Ugo Picchi

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Ugo Picchi
Hugo Picchi

Hugo Picchi e Ignez Taddei no dia de seu casamento
Nome completo Hugo Picchi
Nascimento 15 de fevereiro de 1906
Porcari, Itália
Morte 4 de junho de 1966 (60 anos)
Jundiaí, Brasil
Nacionalidade ítalo-brasileiro
Ocupação microempresário (comerciante e agricultor)

Ugo Picchi (Porcari, 15 de fevereiro de 1906Jundiaí, 4 de junho de 1966) foi um comerciante e agricultor ítalo-brasileiro.

Infância[editar | editar código-fonte]

Filho de Daniele Picchi e Elisa Pinocchi, aos dois anos de idade veio com a família para o Brasil e passou a residir no bairro de Vila Arens, em Jundiaí.

Por muitos anos seus pais mantiveram a grande casa que possuíam em Porcari e dividiram o tempo entre a Itália e o Brasil, tendo filhos nascidos em ambos os países. Desta forma, não estranhamos encontrar registro do patrocínio de Daniel (Daniele) Picchi à Festa de Nossa Senhora do Rosário, na Igreja de San Giusto em 1928[1].

Lucia e Roberto Picchi


Hugo permaneceu no Brasil e seus primeiros anos escolares foram cursados no então Grupo Escolar "Coronel Siqueira de Moraes" tendo concluído o curso primário em 1917, dando continuidade a seus estudos, cursou o Ginásio "José Bonifácio", tendo sido aluno do eminente professor Giácomo Ítria, diplomando-se no curso de Comércio desta escola em 1921[2].

Quanto à organização escolar existente naquela época é Maria Luiza Santos Ribeiro quem afirma que "a série de reformas pelas quais passa a organização escolar revela uma oscilação entre a influência humanista clássica e a realista ou científica. O código epitácio Pessoa (1901) acentua a parte literária ao incluir a lógica e retirar a biologia, a sociologia e a moral; a Reforma Rivadávia (1911) retoma a orientação positivista tentando infundir um critério prático ao estudo das disciplinas, ampliando a aplicação do princípio de liberdade espiritual ao pregar a liberdade de ensino (desoficialização) e de frequência, abolindo o diploma em favor de um certificado de assistência e aproveitamento, e transferindo os exames de admissão ao ensino superior para as faculdades, com o objetivo de que o secundário se tornasse formador do cidadão e não do candidato ao nível seguinte. Os resultados, no entanto, foram desastrosos. Daí as reformas de 1915 (Carlos Maximiliano) e de 1925 (Luís Alves/Rocha Vaz)."[3]

Convém notar que em 1916 havia 42 escolas italianas funcionando na cidade de São Paulo, atendendo a 3.829 alunos, [4] o que é um contingente bastante significativo para a época. Igualmente, havia inúmeras destas escolas espalhadas pelo interior paulista, em cidades como Campinas e Jundiaí por exemplo.

Vida profissional[editar | editar código-fonte]

Aos quinze anos, Hugo iniciou-se no comércio, abrindo seu próprio açougue, atividade à qual se dedicou por mais de 40 anos. Cabe notar que grande parte da família Picchi dedicava-se ao mesmo ramo[5], constando no passaporte de Daniel (Daniele) Picchi a profissão "macelaio" (açougueiro).

Família Picchi (o pequeno Hugo está à esquerda da mãe)

Precisamos contextualizar que "no final do século XIX e início do século XX, os açougues e os panifícios eram considerados como fábricas."[6]

Hugo destacou-se por introduzir na cidade o sistema de entrega a domicílio. Seu primeiro estabelecimento comercial o "Açougue Minerva" foi instalado na Rua Prudente de Moraes, sendo posteriormente transferido para a antiga Rua Capitão Damásio, atual Rua Marechal Deodoro da Fonseca, no centro comercial de Jundiaí, onde funcionou até 1970, já então sob a direção de seus filhos.

Vida familiar[editar | editar código-fonte]

Casou-se com Ignez Taddei, filha de tradicional família da cidade [7], em 24 de setembro de 1933, e desta união nasceram oito filhos, sendo que o primeiro, Pedro, morreu ainda criança (1934). Os sete filhos sobreviventes foram Ugo (6/9/1935), pai do ator Hugo Picchi, Ignez Apparecida (16/10/1936), José Roberto (24/12/1937), Antonio Carlos (18/06/1940 - 14/06/1982), João Lino (11/06/1942), Maria Lenita (30/11/1944) e Ana Maria (16/10/1949).

