento dos compromissos externos. Houve uma desvalorização do cruzeiro a uma taxa mensal de 1% acima da inflação e, no apoio para a correção das exportações teve-se a contenção da demanda agregada via subindexação dos salários, isto é, a organização das variações dos índices de preços. O ano de 1982 não apresentou grandes mudanças em relação ao ano anterior, pois tentava escapar da constante recessão e com a inflação alcançando 100%, caracterizava-se um processo de estagnação da economia brasileira. O financiamento dos passivos externos passa a requerer a contratação do orçamento e investimentos internos. O FMI institui ajustes para proporcionar o desencadeamento da dívida externa e financiar a balança de pagamento que consta desiquilibrada. No Brasil havia alguns fatores que impedia o País girar e uns deles seriam: a instabilidade monetária, cambial e o estancamento dos fluxos internacionais de crédito. Surge a maxidesvalorização de 30% no câmbio em 1983. No ano de 1983, a política governamental de retração da demanda continua, mas o resultado insatisfatório da balança comercial motivou o governo a viabilizar uma maxidesvalorização cambial de 30%, implicando em: inflação na economia brasileira de 211%; perda de 15% no poder de compra; queda de 19% na produção de bens de capital; queda de 2,8% no PIB e, com isso, o aprofundamento da recessão. No entanto, no âmbito externo o país atinge as metas almejadas pelo FMI, oriundas da retração da demanda, do quadro recessivo apresentado, além da desvalorização cambial, instituindo uma queda nas importações de 25% do PIB em 1982 para 6,5% em 1983. Um dos fatores para isto foi a queda de 4,7% do preço do petróleo naquele ano. Já em 1984, a economia do país volta a ter um certo crescimento, motivado pela recuperação da economia americana, o aumento de 4% nas atividades industriais e crescimento de 5,7% do PIB, contribuindo para a suspensão do quadro recessivo apresentado desde o começo da década. Ocorreu um ajustamento externo da economia brasileira em 1981-1984 em estrito senso, o andamento desse ajuste teve um resultado bem satisfatório. O plano trienal do FMI proporcionou um ajustamento recessivo, referente a redução do investimento público, na aceleração das desvalorizações cambiais e em taxas de juros mais elevadas e nas correções de alguns preços domésticos, e assim, articular os incentivos de exportações. No fim do regime militar em 1885 a dívida externa do pais era de 100 bilhões de dólares com a inflação anual de 228%. A partir desse grande momento de instabilidade econômica, foram pensados planos e reformas para livrar o Brasil da alta inflação e recessão econômica.

DÉCADA PERDIDA: REDEMOCRATIZAÇÃO E PLANOS ECONÔMICOS

O período da economia brasileira correspondente à 1985-1989 foi de combate à inflação, isto é, planos que almejavam a estabilização econômica no país foram lançados. Primeiramente, temos o Plano Cruzado, no qual foram adotadas a Política Salarial, Reforma monetária e Congelamento, entre outras medidas. Ou seja, houve a substituição do "Cruzeiro" pelo "Cruzado", além da alternativa política do congelamento de preços e de salários. Após isto, teve-se o chamado "gatilho salarial", isto é, os salários seriam corrigidos automaticamente quando a inflação atingisse ou ultrapassasse 20% tendo como referência o mesmo indicador. Além disso, foi criada o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), para correção de aplicações financeiras superiores há um ano. Devido ao aumento do consumo, motivado pelo aumento dos salários, culminou para que o Plano fracassasse. Na tentativa de estabelecer um novo Plano rapidamente, houve a criação de um pacote fiscal denominado "Cruzadinho", objetivando frear o consumo anteriormente visto. O fracasso disto foi inevitável por conta da fragilidade do mesmo, evidenciando, desta maneira, o fracasso das decisões tomadas pelo governo. Primeiro ano no governo de José Sarney (1985-1990) a inflação acumulada chegou a 235%. Para combater a inflação, foi adotado no segundo ano do governo Sarney, pelo ministro da Fazenda, Dílson Funaro, que substituíra Francisco Dornelles em agosto de 1985, um plano econômico conhecido como Plano Cruzado, e tinha como principal objetivo a redução e controle da inflação, que na época era muito elevada. Com valores inflacionários muito altos, Funaro lançou algumas medidas como a criação de uma nova moeda, assim o cruzado substituía o cruzeiro. Cada cruzado tinha o valor de 1.000 cruzeiros, e também impôs uma medida drástica, que foi o congelamento dos preços de produtos e salários por um ano. No primeiro mês houve uma queda considerável voltando a crescer no mês seguinte. O sucesso inicial do Plano Cruzado foi positivo, ainda que ameaçador. Os índices de preços ao consumidor, que, em fevereiro de 1986, estavam em torno de 15% ao mês, baixaram para praticamente zero nos meses subsequentes. Como o Plano Cruzado promoveu uma reforma monetária, desindexou a