Kametsa asaiki

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Kametsa asaiki é uma filosofia de vida dos ashaninka, e significa "viver bem" ou "viver bem conjuntamente". É baseado em valores morais, que servem para a criação de seres humanos sociáveis e produtivos, contribuindo e se beneficiando dos trabalhos realizados por toda a comunidade. E esses valores são constantemente lembrados pelos líderes da comunidade durante festas, reuniões formais e informais. E, no cotidiano, os ensinamentos são repassados para as crianças através de aprendizados entre pais e filhos, de contos de mitos e participações em rituais.[1][2]

Preceitos[editar | editar código-fonte]

Os preceitos foram se moldando às necessidades da vida contemporânea dos ashaninka. É uma filosofia fluídica, que pode sofrer algumas alterações por grupos e regiões. E não é unânime a busca pelo modo de vida Kametsa asaiki.[3]

  • Ter o controle das emoções. Evitando as emoções negativas e praticar as emoções positivas.[3]
  • Se alimentar de comida saudável e compartilhar.[3]
  • Ter educação escolar, cuidados médicos intercultural e ser produtivo.[3]
  • Ter o aipatsite (nosso território).[3]
  • Uma política forte para defender os direitos dos ashaninka.[3]

História[editar | editar código-fonte]

Os ensinamentos de um modo de vida Kametsa asaiki vem de antepassados remotos dos ashaninka. E ensinaram que para ter um corpo forte e se tornar um ashaninkasanori (verdadeiro ashaninka) precisa praticar o Kametsa asaiki, e que para ter esse modo de vida, era necessário ter um território vasto, com fonte contínua de alimentos e plantas medicinais. E os preceitos eramː controlar as emoções negativas como a raiva, o ciúme, a avareza e a tristeza, e exercitar as emoções positivas como amor e felicidade; ser produtivo, e compartilhar e receber, com felicidade, os frutos dos trabalhos realizados; e praticar o auto cuidado e cuidar dos parentes, como cuidar da alimentação, higiene e proteção, evitando alimentos prejudiciais à saúde e a ingestão de álcool.[1][4][5]

Na década de 1980 até o início da década de 2000, o modo de vida Kametsa asaiki dos ashaninka da região amazônica do Peru foi interrompido pelo grupo guerrilheiro maoísta Sendero Luminoso, fazendo mulheres e crianças ashaninka de reféns e forçando homens ashaninka a ingressar militarmente na guerrilha ou no trabalho agrícola forçado. Este conflito armado matou mais de 6.000 ashaninka, sequestrou 5.000 indivíduos e desapareceu com 30 a 40 comunidades ashaninka.[2][3]

Atualmente, os ashaninka lutam para buscar o modo de vida Kametsa asaiki, mas constantemente suas terras são ameaçadas por madeireiros e traficantes de drogas. E pelo governo, que sede as terras indígenas para empresas privadas.[2][3]

Referências

  1. a b Barletti, Juan Pablo Sarmiento (9 de novembro de 2014). «Questões sobre a política do "Vivir Bien" na Amazônia indígena». Revista de Estudos em Relações Interétnicas | Interethnica (1). ISSN 2318-9401. doi:10.26512/interethnica.v18i1.15370. Consultado em 31 de julho de 2023 
  2. a b c Moreira, Guilherme Bianchi. (2020). Historicidades em deslocamento: tempo e política entre os Ashaninka da Amazônia peruana e os Misak dos Andes colombianos. Universidade Federal de Ouro Preto. Departamento de História.
  3. a b c d e f g h Barletti, Juan Pablo Sarmiento. (2011). Kametsa asaikiː the pursuit of the "good life" in an Ashaninka village (Peruvian Amazonia). University of St. Andrews.
  4. Paucar, Rocio Esther Barreto. (2018). Paisagens vividas em movimento entre os Asháninka do Rio Ene. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Ciências Humanas.
  5. Viana, Pedro Alex Rodrigues. (2013). Os Hiper-Guerreirosː guerra, comércio e predação entre os Ashaninka. Universidade Federal Fluminense.