Gazzi de Sá

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Gazzi de Sá
Nome completo Gazzi Galvão de Sá
Nascimento 13/12/1901
João Pessoa - PB
Morte 21/10/1981
Rio de Janeiro - RJ

Gazzi de Sá (João Pessoa, 13 de dezembro de 1901 - Rio de Janeiro, 21 de outubro de 1981) nasceu na Paraíba,[1] mas morou em Salvador e no Rio de Janeiro, onde conheceu o trabalho de Heitor Villa-Lobos. Apesar de ter estudado medicina, sempre teve mais apreço pela educação musical e pela música, sendo considerado um dos maiores educadores musicais brasileiros e como referência no canto orfeônico do século XX. Foi compositor, pianista, educador musical, e é autor de um método que se tornou livro chamado “Método de musicalização”, que consiste na simplificação rítmica e melódica durante o aprendizado do aluno.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Gazzi Galvão de Sá [1], filho de Manoel Henriques de Sá Filho e Maria Leopoldina Galvão de Sá, foi o segundo filho dentre os oito que o casal tivera. Foi um dos percussores da Educação musical no nosso Estado, não muito diferente de seu avô e seu pai, que foram figuras importantes para o desenvolvimento do estado da Paraíba e do Brasil. Seu avô comercializava utensílios domésticos de pouco uso e conhecimento na época e foi o primeiro paraibano a montar uma casa de fotografias e comercializar esse produto. Já seu pai, foi o fundador do Cinema na Paraíba e o primeiro empreendedor de serviço de telefonia no mesmo estado. Como notado, a família de Gazzi de Sá possuía uma situação financeira estável, o que permitiu a ele ter tido uma boa educação desde pequeno até a faculdade, sempre estudando nos melhores colégios da cidade. Em continuidade dos estudos, por volta de 1922, foi à Salvador (Bahia) cursar Medicina como o seu pai tanto desejava, porém o dinheiro que era enviado para Gazzi pagar os custos com a faculdade, ele pagava escondido do pai, aulas de piano e teoria musical. O pai lhe cortou a mesada, mas a mãe, sensibilizada pelo filho, continuou enviando o valor das aulas particulares. Isso não fez com que Gazzi desistisse por completo da medicina quando partiu de Salvador para o Rio de Janeiro para ter aulas de piano com Oscar Guanabarino.

O pai de Gazzi de Sá nunca aprovou o seu interesse em estudar e tornar-se músico, obrigando-o a retornar para a Paraíba. De volta á sua terra natal, ele não parou de estudar o instrumento e, ainda enfrentando o pai de frente, tornou-se professor de Piano. Destacou-se por sua particularidade de repertório, sendo o professor de piano a introduzir o estudo de Johann Sebastian Bach na Paraíba. Foi também, o primeiro professor a desbravar o mundo do Canto coral na sua terra, realizando apresentações com seus alunos.

Casou-se em 26 de maio 1926 com Ambrosina Soares, com quem teve quatro filhos, Fernando, Ermano, Marcelo e Geruza Soares de Sá e, posterirormente, dez netos. Em 1929, ele e sua esposa montaram uma escola de música em sua própria residência, a qual ele dava aulas de piano, teoria musical e Canto e ela aulas de piano, canto e Dança. Atualmente a escola chama-se Escola de Música Anthenor Navarro, homenagem de Gazzi para o amigo de infância que falecera em um acidente de avião. O filho Ermano foi o único a seguir a carreira musical, tendo estudado piano com o pai desde os quatro anos e, quando adulto, cursou no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, sendo aluno também de Heitor Villa-Lobos. Foi graduando de piano na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro e depois foi à Paris continuar os estudos com uma bolsa de estudos.

Gazzi de Sá e o Canto Orfeônico[editar | editar código-fonte]

Em 1932 foi concebido o ensino de Canto orfeônico da Paraíba, Gazzi de Sá, como professor de música, era o responsável por este trabalho, já que ele mantinha contato com o percussor do canto orfeônico, Villa-Lobos, por quem era orientado de como coordená-lo e colocá-lo em prática. Em 1934 e 1935, Gazzi fez o Curso de Pedagogia e Aperfeiçoamento do Ensino de Canto Orfeônico com Villa-Lobos, o que aumentou o laço de amizade entre ambos. A partir de 12 de março de 1934, o governo do estado da Paraíba, através do decreto-lei nº948, decretou o canto orfeônico como aprendizado obrigatório nas escolas, sendo Gazzi o principal mentor dos professores que atuavam nessas escolas. Gazzi propôs ao governo estadual a criação da Superintendência de Educação Artística (SEA), que funcionaria aos moldes da SEMA e seria o órgão orientador de todos os orfeões das escolas e escolas de música do estado. Como incentivo ao canto, as escolas realizavam competições umas com as outras, já que cada uma possuía o seu próprio orfeão. Com um espírito Nacionalista, o SEA organizava grandes concentrações de orfeões escolares durante a semana da pátria onde cantavam hinos, músicas folclóricas e marchas escolares com a banda da Polícia Militar acompanhando o evento. Em 1940, ele e Villa-Lobos foram para a Argentina e Uruguai demonstrar para os alunos e professores destes países o processo de ensino o canto orfeônico, já que o Brasil muito se destacou por este trabalho.

