Avelãs de Caminho: diferenças entre revisões

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'''Avelãs de Caminho''' é uma [[freguesia]] [[Portugal|portuguesa]] do concelho de [[Anadia (Portugal)|Anadia]], com 6,27 km² de área e 1 252 habitantes (2011). Densidade: 199,7 hab/km².
'''Avelãs de Caminho''' é uma [[freguesia]] [[Portugal|portuguesa]] do concelho e comarca de [[Anadia (Portugal)|Anadia]], distrito e diocese de Aveiro, com 6,27 km² de área e 1 252 habitantes (2011). Densidade: 199,7 hab/km².


Toponímia
Foi vila e sede de concelho entre [[1514]] e [[1836]]. Era constituído por uma freguesia e tinha, em [[1801]], 425 habitantes.


Depreende-se que Avelanas “deveria ter sido o nome da região baixa daquela ribeira que, vinda de nascente das alturas do Boialvo, vai afluir ao Cértoma pela margem direita «ubi se avelanas infundit in certoma», diz um documento de 1064, dela tomando nome as duas actuais sedes de freguesia (Avelãs do Caminho e Avelãs de Cima) e o pequeno curso fluvial”, como relata A. Nogueira Gonçalves – Inventário Artístico de Portugal, 1959.
Possui comércio tradicional, inúmeros cafés, casa do povo, posto médico, lojas de estética e lojas de eletrodomésticos e mobílias. Tem também uma larga zona industrial.


Presume-se ainda que esta região, por altura da ocupação romana e especialmente as margens do rio, seriam riquíssimas de aveleiras, o que ocasionaria que essa ribeira adquirisse o nome “Avellañum”. Nesta zona criaram-se povoações, as quais eram naturalmente designadas tomando como referência as suas envolventes mais marcantes, e as aveleiras eram-no, decerto.
Era, porém, necessário distinguir as povoações, e à semelhança do que aconteceu noutras zonas, utilizou-se o relevo para fazer essa distinção, adoptando-se os designativos: de cima e de baixo.

Assim, com o definitivo de cima e de baixo, encontram-se por exemplo na carta de couto de D. Afonso Henriques para Barrô, de 14 de Fevereiro de 1132: “Avelanas de Insanas, Avelanas de Susanas”. A erosão temporal levou a que Avelãs de Baixo tenha evoluído para Avelãs do Caminho. A explicação para este facto assenta certamente no facto de Avelãs se situar sobre uma antiquíssima via militar romana, obra de Júlio César, sendo o designativo “do Caminho” talvez uma forma de determinar melhor o sítio dentro da viação antiga. Mais tarde, já no século XII, essa mesma via – agora apelidada de Estrada Real, que partia de Conimbriga até Bracara Augusta (Braga) – seria da mesma forma uma referência para designar a povoação de Avelãs. Como esta via era muito utilizada para deslocações ao Porto, chegou mesmo a chamar-se à nossa povoação, a certa altura, “Avelãs do Caminho do Porto”. A confirmar esta tese, vejamos que a nossa povoação só passou a ser designada de Avelãs do Caminho, numa altura em que o nosso país já possuía as suas fronteiras delineadas e se preparava para a grande epopeia dos Descobrimentos. Desta forma, uma maior estabilidade no país, permitiu a reabilitação da velha via militar romana, via essa que se tornou rota frequente das comitivas reais e que terá sido determinante para a atribuição definitiva do nome à nossa povoação. Alguns autores eruditos, mantém por historicidade o designativo “do Caminho”, ao invés do “de Caminho”, como vulgarmente é usado.

A tradição popular, especialmente rica em Portugal, aborda esta temática de uma forma bastante mais simples, senão vejamos. Diz-se ainda hoje, que o designativo “de Caminho”, derivaria de expressões proferidas pelos habitantes de aldeias vizinhas, quando estes aqui se dirigiam, como por exemplo: “Vamos ali a baixo de Caminho”. Será fantasioso crer que assim fosse, pois o designativo “de Caminho”, dificilmente poderia ter evoluído a partir de uma forma arcaica com mais de 600 anos, com o sentido que actualmente lhe é conferido. Esta interpretação popular afasta-se, portanto, da realidade. No entanto, não raras vezes, são estes ditos do povo que nos dão informações preciosas para a investigação.

Conclui-se, portanto, que a forma hoje vulgarmente usada para denominar a nossa freguesia – Avelãs de Caminho – foi só tardiamente adoptada, talvez com base numa forma oral incorrecta.

Evolução da denominação de Avelãs do Caminho

Até ao estabelecimento da forma final que hoje todos conhecemos, a denominação da nossa povoação sofreu uma evolução de cerca de 2000 anos. Inicialmente, em crónicas romanas do tempo de César Augusto, no século I a.C., designava-se Avellañum à região que abrangia uma área que correspondia aproximadamente aos limites das actuais freguesias de Avelãs do Caminho e Avelãs de Cima. Muito embora não se possa dizer que Avellañum fosse realmente o nome da nossa povoação, pelo menos é a primeira forma conhecida de a apelidar. Muito mais tarde, vários documentos datados de 961 e 1064, já a designavam de Avelanas. A carta de couto para Barrô em 1132 faz referência a Avelanas de Susanas e as Inquirições de D. Afonso II, já no século XIII, chamava-lhe Avelanis de Jusanis [Avelãs de Jusão]. Em alguns mapas do século seguinte, aparece sob a forma de Avela Camiha e num livro de linhagens datado de 1428, aparece como Avelans do Caminho. No foral dado a esta “villa” em 1514, por D. Manuel I, pode ler-se ainda sob a forma de Avelãas do Camynho. Daí até à forma actual, são inúmeras as formas que se nos deparam, algumas provavelmente por erro de grafia: Avelans do Caminho, Santo António de Avelans do Caminho, Avellans do Caminho,...

