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Nelson Piquet: diferenças entre revisões

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Revisão das 19h30min de 27 de maio de 2004

O carioca Nelson Piquet Souto Maior , nascido no Rio de Janeiro em 17 de agosto de 1952, é dono de uma sinceridade cruel e de três títulos de Fórmula 1 (1981,1983 e 1987). Seus fãs admiram o piloto e também o homem. Elogiam suas declarações polêmicas com o mesmo ardor um dia dedicado à comemoração de suas vitórias. Exemplo de sua mordacidade: "Alain Prost é cheio de frescura, Keke Rosberg é muito confuso, René Arnoux é um panacão, mas o Niki Lauda é legal." Quando o mundo inteiro chorava a morte prematura de Ayrton Senna, em 1994, Piquet declarou: "Um piloto de Fórmula 1 só ganha milhões de dólares porque convive com o risco de morrer. As pessoas grudam os olhos na televisão durante as corridas porque sabem que é o perigo de um acidente fatal o que dá graça a esse esporte." Entre marketing e currículo, Nélson Piquet não hesita em ficar com o segundo, mesmo porque o seu, na F1, não é de se jogar fora: 206 GPs disputados, três títulos, 23 vitórias, 24 poles, 23 voltas melhores voltas, 483,5 pontos e 60 pódios, em 13 anos de carreira. Piquet, que estudou em três faculdades: filosofia, engenharia e administração, mas que não concluiu nenhum curso, conheceu as pistas em um kart, aos 16 anos de idade. Como não recebia ajuda dos pais, empregou-se na Câmber, firma especializada na preparação de motores Volkswagen pertencente a Alex Dias Ribeiro. Foi na Câmber que começou a aprender mecânica. Quando Alex abandonou o Patinho Feio, construído em Brasília, Piquet entrou para o automobilismo ganhando, com esse carro, sete das oito provas da Copa Planalto de Automobilismo. Em 1974, passou a correr na Fórmula Super V, aparecendo como grande revelação da temporada. Em 1975 perdeu o título por falta de sorte, pois já despontava como o mais rápido piloto da categoria. Na época, seus país ainda não apoiavam a carreira e uma das saídas para driblar a vigilância foi usar o sobrenome adulterado. O brasileiro assinava "Piket" nos capacetes e macacões. No ano seguinte, controlou as resistências familiares e conquistou o primeiro titulo na Super-V. Entusiasmado, foi para a Inglaterra em busca de maior espaço. Sua maior barbeiragem viria a acontecer em 1977. Numa etapa na Bélgica, Piquet na hora da largada engatou a marcha errada, simplesmente meteu uma ré. O carro saiu patinando para trás e provocou o maior acidente a partir da segunda fila. "No meu carro só tocaram de leve e eu fui em frente. O mais engraçado é que os caras botaram toda a culpa no carro que vinha atrás de mim, ninguém queria acreditar que eu tinha metido uma ré na largada", disse o brasileiro. No dia 18 de julho de 1978, às 13h30min no pequeno condado de Luton, perto de Londres, começava a história de Nélson Piquet na Fórmula 1. O brasileiro estava num pavilhão com mais de mil metros quadrados, assessorado por três ingleses. Ele não estava entrando na pista, mas tinha à sua frente, um McLaren M23 apoiado por dois cavaletes. Mal chegou, começou a ouvir atentamente as palavras de Dave Simms, chefe da equipe Chesterfield-McLaren, como um aluno aplicado. Depois, um tanto encabulado, subiu no protótipo. A seu lado, o mecânico Gregory Siddle, ou simplesmente Piauí para Piquet, demonstrando um certo orgulho ao ver seu então piloto de Fórmula 3, acomodar-se no banco do F1. Na verdade, não era a primeira vez que Piquet sentava num F1, nem num McLaren. Quando o carro de Emerson, com o qual ele foi campeão, esteve em exposição em Goiânia foi Nélson quem o transportou para São Paulo. "Depois de colocá-lo na minha carreta, fechei a porta e, sem que ninguém me visse, entrei no carro. Chegou a dar uma sensação estranha", disse o brasileiro. Seu