No final de 1947, Gazzi de Sá mudou-se com a esposa e os filhos para o Rio de Janeiro a fim de assumir o posto de professor de Apreciação Musical no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico a convite de Villa-Lobos. Contudo ele mantém contato com os seus discípulos na Paraíba sem deixar de lado o canto orfeônico por lá, tanto é que se lá formou-se o único Conservatório de Canto Orfeônico da região Região Norte e Região Nordeste da época.

Gazzi de Sá ministrando aula no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico

Gazzi de Sá faleceu devido a problemas cardíacos quando tinha 80 anos idade, no Rio de Janeiro, no dia 21 de outubro de 1981.

[[File:Gazzi de Sá no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico.png|Gazzi de Sá no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico]]

Proposta pedagógico-musical[editar | editar código-fonte]

Pode-se explanar o método na parte rítmica e melódica musical.[2] Outro ponto forte de sua proposta de educação musical, segundo o livro "Pedagogias brasileiras em educação musical", está voltada para o uso da voz através do canto, principalmente no canto orfeônico, assim como no processo de musicalização que possibilita aos alunos o conhecimento de uso de armaduras de claves,claves e compassos. Neste processo, a pauta é utilizada para demonstrar ao aluno a altura dos sons sem claves específicas. Sá diz que toda música é dividida em som e ritmo. [3]

Ritmo[editar | editar código-fonte]

Foto 1: Tá (gesto para dentro) e Ti (gesto para fora)

Gazzi de Sá[4] compara a música com a pulsão dos nossos corações (que pode ser lento, rápido ou moderado) e divide a unidade de duração em Pendular ou circular. Vamos entender sobre os mesmos:

O pendular coloca-se a mão para dentro no início do pulso e o circular coloca-se a mão para fora na binária do pulso.

O gesto pendular divide a unidade em duas partes: tá(gesto para dentro) - ti (gesto para fora) -divisão binária. (Foto 1)

O gesto circular divide a unidade em três partes: tá-té-té (divisão ternária)[5]

Foto 3: Apoio e impulso: Hastes de sons graves (indicados pelo ponto) indicados entre fracos e fortes

Utiliza de hastes que dão e impulso ao tempo forte, ou seja, quando a haste está levemente inclinada para a esquerda, ela indica o tempo forte (foto 2). O mesmo pode apropriar-se de palavras. Por exemplo: Me- lão . O "lão" é a sílaba forte da palavra, representada pela haste inclinada.

Quando as mesmas hastes aparecerem acompanhadas de um ponto (foto 3), ela indica um som mais grave

Quando um ritmo é representado por L no gesto pendular, e L. no circular, o valor da unidade de tempo da nota irá valer o dobro da mesma (foto 4).

Som[editar | editar código-fonte]

Gazzi de Sá também substitui as notas da Escala musical por números de 1 a 8: Dó 3 ao Si 3 = 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 (série média); 4 ao Si 4 = 1‪¯ 2¯ 3¯ 4¯ 5¯ 6¯ 7¯ 8¯ (série aguda); Dó 2 ao Si 2 = 1 2 3 4 5 6 7 8 (série grave)[6]

Foto 2: Apoio e impulso: Hastes de sons agudos indicados entre fracos e fortes

Exemplo: Cante 1 5 4 3 4 5 em qualquer escala tonal. Lembrando que: Dó corresponde ao número 1, Ré ao 2 e assim sucessivamente.

Para implementar a notação tradicional da música, Sá (1990) utiliza-se de números para cada nota nas partituras (assim como foi compreendido acima) que são espalhados pelo pentagrama.

Modo Menor[editar | editar código-fonte]

O canto é realizado da escala Maior descendente até o número 6. O aluno é levado a cantar a série 6 7 1 2 3 -3 2 1 7 6 e, em seguida, estabelece-se a nova escala, substituindo-se o 6 7 1 2 3  por 1 2 -3 4 5.

Inicialmente, é trabalhado apenas 1 2 -3 4 5; depois passam a cantar a série Maior e a Menor, partindo do mesmo som e no final cantam em todas as tonalidades.

Foto 4: Ritmo dobrado e pausas

Os sinais + e –, colocados antes dos números que representam os graus, indicam que precisa subir um Semitom ou abaixar um semitom.    

Categoria:Educação musical  

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b silva, Luceni (Março 2006). «GAZZI DE SÁ COMPONDO O PRELÚDIO DA EDUCAÇÃO MUSICA DA PARAÍBA: UMA HISTÓRIA MUSICAL DA PARAÍBA NAS DÉCADAS DE 30 A 50» (PDF). UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Consultado em 23 de setembro de 2016 
  2. Santos, Cristina (julho 1999). «Cantando palavras» (PDF). UNIRIO. UNIRIO. Consultado em 23 de setembro de 2016 
  3. Mateiro; Ilari, Teresa e Beatriz (2016). Pedagogias brasileiras em educação musical. Curitiba: Intersaberes. 125 páginas 
  4. Sá, Gazzi (1990). Musicalização. Rio de Janeiro: Funarte 
  5. ANDRADE, FLÁVIA CANTUÁRIA NOBRE (2010). «A Música no Currículo Escolar Brasileiro: O que a história nos revela?» (PDF). UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Faculdade de Formação de Professores Departamento de Educação. Consultado em 28 de setembro de 2016 
  6. Paz, Ermelinda (2013). Pedagogia Musical Brasileira no Século XX, Metodologia e Tendências. Brasília: MusiMed