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Emerson Fittipaldi: diferenças entre revisões

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Revisão das 19h28min de 27 de maio de 2004

Emerson Fittipaldi é nome de rua. Mas não adianta procurá-la, por exemplo, no bairro paulistano das Perdizes, onde ele passou a infância com a família. Os brasileiros o admiram muito, mas as bandeiras do reconhecimento deste paulistano estão fincadas em solo americano, numa simpática rua que cruza a região de South Miami, na cidade mais Importante da Flórida. São as placas da Fittipaldi Way, o caminho escolhido pelos moradores e autoridades da cidade para homenagear o único brasileiro, capaz de ostentar no currículo títulos na Fórmula 1 e também na Fórmula Indy. Emerson despertou o País para a emoção da F- 1 ao vencer o campeonato mundial de 1972 e repetiu a dose, dois anos depois. Na Indy, venceu, entre outras provas importantes, as mitológicas 500 milhas de Indianápolis, em 1989 e 1993, e faturou o titulo da temporada em 1989. Inclusive, na vitória de Indianápolis em 1993, aconteceu um fato bastante interessante: Quando Emerson estava em terceiro, viu a bandeira amarela e parou no boxe. A equipe estava a postos, mas ninguém se mexeu. Após uns 20 segundos, o mecânico gritou pelo rádio: "Venha rápido". Ele respondeu: "Mas eu estou aqui, droga". Segundos depois, percebeu o furo: Estava no boxe errado.

Fittipaldi foi o ídolo de Ayrton Senna e o de Nelson Piquet. Os dois admitiram ter se inspirado na carreira do piloto para construir as suas. Emerson, o "Rato", foi um campeão dentro do cockpit. Fora dele, "Emmo", como preferem os americanos, foi um homem de negócios rápido, dono de manobras ousadas e igualmente vencedor. Ele chegou a cativar o respeito até de lendas do automobilismo. Observe o depoimento de Juan Manuel Fangio sobre Fittipaldi: "Certa vez estava assistindo uma corrida pela televisão e vi que ele tomava as curvas toda vez da mesma forma, no mesmo lugar, um mestre da tranqüilidade". A paixão de Emerson pelos bólidos e a velocidade foi descoberta aos cinco anos, quando seu pai, o então jornalista esportivo Wilson Fittipaldi, resolveu levá-lo para assistir a uma corrida no autódromo de Interlagos, em São Paulo. "Quando o primeiro carro passou por mim, eu já sabia o que queria fazer da vida", lembra. Depois, quando anunciou que pretendia ser piloto, ouviu do pai: "Eu não vou te ajudar em nada, não vou comprar carro, você que se vire. Só aconselho a fazer bem-feito o que decidir fazer". O veículo mais próximo de um F1, pilotado por ele na infância, foi um kart. Antes disso, ajudava a acertar os carros do irmão Wilsinho, que já corria na época. Na garagem de casa, montou uma oficina para fabricar e vender motores. "Foi o trabalho na garagem que me deu dinheiro para começar minha carreira", diz. Aos 21 anos, foi campeão brasileiro de Fórmula V. Depois disso viajou. Na Inglaterra, começou disputando a Fórmula Ford e teve um excelente aproveitamento - de nove corridas disputadas, venceu três e chegou em segundo nas outras. O professor de pilotagem Jim Russel ficou impressionado e convidou o rapaz a participar da Fórmula 3. Não houve decepção: Emerson chegou em primeiro lugar em oito das 12 corridas e levou o titulo de campeão britânico da categoria. Seu primeiro convite para a Fórmula 1 surgiu nessa época. Frank Williams, em 1969, fez um convite a Emerson para que disputasse o mundial pela sua equipe. Depois, em 1970, ele insistiu para que o brasileiro fosse com ele à Itália, para ver um carro que estava sendo construído perto de Modena. A seguir temos o depoimento de Fittipaldi sobre o encontro: "Nessa época, o Frank ainda estava com algum dinheiro, porque me levou de