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Alfabetização midiática

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A alfabetização midiática (ou Letramento Midiático) tem como objetivo desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para as pessoas entenderem o papel e as funções da mídia e provedores de informação nas sociedades democráticas, entenderem a condição sob a qual a mídia pode exercer suas funções e fazerem uma avaliação de forma crítica sobre os conteúdos e serviços fornecidos.[1][2] Com a alfabetização midiática, pretende-se que as pessoas desenvolvam uma compreensão fundamentada e crítica da natureza dos meios de comunicação, as técnicas que utilizam e os efeitos que essas técnicas produzem. Mais especificamente, trata-se de uma educação que visa aumentar a compreensão e o aproveitamento dos alunos ao estudar como os meios de comunicação funcionam, como eles criam significado, como são organizados e como eles constroem sua própria realidade. A alfabetização midiática também visa desenvolver nos alunos a capacidade de criar produtos de mídia.[3]

A UNESCO, pioneira em ações para a promoção da alfabetização midiática ao redor do mundo[4], defende a integração da educação em mídia e da Alfabetização Informacional, formando o conceito de Alfabetização Midiática e Informacional, definido como a capacidade do pensamento crítico para receber e elaborar produtos de mídia. Isto implica conhecimento de valores pessoais e sociais e das responsabilidades derivadas do uso ético da informação, bem como a participação no diálogo cultural e a preservação da autonomia em um contexto com possíveis e dificilmente detectáveis ameaças à autonomia. A alfabetização midiática e informacional se concentra em cinco possíveis competências básicas: compreensão, pensamento crítico, criatividade, consciência intercultural e cidadania[3]. Muitos pesquisadores e estudantes universitários consideram importante conhecer os riscos da Internet e da mídia, seu uso responsável e as possibilidades de acessar e fazer uso da informação de forma pessoal, social e profissional[5].

Um exemplo de projeto desenvolvido no âmbito da Alfabetização Midiática e Informacional é a Rádio Educativa Federal FM, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IFSULDEMINAS), campus Passos. Toda a programação e gestão da emissora são desenvolvidas pelos próprios estudantes do ensino médio, superior e da pós-graduação. A rádio tem programas de análises de filmes, história sobre o cinema brasileiro, de difusão da ciência e noticiário. O IFSULDEMINAS em Passos também dispõe de um curso de Mídias e Educação concebido a partir da proposta da Unesco de Media Information and Literacy e construído a partir do estudo "Alfabetização Midiática e Informacional: currículo para a formação de professores". Todos os estudantes estão envolvidos permanentemente no processo de criação e recriação dos conteúdos da emissora.

Alfabetização midiática no combate à desinformação[6]

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A alfabetização midiática pode ser uma ferramenta benéfica para estratégias de combate à desinformação no ambiente digital e educacional[7]. Segundo o Relatório final do grupo de peritos da Comissão sobre o combate à desinformação e a promoção da literacia digital através da educação e da formação, a literacia digital e o combate à desinformação no ambiente educacional devem ser metas complementares e, se utilizadas em conjunto, podem inferir impactos positivos na política educacional.

Nesse âmbito, a União Europeia publicou um guia que apresenta um conjunto de estratégias, conteúdos, dinâmicas, metodologias e outras atividades práticas que podem ser utilizadas para incentivar o desenvolvimento de competências digitais dos estudantes a partir de suas realidades locais. O documento em questão aborda diferentes aspectos que envolvem a desinformação, deixando claro a importância de checagem dos fatos através da avaliação de credibilidade da informação difundida e da verificação de fontes de informação.

No Brasil, temos algumas iniciativas que são destaque por sua atuação na pesquisa sobre o enfrentamento à desinformação com base na alfabetização midiática. O ObservInfo da Universidade de Brasília é um exemplo. Criado em 2020, o Observatório Internacional Estudantil da Informação se dedica à pesquisa e ao desenvolvimento de ações em extensão de Alfabetização Midiática e Informacional. O Observatório já ministrou formações de Alfabetização Midiática e Informacional tanto para instituições de ensino superior quanto para escolas de ensino fundamental, abordando os princípios dos conceitos de produção e verificação de informação; sobre a problemática da desinformação, da circulação e consumo de notícias falsas.

