Pedro Wayne

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Pedro Wayne
Nascimento 26 de fevereiro de 1904
Salvador
Morte 13 de outubro de 1951
Bagé
Cidadania Brasil
Ocupação escritor, jornalista, romancista

Pedro Wayne (Salvador, 26 de fevereiro de 1904 - Bagé/RS, 13 de outubro de 1951), batizado Pedro Rubens de Freitas Wayne, foi jornalista, poeta e romancista.[1] [2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

A sua obra mais conhecida é Xarqueada, [3]considerada uma incisiva crítica à realidade do meio saladeril, a charqueada, da campanha do Rio Grande do Sul.[4] Recentemente, a obra ganhou edição comemorativa ao seu 80º aniversário. [5]

A família de Pedro Wayne transferiu-se para a cidade de Pelotas/RS, terra de Simões Lopes Neto, quando o menino tinha quatro anos; mais tarde, passando a residir em Bagé/RS. Essas experiências concederam a Pedro Wayne um contato mais direto com a vida campeira do gaúcho, a lida do campo, com o gado, o trato com o cavalo; assim como inseriram-no na vida cultural de duas cidades interioranas que, no contexto do Rio Grande do Sul, sempre se destacaram por privilegiarem o teatro, a música etc. Pedro Wayne também trabalhou como agricultor, além de bancário, juiz municipal e jornalista.

Para Regina Zilberman, Pedro Wayne: "Foi adepto de primeira hora do projeto modernista, gestado na São Paulo dos anos 1920 do século passado, e difundido pelas distintas regiões brasileiras ao longo daquela década e das seguintes. Foi também um motivador cultural junto à sua geração e a de então jovens artistas, como os pintores bageenses Danúbio Gonçalves (1925), Glênio Bianchetti (1928) e Glauco Rodrigues (1929), expoentes que, mais adiante, ao lado de Carlos Scliar (1920-2001), de Santa Maria, e de Vasco Prado (1914-1998), de Uruguaiana, formaram o famoso Clube da Gravura de Porto Alegre que, por volta de 1950, alavancou as artes plásticas no Rio Grande do Sul." [6]

Luis Augusto Fischer, referindo-se à produção literária do autor, afirma: "Vemos ali enfocada a dramaticidade do decaído homem gaúcho, flagrado em momentos terminais - o peão que se enforca, mas mantém a pose altaneira, o hábil e experimentado tropeiro que enlouqueceu e morreu (...). Em sua obra soa um lamento duro - e poeticamente consistente - pelo fim de um mundo ao qual não há mais acesso na realidade mas do qual não podemos fugir no imaginário"[7]

Regina Zilbermann também assinala: Pedro Wayne tem uma “posição inquestionável na literatura do Rio Grande do Sul e na trajetória do romance brasileiro”.[8] [9]

A municipalidade bageense, como reconhecimento ao artista, através da Prefeitura Municipal e do campus local da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), a partir de 2018, vem desenvolvendo o "Projeto Memorial Pedro Wayne Traços Literários de Memória e Ensino" com vistas a preservar e divulgar o patrimônio documental do autor. [10]

Jornalista[editar | editar código-fonte]

