Fonofobia
A Fonofobia é o medo antecipatório de sons. A fonofobia é uma resposta emocional, como ansiedade, por exemplo, que acontece pelo "medo" de que sons possam ocorrer, causar o agravamento de uma comorbidade (perda auditiva, zumbido) ou que o próprio som resulte em desconforto/dor [1]. Por isso, a fonofobia se enquadra em uma categoria diferente da hiperacusia, misofonia e sensibilidade a ruído.
A fonofobia é uma subclasse da misofonia. Ao contrário da misofonia, o sentimento que predominantemente acompanha a fonofobia é o medo [2]. A fonofobia é definida como um medo persistente, anormal e injustificado de sons [1]. Indivíduos com fonofobia temem que sons ambientais normais possam danificar seus ouvidos e, portanto, tendem a evitar ambientes onde haja possibilidade de exposição a sons [2].
Sendo frequentemente utilizada na literatura científica para descrever uma intolerância exacerbada ao som resultante de enxaquecas [3][1], os mecanismos responsáveis pela causa da fonofobia na enxaqueca ainda são desconhecidos [4]. De acordo com a Classificação Internacional de Cefaleias (ICHD-30), a fonofobia, juntamente à fotofobia, é um dos sintomas que auxiliam a fazer o diagnóstico diferencial de uma crise de enxaqueca [5]. Poucas investigações quantitativas foram conduzidas sobre a fonofobia em tais pacientes, mas evidências anteriores sugerem que a sensibilidade sonora está presente predominantemente durante as crises, mas não de forma contínua no período entre os episódios [4][6][7].
Sintomas
[editar | editar código]A fonofobia deve ser entendida como hipersensibilidade a estímulos auditivos, envolvendo uma sensação de desconforto ou dor [4]. Pessoas com fonofobia frequentemente evitam estar ao ar livre em ambientes urbanos devido à natureza imprevisível dos sons de carros, caminhões, motocicletas, sirenes de emergência ou pessoas gritando. Esses indivíduos geralmente sentem a necessidade de usar protetores auditivos ao ar livre, ou, ainda, em ambientes internos, quando não estão em suas casas [1].
Causas
[editar | editar código]As causas da fonofobia ainda não estão claramente descritas na literatura, mas estudos recentes indicam que a fonofobia pode ser decorrente de um aumento na excitabilidade dos neurônios auditivos devido à habituação prejudicada ou à excitação do tronco encefálico ou de outros neurônios na via auditiva [8][9][10][11]. Vários estudos eletrofisiológicos avaliaram a via auditiva em pacientes com enxaqueca e com fonofobia. A fonofobia não parece estar relacionada a um fenômeno de recrutamento, comumente associado a danos nas células da cóclea [12][13][14][15].
Diagnóstico
[editar | editar código]Até o momento, não existe um método que avalie somente a fonofobia ou que busque diagnosticar apenas a fonofobia. Além disso, seria incomum que a fonofobia aparecesse de forma isolada, sendo mais provável que esteja associada a outras condições, como a hiperacusia, a misofonia ou a sensibilidade geral ao ruído. No questionário Sound Tolerance Interview (STI) [16], por exemplo, há apenas a opção de resposta "evita" para indicar o comportamento adotado em determinadas atividades por causa do som [1].
Tratamento
[editar | editar código]A fonofobia não apresenta um tratamento especifico, com limitadas pesquisas cientificas voltadas para tratamento e intervenção dos sinais e sintomas da condição [17]. Entretanto, alguns estudos informam que o tratamento para a fonofobia e a hiperacusia envolve aconselhamento específico sobre a natureza benigna de qualquer som que cause uma reação negativa ou de medo, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Tinnitus Retraining Therapy (TRT), realizadas por psicólogos, para o tratamento de pessoas com fonofobia, indicando a necessidade de dessensibilizar o paciente a sons que causem reações extremas [18][1][19].
