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Cinema do Brasil: diferenças entre revisões

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Revisão das 19h16min de 26 de maio de 2004

Um pouco da trajetória do Cinema Brasileiro

Em março de 1990, com a extinção da Embrafilme e do Concine, o cinema brasileiro, que se aproximava do fundo do poço, afunda de vez. Nossa cinematografia que, qualitativamente, teve seu apogeu nos anos 60, já vinha se enfraquecendo desde o fim da década de 70. Os motivos dessa crise eram variados: morte prematura do Cinema Novo, contínua ascensão do cinema norte-americano, popularização da televisão, crise econômica da década de 80 etc. Alguns números iluminam a cena: em 1978 produzimos uma centena de longas; o público ultrapassa 60 milhões – um terço dos ingressos vendidos; Dona Flor e seus dois maridos (76), de Bruno Barreto, leva mais de dez milhões de pessoas aos cinemas – nossa maior bilheteria até hoje. Para comparar: Titanic teve 16 milhões e 400 mil espectadores. Em 1975 o número de salas era de aproximadamente 3.300, das quais mais de 80% em cidades do interior. Então começamos a descer a ladeira mais rapidamente e chegamos a produzir menos de dez filmes entre 1991 e 1994. Salas e mais salas são fechadas; hoje existem algo em torno de 1.300, pouquíssimas no interior. No ano de 1991 apenas 1% do público que foi ao cinema assistiu a filmes nacionais. Para comparar: em 1982 as produções brasileiras abocanharam 35% dos ingressos vendidos. Na verdade o ato do ex-presidente Collor, extinguindo a Embrafilme e o Concine, foi apenas o golpe final, uma vez que entre 1985 e 1990 pouco se realizou em termos de cinema no país. “A Embrafilme limita a criatividade...”, dizia Glauber em 1978. A única coisa boa no período foi a safra de curtas, de excelente qualidade, que ganhou vários prêmios no exterior, mas que, por aqui, ninguém assistiu, por falta de exibidores, divulgação etc. O setor se transformou num foco de resistência contra a derrocada e atualmente produz cerca de uma centenas de filmes por ano.

Subindo a ladeira

Com a aprovação da Lei do Audiovisual, em 1994, esboça-se a retomada da produção nacional. O primeiro sinal desse renascimento foi Carlota Joaquina, princesa do Brazil (94), de Carla Camurati. O filme, uma espécie de marco zero da era pós-Collor, leva um milhão e 300 mil pessoas aos cinemas. É pouco, diante dos números dos tempos áureos, mas é significativo se compararmos com os anos de 1985 a 1994, ou mesmo com o público alcançado pela maioria dos filmes atuais. Entre 1996 e o ano passado foram lançados 64 filmes, sendo que em 1998 eles conquistaram 5% da bilheteria. Para este ano espera-se o lançamento de meia centena de longas e a conquista de pelo menos 15% do público. Aliás, a questão crucial do cinema brasileiro hoje, gira em torno da distribuição e da exibição. A pergunta é: existe cinema sem público? Por exemplo: Os matadores, de Beto Brant, um dos melhores filmes da nova safra, foi visto por menos de 40 mil pessoas. A demora para entrar em cartaz é outro problema. Duas dezenas de filmes estão à espera de uma brecha para serem exibidos. A Loura incendiária, de Murilo de Lima, está pronto desde 1995; As feras, de Walter Hugo Khouri, e Mário, de Hermano Penna, estão prontos desde 1996, mas continuam inéditos. Além disso, quando um filme entra em cartaz fica pouco tempo em exibição, a maioria confinados no circuito alternativo. Boleiros, Alma corsária, Um céu de estrelas, Bocage, O sertão das memórias, Dezesseis-zero-sessenta, Amor & Cia., Como nascem os anjos, A ostra e o vento, O baile perfumado, entre outros, foram muito bem recebidos pela crítica, mas o grande público não viu. Por exemplo: a décima maior bilheteria entre 1992 e 1998 – Todos os corações do mundo, de Murilo Salles – teve 265 mil espectadores. Nesse período as dez maiores bilheterias alcançaram pouco mais de sete milhões e seiscentas mil pessoas. Central do Brasil, o maior sucesso dos novos tempos, teve cerca de um milhão e meio de público. Para comparar: A dama do lotação (78), de Neville d’Almeida, alcançou quase sete milhões de espectadores. Claro que o problema não é recente: o Cinema Novo fez a cabeça da crítica brasileira e atingiu prestígio internacional, mas não foi um sucesso de bilheteria. Acusado de ser intelectual demais, o Cinema Novo, que projetou a imagem do Brasil no mundo na década de 60, não agradou as massas, das quais – e para as quais? – invariavelmente falava. Há desinformação e preconceitos contra o cinema nacional? Claro que há. Mas não é de hoje e não se restringe às classes populares. O ingresso encareceu? Sim. O valor médio, no início dos anos 70, era de US$ 1,30 e atualmente se aproxima dos US$ 5.00. As produções também encareceram? Também. Todos os corações do mundo custou R$ 9 milhões; Guerra de canudos, R$ 6 milhões; Tieta e For all, R$ 5 milhões cada. De acordo com cálculos do mercado, para cada real investido é preciso levar um espectador ao cinema, do contrário o filme não se paga. Pergunta: o cinema brasileiro tem saída? Eis um assunto para outra ocasião.