Discussão:Pieter Willem Botha

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O "Velho Crocodilo" morreu aos 90 anos

Pieter W. Botha, Presidente da África do Sul nos mais repressivos anos do regime do “apartheid”, morreu hoje, aos 90 anos de idade. O Congresso Nacional Africano, partido que ele perseguiu, foi uma das primeiras organizações a expressar as suas condolências à família.

“Botha morreu em casa, de forma pacífica”, afirmou o capitão Frikkie Lucas, chefe da polícia de Western Cape, na costa sudoeste da África do Sul.

O antigo Presidente, que sofria de problemas cardíacos, viveu a última década em reclusão na sua residência, recusando qualquer envolvimento na democracia multirracial instaurada em 1994.

"O Congresso Nacional Africano expressa a suas condolências à família, amigos e colegas do antigo Presidente. O ANC deseja força e conforto à sua família neste momento difícil", lê-se num comunicado emitido pelo partido no poder.

Apelidado de “Groot Krokodil” (Grande Crocodilo, em afrikaans), devido à sua personalidade intempestiva e posições inflexíveis, Botha dirigiu a África do Sul entre 1978 e 1989, alguns dos anos mais repressivos e também de maior isolamento do regime segregacionista.

No final da década de 1980, foi obrigado a abandonar o poder, dando lugar a Frederik de Klerk que liderou o processo de transição no país, que iria desembocar na realização das primeiras eleições multirraciais sul-africanas, em 1994. O escrutínio foi ganho pelo líder do ANC Nelson Mandela, libertado em 1990, após 27 anos de cativeiro, tornando-se no primeiro chefe de Estado negro do país.

Em 1997, Botha recusou comparecer perante a Comissão Verdade e Reconciliação criada para investigar os crimes cometidos durante o “apartheid”. No centro das atenções estavam as actividades do Conselho de Segurança do Estado, por ele chefiado, e que se acredita ter autorizado a tortura e o assassínio de activistas “anti-apartheid”.

Numa entrevista controversa realizada este ano, por ocasião do seu 90º aniversário, Botha disse nunca ter considerado a população negra inferior. “Os negros e os mestiços sempre colaboraram connosco”, garantia Botha, que gostava de se apresentar como o primeiro Presidente a promover reformas raciais.

Uma presidência contraditória

Nascido a 12 de Janeiro de 1916, filho de um agricultor do Orange Free State, um dos bastiões “afrikaans” do país, Botha chegou à chefia do Estado sem nunca ter servido como militar nem se ter licenciado, já que abandonou a universidade para se juntar ao Partido Nacional (NP).

Durante a II Guerra Mundial, juntou-se a um grupo de simpatizantes do regime nazi alemão, opondo-se, como muitos da sua comunidade, à participação de sul-africanos nas forças aliadas.

Eleito para o Parlamento em 1948 – ano em que o NP chegou ao poder e começou a edificar o regime do “apartheid” –, Botha chega ao Governo em 1961, assumindo cinco anos depois a pasta da Defesa. Ao chegar à chefia do Governo, em 1978, insiste na necessidade de combater os movimentos “anti-apartheid”, que diz serem instigados pelo bloco comunista e que classifica como uma ameaça à segurança nacional.

Em 1983, sob forte pressão, força a aprovação de uma nova Constituição, considerada mais liberal, já que reconhecia direitos limitados de participação política aos asiáticos e mestiços, embora continuasse a excluir a maioria negra. Apesar do documento manter os pilares do regime, a iniciativa desagradou aos duros do "apartheid", mas Botha insiste, declarando que os brancos da África do Sul “tinham de adaptar-se ou morrer”.

No entanto, a cada passo em frente, seguiam-se dois atrás. Em 1986, na sequência de uma forte mobilização nas “townships” negras contra a nova Constituição, o Presidente declara o estado de emergência nacional, que daria origem a uma das piores vagas de repressão desde a instauração do regime. A polícia reprime duramente as manifestações, dezenas de pessoas são mortas e cerca de 30 mil detidas.

Anos depois, Adriaan Vlok, antigo ministro das polícias, declara perante a Comissão de Verdade e Reconciliação que Botha o felicitou pessoalmente por um atentado contra um edifício onde se pensava estarem refugiados activistas “anti-apartheid” – uma acusação que o antigo Presidente desmentiu numa carta enviada à comissão.

A repressão das manifestações acabaria por reforçar a condenação internacional do regime segregacionista, o que leva à aplicação de sanções económicas ao país. Pressionado interna e externamente, Botha volta a surpreender em 1989, quando manda chamar ao seu gabinete Nelson Mandela, então o mais famoso prisioneiro sul-africano, criando rumores de que se prepararia para o libertar – o que não chegou a acontecer.

Nas suas memórias, o líder africano admite ter sido surpreendido pela simpatia com que foi recebido pelo Presidente. Segundo o relato de Mandela, o único momento tenso do encontro ocorreu quando ele exigiu a libertação incondicional de todos os prisioneiros políticos. “Botha disse-me que, infelizmente não podia fazer isso”, lembra.

Meses depois, o Partido Nacional força a sua demissão e será De Klerk quem cumprirá a exigência.

Liderou o país nos anos mais repressivos do "apartheid"

Walter Dos Santos 01/Nov/06