Ecologia cultural
A ecologia cultural é um campo interdisciplinar de pesquisa acerca da interação entre a cultura humana e o meio ambiente. Desenvolveu-se ao longo do século 20, a partir de estudos na geografia sobre o impacto humano na paisagem,[1] em convergência com uma crescente interesse da antropologia no contexto material das sociedades, consolidando-se independentemente em torno da década de 1930, especialmente na obra de Julian Steward. Se distingue de outras abordagens próximas pela enfase nas transformações culturais que condicionam o processo de ocupação e adaptação à um ambiente específico.[2]
Precedentes
[editar | editar código-fonte]Não existia na ciência europeia, até o início do século XX, um interesse abrangente acerca do impacto histórico das sociedades humanas em paisagens e ambientes naturais. Nas décadas iniciais do século, não obstante, algumas transformações no campo da geografia e da antropologia despertaram uma maior atenção ao tema.[1]
A publicação do ensaio "The Morphology of Landscape" (A morfologia da paisagem), em 1925, por Carl Ortwin Sauer, abriu uma nova tradição de estudos sobre a paisagem cultural, sediada na Universidade de Berkeley, a partir da qual novas gerações de pesquisadores, orientadas em grande parte por Sauer, dedicaram-se aos impactos ambientais e usos da natureza realizados pelas atividades humanas. Unindo métodos da geomorfologia com a pesquisa histórica e arqueológica, esse ramo buscou elaborar a forma como as coletividades humanas ocuparam e moldaram o espaço em que habitam. Rejeitando os paradigmas deterministas presentes na ciência do século anterior, a metodologia de Sauer buscou explicar as configurações físicas das paisagens pelo efeito da presença humana, como também representar o processo de adaptação das culturas de forma gradativa e aberta.[1] Teve como foco o estudos de culturas e economias 'pré-modernas', com uma forte valorização do trabalho de campo.[3]
A obra de George Perkins Marsh foi também influente na perspectiva de Sauer e no desenvolvimento dos rumos iniciais desse campo, especialmente na crítica da trajetória ocidental de exploração irracional dos ecossistemas, e na enfase da necessidade de aliar os saberes das ciências físicas com o estudo das ciências sociais.[1] Destaca-se igualmente nessa produção inicial a tendência de re-valorização das práticas ecológicas e agrárias indígenas, levando à uma crítica da supressão dessas economias nativas em favor da modernização.[3]
Julian Steward
[editar | editar código-fonte]O contexto intelectual do pós-guerra foi marcado por um crescente interesse em abordagens de inspiração positivista nas ciências sociais, incluindo uma enfase na pesquisa preditiva, quantitativa e voltada à formulação de princípios universais - desejando exceder o quadro do historicismo descritivo sem, entretanto, retornar à modelos deterministas de cultura.[3]
Nesse sentido, o antropólogo estadunidense Julian Steward buscou elaborar uma alternativa metodológica com enfase no estudo comparativo entre culturas.[3]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c d Robbins 2019, p. 36.
- ↑ Sutton 2010, p. 3.
- ↑ a b c d Robbins 2019, p. 37.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Robbins, Paul (2019). Political ecology: A critical introduction (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons
- Sutton, Mark Q.; Anderson, E. N. (2010). Introduction to cultural ecology (em inglês). [S.l.]: AltaMira Press. ISBN 978-0-7591-1247-6
- Zapf, Hubert, ed. (2016). Handbook of Ecocriticism and Cultural Ecology (em inglês). [S.l.]: de Gruyter. ISBN 978-3-11-030837-2