Euridice (ópera)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados de Eurídice, veja Eurídice (desambiguação).
Euridice
Euridice (ópera)
Página do Prólogo de Euridice
Idioma original Italiano
Compositor Jacopo Peri
Libretista Ottavio Rinuccini
Ano de estreia 6 de outubro de 1600
Local de estreia Palazzo Pitti, Florença, Itália

Euridice (também conhecida como Erudice ou Eurydice) é uma ópera de Jacopo Peri, com música adicional de Giulio Caccini. É a ópera mais antiga ainda conservada na sua totalidade, já que maioria da ópera anterior de Peri, Dafne, foi perdida. (Caccini escreveu a sua própria "Euridice" enquanto escrevia música para a ópera de Peri, publicou a sua versão antes da versão de Peri ter sido representada, em 1600, e fez a ser representada dois anos depois.) O libreto de Ottavio Rinuccini é baseado nos livros X e XI da Metamorfoses de Ovídio[1] que conta a história do lendário músico Orfeu e da sua mulher Eurídice.

A ópera foi representada pela primeira vez em Florença no 6 de outubro de 1600 no Palazzo Pitti com Peri a cantar o papel de Orfeu.[2]

História da composição[editar | editar código-fonte]

A Euridice foi criada para o casamento do Rei Henrique IV de França e de Maria de Médici. Esta obra é considerada a segunda ópera moderna, e o primeiro drama musical desse tipo a ficar conservado até os dias de hoje. (A primeira, Dafne, foi escrita pelos mesmos autores em 1597.)

Já que ambos o libreto e a música foram dedicados à nova Rainha de França, Maria de Médici, alguns académicos reconheceram um possível paralelo entre Eurídice e Orfeu e a Rainha e o Rei de França. Enquanto a comparação é várias vezes feita, alguns académicos debatem que as características de Rei Henrique IV são diferentes das de Orfeu, especialmente referindo-se ao feito mais famoso de Orfeu. Orfeu amava Eurídice tanto que viajou até ao Inferno e voltou, literalmente, para poder estar reunido com a sua amada, enquanto que o Rei Henrique IV nem se quis deslocar até Florença para ir buscar Maria de Médici.[1]

Na estreia, muitos dos papéis foram representados por membros da companhia de Caccini, incluindo a sua filha, Francesca Caccini. Peri compôs toda a música, mas devido á importância integral de Caccini e da sua companhia, alguma da música de Peri acabou por ser substituida pela música de Caccini. Quando Caccini descobriu que Peri queria publicar a ópera com as peças de Caccini, ele apressou-se para acabar a sua versão da Euridice usando o mesmo libreto, e conseguiu publicar a sua primeiro que a do Peri. No seu prefácio, Peri diz que toda a música já tinha sido completada na data da primeira atuação dando assim á sua obra a designação de Prima Euridice.

Ao criar a música para a Euridice, Peri pensou num estilo vocal que é metade falado, metade cantado. Para partes menos dramáticas, ele criou linhas vocais parecidas ao estilo da linguagem falada que sobrepõem um acompanhamento contínuo. Para partes emocionantes, ele usou melodias mais fortes e mais rápidas com harmonias mudando continuamente. Os críticos de Peri comentaram que na música de Euridice, ele não criou nada notável musicalmente. Contudo, ele usou diferentes extensões vocais e cadências para distinguir diferentes personagens e climas dramáticos. A voz e o acompanhamento são cuidadosamente ritmadas para acentuar a tensão e a liberação no texto. A entoação, tanto ritmicamente como melodicamente, tem muitas parecenças com o discurso dramático. Além disso, exclamações emocionantes são acompanhadas por dissonâncias e movimentos inesperados no baixo.

Até os seus maiores depreciadores admitiram que com Euridice, Peri conseguiu estabelecer princípios sonoros para composição lírica.[3] A obra estabeleceu na ópera o recurso dual da ária e do recitativo, e explora o uso de solo, ensemble e canto coral.

Papéis[editar | editar código-fonte]

Papel Tipo de voz
La Tragedia soprano castrato
Euridice soprano
Orfeo tenor
Aminta, uma pastora tenor
Arcetro, um pastor contralto castrato
Tirsi, um pastor tenor
Caronte baixo
Dafne sopranista
Plutone baixo
Proserpina soprano castrato
Radamanto tenor
Venere soprano castrato
Ninfas, pastores e divindades Infernais

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A Euridice de Peri conta a história do músico Orfeu e de Eurídice da mitologia grega. Segundo o mito, Orfeu era um ótimo músico que viajou até ao submundo para implorar aos deuses para que eles trouxessem a sua mulher, Eurídice, de volta à vida, após ter sido fatalmente ferida.

Ato 1[editar | editar código-fonte]

Começa com uma simples melodia cantada por um cantor que representa a Musa da Tragédia, La Tragedia, e um pequeno ritornello. Os pastores e a musa cantam uma conversa em recitativos e refrães, Dafne entra para dizer a todos que Eurídice foi fatalmente mordida por uma serpente.

Cena 1

Todas as ninfas e pastores juntam-se para celebrar o casamento de Orfeu e Eurídice.

