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Educomunicação: diferenças entre revisões

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'''Educomunicação''' é o campo teórico-prático que propõe uma intervenção a partir da análise dos ecossistemas comunicativos, tendo por base: educação para a mídia; uso das mídias na educação; produção de conteúdos educativos; gestão democrática das mídias; e prática epistemológica e experimental do conceito. A Educomunicação pode ser defendida como uma [[metodologia]] [[Pedagogia|pedagógica]], pois, em sua finalidade, ela propõe a construção de ecossistemas comunicativos, abertos e criativos com relação horizontalizada entre os participantes e produção colaborativa de conteúdos, utilizando diversas linguagens e instrumentos de expressão, arte e comunicação. <ref name=":0">SOARES, Ismar de Oliveira. (2011) ''Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação''. São Paulo: Paulinas.</ref>
'''Educomunicação''' é um campo teórico-prático que propõe uma intervenção a partir de algumas linhas básicas como: educação para a mídia; uso das mídias na educação; produção de conteúdos educativos; gestão democrática das mídias; e prática epistemológica e experimental do conceito. quem defenda a educomunicação como uma [[metodologia]] [[Pedagogia|pedagógica]] e em sua finalidade ela propõe a construção de ecossistemas comunicativos, abertos e criativos<ref>{{citar web|url=http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/201.pdf|titulo=Ecossistema cognitivo e comunicativo|data=|acessodata=28 de maio de 2020|publicado=Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo|ultimo=Salvatierra|primeiro=Eliany}}</ref> com relação horizontalizada entre os participantes e produção colaborativa de conteúdos utilizando diversas linguagens e instrumentos de expressão, arte e comunicação. Como se entende pelo nome, é o encontro da educação com a comunicação, multimídia, colaborativa e interdisciplinar. Pode ser desenvolvida em qualquer ambiente de formação, não está reduzida ao âmbito da educação formal, embora muitas experiências no Brasil venham acontecendo em escolas, especialmente com crianças e adolescentes. O termo também é conhecido abreviadamente como '''''educom'''''. Exemplos de educomunicação são o uso de rádio escola, web rádio virtual, jornal comunitário, [[videogame]]s, softwares de aprendizagem online, [[podcast]]s, [[blog]]s, [[fotografia]], produção de notícias para veiculação em mídias livres, etc.<ref name="Brasil Escola">{{citar web|url=http://www.uneb.br/ecovale/files/2013/08/artigo-18.pdf|titulo=Educomunicação|data=|acessodata=17 de agosto de 2016|publicado=|ultimo=|primeiro=|autor=Érica Daiane da Costa Silva| urlmorta=sim}}</ref>


Desde a década de 1970, instituições supra-estatais, como a [[Unesco|UNESCO]], reivindicaram a importância da formação em Educomunicação, que, sendo transversal, requer tratamento específico em programas escolares, na formação de professores, na educação de famílias e mesmo em adultos, idosos, donas de casa, desempregados.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Aguaded-Gómez|primeiro=Ignacio|data=2011|titulo=Media education: an international unstoppable phenomenon UN, Europe and Spain support for edu-communication|url=http://www.revistacomunicar.com/index.php?contenido=detalles&numero=37&articulo=37-2011-01|jornal=Comunicar|lingua=es|volume=19|numero=37|paginas=7–8|doi=10.3916/c37-2011-01-01|issn=1134-3478}}</ref> No [[Brasil]] várias organizações, movimentos sociais e alguns projetos governamentais desenvolvem programas de educomunicação que possuem em comum a promoção ao protagonismo infanto juvenil, como também a horizontalidade da comunicação, tentando diminuir as diferenças hierárquicas entre educadores e educandos, ampliando o acesso à cultura e à informação de maneira crítica e autônoma.
== Definições ==
'''Educomunicação''' é tanto um conceito quanto uma prática na interface entre Educação e Comunicação. Como prática, propõe novos tipos de aprendizagem, utilizando recursos tecnológicos e novas relações na comunicação, mais democráticas, igualitárias e menos hierarquizadas. Para além das utilizações da educomunicação na Educação, ela também pode ser defendida como um “agir” que busca naturalizar espaços de respeito, harmonia nas relações sociais e emancipação social de qualquer área do conhecimento mediada pela comunicação.<ref name=":0" />


== Método e conceito ==
Como entende-se pelo nome, relaciona os pressupostos da educação com a comunicação, principalmente ao considerar a natureza do processo educativo essencialmente comunicativo. Por tal perspectiva, as linguagens audio-scripto-visuais podem ser observadas e utilizadas à serviço da formação cidadã, uma vez que toda comunicação também educa para algum interesse, relacionado ou não às práticas cidadãs e de bem-estar social. Seu desenvolvimento pode acontecer em qualquer ambiente de formação, pois se aplica no âmbito da educação formal, informal e não formal e do empreendedorismo social. <ref name=":0" />
Educomunicação é tanto uma prática quanto um conceito na interface entre Educação e Comunicação.<ref name="Brasil Escola"/><ref name="Educomunicação o que é isto?">{{citar web |url=http://www.portalgens.com.br/baixararquivos/textos/educomunicacao_o_que_e_isto.pdf |título=Educomunicação o que é isto? |acessodata= |autor=Donizete Soares |data= |obra=Instituto GENS |publicado= Série Abordagens - Instituto GENS }}</ref> Como prática, propõe novos tipos de aprendizagem, utilizando recursos tecnológicos e novas relações na comunicação, mais democráticas, igualitárias e menos hierarquizadas.


