Cassandra
Na mitologia grega, Cassandra (em grego: Κασσάνδρα), por vezes também referida como Alexandra[1], é uma profetisa do deus Apolo que possuía o dom de anunciar profecias nas quais ninguém acreditava, sendo por isso considerada louca.
História
[editar | editar código-fonte]Filha dos reis de Troia, Príamo e Hécuba, Cassandra tinha 18 irmãos, entre os quais Heitor, Páris e Políxena. A versão mais comum do mito é a que nos é relatada na tragédia Agamémnon, de Ésquilo. De acordo com o Poeta, o deus Apolo, tendo-se apaixonado pela princesa, considerada a mais bela das filhas de Príamo[2], oferecera-lhe o dom da profecia em troca do seu amor. Tendo aceite a proposta, a princesa troiana recebera o dom, mas ter-se-ia depois recusado a cumprir com a sua parte do acordo, pelo que Apolo retira-lhe o dom da persuasão, fazendo com que ninguém acreditasse nas suas profecias.
Outra versão do mito[3] conta que pelo nascimento de Cassandra e do seu irmão gémeo, Heleno, os pais teriam dado uma festa no templo de Apolo e ter-se-iam esquecido lá das crianças. No dia seguinte, quando voltaram para as buscar, tê-las-iam encontrado a dormir enquanto serpentes passavam as suas línguas pelos seus ouvidos. Mais tarde, tanto Cassandra como Heleno revelaram dons proféticos.
Cassandra torna-se uma figura importante no que diz respeito à Guerra de Tróia, pois profetizou o que iria acontecer caso os troianos levassem o cavalo de madeira para dentro das muralhas, não tendo ninguém acreditado nela, apesar dos seus avisos. Consequentemente, Troia é vencida e destruída pelos gregos.
Arctino de Mileto, em Iliupersis, relata que quando a cidade foi tomada pelos gregos, Cassandra refugiou-se no templo da deusa Atena de onde foi retirada com violência por Ájax, que chegou a derrubar a estátua da deusa que Cassandra agarrava entre os braços[4]. Lícofron, no seu poema Alexandra, acrescenta que Cassandra chegou mesmo a ser violada[5].
Por terem deixado Ájax sem castigo por este acto, os gregos irão sofrer grandes e graves tormentas no seu longo regresso a casa, como nos relata Eurípides na sua tragédia As Troianas.
Após a queda de Tróia, Cassandra foi entregue ao rei dos gregos, Agamémnon, como despojo de guerra, tendo sido levada para Argos onde ambos encontrarão a morte às mãos da mulher do rei, Clitemnestra, o que, aliás, tinha sido já previsto por Cassandra na tragédia As Troianas, de Eurípides. O episódio da sua morte é relatado na tragédia Agamémnon, de Ésquilo.
Há ainda relatos de que Cassandra e Agamémnon teriam tido dois filhos, os gémeos Telédamo e Pélops [6].
Referências
- ↑ «LYCOPHRON, ALEXANDRA - Theoi Classical Texts Library». www.theoi.com. Consultado em 27 de fevereiro de 2023
- ↑ Homero, Ilíada, XIII, 365.
- ↑ Grimal, Pierre (1999). Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Lisboa: Difel. p. s.u. "Cassandra"
- ↑ De acordo com o resumo de Proclo, na Chrestomatia (108.2)
- ↑ Cf. 357-358.
- ↑ Para consulta das várias referências a Cassandra ao longo da Antiguidade, veja-se Vinagre, Sandra Pereira (2013). Cassandra: A voz de uma ideologia. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. p. 15-62.
Estudos sobre Cassandra
[editar | editar código-fonte]- Davreux, J. (1942). La légende de la prophétesse Cassandre d’après les textes et les monuments. Paris: Les Belles Lettres.
- Epple, Thomas (1993). Der Aufstieg der Untergangsseherin Kassandra. Würzburg: Königshausen und Neumann.
- GIL, Isabel Capeloa (2007). Mitografias - Figurações de Antígona, Cassandra e Medeia no drama de expressão alemã do séc. XX, vol. I. e II. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda.
- Goudot, Marie (ed.) (1999). Cassandre. Paris: Autrement.
- Leite, Mariana (2017). “Cassandra, a Sibila de Afonso X: Das profecias da princesa troiana na General Estoria”. Guarecer, 2, 41-53.
- Mazzoldi, Sabina (2001). Cassandra, La vergine e l’indovina. Pisa: Istituti Editoriali e Poligrafici Internazionali.
- Schapira, Laurie Layton (1988). The Cassandra Complex. Living with disbelief: a modern perspective on hysteria. Toronto: Inner City Books.
- Vinagre, Sandra Pereira (2014). “Ecos de Cassandra num Auto de Gil Vicente”, Dedalus, 17-18, vol. I, Lisboa: Cosmos, pp. 171-187.
- Vinagre, Sandra Pereira (2015). Cassandra, between knowledge and suffering. In H. Vial & A. Cremoux (Eds.), Figures Tragiques du Savoir (199-209). France: Septentrion.