Usuário(a):Ana Clara Cantarim/Potencial evocado auditivo de tronco encefálico

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Potencial evocado auditivo de tronco encefálico[editar | editar código-fonte]

Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) consiste no registro da atividade elétrica que ocorre no sistema auditivo, da orelha interna até o tronco, em resposta a um estímulo acústico[1] e tem por objetivo principal identificar alterações no nervo auditivo e tronco encefálico e ainda estimar o limiar eletrofisiológico[2] . O PEATE consiste em uma série de sete ondas que ocorrem nos primeiros 10ms após a estimulação acústica, sendo considerado um potencial evocado de curta latência[3] (potencial de curta latência mais utilizado na prática clínica). As sete ondas correspondem a atividade neuronal síncrona do sistema auditivo e apresentam um período de retardo sináptico de aproximadamente 1ms em cada sítio gerador. Uma das classificações mais aceitas atualmente foi descrita por Moller et al (1985)[4], na qual são delineados os seguintes sítios geradores:

Onda I - porção distal do nervo auditivo, próximo ao modíolo;

Onda II - porção proximal do nervo auditivo, próximo ao tronco, com alguma participação da porção distal;

Onda III - neurônios do núcleo coclear e algumas fibras nervosas que fazem conexão com este núcleo;

Onda IV - incerta, porém acredita-se que alguns neurônios do complexo olivar superior são os maiores envolvidos, contudo recebem a contribuição de fibras do núcleo coclear e do lemnisco lateral;

Onda V - parece estar relacionada com a atividade do lemnisco lateral e do colículo inferior;

Onda VI e VII - colículo inferior [5]

Das sete ondas produzidas são analisadas somente as ondas I, III e V, por serem as mais proeminentes[6]. A análise mais comumente utilizada no PEATE é a observação das latências absolutas, que corresponde ao tempo entre o início do estímulo e o aparecimento da resposta e intervalos interpicos das ondas I, III e V que corresponde ao tempo decorrido entre uma onda e outra[3]. Os intervalos interpicos utilizados para análise são I-III, que representa a atividade do nervo auditivo ao núcleo coclear,  III-V que reflete a atividade do núcleo coclear ao lemnisco lateral e I-V que representa toda a atividade desde o nervo auditivo até o tronco encefálico[5]. Com este potencial auditivo, é possível verificar a integridade da via auditiva por meio da visualização das principais ondas e do estudo de suas latência[7]

Esse método de avaliação permite obter a atividade eletrofisiológica do sistema auditivo e tem o seu registro por meio de eletrodos posicionados na região frontal e lateral encefálica. O estímulo sonoro chega até o paciente por meio de fones de inserção ou fones auriculares[3]. Para esse exame, o paciente deve estar dormindo ou relaxado[7]. Para a verificação da integridade de via auditiva, é utilizado uma intensidade fixa, geralmente 80 dBNA (decibel nível de audição), para a observação das ondas I, III e V. Já para a pesquisa do nível mínimo de audição a intensidade do estímulo é reduzida, progressivamente, até encontrar a menor intensidade em que onda V aparece por via aérea (VA)[3]. Dentre as principais aplicações clínicas deste potencial tem-se a determinação do nível mínimo de resposta auditiva em neonatos e em crianças difíceis de serem avaliadas por meio de procedimentos audiológicos convencionais, além de auxiliar na caracterização do tipo de perda auditiva, na localização topográfica da lesão em nervo auditivo ou em tronco encefálico, na monitorização de cirurgias de fossa posterior e monitorização de pacientes em Centro de Terapia Intensiva (auxiliando na avaliação do grau do coma e morte encefálica).[8]

  1. Figueiredo MS, Castro Junior, NP. Potenciais evocados auditivos de tronco encefálico (ABR). In Figueiredo MS. Emissões otoacústicas e BERA. São José dos Campos, São Paulo. Pulso Editorial. 2003 p 85-97
  2. JIANG, Zedong; et al. Brainstem auditory function atterm in preterm babies with and without perinatal complicatons. Pediatr. Res., v. 58, n. 6, 2005, p. 1164- 1169.
  3. a b c d LOPES, Bruna Mauer. Avaliação da idade de realização do Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico em crianças encaminhadas da Triagem Auditiva Neonatal. Porto Alegre, 2018. p.31-32
  4. Moller AR, Janetta PJ. Neural generator of the auditory brainstem reponde. In: Jacobson JT, edited by. The auditory brainstem responde. San Diego, California: College-Hill Press; 1985. p.13-31
  5. a b SLEIFER, Pricila. Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico em crianças nascidas pré-termo e a termo. Porto Alegre, 2006. p. 4-22
  6. SOUSA, Luiz Carlos Alves de; RODRIGUES, Luciano da Silveira; PIZA, Marcelo Ribeiro de Toledo; FERREIRA, Denise Rezende; RUIZ, Danielle Barbosa. Achado ocasional de doenças neurológicas durante a pesquisa da surdez infantil através do BERA. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 73, n. 3, p. 424-428, 2007.
  7. a b MATAS, Carla Gentile; MAGLIARO, Fernanda Cristina Leite. Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico. In: BOÉCHAT, Edilene Marchini; et al. Tratado de Audiologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 118-125.
  8. MATAS, CG (2003). Fonoaudiologia informação para a formação - Procedimentos em Audiologia. Procedimentos em Audiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. pp. 43–57