O conceito de Educomunicação entendido pelo professor doutor Ismar de Oliveira Soares é "o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádios educativos"<ref>{{citar livro|título=Cadernos de educomunicação 1: caminhos da educomunicação|ultimo=SOARES|primeiro=Ismar de Oliveira|editora=Editora Salesiana|ano=2003|local=São Paulo}}</ref> dentre outros espaços formais ou informais de ensino e aprendizagem. O termo, também conhecido abreviadamente como ''Educom'', ilustra a mudança da comunicação como um fenômeno integralmente midiático e passa a agregar a área educacional como ferramenta potencialmente educadora. Exemplos de educomunicação são o uso de rádio, web rádio virtual, jornal comunitário e [[Videogame|videogames]] na escola; desenvolvimento de softwares de aprendizagem online; oficinas de [[Podcast|podcasts]], [[Blog|blogs]], [[fotografia]] e produção de notícias para a comunidade, com o intuito de formar comunicadores em mídias locais livres e estimular a veiculação crítica de informações e a promoção de espaços de diálogo e validação de expressões culturais de diferentes grupos sociais; além de projetos de extensão que aproximam o conhecimento produzido nas universidades daquele produzido nas comunidades tradicionais; e organização de redes de comunicação entre diferentes atores sociais em prol da mudança social.<ref name=":1">SOARES, Ismar; VIANA, Claudemir; XAVIER, Jurema (Org) (2017) Educomunicação e suas áreas de intervenção: novos paradigmas para o diálogo intercultural. São Paulo: ABPEducom.</ref>
O conceito de Educomunicação entendido pelo professor Ismar de Oliveira Soares<ref name="Ismar de Oliveira Soares">http://lattes.cnpq.br/7611768706433230</ref> é "o conjunto das ações inerentes ao planejamento,<ref name="Ismar de Oliveira Soares"/> implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais,<ref>{{citar web |url=http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/27.pdf |título=Mas, afinal, o que é Educomunicação? |acessodata=13 de outubro de 2012 |autor=Ismar de Oliveira Soares |data= |obra=Universidade de São Paulo |publicado=Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo }}</ref> tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádios educativos", e outros espaços formais ou informais de ensino e aprendizagem.<ref name="UFPE"/>


Com a educomunicação estudamos e trabalhamos em cima de nossas atitudes, em nossos comportamentos, em nossos valores, e nossas decisões considerando as relações com o mundo e com os fatores sociais, políticos, culturais e econômicos. Nesse sentido, o desafio é como inserir na escola e na educação, conteúdos comunicativos que contemplem experiências culturais heterogêneas, através das novas tecnologias da informação e da comunicação.<ref name="UFPE">{{citar web |url=http://www.ufpe.br/nehte/simposio/anais/Anais-Hipertexto-2010/Everaldo-Costa&Cleyton-Douglas-Vital.pdf |título=A educomunicação na produção de conteúdos audiovisuais na formação de jovens |acessodata=13 de outubro de 2012 |autor=Everaldo Costa Santana |coautores=Cleyton Douglas de Apolônio Vital |data= |publicado=Universidade Federal de Pernambuco }}</ref> Embora a educação midiática esteja envolvida na concepção de programas escolares em muitos países, existem agora muitas propostas relacionadas à unificação de um quadro comum para avaliar e criar estratégias unificadas para o desenvolvimento deste tipo de competência nos cidadãos.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Tiede|primeiro=Jennifer|ultimo2=Grafe|primeiro2=Silke|data=2016|titulo=Media Pedagogy in German and U.S. Teacher Education|jornal=Comunicar|volume=24|numero=49|paginas=19–28|issn=1134-3478|doi=10.3916/c49-2016-02|url=https://doi.org/10.3916/C49-2016-02|idioma=es}}</ref>


Possivelmente o primeiro a utilizar o termo "Educomunicador" foi o jornalista argentino [[Mario Kaplún|Mário Kaplun]], referindo-se ao voluntário ou profissional capaz de mediar processos de jornalismo alternativo e projetos de rádio comunitária - O nome inspirou o conceito "Educomunicação", utilizado por [[Jesús Martín-Barbero|Jesus Martin Barbero]] e pela [[ONU]]; Porém o conceito tem sido ampliado, atualizado e reformulado, com grande contribuição do NCE: Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP.
[[Paulo Freire]] é outra referência para o estudo da Educomunicação. Freire entende a educação como uma atividade que depende do ato comunicativo para a construção do conhecimento. Sua forma de pensar a educação, consolidada ao longo dos anos 1960, encontra paralelo na obra do linguista russo [[Mikhail Bakhtin]]. As obras de Bakhtin, dão grande ênfase às características culturais da comunicação, reconhecendo a diversidade linguística e a diferença entre os interlocutores. Dessa forma, a Educomunicação, área que propõe um olhar diferenciado sobre as relações entre educação e comunicação, também utilizam-se das principais ideias de Freire e Bakhtin.


Paulo Freire é outra referência para o estudo da Educomunicação, Freire entende a educação como uma atividade que depende do ato comunicativo para a construção do conhecimento. Sua forma de pensar a educação, consolidada ao longo dos anos 1960, encontra paralelo na obra do linguista russo [[Mikhail Bakhtin]]. As obras de Bakhtin, dão grande ênfase às características culturais da comunicação, reconhecendo a diversidade linguística e a diferença entre os interlocutores. Dessa forma, a Educomunicação, área que propõe um olhar diferenciado sobre as relações entre educação e comunicação, também utilizam-se das principais ideias de Freire e Bakhtin.
Embora a Educomunicação possa ser aplicada em diversos ambientes, propondo adaptações na educação e suas ferramentas comunicativas, seu paradigma está intrinsecamente ligado à democracia plena, uma vez que defende a liberdade e os direitos dos cidadãos, e a compreensão e usufruto destes aos seus direitos civis. Assim, há uma necessidade de ampliar a compreensão dos sujeitos sociais e incentivar o protagonismo em sua realidade, habilitando os cidadãos a exercerem seu papel na sociedade e concitar que reivindiquem e se apropriem de seus direitos, assegurando que cumpram seus deveres sociais.<ref name=":2">ALMEIDA, Ligia Beatriz Carvalho de. (2016) ''Projetos de intervenção em educomunicação.'' Campina Grande/PB. v 1.6 - 24 ago. 16</ref>