Como jornalista, teve algumas experiências, nem todas bem sucedidas. Atuou como redator e cronista do jornal "Correio do Sul", além de participar como colaborador da revista “Phenix” e outros jornais de menor expressão. Foi editor da “Revista da Exposição”, publicada durante o tradicional evento, que é promovido anualmente pela Associação Rural de Bagé. Ao lado de Fernando Borba, Paulo Thompson Flores e Pelayo Perez, o autor foi responsável pela publicação de um pequeno jornal local, mas que repercutiu significativamente nos meios literários nacionais, recebendo pedidos de exemplares de várias partes do país, trata-se de “ABCDEFGIJKLMNOPQRSTUVWXYZ”. Em seu editorial de inauguração, o jornal assinalava comprometer-se com "literatura da nova, coisas de hoje”. Apesar do seu vanguardismo, o periódico teve curta duração, embora despertasse polêmica, sendo considerado “obsceno, pornográfico e imoral”. Acabou sendo fechado pela polícia por determinação expressa do governador do Estado, Flores da Cunha, em atendimento a pedidos que lhe haviam sido feitos por líderes locais. Em seu editorial de encerramento, os editores anunciavam: "Não pense, não, o leitor que são os redatores que vão partir.Ainda não. É o ABC, simplesmente, que comunica a seus inúmeros desafetos que com esse terceiro número despede-se. Não sairá mais. Nascido para viver apenas um dia, três vezes, com esta, veio a lume. forçado pela estúpida falta de compreensão daqueles que o apedrejaram em nome da falsa moral embuçados na capa de borracha de tartufo. Moral caolha e hipócrita não é moral. Por isso, não aceitamos a lição quando surgiu ela da intriga, do anonimato ed da má vontade nascida na sandice gás mesas de café. Os redatores do dito cujo aproveitam o ensejo para se despedirem de todas as almas gener osas que lhe têm enviado descompustura, intrigas e cousas outras, tão profundamente imorais que não cabem dentro da sinceridade desta folha”. [11]

Poeta[editar | editar código-fonte]

Em versos, Pedro Wayne publicou Versos Meninosos e a Lua, seguido por Dina e Tropel de Aflições [12]. O último, em memória de sua filha Dolores Maria, prematuramente falecida: “dezesseis poemas para aquela que aos 16 anos de idade deixou-nos a permanência de seu beijo e em sonho novamente se tornou”. Em Versos Meninosos e a Lua, por outro lado, predominam o humor, a coloquialidade e a temática cotidiana, indicando a sua adesão ao projeto modernista, que marcou a sua linguagem lírica, de modo que contribuiu, adotando tal postura, para a renovação da produção literária da poesia no Rio Grande do Sul, num tempo em que ainda havia resíduos simbolistas prevalecendo em versos dos poetas gaúchos. O escritor Manoelito de Ornellas costumava afirmar que, após a publicação do primeiro livro de poesias de Wayne, o qual marcou época, ele, o poeta e, em seguida, Érico Veríssimo, aproximaram-se, fazendo-se amigos. Associou-se estrutural e tematicamente às novas correntes poéticas do seu tempo sem que, com isso, precisasse abandonar a fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, buscando guarida na capital do país para onde acorriam os jovens intelectuais e artistas em busca de projeção.

Prosador[editar | editar código-fonte]

Xarqueada[13], romance de 1937, associa-se a uma corrente literária marcante da Segunda Fase do Modernismo no Brasil, denominada Neorealismo, a qual se filiam autores como Graciliano Ramos, Jorge Amado, Cyro Martins, Dyonélio Machado, entre outros. Na Literatura do Rio Grande do Sul, segue a esteira desmitificadora do regionalismo calcado em O gaúcho, de José de Alencar, que nobilitara o habitante do pampa, cujo apogeu se dá com Contos gauchescos. O romance de Pedro Wayne, ao lado da "trilogia da campanha" de Ivan Pedro Martins ou da "trilogia do gaúcho a pé" de Cyro Martins, apresenta o peão campeiro em suas condições miseráveis, sem terra, sem direitos trabalhistas, sem esperança, narrando as mazelas e as dores do homem rural.[14] Em 1955, Pedro Wayne publicou Lagoa da música, resgate e recriação do imaginário do pampa gaúcho, em contos que articulam Ficção e História, narrativas orais e literatura escrita. O narrador busca explicar fenômenos da natureza, exaltar figuras históricas, resgatar casos e lendas especialmente da região missioneira, com relativa ênfase para a Revolução Federalista (1893-1895).[15] O livro serviu como ponto de referência para a composição do curta metragem "La Torre:alma, terra e sangue", da diretora Adriana Gonçalves. [16]

Grupo de Bagé[editar | editar código-fonte]

