Usuário(a) Discussão:Raimundo57br/discussão31

O conteúdo da página não é suportado noutras línguas.
Adicionar tópico
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A taxa de juros natural é a taxa de juros de equilíbrio entre poupança e investimento no pleno emprego da economia. Trata-se de uma variável não observável, mas existem alguns métodos para estimá-la:

  1. o estatístico, no qual se utiliza algum filtro da taxa de juros real para extrair o componente de tendência, que é identificado com a taxa natural;
  2. do modelo do agente representativo, que se baseia na teoria econômica, que entende que taxa de juros natural depende de três parâmetros, a taxa de preferência, a elasticidade de substituição do consumo e a taxa prevista do crescimento da produtividade da mão de obra. A utilização desse método não é adequado em pequenas economias abertas;
  3. segundo os modelos de Mundell-Fleming e de Gerações Superpostas[1], a taxa natural de uma economia aberta pequena é igual a taxa de juros real internacional, sendo que em países nos quais existem restrições a mobilidade de capital deve-se adicionar os prêmios de risco apropriados.

Os títulos públicos brasileiros emitidos domesticamente (em reais) devem pagar, por arbitragem, levando-se em conta o risco cambial, a mesma taxa dos títulos em dólares. A taxa de juros doméstica depende, portanto, da taxa de juros internacional. A estimativa da taxa de juros natural é feita para o período 2003-2015, que corresponde aos governos do PT, dos Presidentes Lula e Dilma.

Uma característica da economia brasileira é a elevada taxa de juros real do mercado interbancário, existem algumas hipóteses que tentam explicar este fato:

  1. semidominância fiscal;
  2. incerteza jurisdicional;
  3. efeito contágio dos títulos da dívida pública;
  4. baixa taxa de poupança;
  5. mercado de crédito segmentado.

A taxa de juros real é igual a soma da taxa de juros natural com o hiato da taxa de juros. O hiato da taxa de juros depende da política monetária. A hipótese do mercado de crédito segmentado pode explicar este componente. A estimação da taxa de juros natural, depende dos vários componentes que determinam a taxa de juros natural no Brasil:

  1. a taxa de juros internacional;
  2. o prêmio de risco país;
  3. o prêmio de risco do câmbio;
  4. a taxa de retorno real das LFTs.

Em 1999, o Brasil adotou o sistema de metas de inflação, que delegou ao Banco Central do Brasil (Bacen) a decisão de fixar a taxa Selic, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom), com base na meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional.

Uma variável importante na Regra de Taylor é a taxa de juros natural. No longo prazo, para qualquer especificação desta regra, a taxa de juros nominal é igual a soma da taxa de juros natural com a meta de inflação. No curto prazo, o banco central deve ajustar a taxa nominal às variações da taxa de juros natural. Portanto, é possível estimar para a economia brasileira, no período 2003-2015, uma Regra de Taylor, usando a série construída da taxa de juros natural.

Em 2006, Marcelo Kfoury Muinhos e Márcio Nakane publicaram um estudo[2] no qual estimam diferentes taxas reais de equilíbrio, considerando quatro metodologias:

  1. tendência estatística das taxas de juros reais a partir do uso do filtro HP;
  2. modelo Keynesiano para pequena economia aberta, com uma estimativa constante no tempo;
  3. taxa natural igual ao produto marginal do capital, fazendo estimativas a partir das hipóteses clássicas dos modelos de crescimento; e
  4. modelo de painel, tentando medir o efeito do risco de inflação e do prêmio de risco da dívida brasileira, e de outros emergentes, em relação aos títulos americanos.

Em 2009, Paulo Chananeco F. de Barcellos Neto e Marcelo Salvino Portugal, publicaram um estudo no qual utilizaram o arcabouço teórico formulado, em 2003, por Athanasios Orphanides e John C. Williams[3] e filtros para as taxas de juros reais e estimarem uma regra de Taylor, na qual a taxa de juros natural é o intercepto da equação, a partir de modelo macroeconômico simplificado de espaço-estado. Trata-se da primeira contribuição focada em estimar a taxa de juros natural do Brasil e não apenas explicar a persistência dos altos níveis das taxas.

Em 2013, Alessandra Ribeiro e Vladimir K. Teles, publicaram um estudo no qual seguiram uma linha semelhante ao trabalho de Paulo Chananeco F. de Barcellos Neto e Marcelo Salvino Portugal, acima mencionado. Esse trabalho demonstrou que a taxa de juros natural brasileira está em queda desde 2006, em especial por conta da evolução da taxa de crescimento potencial do Brasil. Esses autores também fizeram uma análise da política monetária recente por meio do cálculo de três tipos diferentes de hiatos de juros e sustentam que, entre 2001 e 2005, o Banco Central do Brasil manteve um perfil conservador e, após esse período, ficou mais próximo da neutralidade.

A análise, no entanto, é excessivamente leniente com a atuação do Banco Central do Brasil. O fato é que, desde 2009, a política monetária tem sido permissiva com a inflação, fechando dois anos quase no teto da meta e outros três em quase 6% ao ano.

Perrelli & Roache (2014) utilizam cinco métodos diferentes: i) estimativas estruturais; ii) filtros estatísticos; iii) estimativas a partir da estrutura a termo da taxa de juros; iv) modelos de espaço-estado; e v) regressões a partir de fundamentos, incluindo algumas variáveis de economia aberta. Os autores mostram que nas duas últimas décadas houve uma queda significativa do nível da taxa de equilíbrio, como observado em trabalhos resenhados acima. Por outro lado, embora não seja dado muito destaque ao fato, suas estimativas apontam para uma reversão desse ciclo de queda, algo que pode ter impacto relevante para a política monetária brasileira.

A principal conclusão que chegamos com esta resenha de trabalhos que estimaram a taxa de juros natural do Brasil é de que todos os autores usam modelos que admitem uma economia fechada, sem se preocupar com o fato de que a economia brasileira é uma economia aberta pequena. Esta crítica aplica-se aos métodos de estimação da taxa de juros natural baseados na teoria econômica. Os métodos estatísticos que aplicam um filtro a taxa de juros real podem ser aplicados tanto a uma economia fechada como a uma economia aberta.

[4].

Referências