economia e congelou a taxa de câmbio, apoiado em uma taxa de juros extraordinariamente alta (16% no primeiro mês) o fracasso seria inevitável, e a retomada da inflação crescente é mais rápida, caminhando para a hiperinflação em dezembro. Com o fracasso do Plano Cruzado o governo teve que tomar uma nova medida de reajuste econômico e lançou o “Plano Cruzado II” que se tratava de um novo pacote fiscal, com o objetivo de aumentar a arrecadação em 4% do PIB. Com o "Plano Cruzado II", o objetivo era a correção dos erros antes vistos, fazendo com uma série de medidas fossem adotadas, como por exemplo: liberação dos preços dos produtos e serviços; alteração e reajuste no cálculo da inflação; entre outras. Contudo, tais medidas foram insuficientes e, como consequência disto a inflação disparou, os preços dos combustíveis subiram 60,16%, dos automóveis 80% e bebidas 100%. O Brasil, então, decreta moratória, interrompendo o pagamento da dívida externa em 20 de janeiro de 1987. Sarney mais uma vez tentou evitar a opção imposta de uma forte recessão. A opção tomada foi a de administrar a inflação, assegurar a transição política e evitar, de qualquer forma, a perda brutal do poder de compra dos assalariados. Mas o plano não obteve o sucesso esperado, existia divergências internas na equipe econômica trazendo impacto na inflação. O fim oficial do Plano Cruzado ocorreu em fevereiro de 1987, com a decretação da extinção do congelamento dos preços. Com os dois planos a inflação diminuiu um pouco seu ritmo, mas logo apresentava seu intenso crescimento passando de 11,5% no ano de 1986 para 21, 5% no início de 1987. Com a inflação em alta Bresser Pereira substitui Dilson Funaro no Ministério da Fazenda e lança um novo plano de estabilização. O Plano Bresser objetivava, basicamente, promover um choque deflacionário na economia, buscando evitar os erros do Plano Cruzado. Que provoca a queda da inflação, porem após chegar ao seu ponto mais baixo em agosto a inflação volta a crescer atingindo o ponto de 14, 5%. Um ano depois em janeiro de 1989 a inflação atingia 37,5%. A partir disso, o "Plano Bresser" entrou em ação, onde decretou o congelamento de preços, dos alugueis e salários por 60 dias, além de combater fortemente o déficit público e, para tanto, teve-se: aumentar tributos; adiamento das obras de grande porte já planejadas (Ferrovia Norte-Sul, polo petroquímico do Rio de Janeiro, entre outras); desativação do gatilho salarial; retorno das negociações com o FMI, propiciando a suspensão da moratória. Mesmo assim, a inflação chegou a 366% em dezembro de 1987, fazendo com que o Plano fosse substituído pela política econômica denominada "Feijão com Arroz", de Maílson da Nóbrega, na qual tentava-se conviver com a inflação fazendo somente ajustes localizados, isto é, sem adotar medidas drásticas. Por fim, houve o "Plano Verão", novamente com o congelamento de preços, porém o aumento do preços públicos e tarifas contribuíram para o fracasso deste Plano. Sendo assim, pode-se dizer que o período 1980-1989 ficou marcado na economia pelas questões de recessão, estagnação, crescente endividamento externo, elevação da inflação, além dos suscetíveis fracassos dos Planos Econômicos que visavam a estabilização da economia brasileira. O melhor resultado partiu das contas externas, com a flexibilização do câmbio. Diante, porém, da resistência à proposta de reforma tributária e com a crescente insatisfação da população, o ministro Bresser-Pereira pediu demissão, sendo substituído por Maílson da Nóbrega, funcionário do Banco do Brasil, em janeiro de 1988. Maílson lançou o plano verão- que se baseava no congelamento dos valores nominais dos empréstimos do setor público e na contenção salarial do funcionalismo público. A taxa de inflação no primeiro trimestre de 1988 ficou próxima ao pretendido pelo governo, mas os aumentos de preços públicos e um choque agrícola desfavorável fizeram com que os preços se acelerassem no segundo semestre. O insucesso do gradualismo da “política do feijão com arroz” no combate à inflação levou a uma radicalização das propostas de desindexação, que resultaram no anúncio, em 14 de janeiro de 1989, do Plano Verão. Novamente, como havia ocorrido no Cruzado, houve mudança na unidade monetária nacional, sendo criado o cruzado novo, correspondendo a mil cruzados. Do ponto de vista da eficácia do Plano Verão, a inflação baixou no primeiro mês de sua implementação (fevereiro), mas, já em março, entrou em rota ascendente. Uma sucessão de erros, incluindo alguns de concepção e outros de condução, levou o Cruzado ao fracasso. Os dois planos que se seguiram (Bresser e Verão) tentaram corrigir os problemas das tentativas anteriores, sem sucesso. Foram lançados sucessivos pacotes, que inicialmente conseguia baixar a inflação, mas, logo em seguida, começava novamente a crescer. Os planos foram um tempo de grande frustação por obter resultado momentâneo e um aumento inflacionário intenso em seguida.

