Sustentabilidade Cultural

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A noção de sustentabilidade cultural aponta para uma nova abordagem interdisciplinar, dedicada a aumentar o significado da cultura e a importância das suas características tangíveis e intangíveis nos campos locais, regionais e globais do desenvolvimento sustentável. A cultura é um aspecto crucial da sustentabilidade, pois consegue ilustrar como encaramos os nossos recursos naturais, e sobretudo como construímos e cuidamos das nossas relações com os outros a curto e longo prazo, com vista à criação de um mundo mais sustentável a todos os níveis sociais.

No entanto, o papel da cultura no quadro do desenvolvimento sustentável é relativamente vago a nível científico, político e econômico. A cultura já tem sido retratada como o quarto pilar do desenvolvimento sustentável,[1] ou mesmo como dimensão chave para as suas metas.[2][3] Porém, o aumento presente dos desafios ecológicos, económicos e sociais implica uma atenção cada vez maior relativamente ao papel da cultura para o desenvolvimento integrado da investigação e das políticas no campo da sustentabilidade.[4][5]

Gestão Política e Governação[editar | editar código-fonte]

Os temas do desenvolvimento sustentável e da cultura têm sido relacionados em diversas convenções e documentos dedicados à gestão política e governação. Por exemplo, as conexões entre biodiversidade e cultura foram já reconhecidas pela Convenção da Biodiversidade (1992), e desde então o reconhecimento da sua importância alastrou-se através de outras plataformas de discussão e documentos.[6] No relatório A Nossa Diversidade Criativa (Comissão Mundial para a Cultura e o Desenvolvimento 1995), resultante da Década da UNESCO para o Desenvolvimento Cultural (1988–1997), a cultura foi reconhecida como um fator que desempenha não só um papel instrumental na promoção do desenvolvimento económico, mas também um papel central nas sociedades como algo a alcançar enquanto fim em si mesmo.[7] Em acréscimo, a cultura é igualmente mencionada como aspecto crucial para a promoção e construção do desenvolvimento sustentável em diversos documentos de governação provenientes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, como sendo o In From the Margins (Conselho Europeu 1995) e a Agenda Europeia para a Cultura (Comissão Europeia 2007).[8][9]

Investigação Acadêmica[editar | editar código-fonte]

No campo da investigação acadêmica, a cultura tem sido essencialmente tida como um aspecto importante do desenvolvimento sustentável no contexto dos países em vias de desenvolvimentos, conservação da natureza e populações e culturas nativas, mas assistimos igualmente à sua consideração nos setores da produção primária ou do turismo e do desenvolvimento local e regional. Nestes domínios, a sustentabilidade cultural surge como algo que requere, por exemplo, o reconhecimento e a valorização de culturas materiais e simbólicas a nível local e regional, ou a participação democrática das populações na definição das estratégias de desenvolvimento dos seus contextos sociais e territoriais.

Contudo, no âmbito da investigação acadêmica a noção de sustentabilidade cultural também surge frequentemente associada ao papel das artes, da criatividade e das indústrias culturais no desenvolvimento e planeamento econômico, político e social. Neste contexto, a promoção da diversidade cultural e a preservação de heranças culturais tangíveis e intangíveis têm sido consideradas como fatores chave para o desenvolvimento sustentável. Em acréscimo, para além destes domínios, a sustentabilidade cultural também tem sido estudada em quadros de mudanças de paradigma, relativas a estilos de vida cotidianos, ou mesmo referentes a interseções científicas interdisciplinares, ambos os casos com base em parâmetros ecológicos, éticos e participativos, do comércio justo à mobilidade urbana e ao design inclusivo.[10]

Iniciativas[editar | editar código-fonte]

Existem diversas iniciativas com o objectivo de integrar a cultura nos quadros maiores do desenvolvimento sustentável. Por exemplo, a 'Agenda 21 Para a Cultura' é um documento de referência para as instituições governamentais definirem as suas políticas culturais no âmbito do desenvolvimento sustentável. Este documento é baseado nos princípios da diversidade cultural, direitos humanos, diálogo intercultural, democracia participativa, sustentabilidade e paz. Por sua vez, iniciativas de carácter mais académico como a Acção COST IS1007 (2011–2015) 'Investigar a Sustentabilidade Cultural' apontam para uma compreensão alargada de base multidisciplinar sobre as inúmeras dimensões culturais que se podem e devem encontrar no seio do desenvolvimento sustentável.[11][12]

Referências

  1. Hawkes, J. 2005. Culture as a fourth pillar of sustainability. Common ground, Melbourne, 2005
  2. Duxbury, N. and Gillette, E. 2007. Culture as a Key Dimension of Sustainability. Creative City Network of Canada. Centre for Expertise of Culture and Community.
  3. «WP1 Culture Sustainability PDF» (PDF). Consultado em 11 de maio de 2012. Arquivado do original (PDF) em 18 de abril de 2013 
  4. Drexhage, J. & Murphy, D. 2010: Sustainable Development: From Brundtland to Rio 2012. Background Paper prepared for consideration by the High Level Panel on Global Sustainability at its first meeting, 19 September 2010. United Nations, International Institute for Sustainable Development (IISD)
  5. Throsby, D. 2008. Linking cultural and ecological sustainability. The International Journal of Diversity in Organisations, Communities and Nations, 8(1): 15–20.
  6. UNESCO docs PDF
  7. Our Creative Diversity
  8. In From the Margins
  9. Agenda Europeia para a Cultura
  10. Nascimento, S. and Pólvora, A. 2011: Towards Participations of Social Sciences and Humanities in the Practical Realms of Technology. In: The International Journal of Technology, Knowledge and Society. New York, NY: Common Ground.
  11. COST Action
  12. Investigating Cultural Sustainability

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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