De acordo com todo o estudo de toponímia que foi realizado no que se refere a este tema, parece-me que a forma hoje usada – Avelãs de Caminho – não respeita a origem, nem as referências históricas que levaram a que a designação da nossa povoação fosse estabelecida. Assim, a forma que lhe confere um sentido e uma razão de ser e que nos parece mais correcta será Avelãs do Caminho.

Independência paroquial de Avelãs e a emancipação da freguesia de Sangalhos
A desanexação da nossa povoação, da freguesia de Sangalhos, não foi pacífica, sendo necessários mais de 300 anos para que ela se tornasse realidade.

A independência paroquial de Avelãs do Caminho, começou a esboçar-se no século XVI, favorecida pela existência aqui de um concelho. Alegava-se falta de ponte no Cértoma e de caminhos regulares para ir à matriz.

Inicialmente, e como já aqui dissemos, decorrente da visitação realizada, em 1587, pelo Ldº Luis Alvares Seco, é determinado pelo visitador que, na capela de Santo António desta vila, passasse a residir um vigário coadjutor, que nela rezaria missa todos os Domingos e Dias Santos. Não sabemos se isso se veio a verificar, pois não era definitivamente do interesse de Sangalhos esta medida. No entanto, sabe-se que houve ali um capelão, pago pelos habitantes, para rezar missa nesses dias.

Depois, em 1641 e 1651, o visitador do arcediago criou ali um cura coadjutor do vigário de Sangalhos, pago pelas freiras donatárias. Em 1688, a Câmara e povo de Avelãs, ofereceram uma pia baptismal para a capela, e foram lá autorizados os baptismos e casamentos. Era meia autonomia!

No entanto, muito estava ainda por fazer, pois em ocasiões em que se conduziam defuntos, deste lugar para a sede da antiga freguesia, e havendo cheias, caíam os caixões à água e eram arrastados pela corrente. Este factor, exigia a construção de um edifício de Igreja em Avelãs.

Em 1698, começou a erguer-se a Igreja Nova e só, quase 100 anos depois, se começam a fazer aí os assentos de nascimentos, casamentos e óbitos que, até aí, se faziam em Sangalhos. Estes registos, no entanto só se começaram a fazer ininterruptamente a partir de 1828.

Deve frisar-se que, apesar de todo o conjunto de documentação sobre este assunto, indicar o ano de 1790 como data provável de emancipação de Avelãs do Caminho da freguesia de Sangalhos, isso só aconteceu verdadeiramente quase 50 anos depois, em 1834, com o Liberalismo.

Através da análise dos “Registos de Baptismos da Igreja de Avelãs do Caminho”, pode ler-se que foi aqui realizado um baptismo, a 18 de Abril de 1829, por impossibilidade de atravessar o rio. Diz o registo: “Foi baptizado aqui p. Causa da passagem do rio Certª. Com licença.” Este documento, prova que o rio, em altura de cheias (que eram frequentes durante todo o período de Inverno), era um impedimento para os avelenses se poderem deslocar à matriz.

Apesar da emancipação de Avelãs do Caminho da freguesia de Sangalhos e da extinção dos seus concelhos em 1834 e 1853, respectivamente, os problemas com formação das suas freguesias, prolongaram-se, até hoje, com a indefinição dos limites das mesmas.

Muitas questões se tem colocado desde então. No livro de actas das sessões de Junta de Paróquia de 1854 a 1878, pode ler-se:

“Por ofício dirigido à Junta, pelo Presidente da Comissão de Arredondamento e Divisão das Freguesias, esta entendeu reunir nesta freguesia [Avelãs do Caminho] os seguintes lugares:

Lavoura de Azenha – 9 fogos;
Póvoa do Castelo – 1 fogo;
Póvoa do Salgueiro – 6 fogos;
Porto de Lobo – 3 fogos;
São João da Azenha – 16 fogos;
Vidoeira – 4 fogos;
Avelãs do Caminho – 116 fogos.

O presidente da Junta considerou que a freguesia mesmo assim ficava pequena e se lhe deveriam juntar ainda:
Lugar do Pereiro;
Quinta do Brejo, num total de 32 fogos,

pertencentes à freguesia de Avelãs de Cima, mas que ficam muito mais próximas da Igreja de Avelãs do Caminho e com melhores acessos.”

Por esta acta se pode concluir que no processo de organização das freguesias, existia um projecto para que, os 7 lugares primeiramente citados, passariam a constituir a freguesia de Avelãs do Caminho, o que não chegou a acontecer, apesar daquelas povoações assim o desejarem. Podemos ler isso mesmo na acta da sessão extraordinária de 2 de Julho de 1875: “(...) foi esta sessão convocada para deliberar sobre a petição que os povos de Porto Lobo, S. João da Azenha, Póvoa do Castelo, Póvoa do Salgueiro e Vidoeiro para anexação à freguesia de Avelãs do Caminho (...)”

No entanto, a vontade destas populações não foi respeitada, e na sessão de 19 de Setembro de 1875, pode verificar-se que aquelas foram pressionados no sentido de voltar a trás nas suas intenções. Pela importância que o documento revela, transcreve-se de seguida a acta daquela sessão.