Cena 2

Orfeu está feliz após o seu casamento mas é interrompido por Dafne. Ela traz as notícias horríveis de que Eurídice foi mordida por uma cobra venenosa e morreu. Orfeu, então, promete resgatá-la do submundo.

Cena 3

Arcetro conta que enquanto Orfeu estava a dormir, Vénus, a deusa do amor, levou-o na sua carruagem.

Ato 2[editar | editar código-fonte]

Começa com Orfeu a implorar a Venere, Plutone, Prosperina, Camaronte e Radamando, no submundo, para implorar para que eles deixem a sua amada voltar à vida. A cena quase toda é representada em recitativo. Quando o ato acaba, Orfeu está com Tirsi e os outros pastores.

Cena 4

Vénus e Orfeu chegam aos portões do submundo. Vénus sugere que, com a sua lendária voz, Orfeu podia convencer Plutone a fazer Eudírice voltar à vida. Orfeu sucede e recebe permissão para sair com a sua mulher.

Cena 5

Orfeu e Eudírice voltam do submundo e festejam.

Apresentações musicais[editar | editar código-fonte]

Partes[4] Cenas Obras individuais Personagens
Prólogo Cena 1 Prologo - lo, che d'alti sospir vaga e di planti La Tragedia
Ato 1 Cena 1 Ninfe, ch'i bei crin d'oro Pastore del coro, Ninfa del coro
Vaghe ninfe amorose Arcetro, Pastore del coro, Ninfa del coro
Donne, ch'a' miei diletti Euridice, Ninfa del coro
Credi, ninfa gentile Aminta, Pastore del coro
In mille guise e mille Euridice, Coro
Al canto, al ballo, all'ombra, al prato adorno Coro, Pastore del Coro, Ninfa del coro, Altre Ninfe del coro
Cena 2 Antri, ch'a' miei lamenti Orfeo
Sia pur lodato il ciel, lodato Amore Arcetro, Orfeo
Tirsi viene in scena sonando la presente Zinfonia Orfeo, Tirsi
Deh come igni bifolco, ogni pastore Arcetro, Orfeo
Lassa! Che di spavento e di pietate Dafne, Arcetro, Orfeo
Per quel vago boschetto Dafne, Arcetro
Non piango e non sospiro Orfeo
Ahi! Mort' invid' e ria Arcetro, Dafne, Ninfa del coro
Sconcolati desir, gioie fugaci Aminta, Ninfa del coro
Cruda morte, ahi pur potesti Coro, Ninfa del coro, Due Ninfa e un Pastore del coro
Cena 3 Se fato invido e rio Arcetro, Coro
Con frettoloso passo Arcetro, Dafne, Coro
Io che pensato havea di starmi ascoso Arcetro, Pastore del coro
Se de' boschi i verdi onori Coro
Poi che dal bel sereno Pastoro del coro, Coro
Ato 2 Cena 4 Scorto da immortal guida Venere, Orfeo
L'oscuro varc'onde siam gunti a queste Venere
Funeste piagge, ombrosi orridi campi Orfeo
Ond'e cotanto ardire Plutone
Deh, se la bella Diva Orfeo
Dentro l'infernal porte Plutone, Orfeo
O Re, nel cui sembiante Prosperpina
A si soavi preghi Orfeo, Plutone
Sovra l'eccelse stelle Caronte, Plutone, Orfeo
Trionfi oggi pietà ne' campi inferni Plutone, Orfeo
Poi che gl'eterni imperi Deita D'Inferno primo coro, Secondo coro, Radamanto
Cena 5 Già del bel carro ardente Arcetro, Coro
Voi, che sì ratt'il volo Aminta, Coro, Arcetro
Quand'al tempio n'andaste, io mi pensai Aminta, Pastora del coro
Chi può del cielo annoverar le stelle Aminta, Arcetro
Gioite al canto mio selve frondose Orfeo, Ninfa del coro
Quella, quella son io, per cui pangieste Euridice, Ninfa del coro, Dafne, Arcetro, Orfeo, Aminta
Modi or soavi or mesti Orfeo
Felice semideo, ben degna prole Aminta
Ritornello strumentale Tutto il coro
Biond' arcier, che d'alto monte (ritornello instrumentale)

Os nomes dos coros aparecem igual a como aparecem na pauta italiana. Pastore, Ninfa/Ninfe e Deita D'Inferno referem-se a pastores, ninfas e divindades infernais, respetivamente.

Referências

  1. a b «Le tre Euridici: Characterization and Allegory in the Euridici of Peri and Caccini». Journal of Seventeenth-Century Music. Consultado em 23 de junho de 2011 
  2. Pietropaolo, Domenico and Parker, Mary Ann (2011). The Baroque Libretto: Italian Operas and Oratorios in the Thomas Fisher Library at the University of Toronto, p. 60. University of Toronto Press
  3. Oldmeadow, p. 121
  4. No libreto, esta obra é divida em um prólogo e um ato de seis cenas. Documentos modernos costumam dividir em um prólogo, o ato 1 com as cenas 1-3 e o ato 2 com as cenas 4-5. Não é claro o porquê desta diferente descrição mas este problema é maioritariamente estético, já que ambos o libreto e os documentos modernos listam exatamente o mesmo número de apresentações musicais.