Crise política na República da Macedônia em 2015–2017
A crise política na República da Macedônia de 2015–2017 refere-se a uma grave crise política e institucional ocorrida na República da Macedônia.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]O partido da oposição União Social-Democrata da Macedónia (SDSM) não reconheceu os resultados das eleições parlamentares e presidenciais que foram realizadas em 13 e 27 de abril de 2014, nas quais o partido governista VMRO-DPMNE saiu vitorioso. Imediatamente após as eleições, o líder da oposição afirmou que a SDSM não reconheceria o processo eleitoral e não entraria na Assembleia até que as condições para eleições justas sejam asseguradas e até que um "governo de tecnocratas" seja formado para organizar novas eleições parlamentares e presidenciais.[1]
Curso dos eventos
[editar | editar código-fonte]Escândalo das escutas
[editar | editar código-fonte]A crise política teve inicio quando em 23 de janeiro foi realizada a operação policial "Puch" em que o ex-diretor do UBK Zoran Veruševski foi preso por suspeita de posse ilegal de armas e pornografia infantil.[2] Mais tarde, Veruševski teria sua detenção prorrogada por suspeita de espionagem e atentado contra os mais altos órgãos do Estado. Além de Verushevski, sua esposa, que o ajudou na execução dos atos, bem como um funcionário local do município de Strumica, foram detidos na ação. O líder da oposição Zoran Zaev foi acusado de envolvimento nas atividades criminosas.[3]
O primeiro-ministro Nikola Gruevski em uma conferência especial de imprensa em 31 de janeiro acusou o líder da oposição Zoran Zaev de tentativa de golpe. Além disso, o primeiro-ministro afirmou que Zaev o chantageou com materiais comprometedores que possuía, entre os quais incluíam grampos ilegais de conversas de altos funcionários do governo, para forçar o governo do primeiro-ministro a dissolver seu gabinete e convocar eleições antecipadas.[4][5] Mais tarde, o Ministério do Interior apresentou acusações criminais para quatro pessoas, dentre elas Zaev.
O líder social-democrata Zoran Zaev, por sua vez, acusou Gruevski e o chefe da agência de segurança e contrainteligência (UBK) Sašo Mijalkov - que é primo de Gruevski - de orquestrarem uma operação ilegal de espionagem e vigilância governamental para monitorar as comunicações de milhares de pessoas e até membros de seu próprio gabinete. Zaev passaria a divulgar as gravações dessas escutas telefônicas que, segundo ele, foram cedidas por denunciantes dentro dos serviços de segurança. Assim, em 8 de fevereiro de 2015, Zaev, em uma conferência de imprensa da sede da União Social-Democrata da Macedónia, começou a publicar as chamadas "bombas".[6] Nas próximas semanas seriam constantemente divulgadas novas escutas e Zaev, numa conferência de imprensa, acusou o governo de realizar escutas ilegais de mais de 20.000 cidadãos da Macedônia incluindo políticos, juízes, diplomatas estrangeiros, jornalistas e figuras públicas.[7][8] Ao longo dos próximos meses, até Junho de 2015, seriam divulgadas dezenas de conversas suspeitas que evidenciam numerosos indícios politização das instituições, fraude eleitoral, repressão brutal aos adversários, prisões negociadas, comissões e extorsão, gastos desnecessários no orçamento, etc. Gruevski, todavia, rechaçou as acusações e afirmou que as gravações foram forjadas com a ajuda de um serviço de inteligência estrangeiro não identificado numa tentativa de desestabilizar o país.[9][10] Após a publicação da chamada "bomba" que acusou a ministra do Interior Gordana Jankuloska de tentar encobrir o assassinato de Martin Neskoski, em 5 de maio de 2015 iniciaram-se protestos em massa contra o governo.[11]
Depois dos confrontos em Kumanovo, em 9 e 10 de maio, a Ministra do Interior Gordana Jankuloska, o Ministro dos Transportes Mile Janakieski e o chefe dos serviços de segurança Sašo Mijalkov apresentaram as suas demissões.[12][13]
Protestos de 2015
[editar | editar código-fonte]Durante a crise política, o partido oposicionista União Social-Democrata da Macedónia organizou protestos diários contra o governo da Macedônia em frente à sede do governo em Skopje. Esses protestos foram seguidos pela organização de um comício em massa em 17 de maio, enquanto o partido governista VMRO-DPMNE como resposta organizou os chamados "contraprotestos" e manifestações em massa no dia seguinte, em 18 de maio.[6][14]
Negociações
[editar | editar código-fonte]Temendo a violência e um longo impasse, posteriormente, iniciaram-se negociações entre os partidos políticos macedônios com a mediação da comunidade internacional, dos Estados Unidos e da União Europeia. Durante o mês de maio, foram realizadas duas reuniões entre as lideranças sem sucesso. Em 19 de maio, Gruevski e Zaev se encontraram para conversações, com vários membros do Parlamento Europeu em Estrasburgo.[15] As negociações duraram doze horas, mas terminaram sem sucesso.