Acta da sessão de 19 de 7bro de 1875

A Junta de parochia d’Avellãns de Caminho convocada e prezidida pelo Revº Parocho para articular sobre a representação que alguns moradores de S. João da Azenha e Póvoas fizeram subir ao Throno de S. M. F.[Sua Majestade Fidelíssima] para continuarem a pertencer à fregª de Sangalhos, julga ser do seu dever declarar que na dicta representação, muitas cousas se dizem que estão em absoluta dissonância com a verdade. Se não vejamos: tinhão à mezes representado a S. M. pª serem anexados a esta fregª mais de dois terços dos habitantes eleitores dos logares que ficão aquem do Certima, pertencentes a Sangalhos; allegarão razões poderosas e verdadeiras, mostraram a conveniência que havia na dita annexação. A pia representação foi devolvida à J. de Parochia de Sangalhos para ella emitir o seu juízo sobre a petição d’aquelles povos; e o Revº Parocho d’aquella fregª ordenou uma contra-representação com alguns membros da freguesia, o regedor, alguns padres e outros indivíduos e dirigiu-se para Azenha em companhia d’elles para todos fazerem com que os signatários da 1ª representação, anulassem a primeira, assignando a 2ª q elles traziam. Aos instantes pedidos sucedião as ameaças. Durante duas noites se viu o Parocho com a sua comitiva de porta em porta, pedindo aos seus fregueses, instando bem com elles pª assignarem a contra-representação. Foram atendidos os seus esforços. Dos dezassete signatários poucos cederam às instâncias dos que pedião. A amisade e o parentesco zombaram do seu brio, levando-os a praticar actos que pouco os honra (...)

(...) Dos signatários não eleitores muitos asignaram, sabemo-lo, pª fazer a vontade a quem lhes pedia, mas os seus desejos são serem desmembrados da freguesia de Sangalhos. (...) de notar q entre os signatários não eleitores se contam até menores que vivem ainda debaixo do patrio, alguns d’elles, nos parece, não tocar ainda a idade da puberdade.

(...) A freguezia de A. de Caminho não conta só 109 fogos como erradamente a contra-representação, mas 135. (...) A importância do logar [Avelãs de Caminho], um dos melhores do concelho, e a distância em que se acha das freguezias confinantes, clamão bem alto, que ella não deve ser suprimida e a cel-o não deve ser annexada à de Sangalhos por cauza do Cértima. Sucede muitas vezes ser impossível a passagem quando o inverno é muito chuvoso.”

Aqui se questiona também “(...) e como havia o párocho de Sangalhos em occasiões dessas vir a Avelãs administrar Sacramentos?”

A argumentação base da freguesia de Sangalhos, é que Avelãs do Caminho já lhe havia pertencido e, por isso, deveria deixar de existir e ser-lhe anexada. É uma argumentação pobre, face à exposição anteriormente apresentada por Avelãs. Esquecem-se decerto que no tempo em que Avelãs pertencia aquela freguesia [Sangalhos], “(...) havia aqui um vigário ou cura permanente pago pelas freiras de Sta Clara, e aqui se administravam todos os sacramentos.” (...) O que nos espanta é dizerem os signatários da nova representação que os motivos allegados pelos da 1ª são menos verdadeiros: mas não cedderam provas. Aqui a falsidade, para não dizer a mintira corre parelhas com a má fé. São menos verdadeiros?!! Porquê? (...) Se a verdade é aquillo q é, os signat. da 1ª repres. nada disseram que assim não fosse. Para dar força a uma petição allegaram que ficarão mais perto d’Avelãs, e ninguém com verdade, o pode negar, q tinhão mais fáceis communicações com Avellãs, e não disserão mintira nenhuma, q na Ig.ª d’Avel. se havião practicado actos religiosos por sua cauza, motivados pela necessidade, e os livros do registo parochial confirmão as suas palavras. Então em que são menos verdadeiros os motivos q allegarão. Todos os logares d’aquem do Certima pertencentes à fregª de Sangalhos ficão mais perto d’Avellãs, e tem muito mais faceis communicações pª ella. E para Sangalhos? Tem até ao Certima um carreiro e um caminho de carro por onde se não pode transitar nem de verão nem d’inverno por causa das agoas e das lamas (...) e é sempre a subir. Ora quando o Certima enche e os campos se cobrem de agoas ficando impossibilitada a passagem como ha de o parocho de Sangalhos administrar os Sacramentos a um moribundo. Ou como hão de os povos de que se falla, irem à Igreja matriz satisfazerem certos deveres? Como se hão de levar ao cemitério os cadaveres dos finados? Como se hão de levar à Ig.ª creanças pª receberem o baptismo?

(...) se sepultaram na Ig. Paroch. d’esta freg.ª à alguns annos cadaveres de finados d’aquelles logares e muitos individuos receberam nella sacramentos de baptismo, sendo o numero destes de 13, e daquelles 6, como consta dos livros d’esta freg.ª, afora aquelles de que os Parochos desta freg.ª não lavraram assentos, por ser isto um dever dos de Sangalhos. (...)

Como se pode verificar, por estes extractos, várias são as ocasiões em que é impossível que as cerimónias se realizem na matriz, por causa da passagem do rio Cértima. Por teimosia e falta senso não se permitiu que aqueles povos [São João da Azenha, Póvoas, etc] pudessem ser integrados nesta freguesia, facilitando-lhes o acesso às práticas religiosas, fundamentais na vida daquelas pessoas, principalmente se nos situarmos no tempo. Pode ler-se ainda, a confirmar esta situação:

“Supponha-se o caso de encher o Certima e ser preciso receber os Sacramentos da Madre Igreja, perguntamos quem lhos ha de ministrar? O parocho de Sangalhos? Não, que não pode passar, hao de valer-se pª isso do d’Avellãs como já tem succedido, ou d’Agoada de Baixo. Morre um indivíduo (...) onde ha de sepultar-se? No cemitério de Sangalhos só indo passar a Canha andando assim muito mais de uma legoa. Os motivos allegados mostrão bem a vantagem que estes povos tem de serem annexados a Avellãs.(...)

