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Ninho[editar | editar código-fonte]

Ninho


Do Latim “nidum”, o ninho é uma habitação construída por diversos grupos de animais, seja para a postura dos ovos e criação dos filhotes ou ainda para proteger-se de predadores e de condições abióticas adversas [1]. Existe grande variação no design e composição dos ninhos, mesmo dentro de um táxon, mas todos possuem a finalidade de fornecer um receptáculo onde os animais possam colocar os seus ovos e/ou cuidar dos seus descendentes [2] [3]. Essa variação estrutural surgiu em detrimento da seleção natural, que favorece aqueles indivíduos com defesas anti-predatórias eficazes [4], exercendo pressões seletivas não apenas no desenho do ninho, mas também nos próprios produtores no período de construção, enquanto coletam e transportam os materiais para o local onde o ninho será estruturado [5]. Os ninhos construídos pela maioria das aves, por exemplo, são não somente importantes, mas essenciais para o seu sucesso reprodutivo, com quantidades consideráveis de tempo e energia sendo gastos [6].

Propósitos sociais e estruturais[editar | editar código-fonte]

Apesar da imensa variedade de tipos de ninhos existentes, conclui-se que a maioria é estruturado para esconder os ovos de predadores, incubá-los ou protegê-los de condições abióticas. Em alguns casos específicos, como nos ninhos aquáticos, o design é preparado para manter toda a estrutura íntegra e evitar que o ninho se desfaça com as correntes aquáticas e de ar. Outro exemplo são as massas gelatinosas produzidas por alguns sapos para encobrir os ovos, que impedem que os mesmos fiquem soltos na água e partam com a corrente do rio [7].

Observa-se ainda, no quesito social, que o cuidado parental está proximamente relacionado com a construção de ninhos. Entre as aves, é comum a incubação ocorrer quando o animal senta-se sobre os ovos, o que caracteriza um nível de cuidado para com os filhotes. Nem sempre isso ocorre, dado que alguns animais simplesmente depositam os ovos e retiram-se do ambiente. Todavia, de maneira geral, um padrão muito evidente é que a complexidade dos ninhos aumenta em relação ao nível de cuidado parental [7]. Além disso, a construção de ninhos reforça o comportamento social, permitindo que populações maiores vivam em espaços pequenos, como é o caso dos ninhos de vários artrópodes como as formigas, os cupins e as abelhas [2].

Montagem[editar | editar código-fonte]

Material para construção[editar | editar código-fonte]

Inúmeros materiais podem ser utilizados para a confecção de ninhos, além de poderem ser combinados entre si para formar estruturas mais complexas. Tratando-se de aves, por exemplo, os materiais mais frequentes são aqueles originados de plantas, tais como galhos, grama e folhas, mas pode-se observar também uma variedade de materiais de origem animal e materiais inorgânicos, como rochas e lama. Os materiais de origem animal podem ser produtos do próprio metabolismo do organismo que constrói, como saliva no caso das aves do grupo Swiftlet e penas em Somateria mollissima, espécie de pato em que a fêmea remove suas próprias penas para o cuidado dos ovos. Todavia, é muito comum observar materiais de outros animais sendo utilizados para a confecção, tais como pelos e, em algumas espécies, até mesmo peles de cobra. Em casos extremos, materiais sintéticos ou resíduos urbanos também podem ser vistos na composição de diversos tipos de ninhos [2][8][9].

Mecanismo de construção[editar | editar código-fonte]

Quem constrói[editar | editar código-fonte]

De maneira geral, tanto machos quanto fêmeas podem colaborar trazendo o material para o local da confecção do ninho e atuando em sua construção propriamente dita, variando de família para família dos diferentes grupos de animais. Ambos os sexos de guarda-rios, por exemplo, escavam os túneis para a confecção do ninho. Entretanto, em grupos de pássaros como os tecelões, são os machos que realizam todo o trabalho [9]. Há ainda situações em que um dos dois realiza a maior parte da confecção do ninho e apenas no final ocorre contribuição do parceiro. Alguns peixes que constroem ninhos, por exemplo, tem o macho como o principal construtor e a fêmea posteriormente ajuda a limpar o local antes da postura dos ovos [10].