PARÊNTESE POLÍTICO

Mesmo sendo considerados pelos economistas como a década perdida, os anos de 1980 foram marcados pelo processo de redemocratização, tendo em 1982 a volta de eleições diretas para governadores estaduais. Já em 1985, mesmo com eleição indireta, houve o retorno de um civil ao comando da nação e, finalmente, em 1989, a primeira eleição direta para presidência da República. Todas essas mudanças decorreram do processo de aprendizado do povo brasileiro em se organizar politicamente, indo às ruas com o intuito de se manifestar contra toda situação econômica e política vivida no Brasil. Na década de 1980 os sindicatos voltaram a se reorganizar. E, segundo dados do Núcleo de pesquisa da Unicamp, em 1986 houve 6 mil greves e em 1989, 4 mil paralisações. As Diretas Já (emenda Dante de Oliveira) mobilizou o Brasil inteiro, foram comícios, passeatas, manifestações, que pediam por eleições diretas para presidente em 1985. Porem, em novembro de 1984, o Congresso votou contra. Mesmo não sendo aprovadas as Diretas Já, em 1985 foi eleito de forma indireta (pelo Colégio Eleitoral) um presidente civil, o Tancredo Neves. Essa eleição só foi possível pelo arranjo que reuniu os partidos que deixaram de ser ilegais e a Frente Liberal. Tancredo morre em abril sem assumir o cargo. Quando Jose Sarney ate então vice-presidente, assume a presidência da República, encontra uma situação desfavorável, graças ao "milagre econômico" dos anos de 1970. Em fevereiro de 1985 surge o Plano Cruzado, como tentativa de melhorar a situação econômica do Brasil, salvando a Pátria. O sucesso todo causado pelo plano, influenciou as eleições, levando o PMDB a governar 22 dos 23 Estados brasileiros. A discussão sobre a necessidade de redemocratizar o país foi importante para a convocação da Assembleia Constituinte, que foi estabelecida em 1987, fruto da intensa mobilização popular, que, graças a sua articulação, conseguiu participação das nas emendas da Constituição, sendo a primeira Carta a contar com tal presença. A imprensa, que já não recebia fiscalização da ditadura, ajudou no debate, já que passou a trazer assuntos importantes, de forma livre, sobre a importância da reforma política, tempo de duração dos governos, direitos das minorias, entre tantos outros temas que, ate então, eram polêmicos demais. Em 5 de Outubro de 1988, é promulgada a Constituição Federal, que se tornou símbolo da democracia brasileira. O fim de uma década: Com o final do mandato de Sarney, Fernando Collor assume a presidência da República, e a ministra Zélia Cardoso lançou uma série de medidas polemicas para diminuir a inflação, que ficou conhecida como Plano Collor, uma dessas medidas foi o confisco do dinheiro depositado em contas correntes e cadernetas de poupança superior a 50 mil cruzados novos. Nesse período o dinheiro volta a chamar cruzeiro, onde 1 cruzeiro valia 1000 cruzeiros novos. A inflação caiu de 82,39 % para 8%, mas no mês seguinte volta a crescer mais uma vez. Em janeiro do ano seguinte já estava em 21%. Com isso foi lançado o Plano Collor II- o qual não obteve sucesso. Entre 85 e 90, os brasileiros conviveram com quatro moedas diferentes. Até fevereiro de 86, era o Cruzeiro. De fevereiro de 86 a janeiro de 89, foi o Cruzado. De janeiro de 89 a março de 90, conviveram com o Cruzado Novo. Já em março de 90, sob o governo Collor, reinstituiu-se o Cruzeiro. As mudanças monetárias refletiram o fracasso de vários planos econômicos em tentativa de controlar a inflação.