Avellãs de Caminho, 19 de Setembro de 1875

O Parocho – Manoel Roiz d’Oliveira
O Vogal – Joze Seabra da Motta
O Vogal – Joaquim da Costa Abrantes

Património e Arte

Grande parte do património e da arte existentes em Avelãs do Caminho, encontra-se localizado em dois pólos que conservam a arquitectura religiosa avelense: A Igreja e a Capela do Nosso Senhor dos Aflitos.

A Igreja de Avelãs do Caminho

Na altura em que se dá início à construção do edifício da Igreja, a maior parte dos edifícios tem o cunho da Companhia de Jesus. A Igreja é concebida como um grande auditório, uma enorme sala de aula em que a lição é o sermão. Pretende-se com isto, que a voz do pregador seja ouvida de toda a parte e a sua figura seja igualmente vista. Não há lugar a colunas interiores, sendo aquele espaço amplo e isento das reentrâncias, que tinham marcado a arte no período anterior. Realçam-se as fachadas lisas e geométricas. Para compensar esta frieza da construção, surgem no interior, a talha e os magníficos painéis de azulejo, duas grandes criações da arte portuguesa do século XVII. Estas formas de arte, destacaram-se por terem constituído o reflexo da cultura e gosto populares, já que os ceramistas e entalhadores eram artistas do povo. Enquanto os azulejos substituiam as tapeçarias, que cobriam as paredes das Igrejas e Palácios de épocas anteriores, a talha substituia a escultura em pedra. São todos estes pormenores da arte Seiscentista, que podemos observar em todo o seu esplendor na Igreja Paroquial de Avelãs do Caminho, pois embora esta só tenha começado a construir-se em 1698, preserva no seu interior peças bem mais antigas. O livro das visitas pastorais, do respectivo arquivo paroquial, esclarece que no primeiro decénio do século XVIII se refazia a Igreja (que tem por padroeiro Santo António), contribuindo a Abadessa de Santa Clara de Coimbra para a reconstrução da capela-mor. Referências existem quanto ao mau estado desta e à realização de obras de vulto, no último quartel do século XVIII. Depois, se lhe seguiram melhoramentos vários.

A Igreja segue as disposições comuns, levantando-se-lhe, à esquerda da fachada, a torre e estendendo-se-lhe pelo mesmo lado, os anexos correntes. Alberga uma pia baptismal, de calcário, que se pensa ser a mesma que inicialmente tinha sido comprada em 1688 para a capela, muito embora pareça anterior. O arco-cruzeiro, data da Reforma Setecentista, como o coro alto, que assenta em três arcos sobre pilares. A porta principal, compõe-se de elementos de duas épocas: um vão, de verga curva, do final do século XVIII e a parte que lhe fica acima, que é da primeira década do mesmo século, com entablamento direito - pequeno remate, formado de nicho ladeado de pilastras e acompanhado de aletas, com um frontão interrompido -. Naquele, abriga-se uma escultura de pedra de Santo António, gótico, dos séculos XV/XVI. No friso da porta foi gravado: “NON EST HIC ALIVD NISI DOMUS DEI & PORTA CAELI”, que significa: “Esta é a casa de Deus”. Para a torre, sobe-se inicialmente por uma escada helicoidal, posta num corpo cilíndrico, saliente e entalado no ângulo reentrante posterior. O retábulo principal, de madeira, de finais do século XVIII, tem camarim e duas colunas. Fecha a tribuna, uma tela com Santo António do século XIX, obra comum. Os colaterais, de duas colunas, pertencem ao neo-clássico do século XIX, avançado. Entre as esculturas de pedra, destacam-se um santo eremita - a que chamam S. Bento, do princípio do século XVI, gótico, representado de rosto vincado, loba de pregas direitas – e a Virgem com o menino e S. Benedito, do século XVII, obras artificinais. De madeira, temos um Santo António, da segunda metade do século XVIII, gracioso, a Virgem com o menino de finais do século XVIII, regular e bem estofada, e um S. Sebastião, do século XVI, avançado, a imitar modelo anterior. Existe ainda um pequeno lavado de pedra na sacristia, mutilado, do século XVII, aonde gravaram posteriormente 1781; um pequeno sacrário avulso, mutilado, de madeira dourada, de finais do século XVII.

A Capela do Nosso Senhor dos Aflitos

A Capela do Senhor dos Aflitos, por seu turno, a norte da povoação e à beira da estrada, reformada várias vezes, conserva uma porta de tipo Setecentista, podendo ser dos princípios do século XIX. Gravaram-lhe a data de 1879. Lê-se num degrau da mesma porta a data de 1826. O pequeno retábulo de madeira, em neo-clássico, da 1ª metade do século XIX, foi mandado pintar em 1884. O Cristo crucificado, de calcário e escultura coimbrã, é de meados do século XVI, equilibrado ainda, imitando certo modelo conimbricense.

Restante património Avelense

O chafariz, localizado no centro da povoação, constitui mais um pólo de arquitectura da nossa povoação. Este chafariz, em pedra de Ançã, que se pensa ser do 2º quartel do século XIX – podendo ser mais antigo -, não está já completo. Do conjunto original, resta-lhe a coluna, faltando-lhe a base, igualmente de pedra, que a sustentava.
O cruzeiro, monumento que se encontra à entrada sul da povoação, num largo com o mesmo nome, é bastante antigo.
Um busto em bronze, levantado em frente da capela a Henrique Marques Moura e outro na escola a António Ribeiro Seabra, representam a homenagem desta povoação a estes beneméritos.