A construção[editar | editar código-fonte]

O processo de construção dos ninhos envolve, na maioria dos casos, quantidade de material e tempo significativos. Além disso, tal evento deve estar em equilíbrio com outros processos envolvidos com a reprodução, como a postura de ovos, de maneira que todo o ciclo ocorra dentro do período correto. Análises experimentais demonstram que esse comportamento é desencadeado e controlado por estímulos internos e externos em conjunto [9]. De maneira geral, as técnicas para a construção propriamente dita podem ser divididas em duas: escultura e montagem. Na escultura, uma cavidade ou um substrato moldado é criado através da remoção de materiais. A montagem, por sua vez, é muito mais complexa, abrangendo uma variedade de métodos distintos para a coleta de materiais e união dos mesmos para a formação do receptáculo. São eles: acúmulo, molde, aderência, interligação de materiais e tecelagem. Na montagem por acúmulo, os materiais são simplesmente colocados um acima do outro. No molde, o material utilizado é geralmente algo úmido que, ao secar, adquire o formato desejado, como é o caso do ninho do joão-de-barro. Na aderência, o material é unido por uma substância adesiva, definida como um líquido mucoso ou lama, por exemplo. A interligação de materiais é similar à aderência, divergindo apenas no fato de não depender de substâncias adesivas; os próprios materiais, ao serem colocados em contato, permanecem unidos. A tecelagem, por fim, é caracterizada pelo entrelaçamento dos compostos do ninho, com a formação de nós [2].

Partes do ninho[editar | editar código-fonte]

A estrutura do ninho é separada classicamente em quatro regiões distintas, que podem ou não estar todas presentes e que são, de maneira geral, de fácil identificação nos diferentes tipos de ninhos. A primeira é a camada estrutural, considerada a mais importante, dado que mantém a integridade e a forma do ninho. É justamente o que consideramos os “tijolos” de uma casa, podendo ser composta de diversos materiais. De maneira interna, encontra-se o forro, que não possui função estrutural significativa, servindo geralmente apenas como uma camada adicional. Externamente, os anexos são materiais, geralmente seda, utilizados para manter o ninho no lugar em que foi construído, formando a base para que o ninho seja fixado no substrato. Por fim, a camada externa, também chamada de camada decorativa, é uma camada com materiais dispostos logo acima da camada estrutural, alterando o aspecto geral do ninho sem contribuir para a estabilização do ninho ou sua fixação [2].

Os principais construtores de ninhos[editar | editar código-fonte]

Diversos animais, sejam eles invertebrados ou vertebrados, são construtores de ninhos. Dentre eles, os principais são os pássaros, mamíferos, anfíbios, peixes, répteis e artrópodes. A própria arquitetura dessas estruturas é extremamente útil para distinguir espécies, assim como a morfologia e dados moleculares. É muito comum caracterizar cupins e vespas dessa forma, por exemplo, mas é igualmente possível fazê-lo com outros animais, inclusive pássaros. Usualmente, os diferentes táxons não apresentam especializações corporais para a construção de ninhos, exceto alguns mamíferos escavadores de túneis. Provavelmente isso se dá devido à esporadicidade da construção dos ninhos, estando restritos geralmente à época reprodutiva, minimizando assim as pressões seletivas nesse quesito [2].