Atento aos movimentos culturais, Pedro Wayne incentivou e colaborou, desde do inicio, com os jovens artistas que formaram o Grupo de Bagé. A sua contribuição é lembrada pelo poeta, escritor e crítico de artes bageense Clóvis Assumpção, ao afirmar que Wayne “não só inovou a literatura do Rio Grande do Sul, com a participação ativa e direta de seu talento, como também conservou-a no alto sentido social, muito contribuiu para a formação do Grupo de Bagé, estimulando sempre e de todas as maneiras os jovens artistas.” As charqueadas - atividades típicas de municípios gaúchos como Pelotas e Bagé - inspiraram Pedro Wayne e também artistas plásticos como Danúbio Gonçalves, bageense, em sua série de gravuras "Charqueadas", além de obras esparsas de Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Jacy Maraschin e outros.[17] [18] [19]

Casa de Cultura Pedro Wayne[editar | editar código-fonte]

O trabalho comunitário e a projeção que concedeu à cidade de Bagé, através de sua obra, renderam várias homenagens públicas a Pedro Wayne, incluindo o nome de uma rua e o nome da Casa de Cultura do município, local em que se realizam atividades culturais locais e regionais, de cunho erudito e popular. Em uma de suas salas, há um memorial dedicado ao escritor, que inclui móveis, objetos de uso pessoal, escritos e trabalhos artísticos, incluindo pinturas, do intelectual que nasceu na Bahia. O prédio em que está localizada a Casa de Cultura Pedro Wayne data de 1902, onde teria funcionado a loja de armarinhos Affonso Garrastazú & Cia, que oferecia produtos para homens, mulheres e crianças, além perfumarias, calçados, miudezas em geral. Mais tarde, o Banco do Comércio, o Banco Industrial e Comercial e o Banco Sulbrasileiro ofereceram os seus serviços à população naquele endereço. No segundo andar do edifício, ainda funcionou, durante algum tempo, a Fundação Emílio Médici (dedicada à preservação da memória do ex-presidente brasileiro).[20]

Obras[editar | editar código-fonte]

  • 1931 - Versos Meninosos e a Lua (poesia)
  • 1935 - Dina (poesia)
  • 1937 - Xarqueada (romance)
  • 1942 - Almas penadas (romance)
  • 1944 - Boêmio Triste (teatro)
  • 1947 - Tropel de Aflições (poesia)
  • 1955 - Lagoa da Música (contos)

Em 2008, a professora Cristina Maria Rosa, biógrafa e estudiosa da obra do autor, procedeu ao resgate de três volumes de livros usados por Pedro Wayne para alfabetizar a filha, Ester Wayne Nogueira, apelidada de Tetê [21]. Os manuscritos do autor dividem-se em "Histórias de Tetê", "Outras Histórias de Tetê" e "Continuam as Histórias de Tetê" e foram compilados em Um alfabeto à Parte: o Livro de Leitura de Pedro Wayne, de autoria da pesquisadora.