avião, num vôo de carreira. O plano era ir e voltar no mesmo dia. A gente se encontrou na oficina dele em Londres e de lá fomos para o aeroporto de Heathrow, o Frank guiando e eu ao lado dele. Chegamos diante da porta principal do aeroporto, ele parou, pegou a pastinha, abriu a porta e deixou o carro com a chave no contato. Entrou no aeroporto e eu atrás. Fomos até a companhia aérea, ele me deu o bilhete, fiz o check-in e uma hora perguntei para ele: 'Frank, e o carro na porta?' Ele disse tranqüilamente: 'Não se preocupe, o carro já deve estar indo para o lugar mais seguro de Heathrow: o estacionamento da polícia. À noite, a gente pega lá. Não é prático?' O contrato porém, não foi concluído, pois Francisco Rosa, amigo e mecânico de Emerson, ficou sabendo que a Lotus iria convidar o brasileiro para um teste. O passaporte para a F1 estava entregue nas mãos de Colin Chapman, o diretor da equipe Lotus. "Era muito pressionado na F- 1. Além disso, existe ali um certo isolamento do mundo, os pilotos ficam muito solitários", contou Emerson. Mesmo assim, fez história na categoria mais importante do automobilismo mundial. Em 1972, aos 25 anos, foi o mais jovem campeão da Fórmula 1. O bicampeonato veio em 1974, pilotando um McLaren/Ford, após ter sido vice no ano anterior. Um fato interessante aconteceu com o brasileiro nesta temporada. Apareceu na Fórmula 1, um lorde inglês chamado Alexander Hesketh, que fez um carro, contratou James Hunt e queria contratar também "Emmo". Fittipaldi morava na Suíça, e o inglês ligou para o brasileiro e disse que queria conversar com ele, e que iria mandar um avião para busca-lo em Genebra. Observe o depoimento de Fittipaldi: "Fui, passei um dia com ele em Londres, recebi a oferta e já estava no aeroporto de Londres, para voltar, quando encontrei Frank Williams. Nos cumprimentamos, ele perguntou o que eu estava fazendo lá e contei sobre a proposta do lorde Hesketh. Depois também perguntei para onde ele estava indo e Frank disse, com ar muito natural: 'Ah, estou indo para Milão, hoje'. Eu quis saber em que vôo e ele respondeu: 'Não tenho vôo. Ainda não consegui dinheiro pra comprar passagem. Estou aqui no aeroporto para ver o que eu consigo'. Eu falei que o avião do lorde estava me esperando e podia dar uma carona até Genebra e depois ele poderia pegar um trem até Milão, sairia mais barato. Ele disse: 'Tá fechado!' Você imagina uma coisa dessa? O Frank Williams, que logo depois seria o rei da Fórmula 1, sem dinheiro para comprar uma passagem!" Fittipaldi, sem dúvida um piloto fantástico, era muito respeitado pelos colegas de profissão. Quando Keke Rosberg foi companheiro de equipe do "Rato", ele dizia ao seu engenheiro: "Faça os acertos que o patrão fizer", referindo-se ao brasileiro. As vitórias despertaram no campeão a vontade de ter sua própria equipe para disputar a F-1. Em parceria com o irmão Wilsinho, criou a Copersucar nos anos 70. A dupla perdeu dinheiro e prestigio com o projeto e Emerson afastou-se das pistas. O ciclo de triunfos do Rato, para muitos, havia chegado ao fim. Mas, anos depois, ele começou a mostrar os primeiros lances de uma impressionante capacidade de renovar a própria vida. Ressurgiu como piloto de ponta na Indy, em 1984, venceu as 500 Milhas de Indianápolis em 1989 levando o titulo da Indy neste mesmo ano. Sobre a vitória em Indianápolis, Emerson declarou: "Aquela foi a vitória mais emocionante da minha carreira! Na segunda parte da corrida eu tinha assumido a liderança e, quando faltavam dezoito voltas, fui reabastecer aproveitando uma bandeira amarela. Emocionado com a possibilidade da vitória, que estava próxima, o dono da nossa equipe, o "Pat" Patrick, mandou o pessoal encher o meu tanque, em vez de colocar só o suficiente