Passáros[editar | editar código-fonte]

Ninho de ave

Em geral, os pássaros são os construtores mais habilidosos e comuns, embora nem todas as espécies de pássaros produzam ninhos propriamente ditos. A construção de ninhos, muito complexa na maioria das aves, é inclusive considerada uma das principais vantagens adaptativas do grupo [7], dado que favorecem a regulação da temperatura e a redução de riscos de predação, aumentando a chance de sobrevivência dos filhotes [2]. A maioria dos ninhos de pássaros tem formato de cesto e os materiais comumente usados são lama, galhos, folhas e penas. Alguns pássaros, como flamingos e andorinhas, usam compostos oriundos do próprio metabolismo, como a saliva, para manter os constituintes do ninho unidos [11]. A localização dos ninhos é igualmente variável, podendo estar em árvores ou até mesmo bordas rochosas [11], e variando de indivíduo para indivíduo. Em relação ao tamanho, há uma variação que vai de 2 centímetros, como é o caso dos ninhos de beija-flores, até 2 metros de diâmetro, como nos ninhos de águias [11]. A Sylviornis neocaledoniae, espécie já extinta de aves, possivelmente construiu ninhos com 50 metros de diâmetro [2].

Mamíferos[editar | editar código-fonte]

Ninho de coelho

Muitas espécies de pequenos mamíferos, como roedores, coelhos e esquilos, cavam tocas no chão para proteger a si e a seus filhotes. Os cães das pradarias, por exemplo, constroem um sistema elaborado de túneis que pode abranger grandes extensões de terra. Uma dessas estruturas, chamada “cidade”, chegava a medir 25.000 milhas e possuía, aproximadamente, 400 milhões de indivíduos [12]. Por outro lado, muitos mamíferos, incluindo guaxinins e gambás, procuram cavidades pré-existentes no chão ou nas árvores para construir seus ninhos. Animais como os gorilas, por exemplo, constroem ninhos frescos com folhas e outras vegetações em que dormem à noite e, às vezes, também constroem ninhos durante o dia para descansar. Mesmo com essa finalidade individual, os ninhos de alguns gorilas, como o gorila ocidental, por exemplo, chegam a medir cerca de 1 metro de diâmetro, demonstrando serem estruturas complexas [13].

Anfíbios[editar | editar código-fonte]

Algumas espécies de anuros constroem ninhos que variam em níveis de complexidade [11]. Muitos sapos que vivem em riachos depositam seus ovos em uma massa gelatinosa que atribuem à vegetação subaquática, evitando que os ovos sejam lavados [7]. Outros, como os sapos da espécie Physalaemus pustulosus, são capazes de gerar um ninho de espuma flutuante [14]. Os ninhos de espuma são resistentes e protegem os ovos fertilizados da desidratação, luz solar, temperatura e possíveis patógenos, até que os girinos eclodam.

Peixes[editar | editar código-fonte]

Os peixes também se envolvem em atividades de construção de ninhos, desde a simples retirada de sedimentos até a construção de estruturas fechadas a partir de matéria vegetal. Os sticklebacks machos, por exemplo, produzem uma enzima especial nos rins que utilizam para unir plantas [11], e os ciclídeos africanos possuem o hábito de criar ninhos compostos de conchas: os machos recolhem conchas e as empilham; quanto mais conchas, maiores são as chances de reprodução. As fêmeas utilizam as conchas como uma cripta, onde ficam protegendo os ovos até que eclodam [15].

Répteis[editar | editar código-fonte]

Ninho Testudine

Apesar do fato dos répteis não apresentarem monofiletismo, diversos grupos tradicionalmente encaixados dentro desse grupo apresentam o hábito de nidificação, como os Crocodilianos, os Testudines e os Lepidossauros. Alguns jacarés constroem grandes ninhos de lama e vegetação nas margens dos rios, cavando um buraco no centro para botar seus ovos; depois cobrindo-os e guardando-os por dois meses até que eclodam. Quando os ovos começam a chocar, o ninho é aberto pela fêmea após ter sido endurecido com o tempo e os filhotes são levados até a água. Curiosamente, os jacarés são muito específicos sobre seus locais de nidificação e podem abandonar um sítio se as coisas derem errado [7]. Já animais como as cobras usam folhas e outros detritos para construir ninhos nos quais põem ovos que ambos os sexos guardam [11]. As tartarugas marinhas, por fim, não costumam apresentar cuidado parental: cavam um buraco na areia acima da linha da maré alta na qual depositam seus ovos, que são cobertos para proteção contra o sol e predadores, e retiram-se novamente para o mar [7].

