Usuário(a):Ricardo de Castro/Amor na Roma Antiga

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Amor na Roma Antiga[editar | editar código-fonte]

O casamento (himeneu) era um ato religioso [1]. A consulta de presságios antes dele não era diferente da que precedia outras decisões. É impossivel descrever como era o casamento nos primeiros anos da cidade de Roma. Os primeiros relatos são do século III a.C., geralmente se referindo as famílias da aristocracia. Um aspecto do casamento romano é evidente: a união do casal, embora se funde juridicamente no seu livre consentimento, não é, de modo nenhum, o resultado de uma escolha pessoal. Além do aspecto religioso, há também o político. O casamento era, principalmente, um meio de formar alianças entre as famílias. Era um dos instrumentos que servia para conquistar ou conservar o poder, com o genro da família recebendo apoio e ser nomeado a cargos importantes.

O noivado era uma tradição patriarcal. Também assinava-se o contrato relativo ao dote, que devido as riquezas médias do século I d.C. não serem somas tão altas - algo em torno de 40000 libras de bronze [2] -, servia como uma compensação pelo crescimento das despesas, devido ao fato da sua jovem esposa já representar um custo a mais, era comum que ela viesse acompanhada por várias escravas. E, além disso, o dote deveria ser aplicado, sendo usado apenas o seu rendimento para a manutenção da família.. A maior parte dos rituais no casamento destinava-se a proteger a noiva. Na véspera, a jovem abandonava suas vestes de adolescente, ela deixava de ser criança somente no dia do casamento [3]. Cobriam-na com uma túnica branca, respeitando a tradição, qualquer mudança podia ser perigosa. O cinto era atado com um "nó de Hércules" que o marido seria o primeiro a desfazer. Os cabelos da noiva eram penteados de acordo com um ritual bem determinado. Formavam seis tranças fixadas com faixas em redor da testa. O penteado era dissimulado sob um véu alaranjado, o flammeum, que caía sobre os ombros. A cor laranja, a cor da aurora, era considerada benéfica. Todos os convidados se reuniam na casa da noiva e era realizado um sacrifício para os deuses. Os adivinhos, os auspices interrogavam as entranhas da vítima. Diante das testemunhas era declarado o consentimento dos cônjugues, juntando as mãos. A mulher devia observar todas as regras de conduta impostas à mulher casada. Era durante o noivado que se trocavam os anéis, símbolos da união projetada.

Pedia-se as divindades que abençoassem o casal, pedindo a proteção de provavelmente quatro deusas e somente um deus. Eram: Júpiter, Juno, Vênus, Fides e Diana [4]. Depois, o casal oferecia mais um sacrifício e todos se reuniam para uma refeição, à espera da noite. De noite, levam a noiva em um cortejo até a casa do marido. Nesse cortejo, cantava-se refrões tradicionais com muitas piadas grosseiras, provavelmente para afastar o "mau olhado" e estimular a fecundidade. A noiva era acompanhada por três rapazes que ainda tinham pai e mãe. Um deles empunhava uma tocha com espinheiro. Uma luz viva era um bom augúrio. A jovem também era acompanhada por duas escravas que seguravam uma roca e um fuso. Chegando em casa, a noiva oferecia orações às divindades da entrada, untava com óleo as ombreiras e neles atava faixas de lã. Cruzava o limiar sem correr o risco de nele tropeçar, o que seria considerado um péssimo presságio [5]. Ela oferecia três moedas, uma ao marido, outra aos deuses do lar e a terceira ao Lares da encruzilhada mais próxima.

Uma frase famosa é pronunciada pela noiva durante a celebração: "Onde fores Gaio, eu serei Gaia [6]." Trata-se de uma frase ritual, que possui o sentido de que o futuro marido não será o senhor da jovem, mas o seu equivalente. Durante os três primeiros séculos de Roma, as alianças entre as famílias patrícias e as famílias plebeias permaneceram inexistentes. A noiva começava a sua nova vida oferecendo três moedas, uma ao marido, outra aos deuses do lar e a terceira ao Lares da encruzilhada mais próxima.

