Bartleby, o Escrivão
Bartleby, the Scrivener | |
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Autor(es) | Herman Melville |
Idioma | Inglês |
País | Estados Unidos |
Gênero | Conto |
Editora | Putnam's Magazine |
Lançamento | Novembro de 1853 |
O Escrivão ou Bartleby, o Escriturário é um conto do escritor norte-americano Herman Melville (1819-1891). A história apareceu pela primeira vez, anonimamente, na revista americana Putnam's Magazine, dividida em duas partes. A primeira parte foi publicada em Novembro de 1853, e concluída na publicação em Dezembro do mesmo ano. A novela foi relançada no livro The Piazza Tales em 1856 com pequenas alterações.
Inspiração
[editar | editar código-fonte]A narrativa parece ter sido inspirada, em parte, pelas leituras de Melville das obras de Ralph Waldo Emerson, e alguns ainda fazem paralelos específicos ao ensaio de Emerson "The Transcendentalist".
Enredo
[editar | editar código-fonte]O narrador, um antigo advogado que comanda um confortável negócio, onde ajuda homens ricos a lidar com hipotecas e títulos de propriedade, relata a história do homem mais estranho que ele já conheceu.
O narrador possui dois escrivães, Nippers e Turkey. Nippers sofre de indigestão crônica e Turkey é um bêbado, mas o escritório sobrevive porque pela manhã Turkey está sempre sóbrio apesar de Nippers estar irritado, na parte da tarde Nippers acalma-se e Turkey fica bêbado. E o office boy Ginger Nut, que possuía este nome devido aos biscoitos ( um tipo cookie aromatizado com gengibre) que ele levava a seu patrão. Turkey (peru), Nippers (alicate) e Ginger Nut (biscoito) são apelidos.
O narrador publica um anúncio procurando um novo escrivão, é quando Bartleby aparece disposto a assumir o cargo. O velho homem, aparentemente desesperado, contrata o jovem esperando que sua calma influencie os outros escrivães. Inicialmente, Bartleby revela-se eficiente e interessado, realizando uma quantidade extraordinária de trabalho como se a tempos estivesse faminto por algo para ler e escrever; parecia querer devorar os documentos que lhe eram entregues.
Certo dia, quando o narrador pede a Bartleby para revisar um documento, o jovem simplesmente responde: "Eu preferiria não fazer". É a primeira das inúmeras recusas seguintes de Bartleby. Para a consternação do narrador e irritação dos outros escrivães, Bartleby executa cada vez menos suas tarefas no escritório. O narrador tenta por diversas vezes entender Bartleby e aprender sobre ele, mas o jovem repete sempre a mesma frase quando é requisitado a fazer suas tarefas ou dar informações a seu respeito: "Eu preferiria não fazer". Em um fim de semana, quando o narrador passa pelo escritório, ele descobre que Bartleby está morando no lugar. A vida de solidão de Bartleby toca o narrador: à noite e aos domingos, Wall Street é tão desoladora quanto uma cidade fantasma. Ele fica ora com pena, ora com raiva do comportamento bizarro de Bartleby.
Enquanto isso, Bartleby continua a negar os trabalhos que têm para fazer, respondendo sempre com um "Eu preferiria não fazer". Isso continua até chegar ao ponto em que Bartleby não faz absolutamente nada. Mas mesmo assim o narrador não despede o jovem Bartleby. O relutante escrivão tem um estranho domínio sobre seu patrão, e o narrador sente que não pode fazer nada para prejudicar seu desesperado empregado. A urgência aumenta quando os sócios do narrador se perguntam sobre a presença de Bartleby no escritório, reparando que o jovem não faz nada.
Prevendo que sua reputação possa ser arruinada, o narrador se vê obrigado a agir. Suas tentativas de despedir Bartleby, no entanto, são ineficazes. Então o narrador muda o escritório para um novo endereço, pensando que assim se livraria de Bartleby. Embora isso funcione para o narrador, pois Bartleby não os segue, os novos inquilinos do antigo escritório do narrador pedem ajuda ao narrador, pois Bartleby não quer sair do velho escritório. Embora os novos inquilinos tenham expulsado Bartleby, ele simplesmente voltava pelo saguão. O narrador vai até Bartleby em uma última tentativa de se entender com ele, mas Bartleby o rejeita.