Artrópodes[editar | editar código-fonte]

Vespa-do-papel rainha protegendo seus ovos e ninho
Ninho Formica rufa

Insetos sociais, incluindo a maioria das espécies de formigas, abelhas, cupins e vespas, são animais construtores de ninhos que, frequentemente elaborados, podem ser encontrados acima ou abaixo do solo, geralmente possuindo sistemas de ventilação e câmaras separadas para a rainha, seus ovos e indivíduos em desenvolvimento [11]. As abelhas e as vespas comumente procuram cavidades naturais para construir seus ninhos, também conhecidas como colméias, nas quais armazenam alimentos e criam seus filhotes. Outras espécies de abelhas e algumas vespas cavam buracos no chão ou mastigam madeira. Todavia, de forma geral, os ninhos de abelhas são baseados na cera que são capazes de secretar, enquanto os de vespas dependem de sua capacidade de transformar seiva em papel, usando saliva [2].

Os cupins constroem ninhos elaborados que abrangem várias gerações e podem durar décadas [2]. Os maiores ninhos, construídos por membros do gênero Amitermes, têm cerca de 7 metros de altura e uma circunferência semelhante na base, e hospedam milhões de indivíduos [2]. Esses enormes montes permitem um excelente fluxo de ar, regulando a temperatura, além de protegerem contra a secagem e a predação, fazendo com que muitas espécies de cupins não apresentem características ancestrais como corpos duros, pigmentação da pele e boa visão. Um grupo de cupins magnéticos constrói seus ninhos com lados achatados ao longo do eixo Norte-Sul, para garantir o aquecimento máximo durante o inverno, enquanto expõem a área superficial mínima ao sol mais severo do meio do dia [2]. Ademais, outras espécies de cupins usam seus ninhos para cultivar fungos, característica também observada em formigas [12].

Os ninhos de formigas, por fim, apresentam uma estrutura de colônia elaborada que pode se estender por 2 metros ou mais no subsolo. Espécies como a formiga carpinteira podem construir complexos "ninhos satélites": ninhos menores próximos, mas separados do ninho principal [16][17]. Esses ninhos satélite são usados ​​como um porto seguro contra predadores e parasitas, sendo que se o ninho original é atacado, os membros sobreviventes poderão se mover para esse ninho menor [16]. As estratégias de nidificação podem ser excepcionalmente plásticas. Exemplos característicos disso são as vespas Parischnogaster mellyi, que varia significativamente sua construção de ninhos com base nas condições ambientais, e Mischocyttarus mexicanus, conhecida por nidificar em grupos ou sozinha, dependendo da distribuição de potenciais ninhos na área [18]. O tamanho dos ninhos varia dramaticamente e o maior ninho de vespas já registrado mede 1,75 metros de diâmetro e tem 3,7 metros de altura. Encontrado na Nova Zelândia, provavelmente foi construído pela vespa alemã [19].

Fósseis[editar | editar código-fonte]

Ninho de dinossauro, Rooidraai

Pelo registro fóssil, sabe-se que muitos dinossauros puseram ovos e que possivelmente possuíam algum hábito de nidificação. Essa concepção vem do fato de que os paleontólogos identificaram uma série de características que permitem distinguir um local de nidificação de um agrupamento aleatório de ovos, incluindo padrões regulares de agrupamento, a coocorrência de ovos inteiros com ovos partidos e/ou filhotes e a ocorrência de características físicas, como evidências de escavação [7]. Os ninhos de Oviraptor da Mongólia são talvez o caso mais famoso de nidificação de dinossauros. Um espécime foi encontrado fossilizado no topo de um ninho, em uma postura de ninhada, provando que o animal tinha sido mal nomeado (Oviraptor significa "tomador de ovos")[7].