O flaminato era um sacerdócio muito antigo que não podia ser exercido senão por um patrício casado. O flâmine, o sacerdote do deus Júpiter, devia permanecer numa pureza ritualística perfeita [7]. A sua mulher devia conservar também a mesma pureza. Se morresse, o seu marido tinha que demitir-se de suas funções. O casamento do flamen e da flaminica era para os romanos um casamento exemplar, feliz.

Os textos jurídicos nos falam, sobretudo, das filhas aristocratas [8]. As jovens emancipadas, que já não dependiam da autoridade paterna, e as libertas gozavam de uma liberdade muito maior no direito de escolher o marido. De acordo com os juristas, a idade requerida para o casamento é de quatorze anos para os homens e doze anos para as mulheres [9]. O artifício jurídico mostra que não podia haver o casamento legal antes dos doze anos, porém, o noivado e a sua consumação era comum de ocorrer mais cedo e, dessa forma, não teria todos os efeitos jurídicos. O marido, naturalmente, queria formar e modelar aquela que seria a senhora do seu lar. Além disso, o homem romano poderia ter apenas uma esposa.[10]

O homem podia facilmente obter o divórcio caso ele estivesse disposto a devolver o dote da esposa. Ele apenas tinha que recitar a antiga fórmula tuas res tibi habeto ("tenha suas coisas para si mesma") [11]. Mesmo um casamento que tivesse se formado pelo consentimento do casal ou fruto do próprio amor que sentiam não estava livre de conflitos. O papel da mulher se torna ambíguo, podendo ser, ao mesmo tempo, uma esposa carinhosa ou uma mulher vingativa, com ou sem razão. Tito Lívio relata que aproximadamente 170 mulheres de famílias influentes foram condenadas em 331 a.C. por envenenar seus maridos [12]. Um relato de sentimentos opostos foi escrito por Valério Máximo. Durante a visita de uma mulher que exibia joias, a mulher considerada mais bonita de Roma naquele tempo, Cornélia, mãe dos irmãos Graco, deixou a visitante falar bastante. Quando seus filhos chegaram da escola, ela disse: "estas são as minhas joias" [13].

Em 102 a.C., em uma tentativa de aumentar a taxa de nascimentos através do casamento, o censor Metelo Numídico faz um discurso um tanto que cômico para incentivar a população: "cidadãos, se pudéssemos viver sem esposas, viveríamos sem esse fardo. Mas já que a natureza quis que não pudéssemos nem viver confortavelmente com elas, nem conseguir viver sem elas, devemos levar em consideração as vantagens a longo prazo em vez da simples conveniência do momento. [14]"

Um outro acontecimetno durante a época republicana que demonstra, sutilmente, o amor dentro do casamento ocorreu quando Quinto Lucrécio foi proscrito pelos membros do Triunvirato, sua esposa, Túria, ofereceu-lhe esconderijo em um pequeno quarto entre o sótão e o teto. Somente uma escrava sabia disso [15]. Túria o manteve seguro da morte iminente, não sem assumir um grande risco para si mesma. Enquanto todos os demais proscritos tinham dificuldade para escapar e eram torturados de maneira extrema, tanto física quanto mentalmente, em locais estranhos e hostis, Lucrécio estava seguro em seu próprio quarto, no seio de sua esposa. [editar]A arte de amar

Para o poeta Ovídio, a mulher é um ser de paixão e portanto, uma vítima pronta a aceitar o seu sedutor [34]. Todo o homem que quiser conquistar uma mulher teria que elogiá-la. A mulher, mesmo a prostituta, mesmo a que foi libertada recentemente, é para o seu amante a domina, a "senhora", que tem todo o poder sobre ele. Domina é o termo com que os escravos da casa designavam a senhora [35]. Os amantes, em Roma, usam-no para conferir àquela que amam a dignidade correspondente e para expressar sua submissão total. Para alguns, ela é apenas uma puella, uma menina. Para o amante, é a "senhora" e, de fato, ele presta-lhe todos os serviços que se pedem habitualmente aos escravos. Até então,nas gerações anteriores de Ovídio, a esposa era "mãe" em relação ao marido e "sebhora" para os seus empregados e os da casa. Agora, a companheira, e não somente a amante de uma noite ou por uma temporada, é poderosa, a sua influência exerce-se primeiramente sobre o homem a quem outrora, em um casamento à moda antiga, deveria respeito e obediência. Por uma curiosa inversão, o homem torna-se escravo porque ama.