para eu chegar até o final. Aí o carro ficou pesado e, quando a corrida reiniciou com bandeira verde, vi o Al Unser Jr. se aproximando. Em Indianápolis os caras erram... fica todo mundo louco naquela pista. Lembro que para mim parecia aquele pesadelo, de repente você está afundando na areia movediça e o cara está te alcançando atrás. Acelerava o carro e o carro não andava na reta, eu olhava no espelho e o Al Unser chegando. Aí eu falava comigo: 'Não vou perder as 500 milhas de Indianápolis depois de ter liderado tanto tempo, não vou perder, não vou perder'. Aí, faltando umas quatro voltas, peguei um tráfego, o pessoal me atrapalhou um pouco e ele me passou. Na volta seguinte foi a vez dele pegar o tráfego na minha frente. Eu vim embalado com meu carro muito pesado, peguei o vácuo dele e sai, mas ele me fechou até a grama. Nós descemos para a terra - faltavam três voltas para acabar a corrida -, fomos chegando para a curva 4, eu por baixo e ele por fora. Olhei com o rabo do olho e vi a cabeça dele assim pra frente, e pensei: 'Ele não vai tirar o pé e eu não vou tirar o pé'. Entramos na curva sem tirar nada do acelerador - nunca fiz isso na minha vida. Tem horas no automobilismo em que a gente se arrisca mesmo. Entramos na curva lado a lado, aí o meu carro saiu de traseira, bateu no dele, aí o dele saiu virando, eu quase virei, controlei, e foi assim que eu ganhei a corrida. Graças a Deus ele não se machucou", disse o "Rato". Outra grande disputa aconteceu com o "Leão" Nigel Mansell. "Em Cleveland, no primeiro ano de Mansell na Indy, em 1993, a gente trocou sete vezes de posição em duas voltas, no meio da corrida. Foi impressionante, ele me passava, eu passava... Foi o limite, talvez, a que um piloto pode chegar do outro. Ficamos roda com roda, numa distância assim (fecha o polegar e o indicador lado a lado, quase se tocando). Foi demais, principalmente para mim que acabei chegando na frente. Acho que nunca mais vou ter isso na minha vida. Nem ele", comentou Fittipaldi. Em 1995, um dos momentos mais tristes do "Rato". Ele não conseguiu se classificar para as 500 Milhas de Indianápolis, em virtude de erros cometidos por seu chefe de equipe, o americano Roger Penske. Mesmo assim, Fittipaldi saiu consagrado da derrota. No dia da prova, quando entrou meio envergonhado no grid de largada, para desejar boa sorte aos seus colegas, o piloto brasileiro viu o público se levantar e gritar o seu nome. Foi a premiação que faltava a este paulistano que, embora tenha nascido em família de classe média, se fez rigorosamente sozinho. Em duas ocasiões, Emmo escapou da morte. Na primeira, conseguiu se recuperar do violentíssimo acidente em 28 de julho de 1996, em Michigan. O piloto bateu no muro da pista a 300 km/h e teve uma vértebra cervical esmagada. Os médicos disseram que ele escapou por um milagre de ficar tetraplégico. Um mês depois, recuperado, despediu-se das pistas. Em setembro do ano seguinte, o piloto passou por um pesadelo com o filho Luca, na época com seis anos. O ultraleve pilotado por Emerson caiu de uma altura de 100 metros, em um brejo de uma de suas fazendas, em Araraquara (SP). O piloto, com uma fratura na segunda vértebra lombar, e o menino só foram resgatados 11 horas e meia após o acidente. As vitórias continuaram fora das pistas. Há cálculos dando conta de que a movimentação financeira de seus negócios bateu em 1998, a casa dos US$ 30 milhões. Emerson passa a maior parte de seu tempo com a família, em Miami. O assédio dos moradores o deixa orgulhoso. As caminhadas por South Miami são outro motivo de satisfação. São poucos os que podem caminhar e encontrar o próprio nome estampado na placa da esquina. O que ele havia decidido fazer na adolescência estava bem feito.