Referências

  1. PINHO, Louise Silva do.; MEDEIROS, Vera Lucia Cardoso. "Análise, preservação e classificação do arquivo pessoal de Pedro e Ernesto Wayne." Anais. http://seer.unipampa.edu.br/index.php/siepe/article/view/1936 02 de fevereiro de 2019.
  2. «Pedro Wayne, jornalista, romancista e poeta.». Consultado em 2 de fevereiro de 2019 
  3. MASSUTTI, Fernanda Alliatti. "Charque e cacau: um estudo socioregional do coronelismo em Pedro Wayne e Jorge Amado". 2015. 90p. Dissertação (Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade). Universidade de Caxias do Sul, 2015. Disponível em https://repositorio.ucs.br/handle/11338/1062 02 de fevereiro de 2019
  4. LONGHI, Ana Maria. Xarqueada: ficção e documento no romance de Pedro Wayne. 2011. 137p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação em Letras, Cultura e Regionalidade. Universidade de Caxias do Sul, 2011.
  5. CARVALHO, Lucio. "'Xarqueada' ganha edição comemorativa". Caderno de Sábado Correio do Povo. Disponível em https://emmeiapalavra.com/2018/03/04/xarqueada-ganha-edicao-comemorativa/ 02 de fevereiro de 2019.
  6. "Regina Zilberman apresenta 'Um alfabeto a parte'". Texto disponível no blog da biógrafa de Pedro Wayne, Cristina Maria Rosa: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2009/11/regina-zilberman-apresenta-um-alfabeto.html 02 de fevereiro de 2019.
  7. FISCHER, Luis Augusto. "O futuro nos aguarda". Ensaios FEE, 1993. Disponível em https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/viewFile/1650/2019 02 de fevereiro de 2019.
  8. ZILBERMAN, Regina. "Pedro Wayne: Pessoa de Letras". In: ROSA, Cristina Maria. Um alfabeto à parte: Biobibliografia de Pedro Rubens de Freitas Weyne, o Pedro Wayne. Pelotas: EDGUFPel, 2009
  9. «Exposição em Porto Alegre exibe obras de Pedro e Ernesto Wayne». Jornal Minuano | O Jornal que Bagé gosta de ler. Consultado em 2 de fevereiro de 2019 
  10. Prefeitura Municipal de Bagé. "Prefeitura e Unipampa iniciam projeto de Memorial de Pedro Wayne". http://www.bage.rs.gov.br/pmbwp/index.php/2018/03/06/prefeitura-e-unipampa-iniciam-projeto-de-memorial-de-pedro-wayne 02 de fevereiro de 2019.
  11. RS, Núcleo De Pesquisas Históricas Tarcísio Taborda-Bagé- (quinta-feira, 16 de dezembro de 2010). «Núcleo de Pesquisas Históricas Tarcísio Taborda Bagé - RS: Pedro Wayne». Disponível em https://nucleodepesquisashistoricas.blogspot.com/2010/12/pedro-wayne.html 02 de fevereiro de 2019.
  12. Rosa, Cristina Maria (21 de setembro de 2016). «As mulheres inventadas do ficcionista Pedro Wayne». Revista Memória em Rede. 3 (5): 79–95. ISSN 2177-4129 02 de fevereiro de 2019.
  13. MOREIRA, Maria Eunice. "Charqueadas e 'Xarqueada': a vida saladeiril na província gaúcha". Revista Letras de Hoje. Disponível em http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/2418/1892 02 de fevereiro de 2019.
  14. ALVES, Marcio Miranda. "'Xarqueada': um romance proletário?" Revista Cenários. Disponível em https://seer.uniritter.edu.br/index.php?journal=cenarios&page=article&op=view&path%5B%5D=1512 02 de fevereiro de 2019.
  15. MEDEIROS, Vera Lúcia Cardoso. "Lagoa da Música, de Pedro Wayne: ecos da História e do Imaginário do pampa gaúcho." Revista Nau Literária. Disponível em https://seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/view/5824 02 de fevereiro de 2019.
  16. "Diretora resgata livro de Pedro Wayne para compor ambiente do filme 'La Torre: alma, terra e sangue'" Disponível em http://www.jornalfolhadosul.com.br/noticia/2014/09/08/diretora-resgata-livro-de-pedro-wayne-para-compor-ambiente-do-filme-latorre-alma-terra-e-sangue 02 de fevereiro de 2019.
  17. "Charqueadas de Bagé e Xarqueada". Disponível em https://www.jornaldocomercio.com/site/noticia.php?codn=22996 02 de fevereiro de 2019.
  18. RAMOS, Paula Viviane. "Clube de gravura de Porto Alegre e Revista Horizonte (1949-1956):arte e projeto político." 2017, 283p. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais). Instituto de Artes. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/165312 02 de fevereiro de 2019.
  19. BRITO, José Teixeira de. Glauco Rodrigues e sua obra: trânsitos no tempo. 2018, 235p. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais). Instituto de Artes. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2018. Disponível em https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/185261/001082034.pdf?sequence=1&isAllowed=y 02 de fevereiro de 2019.
  20. "Casa de Cultura Pedro Wayne". Disponível em http://www.dachery.com.br/site/?page_id=53 02 de fevereiro de 2019.
  21. EXTRA-CLASSE. "Docente da UFPel resgata livro inédito de escritor bageense". Disponível em https://www.sedufsm.org.br/jornal/pdf/J0807-10.pdf 02 de fevereiro de 2019.