Os romanos, maridos ciumentos, aprenderam a ser os mais liberais dos amantes. Catulo já tinha falado com moderação das primeiras infidelidades de Clódia [36]. Parece que somente no casamento o ciúme era aceito e o que se sentia quando se amava livremente devia ser escondido se não quisesse passar por homem incoveniente e grosseiro. O homem que teria exercido uma vingança exemplar sobre um rival que tivesse descoberto junto da mulher legítima não ousaria sequer dar mostras de mau humor se fosse traído pela amante. O que consistia de "imoral" nas obras de Ovídio não era o seu realismo e a indecência de suas descrições. O principal problema que levou o poeta ao exílio foi que Ovídio revelou ao seu século o que este já tinha de algum modo percebido [37]. Não havia, por um lado, um amor "permitido" e, por outro, amores "tolerados". Quando o poeta Tibulo conhceu a mulher a quem chama de Délia (a que é de Délos), Otávio (mais tarde Augusto) ainda não tinha assegurado por completo o seu poder no mundo romano e não se debatia a questão das leis que regulassem os costumes [38]. O poeta, ainda com menos de vinte anos, conheceu em Roma uma jovem cortesã e ficou apaixonado. Se os romanos dos tempos passados se compraziam a evocar o papel da "mãe" na família rústica, esta mãe era a esposa legítima, a domina. Mas Tibulo elevou a esta dignidade uma jovem com quem não poderia casar e atribuiu a este amor, que os costumes teriam desejado passageiro, tudo o que, normalmente, as "justas núpcias" implicavam. Aqui se encontrava um dos verdadeiros motivos para o "escândalo" e o alcance que as leis de Augusto tentariam remediar [39]. O amor ousava não se preocupar já com as classes sociais. Um jovem destinado ao Senado queria fazer de uma mulher considerada de estirpe inferior e deselegante a sua mulher legítima. As duas faces do amor romano tendem doravante a assemelhar-se e, depois a confundir-se. Existiram casamentos legítimos que eram casamentos de amor e também existiram "ligações" fiéis [40]. O homem devia ser um bom marido e podia, para além disso, amar a sua mulher, mas isso não era algo demasiadamente confessável. Os poetas da época de Augusto contribuíram fortemente para que se atribuísse ao amor o seu verdadeiro lugar e, ao mesmo tempo, para libertar a mulher da condição de respeito meramente formal em que os costumes a mantinham, para lhe restituir o direito de amar, de escolher, e de consentir ser fiel [41]. [editar]A evolução do amor O amor em Roma ganhou ao longo do tempo, para as mulheres, um outro aspecto. A conduta perfeita para a esposa romana do século II a.C. está em uma fala de uma personagem de Plauto: "Não, não creio que o meu verdadeiro dote seja o que designam com esse nome. O meu dote é a boa conduta, a reserva, o domínio dos meus sentimentos, o temor dos deuses, o amor dos meus pais, o bom entendimento com a nossa família, é ser-te obediente, generosa para com as pessoas virtuosas, útil às pessoas honestas."[16]. Cerca de 30 anos depois, na época de Terêncio, o casamento perde esse caráter impessoal e passa a ser uma união de dois corações, ou seja, passa a se levar em consideração a opinião dos jovens noivos. A perspectiva da vida conjugal transformou-se, pois as relações carnais e a procriação perderam a sua importância, dando lugar ao nascimento de uma amizade. Nesta evolução, é possível detectar a influência da filosofia helena, principalmente da filosofia estóica [17], que atribuíam ao amor um lugar de eleição na vida interior.