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Revisão das 18h35min de 13 de novembro de 2012

Portugal Portugal Avelãs de Caminho 
  Freguesia  
Símbolos
Brasão de armas de Avelãs de Caminho
Brasão de armas
Localização
Avelãs de Caminho está localizado em: Portugal Continental
Avelãs de Caminho
Localização de Avelãs de Caminho em Portugal
Coordenadas 40° 28' 45" N 8° 27' 12" O
Município Anadia
Administração
Tipo Junta de freguesia
Características geográficas
Área total 6,27 km²
População total (2011) 1 252 hab.
Densidade 199,7 hab./km²
Código postal 3780
Outras informações
Orago Santo António

Avelãs de Caminho é uma freguesia portuguesa do concelho e comarca de Anadia, distrito e diocese de Aveiro, com 6,27 km² de área e 1 252 habitantes (2011). Densidade: 199,7 hab/km².

Toponímia

Depreende-se que Avelanas “deveria ter sido o nome da região baixa daquela ribeira que, vinda de nascente das alturas do Boialvo, vai afluir ao Cértoma pela margem direita «ubi se avelanas infundit in certoma», diz um documento de 1064, dela tomando nome as duas actuais sedes de freguesia (Avelãs do Caminho e Avelãs de Cima) e o pequeno curso fluvial”, como relata A. Nogueira Gonçalves – Inventário Artístico de Portugal, 1959.

Presume-se ainda que esta região, por altura da ocupação romana e especialmente as margens do rio, seriam riquíssimas de aveleiras, o que ocasionaria que essa ribeira adquirisse o nome “Avellañum”. Nesta zona criaram-se povoações, as quais eram naturalmente designadas tomando como referência as suas envolventes mais marcantes, e as aveleiras eram-no, decerto. Era, porém, necessário distinguir as povoações, e à semelhança do que aconteceu noutras zonas, utilizou-se o relevo para fazer essa distinção, adoptando-se os designativos: de cima e de baixo.

Assim, com o definitivo de cima e de baixo, encontram-se por exemplo na carta de couto de D. Afonso Henriques para Barrô, de 14 de Fevereiro de 1132: “Avelanas de Insanas, Avelanas de Susanas”. A erosão temporal levou a que Avelãs de Baixo tenha evoluído para Avelãs do Caminho. A explicação para este facto assenta certamente no facto de Avelãs se situar sobre uma antiquíssima via militar romana, obra de Júlio César, sendo o designativo “do Caminho” talvez uma forma de determinar melhor o sítio dentro da viação antiga. Mais tarde, já no século XII, essa mesma via – agora apelidada de Estrada Real, que partia de Conimbriga até Bracara Augusta (Braga) – seria da mesma forma uma referência para designar a povoação de Avelãs. Como esta via era muito utilizada para deslocações ao Porto, chegou mesmo a chamar-se à nossa povoação, a certa altura, “Avelãs do Caminho do Porto”. A confirmar esta tese, vejamos que a nossa povoação só passou a ser designada de Avelãs do Caminho, numa altura em que o nosso país já possuía as suas fronteiras delineadas e se preparava para a grande epopeia dos Descobrimentos. Desta forma, uma maior estabilidade no país, permitiu a reabilitação da velha via militar romana, via essa que se tornou rota frequente das comitivas reais e que terá sido determinante para a atribuição definitiva do nome à nossa povoação. Alguns autores eruditos, mantém por historicidade o designativo “do Caminho”, ao invés do “de Caminho”, como vulgarmente é usado.

A tradição popular, especialmente rica em Portugal, aborda esta temática de uma forma bastante mais simples, senão vejamos. Diz-se ainda hoje, que o designativo “de Caminho”, derivaria de expressões proferidas pelos habitantes de aldeias vizinhas, quando estes aqui se dirigiam, como por exemplo: “Vamos ali a baixo de Caminho”. Será fantasioso crer que assim fosse, pois o designativo “de Caminho”, dificilmente poderia ter evoluído a partir de uma forma arcaica com mais de 600 anos, com o sentido que actualmente lhe é conferido. Esta interpretação popular afasta-se, portanto, da realidade. No entanto, não raras vezes, são estes ditos do povo que nos dão informações preciosas para a investigação.

Conclui-se, portanto, que a forma hoje vulgarmente usada para denominar a nossa freguesia – Avelãs de Caminho – foi só tardiamente adoptada, talvez com base numa forma oral incorrecta.

Evolução da denominação de Avelãs do Caminho

Até ao estabelecimento da forma final que hoje todos conhecemos, a denominação da nossa povoação sofreu uma evolução de cerca de 2000 anos. Inicialmente, em crónicas romanas do tempo de César Augusto, no século I a.C., designava-se Avellañum à região que abrangia uma área que correspondia aproximadamente aos limites das actuais freguesias de Avelãs do Caminho e Avelãs de Cima. Muito embora não se possa dizer que Avellañum fosse realmente o nome da nossa povoação, pelo menos é a primeira forma conhecida de a apelidar. Muito mais tarde, vários documentos datados de 961 e 1064, já a designavam de Avelanas. A carta de couto para Barrô em 1132 faz referência a Avelanas de Susanas e as Inquirições de D. Afonso II, já no século XIII, chamava-lhe Avelanis de Jusanis [Avelãs de Jusão]. Em alguns mapas do século seguinte, aparece sob a forma de Avela Camiha e num livro de linhagens datado de 1428, aparece como Avelans do Caminho. No foral dado a esta “villa” em 1514, por D. Manuel I, pode ler-se ainda sob a forma de Avelãas do Camynho. Daí até à forma actual, são inúmeras as formas que se nos deparam, algumas provavelmente por erro de grafia: Avelans do Caminho, Santo António de Avelans do Caminho, Avellans do Caminho,...