Um local conhecido como Egg Mountain, em Montana, Estados Unidos, fornece evidências excepcionais do comportamento de nidificação de dinossauros. O lugar apresenta dezenas de ninhos, cada um com 20 ou mais ovos pertencentes ao Maiasaura. Dentes juvenis encontrados no local apresentam sinais de desgaste, enquanto os ossos das pernas não são desenvolvidos o suficiente para andar. Isso permitiu que os cientistas concluíssem que as espécies prestavam cuidados parentais extensivos aos seus filhotes. É provável também que a espécie tenha coberto seus ninhos com areia e vegetação para mantê-los aquecidos e aninhados em colônias para maior proteção [7].

Tipos de ninhos[editar | editar código-fonte]

Os ninhos são definidos, de maneira geral, como qualquer lugar onde os ovos são postos [20], e podem variar quanto ao seu formato, composição ou localização. Isso faz com que a sua diversidade seja imensurável, e a falta de uma uniformização de suas nomenclaturas ainda é uma problemática atual. Além disso, na literatura ornitológica, por exemplo, é bem aceita a proposta de que os ninhos são espécie-específicos [2]. Todavia, existem quatro padrões elementares de ninhos que podem ser utilizados para sua classificação geral, e que podem ser subdivididos para cingir a diversidade: ninhos simples (quando a superfície onde é realizada a postura é pouco ou não alterada), cesto, fechado (a câmara incubatória é completamente envolvida) e cavidade (sendo naturais ou artificiais) [20]. Em seguida, será descrita um pouco dessa diversidade.

Ninhos elementares[editar | editar código-fonte]

Muitos animais não chegam a construir um ninho de fato; apenas escolhem um local adequado para a postura dos ovos ou os carregam consigo. A coruja-do-nabal, por exemplo, simplesmente deposita seus ovos em vegetações achatadas. Todavia, tal comportamento pode não ser tão simples, como é o caso do pinguim-imperador: a fêmea deposita um único ovo e parte para a costa para buscar alimento. O macho, enquanto isso, cuida do ovo, movendo-o para o topo de seus pés. Ele possui dobras na pele na região do ventre que envolvem o ovo, mantendo-o seguro e aquecido (a temperatura interna do ovo chega aos 40 graus celsius, 80 graus acima da temperatura ambiente). Após 60 dias de incubação, o ovo racha e a fêmea retorna com alimento [21]. Alguns animais podem, ainda, reunir um pouco de material encontrado nos arredores ou unir materiais próprios, como as próprias fezes [8], sem nenhum padrão específico.

Ninhos simples[editar | editar código-fonte]

São ninhos construídos de maneira pouco elaborada, com materiais como plantas, gravetos ou rochas. No campo da ornitologia, constata-se que pássaros que os utilizam nunca são da ordem dos passeriformes, apesar da facilidade de encontrar esse tipo de ninho na natureza. O exemplo mais característico é o ninho dos pinguins-de-adélia, formado apenas por um amontoado de pedras que impedem inundação [21].

Ninhos em formato de cesto[editar | editar código-fonte]

Rhipidura leucophrys ninho

Além de serem o tipo de ninho mais encontrado na natureza, são também os mais típicos. Neles já é possível distinguir regiões internas e externas e, apesar da construção ser muito mais complexa em relação aos ninhos simples, fornecem maior proteção aos ovos e filhotes. Podem ser encontrados em diversos lugares diferentes, apesar de geralmente serem feitos em árvores, mais especificamente nas divisões em forma de “Y” dos ramos, onde encontram maior suporte (mas há pássaros que constroem seus ninhos diretamente nos galhos ou mesmo no solo) [8][21]. Os beija-flores são responsáveis pelos menores ninhos em formato de cesto, feitos com musgo e teias de aranha. São pequenos e delicados, com o tamanho perfeitamente delineado. No outro extremo, existem os ninhos largos e rústicos feitos pelos corvos, sendo que a região externa inicial de sua confecção, feita de galhos e grama unidos por lama, é maior que o próprio pássaro adulto. O interior é forrado com musgo e penas e, apesar do semblante áspero, por dentro é um ninho extremamente confortável. Curiosamente, os ninhos de corvos duram muitos anos, mas apenas algumas espécies o reutilizam. Outros pássaros, como os cernícalos, acabam por usufruir desses ninhos abandonados [21].