ASPECTOS SOCIAIS DA DÉCADA PERDIDA:

A análise confirma que, apesar dos surtos de crescimento na segunda metade da década, alguns indicadores sociais apontam melhorias nas condições de vida da população brasileira, fato que surpreende, diante às evidências do mau desempenho econômico e uma maior concentração de renda no período (SILVA, 1992). Quanto à perspectiva social, os dados mostram uma redução de 4,1% no número de famílias que ganham até meio salário mínimo per capita entre 1981 e 1989, além de melhorias nos padrões de nutrição e avanços nas condições de habitação, saneamento e infraestrutura, além do acesso aos serviços de saúde e educação. Este cenário, no entanto, não ignora o alto índice de desigualdades e carências sociais, quando comparado ao cenário internacional.

Existem diversos fatores que dificultam a análise da evolução social no período em questão, como a comparação da distribuição de renda, visto que o salário mínimo é fixado por decisão institucional, que obedece a circunstâncias político-econômicas e não a índice de preços. A dificuldade também se encontra no fato da diferente periodicidade de reajuste dos salários. Da mesma forma, outro fator que dificulta tal comparação corresponde às variações acidentais ou sazonais que ocorrem durante o ano e que não são captadas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) que foram analisadas em momento de recessão e de políticas de contenção salarial. No período entre 1981 e 1989 ocorre uma evidente queda na taxa anual de crescimento populacional, em relação às décadas precedentes. Visto que a queda na fecundidade se deu nas famílias de rendimento mensal familiar até ½ salário mínimo per capita, pode-se considerar uma desaceleração benéfica, o que se traduz numa melhora da situação de pobreza e das condições de vida. Essa baixa na fecundidade, que se verifica desde os anos 60, acompanhada pelo declínio no incremento urbano e aumento nas áreas rurais, o que gera uma maior capacidade de retenção de contingente populacional no campo e uma crescente dificuldade de manutenção da vida nas cidades, resultou em uma redução da taxa de urbanização. Esses fatores contribuíram positivamente para a melhoria do quadro de pobreza. Tendo como referência o limite de ½ salário mínimo na medição da pobreza relativa, pode-se observar uma aparente redução de famílias pobres no período. Já quanto às famílias que se situam na faixa de rendimentos superior a um salário mínimo per capita observa-se um aumento de 5,7% ao ano (Segundo o INCP).

É preciso se atentar aos indicadores utilizados para analisar cada caso, porém, é possível afirmar que a evolução da pobreza tendeu a melhorar durante o período analisado, tendo em vista tanto a diminuição do tamanho médio das famílias quanto a homogeneização do valor dos salários, contudo, a redução mais acentuada da pobreza se deu em áreas rurais, seguida das cidades médias e pequenas e, em menor número as regiões metropolitanas. Já em questões de gênero, observamos o seguinte: “A entrada das mulheres na força de trabalho foi a principal responsável pelo incremento na taxa de participação global, tanto nas áreas urbanas (33,7% para 39,6%) quanto nas rurais (30,6% para 35,7%).” (SILVA, 1992. p. 22) Este fato pode ter se dado tanto pela diminuição da fecundidade e redução do tamanho das famílias e necessidade de complementação da renda familiar, quanto pela terceirização da estrutura econômica. Leve decréscimo percentual de pessoas que ganham até dois salários mínimos (58,8% em 1981 para 56,9% em 1989), segundo o INPC. E crescimento, em ambos os sexos, dos que ganham até um salário mínimo. Fatos que explicam uma piora nas distribuições individuais e familiares na década. O aumento percentual de todas as faixas de rendimento acima dos cinco salários mínimos (13,9% em 1981 e 17,5% em 1989), confirmando o ganho real médio dos rendimentos da época e evidenciando uma maior desigualdade na distribuição dos rendimentos. Melhoria dos rendimentos médios no campo, associados à maior exploração e produtividade das médias e grandes propriedades agrícolas. Mudanças das relações de trabalho no campo, com forte tendência ao assalariamento. A taxa de desocupação, medida pela PNAD, aponta sensível redução nesse período. Quedas significativas são observadas nas áreas urbanas (5,5% para 3,7%) e nas áreas rurais (2,3% para 