Paulo Freire enfatiza a importância da comunicação na educação popular e amplia o conceito buscando a ideia de horizontalidade nessas relações. Em tese de mestrado Walberto Barbosa Silva cita Freire : ''"Nivelar, ou se adequar à comunicação de determinado grupo requer uma série de procedimentos, dos quais alguns se encontram no método de alfabetização em questão."'' <ref>{{Citar web|url=http://www.ce.ufpb.br/ppge/Dissertacoes/dissert06/Walberto%2520Barbosa/Disserta%25E7%25E3o%2520de%2520Walberto%2520Barbosa.pdf|titulo=A PEDAGOGIA DIALÓGICA DE PAULO FREIRE E AS CONTRIBUIÇÕES DA PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA: uma reflexão sobre o papel da comunicação na Educação Popular|data=30/11/2006|acessodata=24/11/2016|obra=A PEDAGOGIA DIALÓGICA DE PAULO FREIRE E AS CONTRIBUIÇÕES DA PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA: uma reflexão sobre o papel da comunicação na Educação Popular|publicado=www.ce.ufpb.br/|ultimo=Silva|primeiro=Walberto}}</ref>
Tal conjuntura revela uma quebra no histórico de opressão latino-americano, de ditatorialismo e autoritarismo por parte dos governos em vigência. O aparelhamento das redes de comunicação pelos Estados dificultavam o acesso à informação e, de diversas maneiras, promoviam o apagamento de suas culturas e identidades nacionais. Sendo assim, a Educomunicação nasce dos movimentos de resistência latino-americanos, promovendo a equidade social através da educação e conhecimento de sua própria história, de modo a evitar a repetição da violência sistêmica.<ref name=":2" />


Apesar de estar falando especificamente de alfabetização nesse caso, fica claro a importância para Freire de uma comunicação que abranja os valores e a cultura de todos participantes do processo para ampliar as vias de acesso aos saberes e ampliar os canais de conhecimento. A educomunicação passa pela construção coletiva de novos saberes e novas formas de se comunicar.
Desde a década de 1970, instituições supra-estatais, como a [[Unesco|UNESCO]], reivindicaram a importância da formação em Educomunicação, que, sendo transversal, requer tratamento específico em programas escolares, na formação de professores, na educação de famílias e sociedade civil. No [[Brasil]] várias organizações, movimentos sociais e alguns projetos governamentais desenvolvem programas de educomunicação que possuem em comum a promoção ao protagonismo infanto juvenil, como também a horizontalidade da comunicação, tentando diminuir as diferenças hierárquicas entre educadores e educandos, ampliando o acesso à cultura e à informação de maneira crítica e autônoma.


== Descrição ==
=== Ecossistemas Comunicativos ===
Segundo pesquisa realizada pelo NCE, são alguns pilares da educomunicação:<ref>http://www.eca.usp.br/comueduc/sum_anter1.htm</ref>
'''Ecossistemas Comunicativos''' são redes de comunicação e estruturas que conectam pessoas com interesses em comum. O termo advém de ecossistema ecológico, baseando-se na ideia dos sistemas naturais, sendo interligados, interdependentes e se interinfluenciam.<ref name=":2" />
* Educação para recepção crítica.
* Expressão comunicativa através da arte.
* Pedagogia da Comunicação.
* Produção de mídia educativa.
* Mediações tecnológicas no espaço educativo.
* Gestão dos processos comunicativos.
* Reflexão epistemológica sobre a inter-relação Comunicação/Educação.
No Brasil os estudos sobre educomunicação estão muito avançados, havendo faculdades com cursos de graduação e especialização. No entanto, entende-se que o educomunicador não é formado na e pela academia, mas sim no prática educomunicativa, que pode acontecer dentro ou fora da escola, em ambientes formais ou informais de aprendizagem. O educomunicador pode ser formado também na produção de mídias, quando preocupada com a pluralidade cultural, participação popular, a consciência crítica e demandas que não costumam interessar à mídia comercial. O educomunicador não é um mero profissional da mídia, nem do mundo educacional, nem pode ser considerado a soma de ambos. É uma nova figura profissional que, a partir de ambas as profissões, oferece um perfil profissional diferenciado e específico que combina sua bagagem comunicativa com suas competências formativas, dado que seu principal alvo é a "audiência" de uma sociedade mediada em seus mais diversos cantos.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Aguaded-Gómez|primeiro=Ignacio|data=2014|titulo=Research as a strategy for training educommunicators: Master and Doctorate|url=http://www.revistacomunicar.com/index.php?contenido=detalles&numero=43&articulo=43-2014-30|jornal=Comunicar|lingua=es|volume=22|numero=43|paginas=07–08|doi=10.3916/c43-2014-a1|issn=1134-3478}}</ref>


=== Educomunicação x TIC ===
Ismar Soares propõe que os ecossistemas educomunicativos buscam o “ideal de relações, construído coletivamente em dado espaço, em decorrência de uma decisão estratégica de favorecer o diálogo social, levando em conta, inclusive, as potencialidades dos meios de comunicação e de suas tecnologias”. Soares evidencia a necessidade de se “cuidar da saúde e do bom fluxo das relações entre as pessoas e os grupos humanos e do seu acesso e do uso adequado das tecnologias da informação” (2002, p. 3) e defende um ecossistema comunicativo que proporcione um ambiente de diálogo equilibrado, no qual todas as partes possam se manifestar livre e respeitosamente, tornando possível a avaliação e a negociação das diferentes opiniões, em busca do melhor para a coletividade.<ref>SOARES, Ismar de Oliveira. ''Ecossistemas Comunicativos''. Acervo NCE/USP. Disponível em: <<nowiki>http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/28.pdf</nowiki>></ref>
A Educomunicação é epistemologicamente diferente das Tecnologia de Informações e Comunicação (TIC). Quando falamos em TIC ou simplesmente Informática Educativa, na realidade, estamos falando de ações pedagógicas que colocam a ênfase nos conteúdos e efeitos produzidos, isto é, em uma estratégia para tornar o conteúdo mais atraente para o aluno, utilizando os meios de comunicação. Sendo assim, a TIC substitui o quadro negro enquanto ferramenta. Já a Educomunicação, coloca a sua ênfase no processo, ou seja, apesar de o conteúdo e o efeito fazerem parte de toda ação pedagógica, o processo educomunicativo não estabelece um "teto de desenvolvimento do conhecimento".


