Discussão:Louis-Joseph Lebret

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Último comentário: 13 de outubro de 2015 de Diecc

O texto abaixo foi retirado da página principal. Contém informações relevantes, porém não escritas conforme o livro de estilo. Busquei alguns dos fatos narrados, encontrei vários estudos sobre o assunto e coloquei as referências na página, porém não tive tempo de expandir o artigo. Diecc (discussão) 18h35min de 13 de outubro de 2015 (UTC)Responder

Fico passado quando leio a biografia do Padre Lebret, aqui estampada na “Wikipédia/Google” , por duas razões principais:

− 1ª) Por dizer que ele nascera na França, Bretanha. Quando, em 1.957, eu o conheci, contratado como estávamos pela Prefeitura Municipal de São Paulo, ao se referir a esse digno profissional, ele era tido como belga/francês. Dava-se certa ênfase a esta naturalidade, como se a dizer que embora tenha nascido na Bélgica, havia se desenvolvido profissionalmente na França. Talvez essa confusão biográfica atual deva-se por ter sido escrita muitos anos depois da época vivida por mim e por ser a família dele de origem francesa, bretã. Quem a escreveu não se baseou em pesquisas fundamentadas; louvou-se em indícios, somente.

− 2ª) A biografia dele, sequer cita que ele fora contratado pela Prefeitura de São Paulo, no final da década de cinquenta do século passado, para desenvolver um trabalho, que na época demonstrava ser um grande acerto na solução da São Paulo metropolitana, que, então, já estava caminhando para um caos urbano. E que esse trabalho foi executado e um Relatório completo emitido. E que o governo municipal engavetou o relatório e nada fez para segui-lo, como recomendava fazer. Essa pesquisa urbana, que despendeu um ano de serviços exaustivos de levantamento de dados e de recursos municipais, ao meu ver, vastos, foi desprezada, e o município veio a sofrer, como até agora sofre, dos mais bárbaros desatinos, apesar de acumular planos sobre planos, sem sequer observar o que o Padre Lebret, no alto de sua especialização e capacidade de antever problemas, indicava em seu Relatório.

− Tomo a liberdade de narrar o que eu participei na, então, chamada “Comissão da Pesquisa Urbana” ou “Comissão do Padre Lebret”, na Prefeitura de São Paulo, no ano de 1.957, e de outros fatos relativos a este trabalho:

− No final do ano de 1.956 (tenho até hoje a portaria de designação, de 09/11/1956) fui transferido para o Gabinete da Secretaria de Obras da Prefeitura de São Paulo. O intuito era a formação de um Grupo para trabalhar com o Padre Lebret, em um levantamento do tecido urbano da Cidade de São Paulo, sobre o qual este intelectual lançaria um projeto que visava ordená-la, para o futuro, uma vez que o caos já se anunciava célere, se cuidados especiais não fossem tomados. O Prefeito, na época, era Wladimir de Toledo Piza (11/04/56 a 07/04/57), Vice-Prefeito que assumira, na renúncia de Juvenal Lino de Matos. Trabalhamos, junto à Secretaria de Obras, na rua Boa Vista, durante um ano, sob a direção de um colega da Escola Politécnica, Mário Laranjeira de Mendonça, até que em 04/02/57, com outra portaria, passamos para a “Comissão da Pesquisa Urbana”, mais conhecida como a “Comissão do Padre Lebret”, ainda sob a mesma chefia do Engº Mario Laranjeira. Nós, funcionários da Prefeitura Paulistana, somente lidávamos com o levantamento, por assim dizer, gráfico da cidade. O Padre Lebret exercia as suas funções junto à firma “SAGMACS” (“Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais”), conectada, através do Arquiteto Celso Monteiro Lamparelli, com a nossa “Comissão da Pesquisa Urbana”, que fornecia àquela os dados urbanos levantados por nós.

− A base da visão, do Padre Lebret, eram as chamadas Unidades de Vizinhança. O tecido urbano, ao ver dele, deveria ser formado por “Células” que nada mais eram de áreas formadoras da cidade, com fisiologia própria, com parte residencial, comercial, de serviços e demais itens que permitissem certa sobrevivência independente das outras “células”. A Cidade de São Paulo foi dividida por nós em uma centena dessas células. As que não tinham ainda a independência necessária, a “SAGMACS” projetava os itens faltantes e a sua localização. O trabalho foi cuidadoso e detalhado.

− Também os itens que deveriam servir para o conjunto urbano, como rede de vias , transporte coletivos, como trens e metrô, foram projetados. Nesse item metrô, o Padre Lebret não concordou com o projeto havido então para esse meio de transporte coletivo, por ser central, isto é, as diversas linhas convergiam para o centro da cidade. No dizer dele, essa idéia iria levar ao futuro congestionamento, que tornaria impraticável a vida da população.

− Ele possuía uma idéia originalíssima para a distribuição das linhas de metrô, que melhor serviria à nossa população. Para começar, deveria ser criada, seguindo o curso do Rio Tietê, uma única linha fechada em 8 (melhor seria dizer, no caso, em ∞), onde os trens circulariam dia e noite, parando em determinadas estações, devidamente distribuídas, pelas diversas áreas onde passasse. Dessas estações partiriam linhas duplas, de ida e vinda, para servir as outras regiões da cidade; além dessas, outras linhas cruzariam estas convergentes ao ∞, do rio Tietê. O ponto de cruzamento do ∞ seria junto à Ponte Grande. Com isso a urbe seria completamente atendida por uma rede de trens.

− O trabalho da “Comissão da Pesquisa Urbana” ficou pronto no início de 1.958 e redundou em um grosso Relatório do Padre Lebret, com um Projeto para a Urbe Paulistana. Mas como é comum em nosso País, um espesso silêncio baixou sobre este Relatório.

− Nada mais se ouviu sobre ele, até que em 1.964, quando eu já estava trabalhando, como assistente do Vice-Presidente, em outra Cia de Engenharia. Esta pessoa, muito bem relacionada politicamente com o governo militar de então, era muito amigo de um candidato à Prefeito de São Paulo, Paulo Egídio Martins. Um dia, o dito Vice-Presidente entrou na sala onde eu estava instalado, com um grosso volume nas mãos. Estava eufórico e parecia que havia encontrado um ótimo assunto para nortear a campanha da candidatura do amigo. Logo de saída, reconheci que aquele volume era o Relatório da Pesquisa Urbana do Padre Lebret. Contei para ele que eu havia participado daquela Comissão. Parecia que iríamos conversar mais sobre o assunto. A campanha a Prefeito foi feita sem se referir ao Relatório e o candidato perdeu as eleições para o Brigadeiro Faria Lima, que teve cinco vezes o número de votos de Paulo Egídio Martins, além de haver também, entre outros, os candidatos Laudo Natel, Auro Soares de Moura Andrade, Franco Montoro e Lino de Mattos..

− E nunca mais ouvi falar no Relatório do Padre Lebret, nem nas suas idéias salvadoras da Urbe Paulistana. Recursos e trabalho de um ano perdidos. E, agora, fiquei pasmo com o silêncio havido na própria biografia dessa ilustre figura sobre o importante trabalho; nem na biografia do arquiteto Celso M. Lamparelli, da SAGMACS. Quanto ao engº Mário Larangeira de Mendonça, sua biografia sequer é mencionada. Razão pela qual, agora, resolvi prestar o meu testemunho.

− Engº Manoel Valente Barbas, turma de 1.954, Escola Politécnica de São Paulo.17:00hs, 08/07/2.014