Discussão:Maquiavelismo

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Maquiavel nunca afirmou que os fins justificam os meios, falando da conduta de um príncipe. Para esclarecer este equívoco de tradução e interpretação, o trecho em que ele fala sobre a conduta de um príncipe, está no capítulo XVIII, de O Príncipe, que diz: "Os homens, em geral, julgam as coisas mais com os olhos do que com as mãos, porque todos podem ver, mas poucos podem sentir. Todos vêem aquilo que pareces, mas poucos sentem o que és; e estes poucos não ousam opor-se a opinião da maioria, que tem para defendê-la, a majestade do estado. Como não há tribunal para reclamar das ações de todos os homens, e principalmente do príncipe, o que conta por fim são os resultados. Cuide pois o príncipe de vencer e manter o poder: os meios serão sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo está sempre voltado para as aparências e para o resultado das coisas, e não há no mundo senão o vulgo; a minoria não tem vez quando a maioria tem onde se apoiar. (MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. 3. ed. rev. - São Paulo: Martins Fontes, 2004.).

Na teoria da política maquiaveliana, o que está em jogo é a manutenção do lugar simbólico do poder. Para tanto, um bom príncipe é aquele que tem o talento, o engenho (virtù) de adequar meios a fins, isto é, saber associar talento e acaso (fortuna). Maquiavel, com isto, está querendo sublinhar que a conduta de um príncipe não se pauta pela moral de um homem privado, pelo contrário, a conduta de um príncipe obedece a uma ética própria do campo da política, lembrando que para o autor, a política é o campo da ação.

Outro fator importante em sua teoria, está naquilo que ele tanto enfatiza: "o parecer ser". Visto que o vulgo - os muitos - julgam pelas aparências, logo se os resultados forem favoráveis à manutenção do poder, os meios serão tidos por honrosos, como afirma o autor. Posto isto, fica claro que, para Maquiavel, o príncipe não é um homem imoral de modo algum. Contudo ele segue uma ética específica do campo da política, radicalmente distinta da ética de um homem privado. Maquiavel está introduzindo que, o campo da política, por ser o campo do agir, é o campo da publicidade, então a ética de um príncipe, ela se pauta única e exclusivamente por aquilo que vem à luz, por aquilo que é público, nunca devendo ser confundida com a moral do foro íntimo do mesmo.

O pensador afirma que um príncipe deve saber utilizar dos métodos dos homens e dos animais, isto é, ser astucioso como a raposa e voraz como o leão. Posto que o leão não tem defesa contra os laços nem a raposa contra os lobos, portanto é preciso ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. "Um príncipe prudente não deverá pois agir contra seus interesses, e quando os motivos que o levaram a empenhar a palavra deixarem de existir. Este preceito não seria bom se todos os homens fossem bons; mas como eles são maus, não se está obrigado a agir com boa-fé". A respeito da discussão sobre ética, breves comentários.

A palavra ética, que vem do grego "ethos", está ligada a Aristóteles e refere-se a comportamento, conduta, não tendo, portanto, conotação positiva ou negativa, embora exista bom e mau comportamento. A palavra moral, que vem do latim "mores", foi traduzida assim do grego por São Thomás, ao que este introduz uma divisão entre moral privada e moral pública, ainda atribuindo a moral o significado de conduta. É apenas com o filósofo Immannuel kant, que se introduz uma divisão entre ética - àquilo que é próprio do campo público - e moral - àquilo que concerne ao campo do privado. Observando então o explicitado, podemos concluir e aniquilar com a idéia de que Maquiavel introduz uma noção de imoralidade na conduta de um homem público, pois como já dito, esta obedece a outros preceitos que não se podem confundir com os preceitos de uma conduta pautada numa moral privada, aquela própria do foro íntimo. Por Elton Bruno A. de Oliveira