Segundo Juán Diáz Bordenave e Mário Kaplún, quanto aos modelos de educação, existem o modelo exógeno - que põe sua ênfase, na mídia, para produção de conhecimento. Já o modelo endógeno - a ênfase está sobre o sujeito e o processo de produção, isto é, uma relação dialogal entre educador e educando. Mario Kaplún afirma que este último modelo, que poderiamos chamar educomunicativo, propõe um relacionamento horizontal entre aluno e professor.
== Educomunicador(a) ==
[[Ficheiro:CCS - Conselho de Comunicação Social (24964720523).jpg|miniaturadaimagem|[[Ismar de Oliveira Soares]], educomunicador e fundador da Licenciatura em Educomunicação na [[Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo]] (ECA-USP).]]
O '''Educomunicador''', antes de ser formado na e pela academia, nasce da prática educomunicativa, que pode acontecer dentro ou fora da escola, em ambientes formais ou informais de aprendizagem. O Educomunicador pode ser formado também na produção de mídias, quando preocupado com a pluralidade cultural, participação popular,  consciência crítica e demandas que não costumam interessar à mídia comercial. O Educomunicador, vale ressaltar, não é um profissional da mídia, tampouco do mundo educacional, nem pode ser considerado a soma de ambos. É uma nova figura profissional que, a partir de ambas as áreas de conhecimento, oferece um perfil profissional diferenciado e específico que combina sua bagagem comunicativa com suas competências formativas, dado que seu principal alvo é a dialogicidade. <ref name=":0" />


A educomunicação tem como protagonista o criador, através do texto publicado pelo site educador.brasilescola,<ref>http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/educomunicacao.htm</ref> percebesse que a pratica da educomunicação, favorece a nosso educando um aprendizado rico e desafiador, visando fortalecer seu conhecimento de forma construtiva e inovadora.
== Áreas de Intervenção ==


Mediações tecnológicas no espaço educativo.
Segundo o '''Núcleo de Comunicação e Educação''' (NCE), as áreas de intervenção da Educomunicação são<ref name=":1" />:


=== Mediações tecnológicas no espaço educativo ===
* Educação para a comunicação
A escola pode ser um local privilegiado para que os alunos desenvolvam habilidades e se tornem receptores mais preparados frente às mensagens divulgadas pelos veículos midiáticos<ref>{{citar livro|título=Mídia & Educação|ultimo=MELO; TOSTA|primeiro=José Marques; Sandra Pereira|editora=Autêntica|ano=2008|local=Belo Horizonte|páginas=|acessodata=}}</ref>. Os estudo de Martín-Barbero, filósofo espanhol que se radicou na América Latina têm deixado contribuições para o entendimento da recepção midiática. O pensador propôs o estudo da comunicação a partir da cultura. Para ele, mais importante que estudar as intencionalidades dos meios, era entender a produção de sentidos por parte dos receptores: "o eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações, isto é, para as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as diferentes temporalidades e para a pluralidade das matrizes culturais (MARTÍN-BARBERO, 1997, p.258)<ref>{{citar livro|título=Dos meios às mediações|ultimo=MARTIN-BARBERO|primeiro=Jesus|editora=UFRJ|ano=1997|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=}}</ref>.
* Expressão comunicativa através da arte
* Pedagogia da Comunicação
* Mediações tecnológicas na educação
* Gestão da comunicação
* Educomunicação Socioambiental
* Vozes da infância e da juventude


Martín-Barbero propõe explorar as “mediações”, o “espaço” onde acontecem as interações entre a produção e a recepção midiática. Ele aponta três instâncias fundamentais de mediação: a cotidianidade familiar, a temporalidade social e a competência cultural. As contribuições de Martín-Barbero foram utilizadas especialmente pelo pesquisador mexicano Guilherme Orozco Gomez<ref>{{citar livro|título=Audiencias, Televisión Y Educación: Una Deconstrucción Pedagógica de la Televidencia Y Sus Mediaciones|ultimo=GOMEZ|primeiro=Guillermo Orozco|editora=Editorial Trillas|ano=2001|local=México|páginas=|acessodata=}}</ref>, que volta seus estudos para a recepção infantil das mensagens televisivas. Orozco desenvolveu o conceito de “multimediações” para caracterizar as mediações das mais variadas naturezas utilizadas pelo receptor, de caráter psicológico, cognitivo, estrutural. Para o pensador, instituições como a família, a escola, a igreja, os partidos, também influenciam o receptor.{{Referências}}<references />
Como indicado anteriormente, o ecossistema comunicativo é a meta a ser construída pela Educomunicação. As áreas de intervenção, por sua vez, apresentam-se como os caminhos possíveis para as práticas educomunicativas, as ações mediante as quais, ou a partir das quais, os sujeitos sociais passam a refletir sobre suas relações no âmbito da educação.<ref name=":0" />

A Educomunicação atua através de intervenções socioculturais, nas quais o ato de intervir está ligado à identificação de processos comunicacionais não dialógicos, tais como conflitos, irregularidades, opressão, precário aproveitamento da capacidade dos indivíduos de construírem conhecimento e de atuarem como protagonistas de sua própria realidade, além da supressão dos direitos básicos, principalmente, do direito à informação e à comunicação. Identificada a necessidade, cabe planejar e implementar ações recorrendo às áreas de intervenção. Contudo, para que o educomunicador possa atuar como mediador de conflitos, prestar assistência e gerir relacionamentos, ele precisa estar conceitualmente preparado e ter desenvolvido competências específicas.<ref name=":1" />