Ninhos fechados[editar | editar código-fonte]

De maneira geral, os ninhos fechados assemelham-se aos ninhos em formato de cesto, com a diferença de possuírem paredes mais profundas para a formação do “copo” e um teto, com um buraco servindo como entrada e saída. A complexidade com as quais esse teto é construído apresenta alta variação, alguns sendo simplesmente soltos, como nos ninhos dos felosas-comuns, ou outros muito mais sólidos e presos, como os dos cinclus. Os cabeças-de-martelo constroem o maior ninho fechado conhecido, que é forte o suficiente para sustentar um ser humano caminhando em seu topo [21].

Ninhos suspensos[editar | editar código-fonte]

Tecelão-de-cabeça-preta(Ploceus melanocephalus)macho construindo seu ninho

Os ninhos suspensos podem apresentar formato de cesto ou serem fechados, mas possuem uma complexidade muito maior em sua construção [21]. Um caso bastante popular que demonstra a precisão e habilidade necessárias para a construção desse tipo de ninho são os pássaros da família Ploceidae, que incluem os tecelões e os bispos. Esses pássaros sabem instintivamente quais materiais utilizar, favorecendo grama fresca ou tiras de folhas de palmeira que possuem maior flexibilidade e oferecem maior sustentação. Além disso, possuem um bico forte e cônico, formato que favorece o corte das tiras de plantas utilizadas e na confecção de nós que unem toda a estrutura [22]. Um exemplo mais simplório é o de uma espécie de beija-flor denominada Phaethornis pretrei, que possui apenas um único cabo de suporte, mantendo-se estável com o apoio de uma pequena estrutura feita de grama e teia de aranha logo abaixo do ninho [21].

Ninhos em forma de cavidade[editar | editar código-fonte]

Upupa epops em ninho

A utilização de cavidades no chão, paredes ou em árvores como ninho tem se mostrado uma estratégia interessante e até mais eficaz que a construção de ninhos propriamente ditos em outros lugares, dado que proporciona, em muitos casos, maior proteção aos ovos. As cavidades na terra podem ser encontradas em terreno vertical, abrindo para borda de penhascos ou rios, ou horizontal, em terreno parcialmente ou totalmente plano; além de poderem ser naturais ou artificiais (o animal simplesmente aproveita uma cavidade já existente ao invés de fazer a própria). Claramente, a escavação é muito mais custosa, então é muito comum encontrar animais que pertencem ao segundo caso supracitado: muitas espécies de patos, por exemplo, usam tocas de coelhos abandonadas como ninhos [21]. Todavia, no geral, quando há escavação, ocorre primeiramente a formação de um túnel reto e, posteriormente, o alargamento em uma câmara onde ocorre a incubação [8]. Além das cavidades terrestres, buracos em árvores, cactos e até mesmo em cupinzeiros (que por si só já são considerados ninhos feitos por insetos) podem ser utilizados como ninhos. Alguns animais cavam buracos nessas estruturas, outros modificam cavidades já existentes ou simplesmente as utilizam sem alterações. Os pica-paus são o exemplo mais difundido de animais que cavam seus próprios ninhos, apesar desse grupo ser muito mais raro que aqueles que se utilizam de cavidades pré-existentes. Um outro exemplo, envolvendo uma interação ecológica complexa, envolve os pica-paus Gila. Esses pássaros escavam buracos em um cacto chamado saguaro, nativo da América do Norte. No mesmo buraco, outra ave chamada mocho-duende faz seu ninho. A coruja é tolerada pelo pica-pau porque tem o costume de caçar cobras cegas e trazê-las vivas para o ninho e, essas, por serem insetívoras, consomem diversos parasitas aviários. Ambos os pássaros são beneficiados pela diminuição no número de parasitas e a coruja ainda mais por ter um abrigo e outra ave para proteger seus filhotes enquanto caça durante a noite [21]. Embora as cavidades protejam os ovos de maneira muito mais eficiente que outros tipos de ninhos, a umidade pode ser uma condição que leva à proliferação de diversas pestes e parasitas, o que faz com que muitos animais não utilizem um mesmo buraco duas vezes para a postura de ovos, como os calaus [21].