primeiro teste oficial, foi em Silverstone, um circuito veloz, que já foi responsável por muitas promoções e outras tantas decepções, para aqueles que sonharam tornar-se pilotos de grand prix. "Acho que tenho uma boa estrela. Alguns amigos me aconselharam a só pilotar um F1 depois de ter um contrato assinado. Acho uma boa política, mas esta é a grande chance e vou aproveitá-la". Na verdade, Nelsinho sabia que era um dos pilotos do momento na Inglaterra. Uma daquelas aves raras que só aparecem de anos em anos. O próprio convite de Bob Sparshott, para que ele testasse o McLaren M23, não devem ser entendidos como um episódio isolado. Sparshott, proprietário da BS Fabrications F1, uma fábrica, que na década de 70, construía suspensões, aerofólios e outros componentes para a Lotus e McLaren, tinha planos ambiciosos. Pretendia que o piloto brasileiro participasse de provas ainda em 1978, o que de fato ocorreu. No teste de Silverstone, nem bem Piquet encostou no box nº 9 da pista inglesa, depois de completar 35 voltas pelo circuito ao volante do McLaren 23, Bob Sparshott se dirigiu ao brasileiro de mão estendida, dando-lhe parabéns. Terminava ali, o primeiro contato de Nelsinho com um Fórmula 1. Não sem antes uma revelação surpreendente de Sparshott: - Você sabe quem foi que chamou nossa atenção, que recomendou que lhe oferecêssemos um teste? - Não - respondeu Piquet, com ar de espanto. - Pois foi Jack Brabham. O old Jack veio ver a corrida do filho, Geoff Brabham, na Fórmula 3, e ficou impressionado com o desempenho do brasileiro, principalmente na entrada da gincana da Woodcote, onde era o mais rápido. Sem dúvida, um grande elogio, que partia de um tricampeão do mundo para um piloto que ele sequer conhecia, e que estava apenas iniciando a carreira no automobilismo internacional. Dias depois do teste mais uma alegria: Piquet conquistava o título inglês da Fórmula 3, abordo de um Ralt. A corrida, disputada no circuito de Donington Park, foi vencida por Derek Warwick. Nos treinos de classificação, Piquet foi o mais rápido, marcando o tempo de 1m16s01. Na prova, largando da pole-position, ele procurou apenas não forçar demais seu Ralt. Afinal, líder do campeonato com uma boa vantagem sobre os demais concorrentes, não precisava brigar pela vitória. bastava chegar até o fim, marcando mais alguns pontinhos. E foi o que Nelsinho fez. Principalmente depois que Chico Serra abandonou a prova por problemas de pneus. Assim, sem marcar pontos, Serra perdeu a chance de lutar pelo título. E faltando três provas para o final do campeonato, Piquet sagrou-se campeão - o primeiro brasileiro a realizar tal façanha, depois de Emerson e José Carlos Pace. A hegemonia de Piquet na F3 de 1978 foi tão esmagadora, que o brasileiro praticamente trabalhou como test-driver da Ralt. Numa prova da F3, por exemplo, vários pilotos que corriam também com Ralt, encaminharam reclamações a Ron Taunarac, projetista deste chassi, argumentando que apenas o carro brasileiro apresentava um bom rendimento. Ele aceitou as queixas e começou a se preparar para a corrida seguinte. O que fez? Antes dos treinos oficiais, mandou tirar xerox dos acertos feitos por Piquet e sua equipe, distribuindo cópias para os demais concorrentes equipados com o mesmo carro. No final das tomadas de tempo, aconteceu o inevitável: Nelsinho estava na pole-position. Taunarac não teve dúvidas: novamente distribuiu suas cópias, contendo desta vez os tempos de cada volta, calibragem dos pneus, inclinação do aerofólio e tudo o mais que se relacionava ao acerto do Ralt de Piquet à pista. Só faltou mesmo dar a relação de marchas. Foi sem dúvida, uma prova de confiança no talento do brasileiro. Piquet é que não gostou muito da história, achando que o velho projetista de Jack Brabham estava entregando seu segredo aos adversários. Nessa