As áreas de intervenção costumam ser separadas quando se fala em Educomunicação por uma questão pedagógica. No entanto, só existem através do diálogo entre elas. Geralmente, é possível perceber mais de uma área em práticas educomunicativas (com ou sem esse nome) efetivas. <ref name=":1" />

=== Educação para a comunicação ===
A área da '''Educação para a Comunicação''' tem como objetivo a compreensão do fenômeno da comunicação tanto no nível interpressoal e grupal quanto no nível organizacional e massivo, entendendo o lugar e os impactos dos meios de comunicação na sociedade. Uma importante atuação da área reside na implementação de programas de recepção, fundamentados na contribuição das ciências humanas. É a mais antiga e fundante área de intervenção da Educomunicação.<ref name=":0" />

=== Expressão Comunicativa através das artes ===
A área de '''Expressão Comunicativa através das Artes''' busca o empoderamento dos sujeitos/educandos, alcançado por meio de um letramento — estético, na Arte e semântico na [[Comunicação]] — , através de uma perspectiva de transformação social questionadora da supremacia cultural e política de grupos minoritários e elitistas. Esta característica comum é o ponto de partida da aproximação programática entre Educomunicação e [[Ensino de arte|Arte Educação]].

Há pelo menos três ordens de convergências que, em princípio, aproximam a Educomunicação da [[Arte educação|Arte Educação]]: a [[práxis]] em permanente construção; as demandas sociais prioritárias que ambas buscam atender e sua compatibilidade programática.

O grupo de pesquisadores do Núcleo de Comunicação e Educação ([https://www.nceusp.blog.br/ NCE-USP]), definiu quatro vertentes principais a partir das quais os educomunicadores atuam, somando-os aos conceitos de Arte Educação, sendo: educação para a e pela comunicação; a gestão da comunicação nos espaços educativos, a reflexão epistemológica sobre a prática educomunicativa e a mediação tecnológica nos espaços educativos.

Arte, Educação e Comunicação interagem umas com as outras produzindo diversos tipos de relações. Estas relações podem ser multidisciplinares, pluridisciplinares, [[Interdisciplinaridade#Transdisciplinaridade%20e%20multidisciplinaridade|interdisciplinares]] e transdisciplinares, afinal, essa relação é formada por um conjunto de ideias e procedimentos que se interligam e interagem. Colocando o foco nos processos educativos, as trans-áreas Arte/Educação e Comunicação/Educação podem ser observadas, explicadas e postas em prática por diferentes perspectivas, ou paradigmas, que se referem diretamente ao seu contexto. Para haver construção de conhecimento em Arte, são necessárias ações que inter-relacionem produção artística, alfabetização para os meios de comunicação, e leitura crítica e contexto histórico-sócio-cultural.

=== Pedagogia da Comunicação ===
A área da '''Pedagogia da Comunicação''' atua no espaço escolar, ou seja, na [[Educação|educação formal]]. É a área que busca entender as dinâmicas estabelecidas dentro e fora da sala de aula, a relação educador-educando, a didática, os métodos avaliativos e as metodologias de ensino, prezando pela ação através de projetos.<ref name=":0" />

A ação através de projetos visa permitir que mesmo ambientes rígidos, como as instituições escolares, possam ser beneficiados pela lógica educomunicativa através de agentes educacionais e culturais bem treinados para mobilizar colegas e estudantes em torno de zonas de interesse que ofereçam melhorias para o ecossistema. <ref name=":0" />

=== Mediações Tecnológicas na Educação ===
A área de '''Mediações Tecnológicas na Educação''' entende como a presença e adventos das tecnologias afetam e influenciam a nossa sociedade de forma cada vez mais crescente. Sendo assim, é algo que deve ser incorporado no processo de aprendizagem de maneira responsável, buscando oportunidades para que as tecnologias possam “contribuir na gestão do conhecimento na perspectiva da cidadania, do desenvolvimento e da solidariedade”. <ref name=":1" />

A mediação tecnológica na educação é utilizada por educomunicadores como um meio responsável de se apropriar das tecnologias de informação e comunicação para otimizar as oportunidades de aprendizagem. A escola pode ser um local privilegiado para que os alunos desenvolvam habilidades e se tornem receptores mais preparados frente às mensagens divulgadas pelos veículos midiáticos.<ref name=":1" />

=== Gestão da Comunicação ===
A área de '''Gestão da Comunicação''' atua na implantação e manutenção de ecossistemas comunicativos.  A partir dessa área de intervenção, é possível potencializar aprendizagens e a construção coletiva de conhecimentos. Gerir a comunicação deve sempre partir do preceito de que os ambientes devem ser democráticos e os processos comunicativos dialógicos, ou seja, que permitam aos envolvidos um debate aberto, que flua entre os participantes, gerando questionamentos, curiosidades e construção coletiva de conhecimento.<ref>SOARES, Ismar de Oliveira. (2002) ''Gestão comunicativa e educação: caminhos da educomunicação.'' Revista Comunicação & Educação, n. 23, p. 23-25.</ref>

Essa área de intervenção dialoga com as demais, considerando que, para realizar a uma atividade educomunicativa, normalmente, primeiro deve realizar a gestão da comunicação, a fim de mapear potências e fragilidades na comunicação, recursos necessários e, a partir disso, propõe estratégias para ampliar as relações comunicativas. É neste momento que as demais áreas de intervenção da Educomunicação são levadas em conta, fornecendo mais ferramentas para estruturar a estratégia comunicativa.<ref>ALMEIDA, Lígia Beatriz Carvalho de. (2016) ''Projetos de intervenção em educomunicação.'' Campina Grande-PB.</ref>

=== Educomunicação Socioambiental ===
A área de '''Educomunicação Socioambiental''' consiste em ações que, por meio da comunicação, objetivam a transformação social em prol da conservação e utilização sustentável dos recursos naturais. Tais ações são caracterizadas por promoverem ecossistemas comunicativos e movimentos em rede que buscam engajar os sujeitos nos diálogos promovidos entre diversos setores sociais que se relacionam com o meio ambiente. <ref name=":0" />

Esta área de intervenção da Educomunicação cresceu em consonância com a criação de Políticas Públicas que incentivavam o envolvimento da população em projetos de Educação Ambiental, considerando a utilização dos meios de comunicação, de uma gestão participativa e democrática.

