Cristo e a Acusada de Adultério

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Jesus e a Acusada de Adultério
Cristo e a Acusada de Adultério
Autor Pieter Bruegel
Data 1565
Técnica Pintura a óleo sobre madeira
Dimensões 24,1 cm × 34,1 cm 
Localização Instituto Courtauld, Londres

Jesus e a Acusada de Adultério é uma pintura a óleo sobre madeira em grisaille (quase monocromática) de 1565 do mestre flamengo da Renascença Pieter Bruegel, em que representa o tema evangélico de Jesus e a mulher acusada de adultério.

O episódio evangélico desafia a hipocrisia bem como demonstra as virtudes da misericórdia.[1]

A obra está assinada e datada, "BRVEGEL MD.LXV", estando actualmente exposta na Instituto Courtauld de Londres.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Segundo o Evangelho de João (João 7:53 até João 8:1–11), Jesus encontra uma mulher que foi trazida perante os Fariseus e os escribas, para ser julgada por ter sido surpreendida em ato de adultério. Tal crime era punido pela lei judaica com a morte por apedrejamento.

Trata-se de um episódio muito conhecido e polémico, pois não sendo dissonante do restante texto, a maioria dos académicos [2][3] considera que a passagem não fez parte do texto original do evangelho de João.[4] Por outro lado, alguns exegetas identificam a mulher adúltera como sendo Maria Madalena, embora não haja base evangélica para confirmar esta identificação.

Na cena que foi tratada por muitos artistas, Bruegel coloca Jesus semi-ajoelhado no chão aos pés da mulher a escrever (em flamengo)ː DIE SONDER SONDE IS / DIE (o princípio deː Aquele que dentre vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe atire uma pedra).[5] Algumas pedras que ainda não foram atiradas estão no chão à esquerda da mulher.[6]

No quadro de Bruegel, a mulher é uma das poucas figuras graciosas na cena. Ela é apresentada de uma forma idealizada, atípica das figuras femininas de Bruegel, geralmente terrenas e domésticas;[7] embora a disposição básica da composição seja flamenga, a "composição austera e a grandiosidade das figuras fazem dela talvez a mais italianizada das pinturas de Bruegel".[8]

O pintor coloca a mulher no centro da composição, com uma expressão humilde enquanto olha para baixo, cercada por um grupo compacto de espectadores que estão em grande parte na sombra, e à direita estão os fariseus, incluindo um que está inclinado grotescamente (o seu rosto aturdido faz lembrar o Retrato de Velha Camponesa), enquanto Jesus está curvado a escrever nos degraus do templo a sua resposta. A iluminação diferenciada destaca os protagonistas dos que assistem (incluindo o grupo dos apóstolos, à esquerda e atrás de Jesus).

Retrato de Velha Camponesa (1563), Pieter Bruegel, Antiga Pinacoteca, Munique

O artista preocupou-se unicamente com a representação dos personagens sem desenvolver o enquadramento espacial, de acordo com um estilo italiano de composição. Grossmann colocou a hipótese de Bruegel se ter inspirado para a monumentalidade das figuras nas tapeçarias com base nos Cartões de Rafael que ao tempo se encontravam a ser tecidas em Bruxelas.[9]

Grisaille, ou a pintura em tons de cinza, era tradicionalmente usada para decorar a parte externa dos painéis dobráveis dos retábulos de altar. Bruegel usou a técnica neste caso numa obra que vale por si mesma, numa exibição primorosa de habilidade, para ser guardada como obra valiosa de um colecionador particular.[1]

História[editar | editar código-fonte]

A pintura não foi vendida pelo artista, e parece ter sido a única herdada pelo seu filho Jan Brueghel, o Velho. A obra foi vendida pela família no século XVII, aparentemente por Jan Brueghel, o Jovem, e esteve em Inglaterra durante o século XVIII, tendo sido vendida na Christie's em 1834 e de novo em 1952 quando foi comprada pelo coleccionador e historiador da arte Antoine Seilern, cuja coleção foi doada ao Courtauld Institut of Art em 1978.[8] A obra foi depois roubada da Galeria Courtauld em 2 de Fevereiro de 1982,[10] mas pelo seu valor e fama, não foi possível aos ladrões venderem-na publicamente, e apenas voltou de novo à Courthauld em 1992 quando foi recuperada pela polícia britânica. Nesse intervalo de dez anos, é provável que a obra tenha servido como valor de caução para transações entre criminosos.[11]

Influência cultural[editar | editar código-fonte]

Paul Perret, a quem aparentemente emprestaram a pintura de Bruegel para o efeito, face à semelhança das duas obras e às mossas ao longo dos lados do original para prender o dispositivo de cópia, publicou uma gravura em 1579.

Existem outras cópias, sendo algumas atribuidas aos filhos de Bruegel, feitas provavelmente após a gravura de Perret. O original da pintura ainda foi emprestada ao cardeal Federico Borromeo para ser copiada, sendo o resultado talvez a versão de cerca de 1625 e que está actualmente na Accademia Carrara em Bergamo.[8] [12]Existe também uma versão atribuida ao filho homónimo de Pieter Breuegel, Pieter Bruegel, o Jovem, de cerca de 1600, e que está no Museu de Arte da Filadélfia.[5]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Nota sobre a obra na página oficial da Courtauld Gallery, http://www.artandarchitecture.org.uk/images/gallery/2edc26bc.html
  2. «NETBible: John 7». Bible.org  Ver nota 139 na página.
  3. Keith, Chris (2008). «Recent and Previous Research on the Pericope Adulterae (John 7.53—8.11)». Currents in Biblical Research. 6 (3): 377–404. doi:10.1177/1476993X07084793 
  4. 'Pericope adulterae', in FL Cross (ed.), The Oxford Dictionary of the Christian Church, (New York: Oxford University Press, 2005).
  5. a b "Christ and the Woman Taken in Adultery". Philadelphia Museum of Art.
  6. Sutton, 74
  7. Hagen & Hagen, 28
  8. a b c Braham, 7
  9. Fritz Grossmann, Bruegel's 'Woman Taken in Adultery' and Other Grisailles, Burlington Magazine, 94, 1951
  10. Apple, R.W. JR. "London Theft: $1 Million Bruegel". New York Times, 4 de Fevereiro de 1982.
  11. Gillman, Peter & Gillman, Leni. "Paint job: How the Tate profited from a great art heist". Sunday Times, 26 de Janeiro de 2003
  12. Página da Accademia Carrara, http://www.lacarrara.it/en/catalogo/58ac00254/

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • Braham, Helen. The Princes Gate Collection, Courtauld Institute Galleries, London 1981, ISBN 0-904563-04-9
  • Hagen, Rose-Marie & Hagen, Rainer. Bruegel. Peasants, Fools and Demons. Taschen, 2000. ISBN 3-8228-5991-5
  • Sutton, Peter. Dutch and Flemish Paintings: The Collection of Willem, Baron Van Dedem. Frances Lincoln, 2002. ISBN 0-7112-2010-7