Étienne de Gröer

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Étienne de Gröer
Nascimento 4 de janeiro de 1882
Varsóvia
Morte 30 de maio de 1974
Nice
Cidadania Portugal, Polónia, Reino de Portugal
Progenitores
  • Franz von Groër
Filho(a)(s) Léon de Groër
Ocupação arquiteto

Étienne de Gröer (Varsóvia, 1882Paris, 1952), nascido Szczepan Groer (em russo: Степан Францевич Гроэр; transl.: Stepan Frantsevich Groer), foi um arquitecto-urbanista de origem polaco-russa, professor no Instituto de Urbanismo de Paris (ao tempo Institut d’urbanisme de l’Université de Paris), que a convite de Duarte Pacheco, ao tempo presidente da Câmara Municipal de Lisboa e pouco depois Ministro das Obras Públicas e Comunicações, a partir de 1938 se fixou em Lisboa, onde trabalhou em parceria com João Guilherme Faria da Costa na elaboração de diversos planos de urbanização, entre os quais o Ante-Plano da Região de Sacavém a Vila Franca de Xira, Plano Geral de Urbanização e Expansão de Lisboa, e os planos de urbanização de Sintra, da Costa do Sol e de Almada.[1] Estes trabalhos marcaram de forma perene o desenvolvimento do planeamento urbano em Portugal.[2][3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Étienne de Gröer nasceu em Varsóvia em 1882, então parte do Império Russo, filho de mãe russa ortodoxa e pai polaco católico, ele próprio de origem russa mas polaco nascido em Varsóvia. Estudou no Liceu de Nice e diplomou-se em Arquitectura pela Academia Imperial de Belas-Artes de São Petersburgo. Iniciou a sua actividade profissional no Gabinete Municipal de Urbanismo de São Petersburgo.[4]

Em 1920 estabeleceu residência em França, onde colaborou em 18 planos de ordenamento e expansão de cidades, com destaque para os planos de Dunkerque e das regiões de Creil e de La Courneuve. Colaborou em diversas ocasiões com o urbanista Donat-Alfred Agache, nomeadamente no plano de urbanização do Rio de Janeiro, dirigindo, entre 1927 e 1930, o atelier que naquela cidade foi responsável pela coordenação da elaboração do plano de urbanização encomendado a Agache.[4]

Regressado a Paris, naturalizou-se cidadão francês em 1936 e foi contratado pelo Instituto de Urbanismo de Paris para as funções de conferencista, sendo responsável por uma área disciplinar onde eram ensinados os princípios da cidade-jardim.

Com Donat-Alfred Agache e Luigi Dodi,[5] Étiènne de Gröer foi um dos arquitectos que a convite de Duarte Pacheco trouxeram a Portugal nas décadas de 1930 e 1940 os novos ideais urbanísticos que então floresciam pela Europa, entre os quais o conceito da cidade-jardim que fora lançado por Ebenezer Howard, então muito em voga. A sua intervenção teve como linhas orientadoras preservar o casco histórico e acautelar a expansão, ao mesmo tempo que reservava zonas para as necessárias actividades económicas, sem as quais se matam as cidades tornando-as obsoletas e amorfas. A aplicação prática desses conceitos e a sua adaptação a um contexto territorial especificamente português, constituiu um legado para gerações de urbanistas e arquitectos portugueses.[6]

A sua primeira participação num estudo urbanístico em Portugal aconteceu por convite de Donat-Alfred Agache, que iniciou os estudos de desenvolvimento urbano da região de Lisboa, no "Estudo preliminar de urbanização da zona de Lisboa ao Estoril e a Cascais" que Étienne de Gröer viria a desenvolver posteriormente enquanto "Plano da Costa do Sol".[4] O convite para realizar plano urbanístico para a cidade de Lisboa deveu-se à impossibilidade de Agache, que se encontrava no Brasil, onde permaneceria durante o período da Segunda Guerra Mundial.[7]

Chegou a Lisboa em 1938, aos 56 anos de idade e já com vasta experiência em urbanismo, quando a Câmara Municipal de Lisboa, com Duarte Pacheco na presidência, o contratou para definir as grandes linhas de desenvolvimento da cidade.[8] Foi então contratado pela Câmara Municipal de Lisboa para o cargo de urbanista-conselheiro técnico da Câmara (1938-1940), tendo nessas funções elaborado o Plano Director de Urbanização de Lisboa (1938/1948), encomenda de Duarte Pacheco.[4]

Acabaria por ser um dos principais urbanistas do Estado Novo, coordenando a elaboração dos ante-planos ou planos de urbanização de numerosas localidades, entre as quais Abrantes, Almada, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Luanda, Sintra e Costa do Sol. Entre estes, merecem destaque o Plano de Urbanização de Sintra, elaborado em finais da década de 1940, aprovado em 11 de Novembro de 1949 e ainda hoje em vigor,[6] os planos iniciais de expansão urbanística de Coimbra e o Plano de Urbanização da Cidade de Luanda.[9]

Após a ocupação da França pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, Étienne de Gröer refugiou-se em Portugal, onde residiu em Oeiras até ao princípio da década de 1950. Sobre este período, e sobre a sua influência no urbanismo português, declarou: Se o meu trabalho deixar traços salutares em Portugal, a minha própria dívida para com este país não é de menor importância, pois que ele me ofereceu, nesta terrível época de guerra, um calmo abrigo e uma tarefa apaixonante que me tornaram estes anos felizes e cheios de sol.[10]

Notas

  1. Jorge de Sousa Rodrigues, "Infra-estruturas e urbanização da margem sul: Almada, séculos XIX e XX)". Análise Social, vol. XXXV (156), 2000, 547-581.
  2. Urbanistas Estrangeiros em Portugal : 1930-1960. Lisboa: DGOTDU, 2005 (ISBN 972-8569-38-6).
  3. Teresa Marat-Mendes, Vítor Oliveira, "Urban planners in Portugal in the middle of the twentieth century: Étienne de Groër and Antão Almeida Garrett". Planning Perspectives, Vol. 28, issue. 1, pp. 91-111, 2013 (DOI:10.1080/02665433.2013.737719).
  4. a b c d Catarina Teles Ferreira Camarinhas & Vasco Brito, "Elementos para o estudo do Plano de Urbanização da cidade de Lisboa (1938)". Cadernos do Arquivo Municipal, n.º 9 (2007), pp. 182-183 Arquivado em 9 de março de 2014, no Wayback Machine..
  5. Nota biográfica.
  6. a b Fernando Morais Gomes, "Na hora de lembrar Etienne de Gröer".
  7. Anna Paula Canez, "Plano Gladosch: concepção e marcas", IX SHCU, São Paulo, 4 a 6 de Setembro de 2006 Arquivado em 9 de março de 2014, no Wayback Machine..
  8. João de Sousa Rodolfo, Luís Cristino da Silva e a arquitetura moderna em Portugal. Lisboa: Dom Quixote, 2002. p. 171.
  9. Luanda : Historical Background and Urbanism.
  10. Lusitano dos Santos, "Étienne de Gröer: Polaco, Russo, Francês, Urbanista Português dos Anos 40". Munda: revista do Grupo de Arqueologia e Arte de Coimbra, n.º 2, Novembro de 1981, p. 80.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]