Apesar da proximidade com a Educação Ambiental, a Educomunicação Socioambiental pontua o jornalismo, a arte, o cinema, as grandes mídias televisivas, a mídia livre, a rádio comunitária, as redes de contato e outras áreas da comunicação e da cultura como essenciais para gerar mudanças efetivas no cotidiano dos indivíduos, de forma a reduzir os danos ambientais e promover a consciência de que as problemáticas ambientais não estão isoladas das problemáticas sociais. <ref name=":0" />

A Educomunicação Socioambiental também pode ser notada em projetos que objetivam o empoderamento de culturas que tradicionalmente promovem uma exploração sustentável dos recursos naturais e são historicamente desvalorizadas em detrimento do crescimento de modelos industriais de extração e de uma postura colonizadora do setor científico, que invisibilizam, inferiorizam e limitam a vitalidade de tais culturas. Nesse sentido, são exemplos de ações educomunicativas a alfabetização midiática de comunidades tradicionais e povos indígenas para a autonomia na produção de informações, notícias, peças audiovisuais documentais, rádios, etc; metodologias de pesquisa científica que desenvolvam projetos com a comunidade e não sobre a comunidade; projetos que incentivam a presença de agentes sociais da comunidade no gerenciamento de territórios extrativistas, e na participação política, como de pequenos produtores, pescadores, marisqueiras etc; projetos que enaltecem a importância da arte, do artesanato, festas tradicionais e de outras manifestações culturais que expressam a identidade das comunidades; espaços de diálogo entre movimentos socioambientais, extrativistas, educadores ambientais, industrialistas, comerciantes, pesquisadores, parlamentares e outros setores da sociedade, adotando estratégias comunicativas de inclusão da opinião pública no diálogo; e mesmo, a difusão científica acerca do conhecimento produzido sobre o meio ambiente que utiliza de formas acessíveis de comunicação e de diferentes linguagens midiáticas. <ref name=":0" />

A vertente tem cada vez mais contribuições de pesquisadores e educomunicadores que buscam identificar e desenvolver este campo de atuação, por isso é possível conhecer exemplos práticos a partir de pesquisas realizadas acerca de projetos e ações que envolvem a educomunicação socioambiental, como em sua relação com políticas públicas; no levantamento e análise de projetos no Brasil; na fundamentação de práticas pedagógicas; na própria reflexão epistemológica sobre o campo; entre outras aplicações que podem ser encontradas no site da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEDUCOM). <ref>ZIMERMANN, Patricia. (2019) ''Educomunicação socioambiental como política pública: a mobilização cidadã no ecossistema Babitonga.'' Dissertação (Mestrado em Interfaces Sociais da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. Disponível em: <nowiki>https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-22012020-173051/pt-br.php</nowiki></ref> <ref>SILVEIRA, Isabelle da. (2020) ''Educomunicação Socioambiental Costeira e Marinha.'' In: GERHARDINGER, Leopoldo Cavaleri; GUARDA, Adayse da (org.). I Relatório do Programa Horizonte Oceânico Brasileiro: Ampliando o horizonte da governança inclusiva para o desenvolvimento sustentável do oceano brasileiro. vol. 1. Secretaria Executiva Painel Mar, 2020. p. 35-54.</ref> <ref>FREITAS, José Vicente de; FERREIRA, Felipe Nóbrega. (2020) ''Educomunicação Socioambiental como estratégia pedagógica no ensino infantil.'' Revista Educação & Formação, vol. 5, núm. 2, 2020, Maio-Agosto, pp. 54-72 Universidade Estadual do Ceará. </ref>

=== Vozes da Infância e da Juventude ===
A área de intervenção '''Vozes da Infância e da Juventude''' representa a narrativa do mundo através das vozes desse público enquanto protagonistas da Educomunicação.  O Educomunicador trabalha no sentido de produzir atividades que estimulem os jovens a se apropriarem do seu meio e de tudo mais que os influenciam, trabalha atividades para que eles desenvolvam, dentro de suas limitações, o senso crítico sobre o seu mundo e, por fim, fornece as ferramentas  para que tenham a oportunidade de se expressarem de uma forma livre e espontânea. <ref name=":1" />

Alguns exemplos destas atividades desenvolvidas no Brasil foram apresentados no debate temático “Vozes da Infância e da Juventude: Experiências Educomunicativas em Alfabetização Midiática e Informacional”, ocorrido no VII Encontro Brasileiro de Educomunicação, realizado em 2016, na Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo (ECA/USP), e apresentado por Soares (2017) no livro “Educomunicação e suas áreas de intervenção: novos paradigmas para o diálogo intercultural ”. <ref name=":1" />

== Referências ==
<references />
== Ligações externas ==
== Ligações externas ==
*Licenciatura em Educomunicação (ECA-USP) [http://www.cca.eca.usp.br/educom]
* Licenciatura em Educom USP http://www.cca.eca.usp.br/educom
* As sete áreas de intervenção segundo Ismar Soares http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/81225
*Bacharelado em Educomunicação (UFCG) [https://portal.ufcg.edu.br/graduacao/cursos-graduacao/759-educom.html]
* [http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/radio/radio_basico/inicio_oqueeeducomunicacao.htm O que é Educomunicação? - Site Webeduc do MEC]
* Revista Comunicação e Educação [https://www.revistas.usp.br/comueduc]
* [http://www.educomunicacao.org.br Curso de formação em Educomunicação - Website do curso livre]
*Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) [https://www.nceusp.blog.br/]
* [https://www.facebook.com/Educomufcg/ - Perfil do curso de bacharelado da UFCG]
*Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom) [https://abpeducom.org.br/]