1,0%), abrangendo a força de trabalho de ambos os sexos. No final da década, quando observa-se uma situação econômica mais favorável em relação ao início, apresentou-se um cenário onde o crescimento de ocupados (3,7%a.a.) foi superior ao aumento da própria PEA (População Economicamente Ativa), o que resultou na redução absoluta de desocupados a nível nacional (2.023 em 1981 para 1.891 em 1989). No setor agrícola há de se considerar alguns fatores de destaque durante o período analisado, como o crescimento da ocupação, mesmo que reduzido (0,7% a.a.), inverte a tendência de queda da década de 70; a diminuição dos ocupados não remunerados, inclusive os menores de 18 anos, enquanto crescem os empregados e os que trabalham por conta própria; e o aumento no número de pessoas empregadas, acompanhado pela formalização do trabalho agrícola. Quanto à educação, é possível perceber um pequeno aumento na proporção da força de trabalho com mais de cinco anos de estudo (36,2% para 46,7% entre 81 e 89), porém, ainda é considerado baixo o padrão educacional no final da década, o que inviabiliza um projeto acelerado de modernização no país, tendo como comparativo as mudanças produtivas e tecnológicas que avançam no plano internacional. Os dados detectam uma melhora nas condições de habitação. Decréscimo de 4,1% no total dos domicílios rústicos, mais evidentemente observado nas áreas rurais, o que resulta de uma transformação nas favelas e loteamentos periféricos, onde as construções com materiais permanentes vão tomando lugar. Reduziu-se também, segundo a densidade, a participação dos domicílios com mais de três moradores por dormitório. Segundo dados do UNICEF/IBGE, os índices de carência de saneamento básico são elevados, principalmente em cidades pequenas e áreas rurais das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Apenas 45% dos domicílios brasileiros possuíam rede coletora de esgoto em 1989, sendo no meio rural, somente 7% eram atendidos por algum tipo de esgotamento sanitário. Apesar do enfraquecimento do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), em função da extinção do BNH em 1986 e da crise econômica, houve significativa expansão na cobertura do abastecimento de água no país. Observa-se, quanto à taxa de mortalidade infantil, que variáveis socioeconômicas tais como desigualdades sociais, grau de instrução da mãe e a qualidade do saneamento básico, são determinantes no comparativo das famílias que mais sofrem com a morte de crianças antes de completar um ano de vida. Esses fatores associados à renda familiar também influenciam na expectativa de vida das pessoas, que variou de 53,46 anos em 1970 para 60 anos em 1980. Prevalência de desnutrição entre crianças menores de dez anos, sendo o Nordeste a região com os maiores índices. Contudo, há uma redução da desnutrição global quando comparado ao cenário de 1974-75 (46,1% para 30,7% em 1989). Tal redução, segundo estudos do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), atribui-se a uma série de fatores diretos como melhoria no fornecimento de serviços básicos (saneamento, infraestrutura urbana e atenção básica à saúde) e alguns fatores indiretos como a queda de fecundidade, melhoria dos meios de comunicação e informação, acesso a bens e serviços modernos e a acelerada urbanização. Conclui-se, portanto, que apesar da década em destaque apresentar um cenário de deterioração econômica, a análise de indicadores sociais contesta a percepção do aumento da pobreza, já que é possível perceber sinais de melhoria nas condições de vida, apesar da queda nos rendimentos reais da população, o que abre questão a um aparente paradoxo. Essa conclusão permite-nos compreender que a problemática da pobreza e da desigualdade social não se restringe necessariamente à insuficiência de renda, e que estão também associados à desigual e inadequada distribuição dos serviços públicos de caráter essencial (água, esgoto, habitação, educação, saúde, etc) por parte do Estado. Porém, há de se concordar que os investimentos sociais executados pelo Estado na década de 1970 impediram que essas carências sociais dos anos 80 tomassem maiores proporções, e foi decisivo para que a característica conotativa de “década perdida” não se estendesse aos indicadores sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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