Ao longo da história de Roma, parece que os romanos tiveram uma atítude ambígua em relação ao amor. Desconfiavam dele como de uma loucura, um devaneio passageiro, mas ao mesmo tempo, estavam fascinados pela sua força, com o seu caráter divino [18]. É significativo que, entre as divindades romanas associadas às relações amorosas, a primazia pertença a Vênus, uma deusa.Parece que os romanos reconhciam, de uma maneira implícita, que o amor é essencialmente um assunto de mulheres, e que são elas que conferem à união carnal o seu pleno valor sagrado.

No tempo de Plauto, os lúgares públicos e as ruas de Roma estavam cheios de jovens e também de homens mais velhos que não tinham outra ocupação senão ver passar as mulheres e fazer toda a espécie de avanços às que pareciam acessíveis. À medida que se distancia de alta sociedade para encontrar a plebe, parece que a liberdade dos costumes se torna maior [19]. Desse modo, as ruas das cidades estão repletas de aventuras, das quais os muros de Pompeia guardaram a lembrança desses amores em seus grafites. Nesta cidade, o amor é considerado o senhor que dá aos seres sua verdadeira beleza. Um grafite é exemplo disso: Nemo est bellus nisi qui amavit [20], o que significa, "È ser incompleto nunca ter amado."


Etimologia[editar | editar código-fonte]

Amor e Sexualidade[editar | editar código-fonte]

O tema da sexualidade foi primeiro abordado por Foucault que problematiza essa questão confrontando-a com a moralidade contemporânea. De acordo com o contexto social do mundo moderno, o papel do homem e da mulher na sociedade seria paralelo aos papéis dos dois gêneros no mundo greco-romano. Neste caso, os gêneros não são caracterizados em um aspecto biológico, mas sim pelo caráter social (Blanshaard, 2007:328). Para os estudiosos de cultura contemporânea, o sexo não seria uma ação natural, e sim uma construção de cada época. Portanto, significa que o conceito de sexo muda de acordo com a convenção de cada sociedade. Sendo assim, o que é convenção seria considerado natural e adequado porque assim como "praticamente toda configuração imaginável de prazer pode ser institucionalizada como convenção." (WINKLER, 1990:171)

Amor e Casamento[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  • [1] CARDOSO, Ciro Flamarion. (2005) [2] O amor nos romances gregos de época romana. PHOÎNIX, Rio de Janeiro 11: 33-56
  • SANFELICE, Pérola de Paula. (2010) Sexualidade, amor e erotismo na Roma Antiga: As representações de Vênus nas paredes de Pompéia. OPSIS n.2, p. 167-190
  • LOUVEM, Emily Portella. COSTA, Marcos Roberto da. ARÁUJO, Marlene da Silva. (2009) A arte de amar: o amor, a contemporaneidade e o feminino. Revista FACEW n.3 p. 34-41


Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • [3] GRIMAL, P. (1991) Amor em Roma. (H. F. Feist, trad). São Paulo: Martins Fontes.
  • [4] FUNARI, Pedro Paulo A. (2003) A vida quotidiana na Roma Antiga. São Paulo: Annablume

Referências

  1. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 64
  2. VALÉRIO MÁXIMO, VIII, 1, damn.8.
  3. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 65
  4. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 66
  5. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 67
  6. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 62
  7. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 63
  8. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 79
  9. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 88
  10. Grimal, Pierre, "O amor em Roma":105
  11. McKeown, J.C., "Olivro das curiosidades romanas" : 17
  12. Tito Lívio, "História de Roma", 8.18
  13. Valério Máximo, "Fatos e ditados memoráveis", 4.4
  14. Aulo Gélio, "Noites áticas", 1.6
  15. Valério Máximo, "Fatos e ditados memoráveis", 6.7.2
  16. Grimal, Pierre, "O amor em Roma":99
  17. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 234
  18. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 269
  19. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 274
  20. Grimal, Pierre, "O amor em Roma": 275