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Revisão das 21h55min de 20 de julho de 2021

Educomunicação é um campo teórico-prático que propõe uma intervenção a partir de algumas linhas básicas como: educação para a mídia; uso das mídias na educação; produção de conteúdos educativos; gestão democrática das mídias; e prática epistemológica e experimental do conceito. Há quem defenda a educomunicação como uma metodologia pedagógica e em sua finalidade ela propõe a construção de ecossistemas comunicativos, abertos e criativos[1] com relação horizontalizada entre os participantes e produção colaborativa de conteúdos utilizando diversas linguagens e instrumentos de expressão, arte e comunicação. Como se entende pelo nome, é o encontro da educação com a comunicação, multimídia, colaborativa e interdisciplinar. Pode ser desenvolvida em qualquer ambiente de formação, não está reduzida ao âmbito da educação formal, embora muitas experiências no Brasil venham acontecendo em escolas, especialmente com crianças e adolescentes. O termo também é conhecido abreviadamente como educom. Exemplos de educomunicação são o uso de rádio escola, web rádio virtual, jornal comunitário, videogames, softwares de aprendizagem online, podcasts, blogs, fotografia, produção de notícias para veiculação em mídias livres, etc.[2]

Desde a década de 1970, instituições supra-estatais, como a UNESCO, reivindicaram a importância da formação em Educomunicação, que, sendo transversal, requer tratamento específico em programas escolares, na formação de professores, na educação de famílias e mesmo em adultos, idosos, donas de casa, desempregados.[3] No Brasil várias organizações, movimentos sociais e alguns projetos governamentais desenvolvem programas de educomunicação que possuem em comum a promoção ao protagonismo infanto juvenil, como também a horizontalidade da comunicação, tentando diminuir as diferenças hierárquicas entre educadores e educandos, ampliando o acesso à cultura e à informação de maneira crítica e autônoma.

Método e conceito

Educomunicação é tanto uma prática quanto um conceito na interface entre Educação e Comunicação.[2][4] Como prática, propõe novos tipos de aprendizagem, utilizando recursos tecnológicos e novas relações na comunicação, mais democráticas, igualitárias e menos hierarquizadas.

O conceito de Educomunicação entendido pelo professor Ismar de Oliveira Soares[5] é "o conjunto das ações inerentes ao planejamento,[5] implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais,[6] tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádios educativos", e outros espaços formais ou informais de ensino e aprendizagem.[7]

Com a educomunicação estudamos e trabalhamos em cima de nossas atitudes, em nossos comportamentos, em nossos valores, e nossas decisões considerando as relações com o mundo e com os fatores sociais, políticos, culturais e econômicos. Nesse sentido, o desafio é como inserir na escola e na educação, conteúdos comunicativos que contemplem experiências culturais heterogêneas, através das novas tecnologias da informação e da comunicação.[7] Embora a educação midiática esteja envolvida na concepção de programas escolares em muitos países, existem agora muitas propostas relacionadas à unificação de um quadro comum para avaliar e criar estratégias unificadas para o desenvolvimento deste tipo de competência nos cidadãos.[8]

Possivelmente o primeiro a utilizar o termo "Educomunicador" foi o jornalista argentino Mário Kaplun, referindo-se ao voluntário ou profissional capaz de mediar processos de jornalismo alternativo e projetos de rádio comunitária - O nome inspirou o conceito "Educomunicação", utilizado por Jesus Martin Barbero e pela ONU; Porém o conceito tem sido ampliado, atualizado e reformulado, com grande contribuição do NCE: Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP.

Paulo Freire é outra referência para o estudo da Educomunicação, Freire entende a educação como uma atividade que depende do ato comunicativo para a construção do conhecimento. Sua forma de pensar a educação, consolidada ao longo dos anos 1960, encontra paralelo na obra do linguista russo Mikhail Bakhtin. As obras de Bakhtin, dão grande ênfase às características culturais da comunicação, reconhecendo a diversidade linguística e a diferença entre os interlocutores. Dessa forma, a Educomunicação, área que propõe um olhar diferenciado sobre as relações entre educação e comunicação, também utilizam-se das principais ideias de Freire e Bakhtin.

Paulo Freire enfatiza a importância da comunicação na educação popular e amplia o conceito buscando a ideia de horizontalidade nessas relações. Em tese de mestrado Walberto Barbosa Silva cita Freire : "Nivelar, ou se adequar à comunicação de determinado grupo requer uma série de procedimentos, dos quais alguns se encontram no método de alfabetização em questão." [9]

Apesar de estar falando especificamente de alfabetização nesse caso, fica claro a importância para Freire de uma comunicação que abranja os valores e a cultura de todos participantes do processo para ampliar as vias de acesso aos saberes e ampliar os canais de conhecimento. A educomunicação passa pela construção coletiva de novos saberes e novas formas de se comunicar.

Descrição

Segundo pesquisa realizada pelo NCE, são alguns pilares da educomunicação:[10]

  • Educação para recepção crítica.
  • Expressão comunicativa através da arte.
  • Pedagogia da Comunicação.
  • Produção de mídia educativa.
  • Mediações tecnológicas no espaço educativo.
  • Gestão dos processos comunicativos.
  • Reflexão epistemológica sobre a inter-relação Comunicação/Educação.