Em 11 de junho de 2015, nas instalações da Comissão Europeia em Bruxelas foram realizadas negociações também infrutíferas sobre a crise política no país entre o comissário Johannes Hahn, embaixadores da UE e dos Estados Unidos em Skopje, além das lideranças dos partidos macedônios.[16][17]
A primeira etapa da crise política terminou com a assinatura do Acordo de Pržino em 15 de junho de 2015. Sob o acordo, foram programadas eleições parlamentares antecipadas a serem realizadas em 24 de abril. Ademais, foi acordada a participação do partido oposicionista União Social-Democrata da Macedónia em cargos ministeriais e, em troca, a oposição concordaria em acabar com o boicote ao Parlamento, retornando à assembleia. Igualmente, o acordo previa a renúncia de Nikola Gruevski como primeiro-ministro, cem dias antes das eleições, e o novo primeiro-ministro a ser indicado pelo partido governista VMRO-DPMNE. Sob o acordo, o novo governo terá um mandato até a eleição. Além disso, um "promotor especial", com total autonomia, deve começar a investigar as escutas telefônicas.[18]
Após a formação do chamado Ministério Público Especial iniciou-se uma investigação sobre o escândalo das escutas telefônicas. Uma comissão especial de inquérito foi formada no Parlamento da Macedônia. De acordo com as propostas dos partidos políticos deveriam testemunhar perante esta comissão o primeiro-ministro, o Ministro das Finanças Zoran Stavreski, a Ministra do Interior Gordana Jankulovska, o líder da oposição Zoran Zaev, e os réus na operação Puch Verushevski e Palifrov.
Renúncia de Gruevski e novos protestos em 2016
[editar | editar código-fonte]Em meados de Janeiro de 2016, seria realizada uma reunião entre os líderes políticos macedônios, através do comissário europeu Johannes Hahn. Um acordo para realizar eleições antecipadas foi alcançado após o SDSM questionar o fato de certos pontos do Acordo de Pržino não serem cumpridos, como uma revisão completa da lista eleitoral e uma reforma da mídia para reduzir a influência governamental.[19]
Em 18 de janeiro de 2016, Gruevski, como parte do acordo, renunciou ao cargo de primeiro-ministro da Macedônia, permitindo que um novo governo fosse formado e a assembleia foi dissolvida.[20] Emil Dimitriev, um aliado de Gruevski, seria nomeado como primeiro-ministro interino até a eleição.[19]
Em 12 de abril de 2016, o presidente da Macedônia, Gjorge Ivanov, decidiu interromper as investigações judiciais e anistiar os 56 funcionários suspeitos de envolvimento no escândalo de escutas telefônicas. Ivanov afirmou tê-lo feito no melhor interesse do país e para acabar com a crise política.[21][22] O líder da oposição, Zoran Zaev, convocou posteriormente o apoio a protestos contra o governo.[21] Uma manifestação ocorreu em Skopje em 13 de abril, com os escritórios presidenciais sendo atacados por desordeiros e várias pessoas detidas.[23]
Invasão ao Parlamento em 2017
[editar | editar código-fonte]Ver também
[editar | editar código-fonte]- Crise política no Montenegro em 2015–2016, crise ocorrida em simultâneo no Montenegro
Referências
- ↑ «Macedonia's new coalition is hardly new». Deutsche Welle. 28 de abril de 2014
- ↑ «Macedonia's former intelligence director arrested». worldbulletin.net
- ↑ «Criminal charges for espionage for Zoran Zaev». Meta.mk
- ↑ «Macedonian opposition leader accused of plot to topple government». Deutsche Welle. 31 de janeiro de 2015
- ↑ «Macedonia Opposition Leader Charged With Blackmail». Balkan Insight
- ↑ a b Bombs Over Skopje, JAMES MONTAGUE - POLITICO Magazine (24 de maio de 2015)
- ↑ MacDowall, Andrew (27 de fevereiro de 2015). «Fears for Macedonia's fragile democracy amid 'coup' and wiretap claims». The Guardian
- ↑ «Macedonia PM Accused of Large-Scale Wire-Tapping». Balkan Insight
- ↑ «Explainer: Roots Of Macedonia's Political Crisis Run Deep». Radio Free Europe/Radio Liberty
- ↑ «Wiretap scandal threatens democracy in Macedonia». EURACTIV.com
- ↑ «Macedonian opposition chief: PM tried to cover up a killing». Associated Press.
- ↑ «Macedonia ministers, intelligence chief resign after violence». Yahoo News
- ↑ «Ministros e chefe da inteligência da Macedônia renunciam». G1
- ↑ «Manifestação pró-governo reúne 30 mil na Macedônia». Deutsche Welle. 18 de maio de 2015
- ↑ «Gruevski and Zaev to meet in Strasbourg». MIA
- ↑ «EU disappointed over breakdown in Macedonia talks». Reuters
- ↑ «Talks to end Macedonia crisis end without agreement». EURACTIV.com
- ↑ «Hahn Brokers Deal Ending Crisis in Macedonia». Balkan Insight
- ↑ a b Macedonia PM offers resignation, EU tries to keep election accord alive - Reuters
- ↑ «Parlamento macedônio aprova formação de governo interino até novas eleições». Terra. 19 de janeiro de 2016
- ↑ a b «Macedonia President Pardons Politicians Facing Charges». Balkan Insight. 12 de Abril de 2016
- ↑ Kole Casule. «Macedonian president halts wiretap inquiry, opposition brands move a 'coup'». Reuters
- ↑ Protesters throw flares, clash with police, storm presidential HQ in Macedonian capital. RT.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «What Happened in Macedonia, and Why». – The Atlantic
- «A Macedónia entrou no limiar entre crise política e conflito étnico». - Público