Usuário:Ixocactus/tradução

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Pesquisas em reencarnação[editar | editar código-fonte]

O psiquiatra Ian Stevenson, da Universidade da Virginia, investigou muitos relatos de crianças que afirmavam se lembrar de uma vida anterior. Ele realizou mais de 2.500 estudos de caso ao longo de 40 anos e publicou doze livros, incluindo Vinte casos sugestivos de reencarnação e Where reincarnation and biology intersect, sem tradução para o português. Stevenson documentava metódica e sistematicamente as declarações da criança e, em seguida, localizava o falecido com quem a criança se identificava. Também verificava a vida da pessoa falecida, para detectar eventos que combinavam com a memória da criança. Ele também pesquisou a associação de marcas de nascença e defeitos congênitos das crianças com ferimentos e cicatrizes dos falecidos encontrados em autópsias e fichas médicas.[1]

Stevenson sempre procurou evidências contrárias e explicações alternativas para os relatos das crianças, e acreditava que seus métodos rigorosos descartavam as possíveis explicações "normais" para as memórias da criança.[2] No entanto, a maioria dos casos significativos de Stevenson se originou de sociedades orientais, onde as religiões e filosofias dominantes geralmente aceitam o conceito de reencarnação. Por causa desse tipo de crítica, Stevenson publicou um livro sobre reencarnação na Europa, chamado European Cases of the Reincarnation Type. Stevenson admitiu nesse livro que os casos europeus de reencarnação apresentaram menos evidências de processos paranormais do que os casos asiáticos, especialmente os da Índia e do Sri lanka.[1]

O próprio Stevenson reconhecia um grave problema nos seus casos de reencarnação: a ausência de qualquer evidência de processos físicos pelos quais uma personalidade poderia sobreviver à morte e se transferir para outro corpo.[2] Outras pessoas relacionadas aos estudos de reencarnação incluem Jim B. Tucker, Antonia Mills, Satwant Pasricha, Godwin Samararatne, Erlendur Haraldsson e o brasileiro Hernani Guimarães Andrade.[3]

Carl Sagan, um dos principais críticos das pseudociências e do misticismo, rejeitava a ideia de reencarnação. Mas, aparentemente e sem apresentá-las, ele se refere às investigações de Stevenson no livro de divulgação científica O Mundo assombrado pelos demônios como um dos exemplos de "...afirmações que poderiam ser verdade. Elas têm, pelo menos, um fundamento experimental, embora ainda dúbio. Claro, eu posso estar errado."[4]

As pessoas que acreditam na possibilidade de reencarnação se utilizam da extensa bibliografia produzida por Ian Stevenson e seus seguidores para tentar justificar suas crenças. Elas são mencionadas em um ensaio, publicado no volume especial de homenagens póstumas da publicação que ele mesmo ajudou a criar. Seu discípulo e colega de departamento Jim Tucker revela no ensaio as inquietações pessoais de Ian Stevenson. Ele se considerava um fracassado por não ter sido capaz de atingir seu principal objetivo: convencer a comunidade científica que a reencarnação era uma possibilidade real. Ele considerava que havia produzido dados que permitiram àqueles que acham a reencarnação um conceito agradável de se acreditar com base em evidências, em vez de acreditar apenas com base na fé. Seu objetivo não era convencer estas pessoas ou fornecer-lhes tais evidências.[5]

Céticos que analisaram os casos de Stevenson, como o filósofo Paul Edwards, consideraram que eles são apenas evidências anedóticas. Uma análise do livro Children who remember previous lives: a question of reincarnation, em que Stevenson apresenta os seus melhores casos, detecta inúmeras falhas nos estudos.[6] Segundo a análise de Edwards, as alegações de evidência para a reencarnação originam-se de pensamento seletivo, fantasias das crianças, informações dos meios de comunicação de massa e das falsas memórias resultantes do sistema de crenças e medos básicos daquela cultura. Portanto, não são evidências adequadas.

Ian Wilson argumentou também que grande parte dos casos de Stevenson era de crianças pobres que recordam vidas abastadas ou pertencentes a uma casta superior. Ele especulou que tais casos poderiam ser uma forma de se obter dinheiro da família da suposta encarnação anterior.[7][8]

O filósofo Keith Augustine também verificou que "a grande maioria dos casos de Stevenson vem de países onde há forte crença religiosa na reencarnação, com raros casos de outros lugares. Isso parece indicar que o condicionamento cultural, em vez da reencarnação, causa as afirmações de memórias expontâneas de vidas passadas."[9] Em resposta, Stevenson argumentou que as famílias são mais propensas a relatar supostas ocorrências de memórias de uma pessoa morta em culturas onde há a crença na reencarnação. Segundo uma análise feita por Robert Baker, muitas das supostas experiências de vidas passadas investigados por Stevenson e outros parapsicólogos podem ser explicadas em termos simples de fatores psicológicos conhecidos. Baker verificou que a recordação de vidas passadas é uma mistura de criptomnésia e confabulação.[10]

Objeções às alegações de reencarnação incluem ainda os fatos de que a grande maioria das pessoas não se lembra de vidas anteriores e não há nenhum mecanismo conhecido pela ciência moderna que permitiria uma personalidade sobreviver à morte e viajar para outro corpo. Pesquisadores como o próprio Stevenson reconheceram estas limitações.[2]

Referências

  1. a b Cadoret, Remi J (2005). «Book Review: European cases of the reincarnation type». The American Journal of Psychiatry. 162: 823-824. doi:10.1176/appi.ajp.162.4.823. Consultado em 9 de julho de 2014 
  2. a b c Shroder, Tom (11 de fevereiro de 2007). «Ian Stevenson; Sought To Document Memories Of Past Lives in Children». Consultado em 09/07/2014. The Washington Post  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  3. Matlock, James. «The principal reincarnation researchers». http://jamesgmatlock.net. Consultado em 10 de julho de 2014  |trabalho= e |obra= redundantes (ajuda)
  4. O mundo assombrado pelos demônios. a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia das Letras. 2006. p. 343. 509 páginas. ISBN 978-85-359-0834-3 
  5. Tucker, J.B (2008). «Ian Stevenson and cases of the reincarnation type» (PDF). Journal of Scientific Exploration. 22 (1): 36–43. Consultado em 11 de julho de 2014 
  6. Rockley, Richard (2002). «Book Review: Children who remember previous lives». Consultado em 11 de julho de 2014. First, I’m impressed by Stevenson’s integrity and honesty, but less so with his intellectual rigor. 
  7. Wilson, Ian (1981). Mind out of time?. reincarnation investigated. London: Gollancz. 283 páginas. ISBN 0-575-02968-4 
  8. Wilson, Ian (1988). «Review of Children who remember previous lives by Ian Stevenson». Journal of the Society for Psychical Research. 55: 227-229 
  9. Augustine, Keith (1997). «The case against immortality». Skeptic Magazine. 5 (2). Consultado em 11 de julho de 2014 
  10. Baker, R.A. (1996). Hidden memories: voices and visions from within. New York: Prometheus Books. 390 páginas. ISBN 0-87975-576-8