época, um estranho hábito do brasileiro começava a chamar a atenção. Piquet cochilava em pleno grid. Alguns espertos de plantão, dizia que aquilo era uma forma de relaxamento. O brasileiro tinha outra versão. "Era ressaca mesmo, das noitadas dos dias anteriores as corridas". Nélson Piquet também fazia inovações. Hoje, por exemplo, todo mundo aquece os pneus antes de botar para rodar um Fórmula 1. Nos tempos da F3, Piquet esquentava o carro inteirinho, armando uma casinha de lona em cima do carro, onde esquentava tudo. O Brasileiro estreou oficialmente na F1, no GP da Alemanha, no cockpit de um Ensign/Ford. Após uma breve passagem pela McLaren, desembarcou na Brabham, ficando até 1985. Foram anos produtivos para a parceria entre o piloto e a equipe britânica, onde Piquet chegou a ser companheiro de Niki Lauda. "Aprendi muito ouvindo o Lauda conversar com os mecânicos. Eu chegava de mansinho e ficava atrás dele, para não ser visto", disse Piquet. No período de Brabham, Piquet conquistou seus dois primeiros títulos em 1981 (com um motor Ford) e dois anos depois, beneficiado pela regularidade dos propulsores da fábrica alemã BMW. Em 1982, na África do Sul, os pilotos se uniram contra a Federação Internacional de Esportes Automobilísticos, que pretendia criar uma legislação trabalhista para a categoria. Em protesto, não treinaram por 24 horas. No dia seguinte, tudo voltou ao normal, exceto para Piquet, obrigado a ficar no box por determinação de Bernie Ecclestone, então dono da Brabham. A alegação foi a de que o brasileiro estava cansado. Mas, na verdade, tratava-se de um castigo. A ausência quase desclassificou o brasileiro do campeonato. Em 1983, Piquet foi bicampeão, derrotando Alain Prost por apenas dois pontos. Era também o ano do título de Ayrton Senna na Fórmula 3 inglesa. Em virtude disso, Bernie Ecclestone resolveu realizar um teste com Senna, comparando-o com Piquet. Nélson, que tinha a experiência de seus títulos mundiais e um maior conhecimento do carro da Brabham, pelo o qual havia competido o ano inteiro, apostou com Ecclestone cem mil dólares, que Senna não conseguiria ficar no seu segundo. "Não é possível, que você corra o ano inteiro no carro e conheça tudo o que conheço, e um cara que por melhor que seja, sente num carro pela primeira vez e ande no mesmo segundo que você", comentou Piquet. Senna ficou 1s9 atrás de Nélson, onde o acordo para o teste era que só poderia se usar apenas um jogo de pneus. Ayrton usou 5 jogos. Nos campeonatos de 1986 e 1987, o piloto acumulou vitórias na inglesa Williams, com motor Honda Turbo, e desentendimentos com seu companheiro de equipe, o inglês Nigel Mansell. Na primeira temporada, ficou desiludido, após verificar que a equipe estava dando mais atenção a Mansell, do que a ele, que era o primeiro piloto. Inclusive, um erro do box no GP do México, pode ter sido o responsável pela perda do título desse ano. "No meio da corrida, eu avisei que ia parar para botar pneus com um composto de borracha mais duro. Só que eles não estavam bem preparados e acabaram colocando os pneus da frente com a calibragem errada. Resultado: dei dez voltas e tive de encostar de novo para nova troca. Ali me atrasei, perdi posições e os pontos necessários para brigar com o Prost pelo título", disse o brasileiro. Em 1987, conseguiu o tão sonhado tricampeonato, com 76 pontos, apesar de ter sofrido um grave acidente em Ímola, na mesma curva que viria vitimar, anos depois, o brasileiro Ayrton Senna. "Não foi um problema de pneu, nem foi um erro. Eu e o resto da equipe sabemos que foi um problema mecânico. Não vou culpar ninguém. Foi um acidente, já passou e eu já esqueci", relatou Piquet. Depois do acidente, Piquet comentou que permaneceu com seqüelas: "Quando eu bati a cabeça, fiquei lento. Perdi a profundidade de aproximação, da vista mesmo, fiz os