Referências
- ↑ a b c d e f Henry, James A.; Theodoroff, Sarah M.; Edmonds, Catherine; Martinez, Idalisse; Myers, Paula J.; Zaugg, Tara L.; Goodworth, Marie-Christine (setembro de 2022). «Sound Tolerance Conditions (Hyperacusis, Misophonia, Noise Sensitivity, and Phonophobia): Definitions and Clinical Management». American Journal of Audiology (3): 513–527. doi:10.1044/2022_AJA-22-00035. Consultado em 14 de agosto de 2025
- ↑ a b Allusoglu, Serpil; Aksoy, Songul (novembro de 2022). «The reliability and validity of decreased sound tolerance scale-screening». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (em inglês): S155–S163. PMC 9760996
. PMID 35177354. doi:10.1016/j.bjorl.2021.11.009. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Evans, Randolph W.; Seifert, Tad; Kailasam, Jayasree; Mathew, Ninan T. (março de 2008). «The Use of Questions to Determine the Presence of Photophobia and Phonophobia During Migraine». Headache: The Journal of Head and Face Pain (em inglês) (3): 395–397. ISSN 0017-8748. doi:10.1111/j.1526-4610.2007.00920.x. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ a b c Vingen, J Vanagaite; Pareja, Ja; Storen, O; White, Lr; Stovner, Lj (junho de 1998). «Phonophobia in migraine». Cephalalgia (em inglês) (5): 243–249. ISSN 0333-1024. doi:10.1046/j.1468-2982.1998.1805243.x. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ «The International Classification of Headache Disorders». ICHD-3 (em inglês). Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Mazur, Dennis J. (fevereiro de 1995). «Judgmental Psychology (Risk Perception): ARTICLES GREGORY R, MENDELSOHN R. Perceived risk, dread, and benefits. Risk Analysis 1993;13:259-264». Medical Decision Making (em inglês) (1): 99–99. ISSN 0272-989X. doi:10.1177/0272989X9501500114. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ «SUTHERLAND v. DARCY: 21 VLR 417». Victorian Reports: 417–420. 1876. ISSN 2208-4886. doi:10.25291/VR/21-VLR-417. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Kalita, Jayantee; Misra, Usha K.; Bansal, Robin (março de 2021). «Phonophobia and brainstem excitability in migraine». European Journal of Neuroscience (em inglês) (6): 1988–1997. ISSN 0953-816X. doi:10.1111/ejn.15078. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Afra, J (1 de fevereiro de 1998). «Visual evoked potentials during long periods of pattern-reversal stimulation in migraine». Brain (2): 233–241. doi:10.1093/brain/121.2.233. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Kalita, Jayantee; Uniyal, Ravi; Misra, Usha K.; Bhoi, Sanjeev K. (setembro de 2018). «Neuronal Dysexcitability May Be a Biomarker of Migraine: A Visual Evoked Potential Study». Clinical EEG and Neuroscience (em inglês) (5): 342–350. ISSN 1550-0594. doi:10.1177/1550059417734106. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Schoenen, J.; Wang, W.; Albert, A.; Delwaide, P.J. (abril de 1995). «Potentiation instead of habituation characterizes visual evoked potentials in migraine patients between attacks». European Journal of Neurology (em inglês) (2): 115–122. ISSN 1351-5101. doi:10.1111/j.1468-1331.1995.tb00103.x. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Villar-Martinez, Maria Dolores; Goadsby, Peter J. (5 de setembro de 2022). «Pathophysiology and Therapy of Associated Features of Migraine». Cells (em inglês) (17). 2767 páginas. ISSN 2073-4409. PMC 9455236
. PMID 36078174. doi:10.3390/cells11172767. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Woodhouse, Anne; Drummond, Peter D (dezembro de 1993). «Mechanisms of Increased Sensitivity to Noise and Light in Migraine Headache». Cephalalgia (em inglês) (6): 417–421. ISSN 0333-1024. doi:10.1046/j.1468-2982.1993.1306417.x. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Bolay, H; Bayazit, Ya; Gündüz, B; Ugur, Ak; Akçali, D; Altunyay, S; Ilica, S; Babacan, A (abril de 2008). «Subclinical Dysfunction of Cochlea and Cochlear Efferents in Migraine: An Otoacoustic Emission Study». Cephalalgia (em inglês) (4): 309–317. ISSN 0333-1024. doi:10.1111/j.1468-2982.2008.01534.x. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Joffily, Lucia; de Melo Tavares de Lima, Marco Antônio; Vincent, Maurice Borges; Frota, Silvana Maria Monte Coelho (maio de 2016). «Assessment of otoacoustic emission suppression in women with migraine and phonophobia». Neurological Sciences (em inglês) (5): 703–709. ISSN 1590-1874. doi:10.1007/s10072-016-2565-2. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Sherlock, LaGuinn; Formby, Craig (9 de março de 2017). «Considerations in the Development of a Sound Tolerance Interview and Questionnaire Instrument». Seminars in Hearing (em inglês) (01): 053–070. ISSN 0734-0451. PMC 5344695
. PMID 28286364. doi:10.1055/s-0037-1598065. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Mattson, Seth A.; D'Souza, Johann; Wojcik, Katharine D.; Guzick, Andrew G.; Goodman, Wayne K.; Storch, Eric A. (julho de 2023). «A systematic review of treatments for misophonia». Personalized Medicine in Psychiatry (em inglês). 100104 páginas. PMC 10276561
. PMID 37333720. doi:10.1016/j.pmip.2023.100104. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Vidal, Jaclyn Leigh; Park, Jung Mee; Han, Jae Sang; Alshaikh, Hamzah; Park, Shi Nae (1 de fevereiro de 2022). «Measurement of Loudness Discomfort Levels as a Test for Hyperacusis: Test-Retest Reliability and Its Clinical Value». Clinical and Experimental Otorhinolaryngology (em inglês) (1): 84–90. ISSN 1976-8710. PMC 8901946
. PMID 35144329. doi:10.21053/ceo.2021.00318. Consultado em 9 de outubro de 2025
- ↑ Pienkowski, Martin; Tyler, Richard S.; Roncancio, Eveling Rojas; Jun, Hyung Jin; Brozoski, Tom; Dauman, Nicolas; Coelho, Claudia Barros; Andersson, Gerhard; Keiner, Andrew J. (dezembro de 2014). «A Review of Hyperacusis and Future Directions: Part II. Measurement, Mechanisms, and Treatment». American Journal of Audiology (em inglês) (4): 420–436. ISSN 1059-0889. doi:10.1044/2014_AJA-13-0037. Consultado em 9 de outubro de 2025