Morte de Nahel Merzouk

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A morte de Nahel Merzouk, um jovem francês de 17 anos de idade, de ascendência argelina e marroquina, deu-se em 27 de Junho de 2023 cerca das nove horas da manhã em Nanterre, quando após uma perseguição da viatura de alta cilindrada que conduzia a alta velocidade e sem documentos na faixa exclusiva para autocarros foi alvejado a curta distância por um policial após uma recusa de paragem.[1] [2][3]

A polícia alega legítima defesa. Um vídeo veiculado nas redes sociais mostra os polícias ao lado da viatura, uma Mercedes AMG amarela, conduzida por Merzouk: um deles disparou, em desequilíbrio, quando este arrancou abruptamente, sendo projetado contra um muro.[2][4]

Na viatura seguiam também dois passageiros menores. O do banco de trás foi preso ao sair do automóvel e o outro fugiu.[1][5] A morte do jovem ao volante de um carro desportivo de matrícula polaca traz para a ribalta o problema do tráfico de potentes carros estrangeiros, que oferecem impunidade aos seus condutores de um dia. Este veículo tinha sido alugado em Nanterre na véspera dos acontecimentos e emprestado a vários jovens do bairro antes de estar nas mãos de Nahel, indicou uma fonte policial[6]

Um Mercedes-Benz Classe A amarelo (W177) , semelhante ao dirigido por Merzouk

O policial responsável pelo disparo fatal , foi indiciado por homicídio doloso e colocado em prisão preventiva em 29 de junho de 2023 .[2] A mãe de Merzouk acusa-o diretamente: "Ele viu uma cara árabe, um menino, e quis matá-lo".[4]

O policial justificou o seu disparo "pelo desejo de impedir que o veículo voltasse a fugir, pelo comportamento perigoso do condutor na estrada, (...) o receio de ser atropelado ou de ser atingido pelo veículo". No entanto, o Ministério Público considerou que "não estavam reunidas as condições legais para a utilização da arma". [1]

Muitos distúrbios ocorrem em todo o país nos dias seguintes: protestos, saques e motins generalizados em que foram atacados símbolos do Estado, como câmaras municipais, escolas, bibliotecas e esquadras de polícia, bem como outros edifícios, tais como restaurantes e supermercados, e incendiados carros e caixotes do lixo. [2][7][8]

Violência urbana, aqui em Besançon , na sequência do assassinato de Nahel

Os manifestantes escreveram frases como "Vamos fazer uma Shoah" nas paredes do Memorial des Martyrs de la Déportation et de la Résistance em Nanterre, um memorial do Holocausto. [9] Na noite de 2 de julho foi atacada a casa do prefeito de L'Haÿ-les-Roses, Vincent Jeanbrun . Depois de arrombarem o portão da propriedade com um carro incendiaram a casa, e a esposa de Jeanbrun e dois filhos foram alvejados com fogos de artifício enquanto fugiam. [10]

Contexto[editar | editar código-fonte]

Em Outubro de 2016, por volta das 15h00, dois carros da polícia estavam colocados em observação num cruzamento em Viry-Châtillon, conhecido por inúmeros ataques. Cerca de vinte jovens, ao que tudo indica todos menores, atacaram os veículos com barras de ferro e pedras, e depois lançaram cocktails Molotov para os ocupantes no seu interior. Uma policial e um assistente de segurança ficaram gravemente queimados.[11]

Na sequência do caso dos polícias queimados em Viry-Châtillon, a lei sobre a utilização de armas de fogo pelos polícias foi alterada em Fevereiro de 2017, autorizando-os a disparar contra um veículo "cujos ocupantes sejam susceptíveis, na sua fuga, de causar danos à sua vida ou integridade física ou à de outros", quando anteriormente tinham de estar em situação de legítima defesa para poderem utilizar as suas armas.[12][13][14]

A vítima[editar | editar código-fonte]

Grafite em Paris: Justiça para Nahel

Nahel Merzouk era um adolescente de 17 anos e vivia com sua mãe.[15] Estava inscrito no Liceu Louis-Blériot em Suresnes, onde frequentou as aulas durante seis meses, tendo depois deixado de ir à escola. Merzouk trabalhava como entregador de pizas em Nanterre.[16][17] Não conhecia o pai, que deixou a mãe antes do nascimento de Merzouk. [18] Era conhecido da polícia, nomeadamente por resistência a ordens, tendo sido acusado disso mesmo no fim de semana anterior aos acontecimentos finais [19] e cinco vezes desde 2021.[20] O seu processo judicial incluía 15 incidentes registados, incluindo receptação, uso de chapas de matrícula falsas, a condução sem seguro, venda e consumo de drogas e resistência â prisão. [20]