No Brasil os estudos sobre educomunicação estão muito avançados, havendo faculdades com cursos de graduação e especialização. No entanto, entende-se que o educomunicador não é formado na e pela academia, mas sim no prática educomunicativa, que pode acontecer dentro ou fora da escola, em ambientes formais ou informais de aprendizagem. O educomunicador pode ser formado também na produção de mídias, quando preocupada com a pluralidade cultural, participação popular, a consciência crítica e demandas que não costumam interessar à mídia comercial. O educomunicador não é um mero profissional da mídia, nem do mundo educacional, nem pode ser considerado a soma de ambos. É uma nova figura profissional que, a partir de ambas as profissões, oferece um perfil profissional diferenciado e específico que combina sua bagagem comunicativa com suas competências formativas, dado que seu principal alvo é a "audiência" de uma sociedade mediada em seus mais diversos cantos.[11]

Educomunicação x TIC

A Educomunicação é epistemologicamente diferente das Tecnologia de Informações e Comunicação (TIC). Quando falamos em TIC ou simplesmente Informática Educativa, na realidade, estamos falando de ações pedagógicas que colocam a ênfase nos conteúdos e efeitos produzidos, isto é, em uma estratégia para tornar o conteúdo mais atraente para o aluno, utilizando os meios de comunicação. Sendo assim, a TIC substitui o quadro negro enquanto ferramenta. Já a Educomunicação, coloca a sua ênfase no processo, ou seja, apesar de o conteúdo e o efeito fazerem parte de toda ação pedagógica, o processo educomunicativo não estabelece um "teto de desenvolvimento do conhecimento".

Segundo Juán Diáz Bordenave e Mário Kaplún, quanto aos modelos de educação, existem o modelo exógeno - que põe sua ênfase, na mídia, para produção de conhecimento. Já o modelo endógeno - a ênfase está sobre o sujeito e o processo de produção, isto é, uma relação dialogal entre educador e educando. Mario Kaplún afirma que este último modelo, que poderiamos chamar educomunicativo, propõe um relacionamento horizontal entre aluno e professor.

A educomunicação tem como protagonista o criador, através do texto publicado pelo site educador.brasilescola,[12] percebesse que a pratica da educomunicação, favorece a nosso educando um aprendizado rico e desafiador, visando fortalecer seu conhecimento de forma construtiva e inovadora.

Mediações tecnológicas no espaço educativo.

Mediações tecnológicas no espaço educativo

A escola pode ser um local privilegiado para que os alunos desenvolvam habilidades e se tornem receptores mais preparados frente às mensagens divulgadas pelos veículos midiáticos[13]. Os estudo de Martín-Barbero, filósofo espanhol que se radicou na América Latina têm deixado contribuições para o entendimento da recepção midiática. O pensador propôs o estudo da comunicação a partir da cultura. Para ele, mais importante que estudar as intencionalidades dos meios, era entender a produção de sentidos por parte dos receptores: "o eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações, isto é, para as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as diferentes temporalidades e para a pluralidade das matrizes culturais (MARTÍN-BARBERO, 1997, p.258)[14].

Martín-Barbero propõe explorar as “mediações”, o “espaço” onde acontecem as interações entre a produção e a recepção midiática. Ele aponta três instâncias fundamentais de mediação: a cotidianidade familiar, a temporalidade social e a competência cultural. As contribuições de Martín-Barbero foram utilizadas especialmente pelo pesquisador mexicano Guilherme Orozco Gomez[15], que volta seus estudos para a recepção infantil das mensagens televisivas. Orozco desenvolveu o conceito de “multimediações” para caracterizar as mediações das mais variadas naturezas utilizadas pelo receptor, de caráter psicológico, cognitivo, estrutural. Para o pensador, instituições como a família, a escola, a igreja, os partidos, também influenciam o receptor.

Referências

  1. Salvatierra, Eliany. «Ecossistema cognitivo e comunicativo» (PDF). Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo. Consultado em 28 de maio de 2020 
  2. a b Érica Daiane da Costa Silva. «Educomunicação» (PDF). Consultado em 17 de agosto de 2016 [ligação inativa] 
  3. Aguaded-Gómez, Ignacio (2011). «Media education: an international unstoppable phenomenon UN, Europe and Spain support for edu-communication». Comunicar (em espanhol). 19 (37): 7–8. ISSN 1134-3478. doi:10.3916/c37-2011-01-01 
  4. Donizete Soares. «Educomunicação o que é isto?» (PDF). Instituto GENS. Série Abordagens - Instituto GENS 
  5. a b http://lattes.cnpq.br/7611768706433230
  6. Ismar de Oliveira Soares. «Mas, afinal, o que é Educomunicação?» (PDF). Universidade de São Paulo. Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo. Consultado em 13 de outubro de 2012 
  7. a b Everaldo Costa Santana; Cleyton Douglas de Apolônio Vital. «A educomunicação na produção de conteúdos audiovisuais na formação de jovens» (PDF). Universidade Federal de Pernambuco. Consultado em 13 de outubro de 2012 
  8. Tiede, Jennifer; Grafe, Silke (2016). «Media Pedagogy in German and U.S. Teacher Education». Comunicar (em espanhol). 24 (49): 19–28. ISSN 1134-3478. doi:10.3916/c49-2016-02 
  9. Silva, Walberto (30 de novembro de 2006). «A PEDAGOGIA DIALÓGICA DE PAULO FREIRE E AS CONTRIBUIÇÕES DA PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA: uma reflexão sobre o papel da comunicação na Educação Popular» (PDF). A PEDAGOGIA DIALÓGICA DE PAULO FREIRE E AS CONTRIBUIÇÕES DA PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA: uma reflexão sobre o papel da comunicação na Educação Popular. www.ce.ufpb.br/. Consultado em 24 de novembro de 2016 
  10. http://www.eca.usp.br/comueduc/sum_anter1.htm
  11. Aguaded-Gómez, Ignacio (2014). «Research as a strategy for training educommunicators: Master and Doctorate». Comunicar (em espanhol). 22 (43): 07–08. ISSN 1134-3478. doi:10.3916/c43-2014-a1 
  12. http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/educomunicacao.htm
  13. MELO; TOSTA, José Marques; Sandra Pereira (2008). Mídia & Educação. Belo Horizonte: Autêntica 
  14. MARTIN-BARBERO, Jesus (1997). Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ 
  15. GOMEZ, Guillermo Orozco (2001). Audiencias, Televisión Y Educación: Una Deconstrucción Pedagógica de la Televidencia Y Sus Mediaciones. México: Editorial Trillas 

Ligações externas

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