testes depois. Eu não sabia a hora de frear, só depois de muito tempo, que recuperei". O brasileiro foi novamente boicotado pela equipe inglesa, em detrimento de Nigel Mansell: "Eu não tinha confiança na Williams. Fiz um acordo de boca com os caras. Disse que eu desenvolveria a suspensão ativa inteirinha, mas quando ela ficasse boa, só eu usaria. Eles toparam, mas me deram um prazo, que seria até a corrida de Monza. Aí, eu trabalhei, ficou boa, corri em Monza, ganhei e na outra prova deram para o Mansell", disse Nelson. Nos anos seguintes, contratado pela Lotus, não teve mais carro para ser campeão. Na primeira temporada, ficou em sexto lugar, com 22 pontos. Na segunda, terminou em oitavo, com apenas 12 pontos. Quando se transferiu para a Lotus, Piquet teve uma série de regalias, onde o segundo piloto não podia tomar sua posição, além de receber um belo salário, maior do que o de Ayrton Senna, quando este corria pela equipe britânica. Apesar de ter sido sondado para correr na McLaren, Piquet preferiu a Lotus, pois não teria que conviver com Alain Prost. O brasileiro, em seu primeiro teste na equipe, soltou o verbo contra seu desafeto Ayrton Senna: "Minha primeira providência a tomar, quando correr pela Lotus, será desinfetar o banco". Suas desavenças com os repórteres que acompanhavam a Fórmula 1, fizeram história. Chegou a ganhar o Prêmio Limão, dado sempre ao personagem mais antipático. Certa vez, deu uma entrevista fantasiosa a uma repórter argentina, só para se livrar dela. Entre outros absurdos, Piquet disse que os resultados da Fórmula 1 eram arranjados e que tudo fora acertado para ele conquistar um título mundial. A repórter, ingenuamente, publicou a entrevista na íntegra. Outra história do mau humor de Piquet, era verificada antes dos GPs. Quando alguém pedia ao brasileiro alguma previsão sobre suas corridas, o tricampeão costumava responder: "Não sei. Não tenho bola de cristal". Em 1988, um escândalo. Num depoimento à Revista Playboy, Nélson Piquet comprou uma briga com a torcida mais fanática do automobilismo, a ferrarista, ao chamar Enzo Ferrari de 'gagá'. Veja na íntegra, a declaração de Piquet: "O Velho tem 90 anos e está completamente gagá. A Fiat que é meio dona da Ferrari, sabe disso e está louca pra se livrar dele, mas não pode. Então, a Fiat só está esperando o homem bater as botas para entrar com tudo na equipe, demitindo todo mundo e montando sua própria estrutura". O ciclo na F-1 foi encerrado na Benetton/Ford, nos campeonatos de 1990 (terceiro lugar, com 43 pontos) e 1991 (26,5 pontos). Chegou-se a especular que Piquet iria para a Ligier, que contaria com o melhor motor da época, o Renault, onde teria como companheiro Alain Prost e como projetista Gerard Ducarouge, seu inimigo pessoal, que projetou o horrendo Lotus/Honda 100 T de 1988. Tudo, porém, não passou de fantasia. Piquet ainda ensaiou um retomo em maio de 1992, nas 500 Milhas de Indianápolis, mas um choque violentíssimo contra o muro, ainda nos treinos, abortou o sonho. Piquet ficou preso nas ferragens por 15 minutos. Teve fraturas múltiplas na parte inferior das pernas e dos pés. Recuperado do acidente, abandonou as pistas, mas jamais manifestou qualquer indício de autopiedade. Coerente, sempre soube que o perigo o espreitava a cada curva. Decidiu matar a saudade com algumas corridas na Fórmula Uno, pela equipe Sinal/Taurus, e uma participação nas 24 Horas de Nürburgring, na Alemanha. Hoje, os olhos de Piquet estão voltados para Nelson Ângelo Piquet, quarto de seus cinco filhos. O menino sagrou-se campeão brasileiro de kart na categoria Júnior Menor, em 1997. "Ele é melhor do que eu. Gosta de correr, é disciplinado e não faz corpo mole", analisa o piloto, segundos antes de arrematar, no melhor estilo ranzinza. "Se quiser continuar a correr, terá que tirar boas notas na escola."