Em 1 de julho de 2023, Merzouk foi sepultado no parque do cemitério de Mont-Valérien, na secção muçulmana de Nanterre.[21]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Paolini, Esther (29 de junho de 2023). «Mort de Nahel : le récit de la course-poursuite, minute par minute». Le Figaro (Arq. en WayBack Machine) 
  2. a b c d Salgueiro, Maria (30 de Junho de 2023). «Protestos violentos em França. Seis perguntas (e respostas) sobre a revolta que começou com a morte de um jovem baleado pela polícia». Observador 
  3. «Nahel, un gamin de quartier à la vie brisée après un contrôle routier». Le Point (em francês). 30 de junho de 2023 
  4. a b «France shooting: Who was Nahel M, shot by French police in Nanterre?». BBC News (em inglês). 29 de junho de 2023 
  5. «En direct : la conférence de presse du procureur de Nanterre sur la mort de Nahel». France24 (Arq. em WAyBack Machine). 29 de junho de 2023 
  6. Lepoivre, Ambre (e Hsakou, Adam) (11 de julho de 2023). «Derrière la Mercedes conduite par Nahel, un puissant trafic de voitures polonaises source de nombreux délits». Le Figaro (em francês) 
  7. «Emeutes en France : le domicile du maire de L'Haÿ-les-Roses attaqué à la voiture bélier». Le Monde (em francês). 2 de julho de 2023 
  8. Kourak, Radouan (29 de junho de 2023). «Chronique d'une nuit d'émeutes dans la cité Picasso à Nanterre…». Opinion Internationale (em francês) 
  9. «Memorial to Holocaust victims, WWII resistance defaced during riots in France». The Times of Israel. 1 de Julho de 2023 
  10. «French PM slams 'particularly shocking' attack on mayor's home». France 24 (em inglês). 2 de julho de 2023 
  11. Vincent, Elise (10 de outubro de 2016). «Attaque de Viry-Châtillon contre des policiers : « Il n'y a pas de zone de non-droit », dit Valls». Le Monde (em francês) 
  12. Régnard, Baptiste (28 de junho de 2023). «Mort de Nahel à Nanterre : que dit la loi de 2017 qui régit l'usage des armes à feu par la police, et pourquoi fait-elle débat ?». CNEWS (em francês) 
  13. «Tensions erupt in a Paris suburb after a 17-year-old delivery driver is killed in a police standoff». AP News (em inglês). 27 de junho de 2023 
  14. «Procès de Viry-Châtillon : des policiers se rassemblent pour protester contre le verdict». CNEWS (em francês). 20 de abril de 2021 
  15. Ghobri, Sonia (28 de junho de 2023). «Mort de Nahel : "C'était un gamin qui avait envie de s'en sortir", selon le président de l'association qui accompagnait le jeune homme». France Info (em francês) 
  16. Brioulet, Cyril (28 de Junho de 2023). «Nahel, tué à Nanterre par un policier : joueur de rugby, livreur de pizzas, sans casier... qui était l'adolescent ?». La Depeche (em francês) 
  17. «Rugby, livreur, justice…: qui était Nahel, 17 ans, tué par un policier mardi à Nanterre». La Voix du Nord (em francês). 28 de junho de 2023 
  18. ««C'était ma vie» : la mère de Nahel, tué par un policier, anéantie après la mort de son fils unique». La Voix du Nord (em francês). 28 de junho de 2023 
  19. «A Nanterre, un ado de 17 ans tué par la police lors d'un contrôle routier : ce que l'on sait des faits». Le Nouvel Observateur (em francês). 27 de junho de 2023 
  20. a b Raguenel, Louis de (28 de junho de 2023). «Mort de Nahel : l'adolescent connu pour 15 mentions au fichier des antécédents judiciaires». Europe 1 (em francês) 
  21. Ayad, Christophe (1 de julho de 2023). «Mort de Nahel M. à Nanterre : rage contenue et douleur aux funérailles de l'adolescent». Le Monde (em francês) 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Brenner, Emmanuel (2006) - The Lost Territories of the Republic - American Jewish Committee
  • Fenech, Georges (2001) - Tolerância Zero: Acabar com a criminalidade e a violência urbana - Editorial Inquérito

Ligações externas[editar | editar código-fonte]