Aché
Os Aché,[1] antes chamados Guayaki, são um povo indígena guaranizado do Paraguai que habita as zonas próximas às cidades de San Estanislao e Unión (ambas no departamento de San Pedro) e San Joaquín (departamento de Caaguazú),[2] além de outras localidades dos departamentos do Alto Paraná (distritos Narranja e Iruno), Guairá e Paraguarí. Em 2006, a população era de 1000 indivíduos. [3]
Nome
[editar | editar código-fonte]Os Aché eram chamados Guajagui, Guayaki ou Guayaki-Ache pelos povos rivais (também guaranis), e essa denominação acabou sendo incorporada também pelos primeiros antropólogos. Todavia, trata-se de denominações depreciativas, consideradas ofensivas pelo grupo nomeado, e que, atualmente, são rejeitadas também pelos estudiosos. Segundo algumas fontes, "guayaki" significaria ratos ferozes [4] ou "ratos do monte".[5] Outra hipótese é que essa denominação significaria "Guayas maus", sendo Guaya o nome de um povo antigo, já desaparecido, com afinidades genéticas com os Guayaki, enquanto a terminação ki significaria "maldade".[6]Antigos relatos[7] sobre os Aché referem-se a eles como "Guajagui", vocábulo que teria sido formado pela raiz guarani Guaja, significando "tribo inimiga", e pelo sufixo gui, que significaria "detentor de".
Já a autodenominação Aché significa "pessoa verdadeira" ou, simplesmente, "as pessoas".[8] Essa autodenominação étnica foi citada pela primeira vez em 1960, pela etnóloga eslovena Branislava Susnick (1920-1996),[9]
Hábitos
[editar | editar código-fonte]Os Aché moravam em florestas, formando grupos isolados de oito a quinze indivíduos, em que não eram erguidas moradas, senão acampamentos temporários para se passar as noites. Não praticavam a agricultura e o produto das coletas era dividido entre todos.[10]
As mulheres ocupavam-se de tarefas como o abastecimento de água, fabricação de farinha a partir de uma palmeira, preparo de fibras e da cera e trabalhos domésticos, dentre os quais se incluía o transporte dos utensílios durante as mudanças; aos homens cumpria a fabricação das armas, caça e pesca, e também à abertura dos nichos de pernoite.[10]
Esses hábitos de total integração ao meio geográfico despertaram a atenção dos estudiosos porque, "permanecendo num degrau civilizacional dos mais baixos de toda a humanidade," permitiriam "imaginar a vida do homem primitivo antes da descoberta dos primeiros elementos de agricultura ou de domesticação de animais", como registrou Max Derruau.[10]
História
[editar | editar código-fonte]Tradicionalmente os Aché eram um povo nômade que vivia da caça e da coleta do mel, frutos e raízes bravas, evitando o contato com o branco até o século XX, para evitar a perseguição dos paraguaios, que chegaram a caçá-los como animais, fazendo-os refugiar-se nas selvas tropicais da região oriental do Paraguai.
Esses indígenas chamaram a atenção dos paraguaios devido a cor de sua pele (branca), aos seus olhos claros (castanho e cinza), pela barba nos homens e outros traços fisionômicos que os diferenciam de outros grupos étnicos, habitantes da mesma selva oriental.
Várias são as hipóteses que buscam explicar estas características singulares em uma antecedência exógena à América do Sul, no entanto, a possibilidade de serem descendentes de viquingues, japoneses ou outros povos da Ásia não passa de mera especulação. O dilema sobre as suas origens só poderá ser resolvido com investigações minuciosas, especialmente no campo genético, etnolinguístico e antropológico.
Diversos autores estudaram a filiação dos Aché à família linguística Tupi-Guarani. Atualmente, os estudiosos oferecem duas hipóteses: uma delas é de que são uma dissidência de populações guaranis que desenvolveu uma cultura diferenciada; a outra, é a de que se trata de um grupo "guaranizado", ou seja, um grupo étnico diferente, que foi submetido culturalmente, em tempos remotos, por populações proto-Guarani.
Referências
- ↑ Também grafado "Ache", sem acento, pois, dado que, em guarani, as palavras são, geralmente, oxítonas, é consenso, na literatura científica, acentuar somente aquelas em que a sílaba tônica não é a última, ou seja, as exceções. Ver LADEIRA, Maria Inês. O caminhar sob a luz: O território Mbyá a beira do oceano. Editora UNESP, 2007, p. 19.
- ↑ «Los Aché del Paraguay Oriental: condiciones actuales e historia reciente - Kim Hill» (PDF). Consultado em 26 de fevereiro de 2009. Arquivado do original (PDF) em 10 de setembro de 2008
- ↑ Ethnologue. "Aché."
- ↑ «Glosario de lenguas indígenas sudamericanas, Edgardo Civallero, Universidad Nacional de Córdoba» (PDF). Consultado em 29 de maio de 2013. Arquivado do original (PDF) em 29 de maio de 2013
- ↑ Ache
- ↑ El indio guayaki - una raza interesante y mal conocida. Por Guillermo Tell Bertoni. Annaes do XX Congresso Internacional de Americanistas. Rio de Janeiro, 20 a 30 de agosto de 1922. Organizados pelos secretários Drs. Leon F. Clerot e Paulo José Pires Brandão. Vol. I. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1924, p. 105.
- ↑ Lozano, P. (1873–1874) Historia de la Conquista del Paraguay, Rio de La Plata, y Tucuman, Vol. 1. Buenos Aires.
- ↑ A antropologia política de Pierre Clastres em Crônicas dos índios Guayaki: o que sabem os Aché, caçadores nômades do Paraguai. Por Tatiana Amaral Sanches Ferreira. Revista de Antropologia Social dos Alunos do PPGAS-UFSCar, v.3, nº1, janeiro -junho de 2011, p.375-383
- ↑ Reseña biográfica de la Dra. Branislava Susnik. Museo Etnográfico "Dr Andrés Barbero" de la Fundación La Piedad.
- ↑ a b c Derruau, Max. «Livro Terceiro: A noção de modo de vida, os mecanismos e os sistemas econômicos - I parte - Alguns tipos de adaptação ao meio geográfico através dos modos de vida». In: Editorial Presença (Portugal) Martins Fontes (Brasil). Geografia Humana (1º vol.). maio de 1977 2ª ed. Lisboa (tradução: LOPES, Helena de Araújo; SAMPAIO, Carlos D'Almeida: [s.n.] 502 páginas
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- CLASTRES, Pierre. Crônica dos índios Guayaki: O que sabem os Aché, caçadores nômades do Paraguai. São Paulo: Editora 34, 1995. (Tradução de Tânia Stolze Lima e Janice Caiafa)