De acordo com todo o estudo de toponímia que foi realizado no que se refere a este tema, parece-me que a forma hoje usada – Avelãs de Caminho – não respeita a origem, nem as referências históricas que levaram a que a designação da nossa povoação fosse estabelecida. Assim, a forma que lhe confere um sentido e uma razão de ser e que nos parece mais correcta será Avelãs do Caminho.

Independência paroquial de Avelãs e a emancipação da freguesia de Sangalhos A desanexação da nossa povoação, da freguesia de Sangalhos, não foi pacífica, sendo necessários mais de 300 anos para que ela se tornasse realidade.

A independência paroquial de Avelãs do Caminho, começou a esboçar-se no século XVI, favorecida pela existência aqui de um concelho. Alegava-se falta de ponte no Cértoma e de caminhos regulares para ir à matriz.

Inicialmente, e como já aqui dissemos, decorrente da visitação realizada, em 1587, pelo Ldº Luis Alvares Seco, é determinado pelo visitador que, na capela de Santo António desta vila, passasse a residir um vigário coadjutor, que nela rezaria missa todos os Domingos e Dias Santos. Não sabemos se isso se veio a verificar, pois não era definitivamente do interesse de Sangalhos esta medida. No entanto, sabe-se que houve ali um capelão, pago pelos habitantes, para rezar missa nesses dias.

Depois, em 1641 e 1651, o visitador do arcediago criou ali um cura coadjutor do vigário de Sangalhos, pago pelas freiras donatárias. Em 1688, a Câmara e povo de Avelãs, ofereceram uma pia baptismal para a capela, e foram lá autorizados os baptismos e casamentos. Era meia autonomia!

No entanto, muito estava ainda por fazer, pois em ocasiões em que se conduziam defuntos, deste lugar para a sede da antiga freguesia, e havendo cheias, caíam os caixões à água e eram arrastados pela corrente. Este factor, exigia a construção de um edifício de Igreja em Avelãs.

Em 1698, começou a erguer-se a Igreja Nova e só, quase 100 anos depois, se começam a fazer aí os assentos de nascimentos, casamentos e óbitos que, até aí, se faziam em Sangalhos. Estes registos, no entanto só se começaram a fazer ininterruptamente a partir de 1828.

Deve frisar-se que, apesar de todo o conjunto de documentação sobre este assunto, indicar o ano de 1790 como data provável de emancipação de Avelãs do Caminho da freguesia de Sangalhos, isso só aconteceu verdadeiramente quase 50 anos depois, em 1834, com o Liberalismo.

Através da análise dos “Registos de Baptismos da Igreja de Avelãs do Caminho”, pode ler-se que foi aqui realizado um baptismo, a 18 de Abril de 1829, por impossibilidade de atravessar o rio. Diz o registo: “Foi baptizado aqui p. Causa da passagem do rio Certª. Com licença.” Este documento, prova que o rio, em altura de cheias (que eram frequentes durante todo o período de Inverno), era um impedimento para os avelenses se poderem deslocar à matriz.

Apesar da emancipação de Avelãs do Caminho da freguesia de Sangalhos e da extinção dos seus concelhos em 1834 e 1853, respectivamente, os problemas com formação das suas freguesias, prolongaram-se, até hoje, com a indefinição dos limites das mesmas.

Muitas questões se tem colocado desde então. No livro de actas das sessões de Junta de Paróquia de 1854 a 1878, pode ler-se:

“Por ofício dirigido à Junta, pelo Presidente da Comissão de Arredondamento e Divisão das Freguesias, esta entendeu reunir nesta freguesia [Avelãs do Caminho] os seguintes lugares:

Lavoura de Azenha – 9 fogos; Póvoa do Castelo – 1 fogo; Póvoa do Salgueiro – 6 fogos; Porto de Lobo – 3 fogos; São João da Azenha – 16 fogos; Vidoeira – 4 fogos; Avelãs do Caminho – 116 fogos.

O presidente da Junta considerou que a freguesia mesmo assim ficava pequena e se lhe deveriam juntar ainda: Lugar do Pereiro; Quinta do Brejo, num total de 32 fogos,

pertencentes à freguesia de Avelãs de Cima, mas que ficam muito mais próximas da Igreja de Avelãs do Caminho e com melhores acessos.”

Por esta acta se pode concluir que no processo de organização das freguesias, existia um projecto para que, os 7 lugares primeiramente citados, passariam a constituir a freguesia de Avelãs do Caminho, o que não chegou a acontecer, apesar daquelas povoações assim o desejarem. Podemos ler isso mesmo na acta da sessão extraordinária de 2 de Julho de 1875: “(...) foi esta sessão convocada para deliberar sobre a petição que os povos de Porto Lobo, S. João da Azenha, Póvoa do Castelo, Póvoa do Salgueiro e Vidoeiro para anexação à freguesia de Avelãs do Caminho (...)”

No entanto, a vontade destas populações não foi respeitada, e na sessão de 19 de Setembro de 1875, pode verificar-se que aquelas foram pressionados no sentido de voltar a trás nas suas intenções. Pela importância que o documento revela, transcreve-se de seguida a acta daquela sessão.

