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Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil

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A Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil foi uma carta escrita pelo compositor brasileiro Camargo Guarnieri em dezembro de 1950, enviada através do correio a diversas personalidades e instituições de ensino musical no Brasil. A carta foi depois publicada no jornal O Estado de S. Paulo e em outros órgãos de imprensa, suscitando caloroso e polêmico debate na imprensa durante mais de um ano.[1]

A carta trazia um manifesto contra o dodecafonismo, abordagem composicional vanguardista utilizada por compositores tais como Arnold Schönberg, Anton Webern e Alban Berg e trazida ao Brasil por Hans-Joachim Koellreutter. Guarnieri afirma, em seu texto, que o dodecafonismo é uma "corrente formalista que leva à degenerescência do caráter nacional de nossa música", além de taxá-lo como "cerebral", "antipopular" e "decadente"[2]

A Carta Aberta desencadeou por todo o país reações de defesa e ataque não só à música de Koellreuter, mas também do próprio Guarnieri. Koellreuter chegou a comentar em uma carta ao compositor argentino Juan Carlos Paz que acreditava que a "Guerra Dodecafônica" poderia resultar em uma "prodigiosa propaganda para a causa." [3] Ainda em dezembro de 1950 Koellreuter escreveu uma carta em resposta a Camargo Guarnieri, em que defende o dodecafonismo como técnica compositiva e dirige um ataque ao nacionalismo:

O que leva à "degenerescência do sentimento nacional", o que se torna um "vício de semi-mortos" e "um refúgio de compositores medíocres" e não contribui em absoluto para a evolução cultural de um povo, pelo contrário, é fonte de sucessos fáceis e improvisações, é o nacionalismo em sua forma de adaptação de expressões vernáculas. Essa tendência, tão comum entre nós, é responsável por uma música que lembra o estado premental de "sensação", próprio ao homem primitivo e à criança, e que, com as suas fórmulas gratuitas emprestadas ao colorismo russo-francês, não consegue encobrir sua pobreza estrutural e a ausência de potência criadora.[4]

Apesar da força com que a Carta Aberta de 1950 de Guarnieri ataca o dodecafonismo, a relação do compositor com esta técnica e com a música atonal em geral nunca deixou de ser ambígua. Em outra carta aberta dirigida a Koellreuter e publicada quase dez anos antes na revista Resenha Musical, Guarnieri elogiou uma composição do colega compositor, e sobre a recepção desta peça escreveu:

Quanta gente ao ler a sua "Música de Câmera" vai odiá-lo. Você será recriminado e alcunhado de corruptor do gosto musical! Não há de ser nada![5]

Posteriormente à Carta de 1950, apesar das suas críticas severas às técnicas utilizadas por Koellreuter e demais signatários do Grupo Música Viva, Guarnieri utilizou-se de estruturas atonais e procedimentos seriais em sua obra, como é o caso do seu Concerto nº 5 para piano e orquestra, de 1970.[6] Quando indagado sobre uma possível mudança em seu modo de pensar, disse: "Não estou mudando de ideia. Vivo no presente e minha música é atual. Você pode reconhecer que a música é minha, mas a personalidade de minha música está sempre ligada ao presente".[7]

  1. Achille Picchi e Iracele Vera Livero de Souza. «Koellreutter e Guarnieri: aproximações e afastamentos entre dois polos» (PDF). Ceart.udesc.br. Consultado em 12 de outubro de 2013 
  2. Silva, Flávio (2001). Camargo Guarnieri: O Tempo e a Música. Rio de Janeiro: Funarte. pp. 143–145 
  3. Hans-Joachim Koellreuter (19 de dezembro de 1950). «Carta a Juan Carlos Paz» (PDF). Consultado em 11 de outubro de 2023 
  4. Hans-Joachim Koellreuter (28 de dezembro de 1950). «Carta aberta aos músicos e críticos do Brasil». Resposta a Camargo Guarnieri. Consultado em 11 de outubro de 2023 
  5. Guarnieri, Camargo (28 de agosto de 1941). «Carta Aberta». Resenha Musical. São Paulo. Consultado em 11 de outubro de 2023 
  6. Pitombeira, Liduíno (2009). «O serialismo de Camargo Guarnieri no seu Concerto para Piano e Orquestra N.º 5». Universidade Federal de Minas Gerais. Per Musi (20). Consultado em 18 de novembro de 2022 
  7. [Enciclopédia Itaú Cultural http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18846/camargo-guarnieri], página visitada em 29 de junho de 2015.

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