Batalha de Filomélio

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Batalha de Filomélio
Guerras bizantino-seljúcidas
Data 1117
Local Filomélio, Ásia Menor
Coordenadas 38° 21' 27" N 31° 24' 59" E
Desfecho Vitória bizantina[1]
Beligerantes
Império Bizantino Império Seljúcida Sultanato de Rum
Comandantes
Império Bizantino Aleixo I Comneno Império Seljúcida Maleque Xá
Filomélio está localizado em: Turquia
Filomélio
Localização de Filomélio no que é hoje a Turquia

A Batalha de Filomélio (em latim: Philomelium; atual Akşehir) de 1117 consistiu na verdade de uma série de embates por vários dias entre as forças expedicionárias do Império Bizantino — lideradas pelo imperador Aleixo I Comneno — e as forças do Sultanato de Rum sob Maleque Xá no decorrer das guerras bizantino-seljúcidas.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Após o sucesso da Primeira Cruzada, as forças bizantinas, lideradas por João Ducas, o mega-duque, reconquistaram a costa do Egeu e a maior parte do interior da Anatólia Ocidental. Porém, após o fracasso da Cruzada de 1101, os turcos seljúcidas e os danismendidas retomaram as operações ofensivas contra os bizantinos. Após um período de derrotas, eles retomaram o controle da Anatólia Central e reconsolidar o estado seljúcida à volta da cidade de Icônio (Cônia), onde o Sultanato de Rum foi restabelecido pelo sultão Maleque Xá. O imperador Aleixo I, já idoso e padecendo da enfermidade que o mataria, não conseguiu evitar os raides turcos no recém-conquistadas território bizantino na Anatólia, apesar de ele ter conseguido evitar que Niceia caísse em 1113. Em 1116, Aleixo conseguiu finalmente voltar pessoalmente ao combate e liderou uma campanha defensiva na Anatólia Ocidental. Baseando seu exército em Lopádio e, posteriormente, na Nicomédia, ele conseguiu derrotar os turcos numa batalha menor em Pemaneno.[2] Após receber reforços, Aleixo decidiu partir para a ofensiva.[3]

Avanço bizantino em direção de Filomélio[editar | editar código-fonte]

Na campanha em Filomélio, Aleixo I liderou um considerável exército bizantino para o interior da Anatólia. Ana Comnena, a principal fonte para a campanha, implica que a capital seljúcida de Icônio era o objetivo da expedição, mas, evidentemente, Aleixo abandonou a ideia e se contentou com uma visível demonstração de força e aproveitou para evacuar a população cristã das áreas dominadas pelos turcos conforme marchava com o exército.[4] Os bizantinos empregaram nesta campanha uma nova formação de batalha, criada por Aleixo: a parataxis. A descrição de Ana Comnena é tão imprecisa que chega a ser inútil na tentativa de recriá-la.[5] Porém, a partir de seu relato sobre as ações do exército, é óbvio que a parataxis era uma formação defensiva, um quadrado oco com a caravana de bagagens ao centro, a infantaria nas bordas e a cavalaria entre as duas, de onde ela podia realizar ataques rápidos.[3] Uma formação ideal para enfrentar as fluidas táticas de batalha dos turcos, que se apoiavam em hordas de arqueiros montados. Uma formação similar foi empregada posteriormente por Ricardo I da Inglaterra na Batalha de Arçufe.

Os bizantinos atravessaram Santabaris e enviaram destacamentos por rotas diferentes (Políboto e Kedros) e, depois de vencer a resistência turca, tomaram Filomélio de assalto. Grupos de sentinelas foram enviados para agrupar a população cristã local para que fossem evacuadas para áreas sobre firme controle bizantino.[6][3]

Batalha[editar | editar código-fonte]

Aleixo soube que um grande exército seljúcida se aproximava pelo norte e começou a sua retirada de volta para o território bizantino. Seu exército retomou a formação defensiva, com os civis ao centro acompanhando a bagagem. Os turcos, liderados por um tal Manalugh, inicialmente ficaram estupefatos com a formação bizantina e a atacaram apenas levemente. Porém, no dia seguinte, o sultão Maleque Xá chegou e ordenou um ataque total,[7] com suas tropas atacando simultaneamente a vanguarda e a retaguarda bizantinas. Enquanto isso, a cavalaria bizantina realizou dois contra-ataques e o primeiro deles parece ter fracassado, com o filho de Aleixo, Andrônico, sendo morto.[8] O seguinte teve mais sorte e foi liderado por Nicéforo Briênio, o Jovem (marido de Ana Comnena e genro de Aleixo), o líder da ala direita bizantina, que finalmente rompeu a linha turca justamente no ponto onde o sultão liderava em pessoa. Maleque quase não escapou e suas tropas debandaram em fuga.[9] Os seljúcidas posteriormente realizaram ainda um ataque noturno, mas a disposição tática das tropas bizantinas frustraram o ataque. No dia seguinte, Maleque atacou novamente e ordenou que suas tropas cercassem os bizantinos completamente, mas novamente foi repelido e nada conseguiu. No dia seguinte, o sultão enviou emissários para negociar a paz.[10]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Aleixo e Maleque se encontraram em pessoa e o imperador bizantino, cortês, colocou sua cara capa nos ombros do sultão. Uma paz que envolvia o juramento do sultão em cessar os raides turcos e uma admissão por ele de uma certa medida de dependência - teórica - em relação ao imperador bizantino foi firmada. Ana Comnena relata que este tratado de paz ainda teria obrigado que Maleque Xá retirasse suas tropas da Anatólia, mas esta afirmação é muito improvável e certamente é uma hipérbole da parte dela.[11] A campanha foi excepcional pelo alto grau de disciplina demonstrada pelo exército bizantino. Para seus súditos, Aleixo provou que poderia marchar com seu exército impunemente por território seljúcida.[12] Por outro lado, o revés sofrido por Maleque Xá em Filomélio e a consequente perda de prestígio provavelmente contribuíram para a derrocada do sultão, pois ele foi deposto, cegado e morto por seu irmão Maçude I logo em seguida.[13]

A morte de Aleixo em 1118 deixou para seu filho de 31 anos de idade, João II Comneno, a tarefa de reconquistar toda a Anatólia.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Norwich, John Julius (1997). A Short History of Byzantium. New York: Vintage Books. 264 páginas 
  2. Birkenmeier, p.78
  3. a b c Birkenmeier, p.79
  4. Comnena, ed. Sewter (1969), p.481
  5. Comnena, ed. Sewter (1969), pp. 479-480
  6. Comnena, ed. Sewter (1969), p.483
  7. Comnena, ed. Sewter (1969), p.484-485
  8. Comnena, ed. Sewter (1969), p.485
  9. Comnena, ed. Sewter (1969), p.486
  10. Comnena, ed. Sewter (1969), pp.486-487
  11. Comnena pp. 487-488
  12. Birkenmeier, pp. 79-80
  13. Comnena, pp. 488-491

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Birkenmeier, John W. (2002). The Development of the Komnenian Army: 1081–1180 (em inglês). [S.l.]: Brill. ISBN 90-04-11710-5 
  • Comnena, Ana; Sewter, Edgar Robert Ashton (1969). «XLVIII-The First Crusade». The Alexiad of Anna Comnena translated by Edgar Robert Ashton Sewter (em inglês). [S.l.]: Penguin Classics. ISBN 0-14-044215-4 
  • Norwich, John Julius (1997). A Short History of Byzantium (em inglês). New York: Vintage Books