Outro exemplo notável é o caso da Rede Conecta, da Universidade Federal Fluminense, que foca no enfrentamento à desinformação sobre a ciência. A iniciativa já produziu feiras de ciências com alunos do Rio de Janeiro em que foram realizadas oficinas práticas que buscavam suscitar o senso crítico dos alunos diante dos desafios do combate à desinformação com ferramentas de Alfabetização Midiática.

Impacto da Alfabetização midiática no combate à desinformação no contexto de eleições

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A alfabetização midiática pode também ser eficaz no combate à desinformação associada à  política. No contexto das eleições de meio mandato do México de 2021, uma pesquisa de Sebastiàn Valenzuela, Carlos Muñiz e Marcelo Santos[8], avaliou que a alfabetização informacional e o uso de habilidades digitais podem ser determinantes para a possibilidade de um usuário das redes sociais acreditar em desinformação política.

De acordo com o resultado da análise do estudo citado acima, usuários das redes sociais com alto nível de alfabetização informacional se mostraram mais céticos a respeito da desinformação encontrada. Além disso, altos níveis de participação online podem levar a aquisição de crenças factualmente incorretas. Isso sugere que nem toda habilidade digital pode ajudar os usuários a identificarem o que é fato ou não. Portanto, a mera participação intensa nas redes sociais não é uma garantia de um discernimento eficaz, pois pode, em alguns casos, contribuir para a formação de crenças incorretas.

O estudo chega à conclusão que para a alfabetização midiática ser eficiente é fundamental combinar habilidades digitais com uma abordagem crítica e reflexiva, a fim de capacitar os usuários a navegar melhor pelo complexo ambiente das plataformas digitais de redes sociais.

Notas e Referências

  1. Wilson, C.; Grizzle, A.; Tuazon, R.; Akyempong, K. e Cheung, C. (2013). «Alfabetização midiática e informacional: currículo para formação de professores». unesco.org. UNESCO. Consultado em 16 de março de 2021 
  2. «Especialistas defendem inclusão de 'alfabetização midiática' nas escolas». senado.leg.br. Consultado em 14 de março de 2017 
  3. a b Gutiérrez-Martín, Alfonso; Tyner, Kathleen (2012). «Media Education, Media Literacy and Digital Competence». Comunicar (em espanhol). 19 (38): 31–39. ISSN 1134-3478. doi:10.3916/c38-2012-02-03 
  4. Wilson, Carolyn (2012). «Media and Information Literacy: Pedagogy and Possibilities». Comunicar (em espanhol). 20 (39): 15–24. ISSN 1134-3478. doi:10.3916/c39-2012-02-01 
  5. Álvarez-Arregui, Emilio; Rodríguez-Martín, Alejandro; Madrigal-Maldonado, Rafael; Grossi-Sampedro, Beatriz-Ángeles; Arreguit, Xavier (2017). «Ecosystems of Media Training and Competence: International Assessment of Its Implementation in Higher Education». Comunicar (em espanhol). 25 (51). ISSN 1134-3478. doi:10.3916/c51-2017-10 
  6. Guazina, Liziane Soares (29 de dezembro de 2023). «Alfabetização midiática e informacional no combate à desinformação e à violência nas escolas: uma proposta de agenda». Comunicação & Educação (2): 20–32. ISSN 2316-9125. doi:10.11606/issn.2316-9125.v28i2p20-32. Consultado em 24 de setembro de 2024 
  7. Guazina, Liziane Soares (29 de dezembro de 2023). «Alfabetização midiática e informacional no combate à desinformação e à violência nas escolas: uma proposta de agenda». Comunicação & Educação (2): 20–32. ISSN 2316-9125. doi:10.11606/issn.2316-9125.v28i2p20-32. Consultado em 24 de setembro de 2024 
  8. Valenzuela, Sebastián; Muñiz, Carlos; Santos, Marcelo (24 de março de 2022). «Social Media and Belief in Misinformation in Mexico: A Case of Maximal Panic, Minimal Effects?». The International Journal of Press/Politics (3): 667–688. ISSN 1940-1612. doi:10.1177/19401612221088988. Consultado em 24 de setembro de 2024 
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