Acta da sessão de 19 de 7bro de 1875

A Junta de parochia d’Avellãns de Caminho convocada e prezidida pelo Revº Parocho para articular sobre a representação que alguns moradores de S. João da Azenha e Póvoas fizeram subir ao Throno de S. M. F.[Sua Majestade Fidelíssima] para continuarem a pertencer à fregª de Sangalhos, julga ser do seu dever declarar que na dicta representação, muitas cousas se dizem que estão em absoluta dissonância com a verdade. Se não vejamos: tinhão à mezes representado a S. M. pª serem anexados a esta fregª mais de dois terços dos habitantes eleitores dos logares que ficão aquem do Certima, pertencentes a Sangalhos; allegarão razões poderosas e verdadeiras, mostraram a conveniência que havia na dita annexação. A pia representação foi devolvida à J. de Parochia de Sangalhos para ella emitir o seu juízo sobre a petição d’aquelles povos; e o Revº Parocho d’aquella fregª ordenou uma contra-representação com alguns membros da freguesia, o regedor, alguns padres e outros indivíduos e dirigiu-se para Azenha em companhia d’elles para todos fazerem com que os signatários da 1ª representação, anulassem a primeira, assignando a 2ª q elles traziam. Aos instantes pedidos sucedião as ameaças. Durante duas noites se viu o Parocho com a sua comitiva de porta em porta, pedindo aos seus fregueses, instando bem com elles pª assignarem a contra-representação. Foram atendidos os seus esforços. Dos dezassete signatários poucos cederam às instâncias dos que pedião. A amisade e o parentesco zombaram do seu brio, levando-os a praticar actos que pouco os honra (...)

(...) Dos signatários não eleitores muitos asignaram, sabemo-lo, pª fazer a vontade a quem lhes pedia, mas os seus desejos são serem desmembrados da freguesia de Sangalhos. (...) de notar q entre os signatários não eleitores se contam até menores que vivem ainda debaixo do patrio, alguns d’elles, nos parece, não tocar ainda a idade da puberdade.

(...) A freguezia de A. de Caminho não conta só 109 fogos como erradamente a contra-representação, mas 135. (...) A importância do logar [Avelãs de Caminho], um dos melhores do concelho, e a distância em que se acha das freguezias confinantes, clamão bem alto, que ella não deve ser suprimida e a cel-o não deve ser annexada à de Sangalhos por cauza do Cértima. Sucede muitas vezes ser impossível a passagem quando o inverno é muito chuvoso.”

Aqui se questiona também “(...) e como havia o párocho de Sangalhos em occasiões dessas vir a Avelãs administrar Sacramentos?”

A argumentação base da freguesia de Sangalhos, é que Avelãs do Caminho já lhe havia pertencido e, por isso, deveria deixar de existir e ser-lhe anexada. É uma argumentação pobre, face à exposição anteriormente apresentada por Avelãs. Esquecem-se decerto que no tempo em que Avelãs pertencia aquela freguesia [Sangalhos], “(...) havia aqui um vigário ou cura permanente pago pelas freiras de Sta Clara, e aqui se administravam todos os sacramentos.” (...) O que nos espanta é dizerem os signatários da nova representação que os motivos allegados pelos da 1ª são menos verdadeiros: mas não cedderam provas. Aqui a falsidade, para não dizer a mintira corre parelhas com a má fé. São menos verdadeiros?!! Porquê? (...) Se a verdade é aquillo q é, os signat. da 1ª repres. nada disseram que assim não fosse. Para dar força a uma petição allegaram que ficarão mais perto d’Avelãs, e ninguém com verdade, o pode negar, q tinhão mais fáceis communicações com Avellãs, e não disserão mintira nenhuma, q na Ig.ª d’Avel. se havião practicado actos religiosos por sua cauza, motivados pela necessidade, e os livros do registo parochial confirmão as suas palavras. Então em que são menos verdadeiros os motivos q allegarão. Todos os logares d’aquem do Certima pertencentes à fregª de Sangalhos ficão mais perto d’Avellãs, e tem muito mais faceis communicações pª ella. E para Sangalhos? Tem até ao Certima um carreiro e um caminho de carro por onde se não pode transitar nem de verão nem d’inverno por causa das agoas e das lamas (...) e é sempre a subir. Ora quando o Certima enche e os campos se cobrem de agoas ficando impossibilitada a passagem como ha de o parocho de Sangalhos administrar os Sacramentos a um moribundo. Ou como hão de os povos de que se falla, irem à Igreja matriz satisfazerem certos deveres? Como se hão de levar ao cemitério os cadaveres dos finados? Como se hão de levar à Ig.ª creanças pª receberem o baptismo?

(...) se sepultaram na Ig. Paroch. d’esta freg.ª à alguns annos cadaveres de finados d’aquelles logares e muitos individuos receberam nella sacramentos de baptismo, sendo o numero destes de 13, e daquelles 6, como consta dos livros d’esta freg.ª, afora aquelles de que os Parochos desta freg.ª não lavraram assentos, por ser isto um dever dos de Sangalhos. (...)

Como se pode verificar, por estes extractos, várias são as ocasiões em que é impossível que as cerimónias se realizem na matriz, por causa da passagem do rio Cértima. Por teimosia e falta senso não se permitiu que aqueles povos [São João da Azenha, Póvoas, etc] pudessem ser integrados nesta freguesia, facilitando-lhes o acesso às práticas religiosas, fundamentais na vida daquelas pessoas, principalmente se nos situarmos no tempo. Pode ler-se ainda, a confirmar esta situação:

“Supponha-se o caso de encher o Certima e ser preciso receber os Sacramentos da Madre Igreja, perguntamos quem lhos ha de ministrar? O parocho de Sangalhos? Não, que não pode passar, hao de valer-se pª isso do d’Avellãs como já tem succedido, ou d’Agoada de Baixo. Morre um indivíduo (...) onde ha de sepultar-se? No cemitério de Sangalhos só indo passar a Canha andando assim muito mais de uma legoa. Os motivos allegados mostrão bem a vantagem que estes povos tem de serem annexados a Avellãs.(...)