Ninhos aquáticos[editar | editar código-fonte]

Mergulões de crista (Podiceps cristatus) e ninho

Alguns animais constroem ninhos próximos à água, entretanto, existem grupos que os constroem literalmente em sua superfície. Alguns mergulhões, por exemplo, constroem seus ninhos em águas rasas e, embora estes geralmente estejam ancorados, podem ser encontrados flutuando. No caso desses animais, tal circunstância é, inclusive, um fator necessário, uma vez que são aves primariamente aquáticas. Um outro caso de adaptação relevante é o das jaçanãs, que constroem ninhos extremamente frágeis e que afundam quando a ave está sentada incubando os ovos. Os embriões, ao contrário do que se pode imaginar, não sofrem complicação alguma quando encontram-se submersos, dado que os ovos possuem casca impermeável [21].

Outros ninhos[editar | editar código-fonte]

As aves são os animais que mais constroem ninhos, mas outros vertebrados e até insetos também o fazem. Os cupinzeiros e os formigueiros, por exemplo, são tipos de ninhos coloniais [23]. O curioso ninho de espuma de alguns anuros (ordem de anfíbios aos quais pertencem os sapos e rãs), por exemplo, são estruturas que possuem extrema importância evolutiva, dado que contribuem para os estudos acerca da conquista do ambiente terrestre pelos animais vertebrados [24]. As próprias aves apresentam exemplos de ninhos bastante incomuns, como é o caso dos megápodes, que não incubam seus ovos de maneira direta: utilizam para isso calor geotérmico ou mesmo o calor gerado pela compostagem de matéria orgânica, construindo, portanto, ninhos específicos para melhor aproveitamento dessas fontes [21][25][26].

Efeitos ecológicos[editar | editar código-fonte]

Os ninhos exercem importante função nas interações ecológicas, uma vez que não são usados apenas pelos seus construtores: existe uma variedade de abelhas solitárias (Megachilidae, Euglossinae, Anthrophoridae), que fazem uso de ninhos abandonados de abelhas e vespas [27]; além de aves caracterizadas como “parasitas¨, que colocam seus ovos em ninhos de outras aves, para que estas criem seus filhotes [8]. Ademais, a abundância de recursos dentro dos ninhos levou à várias especializações de predadores. O porco-formigueiro e os tamanduás, por exemplo, apresentam línguas longas para alcançar cupins e formigas. A simbiose, por fim, é igualmente comum: os ninhos de formigas, por exemplo, apoiam simbiontes que abrangem seis classes de artrópodes, que inclui 35 famílias apenas de besouros [2].

Culinária[editar | editar código-fonte]

Ninho comestível confeccionado por aves Swiftlets
Sopa feita com ninho comestível

A culinária utilizando ninhos surgiu como uma indústria que se popularizou entre países do Sudeste Asiático, sendo que os dois maiores produtores são a Malásia e a Indonésia. Ultimamente, a China também vem se tornando um país onde a demanda por esse tipo de ninho é cada vez maior, o que ocasionou um aumento na produção dos mesmos na própria Malásia, com fins de exportação [28]. Os ninhos comestíveis são especificamente de aves Swiftlets, que podem ser consumidos por seres humanos como alimento [29] pelo fato de serem constituídos quase ou totalmente por saliva [30]. Os ninhos comestíveis brutos são tradicionalmente originários de cavernas naturais calcárias [28], fato esse relacionado com a capacidade de ecolocalização desses animais e, durante a fase reprodutiva, ocorre um aumento das glândulas salivares, tornando a sua confecção possível [9][21]. Apesar do controle por lei de sua coleta para a confecção dos pratos típicos, ainda há muitos casos de morte desnecessária de aves jovens ou do término precoce da incubação dos ovos, ocasionando sérios problemas relacionados à conservação desses animais [21].


Referências[editar | editar código-fonte]

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