O narrador decide ficar ausente do trabalho por alguns dias, com medo de se envolver na nova campanha dos inquilinos para evitar Bartleby. Quando retorna, vê que Bartleby foi preso por recusar-se a sair do velho escritório. Na prisão, Bartleby parece ainda mais melancólico que antes. Ele recusa a amizade do narrador. Contudo, o narrador suborna o policial que cuida de Bartleby para garantir que o jovem seja bem alimentado; após alguns dias retorna e descobre que Bartleby morreu - ele "preferiria não" comer e morreu de fome.
Algum tempo depois, o narrador ouve um rumor que desfaz o discernimento da vida de Bartleby. O jovem trabalhava no Dead Letter Office (o local para onde vão as cartas que não podem ser enviadas para os destinatários e nem devolvidas para os remetentes por diversas razões), mas perdeu seu emprego. O narrador percebe que as cartas mortas teriam feito qualquer um com o temperamento de Bartleby se afundar em grande melancolia. As cartas são emblemas de nossa mortalidade e a falha de nossas boas intenções. Através de Bartleby o narrador olhou o mundo como os miseráveis escrivães o vêem. As últimas palavras da história são do narrador: "Oh Bartleby! Oh Humanidade!".
Adaptações
[editar | editar código-fonte]A história foi transformada em filme duas vezes: primeiro em 1970, com Paul Scofield e depois em 2001, com Crispin Glover.
Em 1999, o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, companhia de Teatro Hip-Hop, sediada na cidade de São Paulo, estreou uma adaptação do texto para o teatro, com dramaturgia de Claudia Schapira e direção de Georgette Fadel, com o nome de "Bartolomeu, o que será que nele deu?", espetáculo apresentado em diversas unidades do SESC, Teatros de todo país e excelentes críticas de jornal, que elogiam a renovação do Teatro Brasileiro proposta pelo núcleo.
A atriz Denise Stoklos realizou a adaptação desse texto e fez um monólogo teatral no ano de 2011 que foi apresentada no Teatro do SESC Consolação em São Paulo/SP.
Influências
[editar | editar código-fonte]Embora a história não tenha se tornado muito popular na época da publicação, "Bartleby, o Escrivão" tornou-se uma das mais famosas novelas norte-americanas. Tem sido considerado como o precursor do Absurdismo na literatura, abordando vários temas existentes na obra de Kafka, especialmente em O processo e Um artista da fome. Entretanto, não há provas de que Kafka era familiarizado de Melville, que era totalmente desconhecido até a morte do escritor de língua alemã.
Albert Camus cita Herman explicitamente como uma grande influência em uma carta pessoal escrita a Liselotte Dieckmann, que foi publicada na French Review em 1998.
O escritor espanhol Enrique Vila-Matas escreveu o premiado romance "Bartleby & Co." que cria um catálogo de muitos "Bartlebys" na literatura: escritores que desistem de escrever, a "Literatura do Não", escritores que vivem da negação. Desses escritores se diz que têm Síndrome de Bartleby.
No pensamento político moderno, escritores como Michael Hardt e Toni Negri deram exemplos, baseado em Bartleby, do assunto revolucionário na luta contra o imperialismo e o capitalismo.
Foi adaptado para o teatro por Alexander Gelman e Company of Organic Theater Company, em Chicago, Illinois. Estreou em 16 de Março de 2007.
O conto “Os Diamantes chegaram”, de Luis Fernando Veríssimo, possui semelhanças notáveis com a história de Bartleby. Ele conta a história de Ubiratan S., um funcionário público que cumpre suas tarefas muito burocraticamente e parece assim agir em todas as esferas de sua vida: quando recebe um telefonema de madrugada, acredita que se trata da morte de um tio e a única coisa em que pensa é na mudança que vai ter que fazer em sua rotina graças a isso. As ligações e envelopes que recebe de uma tal Helga, dizendo histórias sobre diamantes e espiões, a princípio, incomodam-no e ele julga ser isso coisa de desocupados, mas, depois de perceber que estava sendo vigiado numa sorveteria, sua atitude muda: A história acaba com ele se tornando um espião e essa atitude radical parece ter dado, finalmente, um pouco de sabor à sua vida até então muito apagada: quando ele parte para procurar Helga, está “eufórico”. As duas histórias mostram personagens com ocupações bastante burocráticas recusando a banalidade de seus cotidianos e as diferenças dizem respeito às consequências de suas atitudes: a de Ubiratan S. o leva a ter uma vida um pouco mais excitante; a de Bartleby leva, no limite, ao fim de sua vida.