Suas três filhas formaram-se professoras (Ignez, a mais velha, em 1955) e seus filhos (embora tenham mantido o açougue até 1970) seguiram carreiras diferentes, pois sempre foi respeitada a opção de cada um.

Hugo e Ignez no dia de seu casamento

Produtor rural[editar | editar código-fonte]

Em 1930 adquiriu, no então longínquo Bairro do Poste, em Jundiaí (hoje parte do município de Louveira), uma gleba de terra que passou a chamar-se "Sítio Nossa Senhora Aparecida", o seu segundo amor.

Em seu sítio desenvolveu a cultura do algodão , o plantio de uvas de mesa de excelente qualidade, recebendo prêmios em exposições agrárias da cidade. Paralelamente, manteve criações de gado bovino e suíno, além das culturas de sobrevivência. Seu apego à terra era tanto , que nem mesmo as estradas ruins da época, a chuva, a lama o desencorajavam de ir ao sítio quase que diariamente para dedicar-se às suas plantas e animais.

Sobre a produção da uva e do vinho na época, vários estudos há a respeito, podendo ser destacado trabalho recente de Gabriela de Souza Oliver[8] a qual nos fala da transformação das antigas fazendas de café, nesta região, em sítios menores - normalmente propriedades de imigrantes ou filhos de imigrantes italianos - que irão se dedicar a vitivinicultura. A autora demonstra o quanto a produção de uvas confere de status a estes pequenos produtores rurais, que começam a organizar festas da uva, feiras e exposições e a reorganizar a economia de vários municípios do interior do estado de São Paulo.

A região de Jundiaí terá grande destaque nesta produção, especialmente a partir de 1930, conferindo ao Município o título de "Terra da Uva".

Hugo contribuiu decisivamente para o progresso da agricultura no Município, incentivando amigos e até mesmo meeiros na aquisição de terras e lhes transmitindo sua experiência adquirida ao longo do tempo que dedicou-se à agricultura. Esta contribuição explica porque hoje existem duas ruas, uma em Jundiaí e outra em Louveira (que pertenceu a Jundiaí até 1948) batizadas com o seu nome.

Colaborava com as Entidades Assistenciais do Município[9], não sendo raro receber no sítio de sua propriedade as crianças do Educandário Nossa Senhora do Desterro[10] para piqueniques, especialmente no dia primeiro de maio.

Em 1959, como prova de seu amor e dedicação à terra onde cresceu e que tão bem o acolheu, naturalizou-se cidadão brasileiro legalmente, já que de coração sempre o fora.

Posteridade[editar | editar código-fonte]

  • O Município de Jundiaí, onde cresceu, sempre viveu e morreu, através da Lei nº 5.162/1998 (Promulgação 21/08/1998; Publicação 25/08/1998), de autoria do vereador Aylton Mário de Sousa, denominou "Avenida Hugo Picchi" a Avenida Marginal do Parque Centenário.[11][12]
  • Também na Imprensa Oficial de Louveira, foi publicada em 19 de junho de 2002, página 02, a Lei nº 1552/2002, de autoria da Vereadora Nanci Ivanilde Orestes, em cujo artigo 1º estabelece:"Fica oficialmente denominada de "Estrada Hugo Picchi"'a via pública localizada no Bairro Santo Antônio, começando na confluência da Estrada Pau-a-Pique e Avenida Ricieri Chiqueto, seguindo sinuosamente por 1800 (um mil e oitocentos) metros até a divisa de Jundiaí, conforme "croqui" e memorial descritivo, da Prefeitura de Louveira - Secretaria de Obras e Serviços Públicos."[13][14]

