Agote
Os agotes[1] foram um grupo étnico e social de indivíduos perseguidos e que constituíam uma minoria socialmente desprezada na região ocidental de França e norte de Espanha, nomeadamente em Navarra e Pirenéus, País Basco, principado de Bearne, Aragão, Gasconha e Bretanha.[2]
O seu nome difere de província em província e de dialeto em dialeto: Cagots, Gézitains, Gahets, e Gafets na Gasconha; Agotes, Agotac, e Gafos no País Basco; Capots em Anjou e Languedoc; e Cacons, Cahets, Caqueux, e Caquins na Bretanha.
Há registos deste grupo por volta do ano 1000.[3] Não é certa a sua origem, e pensa-se que o nome possa ser uma corruptela de "godos", o que pode indicar a sua ascendência.[2] Eram artesãos de pedra, de madeira e, nos tempos mais recentes, também de ferro.
Os agotes foram durante séculos alvo de discriminação de origem pouco conhecida.[2] Considerando a origem do nome, alguns autores especulam que seja de origem gótica[2], talvez de alguns desertores do exército ou refugiados nos vales basco-navarros, onde foram mal recebidos pela população nativa. Isso deu origem ao preconceito e à discriminação alimentados com a lenda. Outra teoria é a de que os criminosos eram oriundos de França, e que para escapar à justiça se esconderam de quarentena antes de decidir cruzar a fronteira, e daí viria a ideia de que seriam portadores de hanseníase, uma das acusações mais comuns.
Cria-se, na tradição popular da época, que nasciam com cauda.[2]
Acusados durante séculos de manter práticas religiosas ostensivamente pagãs, foram segregados e tratados como «raça inferior» e «herética» e impedidos de casar com as gentes locais, o que até reforçou uma certa endogamia. Os agotes sofreram discriminações que os obrigavam a viver fora dos núcleos populacionais e a vestir indumentária identificadora.
Em 1514 solicitaram e obtiveram do Papa Leão X uma bula que os libertava das restrições infames que lhes eram impostas ao culto. Não teve, porém, quase efeitos práticos e houve que chegar a 1819 para a promulgação em Espanha de leis que colocaram fim à marginalização, pelas Cortes de Navarra.
Hoje os agotes não formam mais uma classe social à parte e foram assimilados na população geral.[4][5] Nada da sua cultura ou costumes resta.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- María del Carmen Aguirre Delclaux, Los agotes. El final de una maldición, Madrid, Sílex ediciones, 2005, ISBN 978-84-7737-169-4
- Francisque Michel, Histoire des races maudites de la France et de l'Espagne, Paris, A. Franck, Librairie-Éditeur, 1847.
- E. Cordier, Les Cagots des Pyrénées, in Bulletin de la Société Ramond, 1866-1867.
- Michel Fabre, Le Mystère des Cagots, race maudite des Pyrénées, Pau, MCT, 1987. ISBN 2-905521-61-9
- Osmin Ricau, Histoire des Cagots, Pau, Princi Néguer, 1999. ISBN 2-905007-81-8
- René Descazeaux, Les Cagots, histoire d'un secret, Pau, Princi Néguer, 2002. ISBN 2-84618-084-9
- Paola Antolini, "Au-delà de la rivière. Les cagots: histoire d'une exclusion", Nathan 1991 (em italiano 1989). ISBN 2-09-190430-9
- Louis Charpentier, Il mistero di Compostela, Le età dell'Acquario, 2006, ISBN 88-7136-243-8
Referências
- ↑ «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de agotes». aulete.com.br. Consultado em 8 de dezembro de 2021
- ↑ a b c d e Viterbo, Joaquim de Santa Rosa de (1856). Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram vol. 1. Lisboa: A. J. Fernandes Lopes. p. 64. 552 páginas.
Certas Famílias em os Reinos de Aragão, e Navarra, e Principado de Bearne, descendentes dos Godos, que sem mais culpa, que tyrannizarem os seus Maiores antigamente aquellas Provincias, são tratados com o maior desprezo, e abatimento, assim nas materias civís, como de Religião: e até dizem delles, que nascem com rabo.
- ↑ Robb, Graham (2007). A descoberta da França: uma geografia histórica da Revolução à Primeira Guerra Mundial. New York, London: W. W. Norton & Company. p. 43. ISBN 978-0-393-05973-1. OCLC 124031929
- ↑ Este artigo incorpora texto do artigo «Cagots» (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
- ↑ Sean Thomas, "The Last Untouchable in Europe," The Independent, London, 28 July 2008, p. 20