Avellãs de Caminho, 19 de Setembro de 1875

O Parocho – Manoel Roiz d’Oliveira O Vogal – Joze Seabra da Motta O Vogal – Joaquim da Costa Abrantes

Património e Arte

Grande parte do património e da arte existentes em Avelãs do Caminho, encontra-se localizado em dois pólos que conservam a arquitectura religiosa avelense: A Igreja e a Capela do Nosso Senhor dos Aflitos.

A Igreja de Avelãs do Caminho

Na altura em que se dá início à construção do edifício da Igreja, a maior parte dos edifícios tem o cunho da Companhia de Jesus. A Igreja é concebida como um grande auditório, uma enorme sala de aula em que a lição é o sermão. Pretende-se com isto, que a voz do pregador seja ouvida de toda a parte e a sua figura seja igualmente vista. Não há lugar a colunas interiores, sendo aquele espaço amplo e isento das reentrâncias, que tinham marcado a arte no período anterior. Realçam-se as fachadas lisas e geométricas. Para compensar esta frieza da construção, surgem no interior, a talha e os magníficos painéis de azulejo, duas grandes criações da arte portuguesa do século XVII. Estas formas de arte, destacaram-se por terem constituído o reflexo da cultura e gosto populares, já que os ceramistas e entalhadores eram artistas do povo. Enquanto os azulejos substituiam as tapeçarias, que cobriam as paredes das Igrejas e Palácios de épocas anteriores, a talha substituia a escultura em pedra. São todos estes pormenores da arte Seiscentista, que podemos observar em todo o seu esplendor na Igreja Paroquial de Avelãs do Caminho, pois embora esta só tenha começado a construir-se em 1698, preserva no seu interior peças bem mais antigas. O livro das visitas pastorais, do respectivo arquivo paroquial, esclarece que no primeiro decénio do século XVIII se refazia a Igreja (que tem por padroeiro Santo António), contribuindo a Abadessa de Santa Clara de Coimbra para a reconstrução da capela-mor. Referências existem quanto ao mau estado desta e à realização de obras de vulto, no último quartel do século XVIII. Depois, se lhe seguiram melhoramentos vários.

A Igreja segue as disposições comuns, levantando-se-lhe, à esquerda da fachada, a torre e estendendo-se-lhe pelo mesmo lado, os anexos correntes. Alberga uma pia baptismal, de calcário, que se pensa ser a mesma que inicialmente tinha sido comprada em 1688 para a capela, muito embora pareça anterior. O arco-cruzeiro, data da Reforma Setecentista, como o coro alto, que assenta em três arcos sobre pilares. A porta principal, compõe-se de elementos de duas épocas: um vão, de verga curva, do final do século XVIII e a parte que lhe fica acima, que é da primeira década do mesmo século, com entablamento direito - pequeno remate, formado de nicho ladeado de pilastras e acompanhado de aletas, com um frontão interrompido -. Naquele, abriga-se uma escultura de pedra de Santo António, gótico, dos séculos XV/XVI. No friso da porta foi gravado: “NON EST HIC ALIVD NISI DOMUS DEI & PORTA CAELI”, que significa: “Esta é a casa de Deus”. Para a torre, sobe-se inicialmente por uma escada helicoidal, posta num corpo cilíndrico, saliente e entalado no ângulo reentrante posterior. O retábulo principal, de madeira, de finais do século XVIII, tem camarim e duas colunas. Fecha a tribuna, uma tela com Santo António do século XIX, obra comum. Os colaterais, de duas colunas, pertencem ao neo-clássico do século XIX, avançado. Entre as esculturas de pedra, destacam-se um santo eremita - a que chamam S. Bento, do princípio do século XVI, gótico, representado de rosto vincado, loba de pregas direitas – e a Virgem com o menino e S. Benedito, do século XVII, obras artificinais. De madeira, temos um Santo António, da segunda metade do século XVIII, gracioso, a Virgem com o menino de finais do século XVIII, regular e bem estofada, e um S. Sebastião, do século XVI, avançado, a imitar modelo anterior. Existe ainda um pequeno lavado de pedra na sacristia, mutilado, do século XVII, aonde gravaram posteriormente 1781; um pequeno sacrário avulso, mutilado, de madeira dourada, de finais do século XVII.

A Capela do Nosso Senhor dos Aflitos

A Capela do Senhor dos Aflitos, por seu turno, a norte da povoação e à beira da estrada, reformada várias vezes, conserva uma porta de tipo Setecentista, podendo ser dos princípios do século XIX. Gravaram-lhe a data de 1879. Lê-se num degrau da mesma porta a data de 1826. O pequeno retábulo de madeira, em neo-clássico, da 1ª metade do século XIX, foi mandado pintar em 1884. O Cristo crucificado, de calcário e escultura coimbrã, é de meados do século XVI, equilibrado ainda, imitando certo modelo conimbricense.

Restante património Avelense

O chafariz, localizado no centro da povoação, constitui mais um pólo de arquitectura da nossa povoação. Este chafariz, em pedra de Ançã, que se pensa ser do 2º quartel do século XIX – podendo ser mais antigo -, não está já completo. Do conjunto original, resta-lhe a coluna, faltando-lhe a base, igualmente de pedra, que a sustentava. O cruzeiro, monumento que se encontra à entrada sul da povoação, num largo com o mesmo nome, é bastante antigo. Um busto em bronze, levantado em frente da capela a Henrique Marques Moura e outro na escola a António Ribeiro Seabra, representam a homenagem desta povoação a estes beneméritos.


Ligações externas

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