Referências

  1. Transcrição do documento, cuja imagem encontra-se disponibilizada na "galeria": Celebrandosi con devoto apparato La Trienale Festa di MARIA SS. DEL ROSARIO nella Chiesa Parrocchiale e battesimale di San Giusto in Porcari nei giorni 6, 7 e 8 ottobbre 1928 -- Figura da Virgem do Rosário -- ai meriti distinti dell'egregio signore DANIELE PICCHI di detto luogo si dedica il seguente SONETTO: Virgin, da cui tanta pietà si mostra/Ver noi, che ogn'alma a ben sperare invita,/Virgin rifugio al peccatore, e aita,/Bella Madre di amore, e madre nostra.//Ogni il popol fedele a voi si prostra,/Nostra speme, salute, e nostra vita,/E del santo Rosario, a Voi gradita/Corona, e i pregi inalza, a gloria vostra.//Ben so, che lieta compensare il zelo/Di chi mirate, ma coronarvi, intento,/L'augusta fronte di gigli, e di rose;//Ma fate, o Madre Nostra, che contento,/Quanti bei serti di sua man compose/A voi, ciascun venga a mirarli in Cielo.FESTAIOLI - Matteoni Attilio - Pellicciotti Arcangelo - Giovanni Toschi - Giuseppe Tomei
  2. transcrição do Diploma: Gymnasio José Bonifácio Escola de Commercio Annexa, Jundiahy. Estado de S. Paulo.(cabeçalho impresso) Eu, director do gymnasio José Bonifácio de Jundiahy attesto que o sr. Hugo Picchi, nascido a 15 de Fevereiro de 1906 em Porcari Itália. frequentou durante os annos de 1918-19-20-21 o Curso Commercial, anexo ao mesmo gymnasio sendo plenamente approvado em todas as materias leccionadas no mesmo curso.Jundiahy, 1º de novembro de 192(ilegível). O director Giacomo Itria (a parte em Itálico está manuscrita e após a assinatura do diretor há o carimbo circular da escola)
  3. RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da Educação Brasileira: a organização escolar. 13ª ed. rev. e ampl. Campinas-SP: Autores Associados, 1993 (coleção educação Contemporânea)
  4. PEPE, Gaetano. La scuola italiana in San Paolo del Brasile. Pocai & Comp, São Paulo, 1916, p. 56
  5. "A família Picchi, já aludida, como atesta minha prima Ruth Picchi Piccolo, tem origem na imigração de Angelo Picchi ( * Porcari - Província de Lucca - Toscana ), imigrou em 1.894, tendo voltado à Itália em 1.898, para casar-se com Elide, de quem teve sete filhos. Na Itália, Angelo pertencia a uma família de "macelai", vindo a exercer e transmitir a todos os seus filhos tal ofício. Tendo todos eles montado açougues na cidade e mantendo uma invernada de engorda no bairro, que por isso levou o nome de Engordadouro, formaram uma sociedade que, em 1.959, tornou-se o Frigorífico Guapeva S.A., um dos maiores do Estado. É mais uma das provas da tendência dos imigrados em tentarem exercer seu ofício após a migração." - ECCO!
  6. O papel da cidade do Rio Grande (RS) na economia rio-grandense durante a industrialização dispersa (1873/1930). Solismar Fraga Martins, p.9
  7. O pai de Ignez, Pietro Taddei (Tierno di Mori, 10 de maio de 1864 - Jundiaí, 26 de março de 1946) foi homenageado em 17 de setembro de 1959 com o nome de uma rua pela Lei municipal 737, sendo posto em relevo, em sua biografia, o empreendedorismo imobiliário e a Benemerência (vide texto da Lei).
  8. Debates científicos e a produção do vinho paulista, 1890-1930, Revista Brasileira de História
  9. recebeu em 11 de fevereiro de 1952, o Diploma de Sócio Benemérito, conferido pela "Associação Jundiaiense das Damas de Caridade", pela contribuição valiosa oferecida para a construção do Asilo de Mendicidade Barão do Rio Branco
  10. Já existe produção acadêmica a respeito do "Educandário Nossa Senhora do Desterro": PAVAN, Diva Otero. [1] A formação de professoras primárias paulistas e o ajustamento ao cargo em biografias comparadas (1930-1980) in: Revista Horizontes, v.25, n° 1, 2007 e, da mesma autora, Duas historias relacionadas, dissertação de Mestrado, UNICAMP
  11. Website da Câmara Municipal de Jundiaí, material referente a Hugo Picchi
  12. Texto integral da Lei n° 5162
  13. Projeto de Lei 23/2002
  14. Lei 1573/2002 - possível visualizar na íntegra
  • Anais da Câmara Municipal de Jundiaí-SP, biografia de Hugo Picchi (21/08/1998).
  • Dados Biográficos de Hugo Picchi, Imprensa Oficial de Louveira, 19 de junho de 2002, página 02.

Galeria[editar | editar código-fonte]