Glândula acinotarsal

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A Glândula acinotarsal (também chamada de glândula de Ciaccio, ou de Meibom, ou ainda meibomiana) se refere a cada um dos folículos sebáceos entre o tarso palpebral e a conjuntiva das celhas.

As glândulas meibomianas são estruturas sebáceas, densamente inervadas. Estas glândulas sintetizam e produzem ativamente lípidos e proteínas para as margens das pálpebras superior e inferior, anteriormente à junção mucocutânea. É através da secreção de gorduras realizadas pelas glândulas meibomianas, que a lágrima não evapora tão rapidamente na superfície do olho.[1]

Anatomia[editar | editar código-fonte]

A anatomia e os mecanismos secretores da glândula meibomiana assemelham-se aos das glândulas sebáceas, sendo as principais diferenças a ausência de folículos pilosos na glândula meibomiana, têm um tamanho maior em comparação com glândulas sebáceas faciais, e um maior número de ácinos conectados a um ducto central. [2]

Cada glândula meibomiana consiste em vários ácinos secretores que contêm meibócitos, dúctulos laterais, um ducto central e um ducto excretor terminal que se abre na margem posterior da pálpebra. [1]

O número e o volume das glândulas meibomianas é maior na pálpebra superior, em comparação com a inferior (cerca de 20 a 40 glândulas na pálpebra superior e 20 a 30 na pálpebra inferior), mas falta ainda determinar a contribuição funcional relativa das glândulas das pálpebras superior e inferior para o filme lacrimal. [1][2]

Função[editar | editar código-fonte]

A função das glândulas meibomianas é regulada por androgénios, estrogénios, progesterona, ácido retinóico e fatores de crescimento, e provavelmente por neurotransmissores. [1]

As glândulas meibomianas são responsáveis pela produção e secreção de uma substância oleosa, o meibum, que impede a evaporação do filme lacrimal. A secreção faz parte de um mecanismo de defesa que protege a superfície ocular de fatores ambientais perigosos e da dessecação, nutrindo-a e hidratando-a. [3][2]

Lípidos[editar | editar código-fonte]

As glândulas produzem lípidos polares e apolares através de um processo complexo e não completamente compreendido. Os lipídios meibomianos que foram identificados no meibum são muito diversos e únicos na natureza. A composição lipídica do meibum é diferente de praticamente qualquer outro pool lipídico encontrado no corpo humano.[1][2]

Os lipídios produzidos pelas glândulas meibomianas são o principal componente da camada lipídica superficial do filme lacrimal que o protege contra a evaporação da fase aquosa e acredita-se que também estabilizam o filme lacrimal diminuindo a tensão superficial. Assim, os lipídios meibomianos são essenciais para a manutenção da saúde e integridade da superfície ocular. [4]

Filme lacrimal[editar | editar código-fonte]

O filme lacrimal tem três camadas distintas, sendo a mais externa uma camada de lipídios, tendo a função de cobrir a camada aquosa, criando uma barreira que impede que as lágrimas caiam descontroladamente pelo rosto, também servindo para atrasar a evaporação no olho. Entre as camadas externa e interna, encontra-se a camada aquosa, formada por água, sais minerais e complexos imunológicos que promovem o controle de agentes infecciosos invasores, a camada serve para proporcionar a oxigenação do epitélio corneal, além de criar uma superfície lisa e regular para a visão. A camada mais interna, que fica em contato direto com a superfície corneal, é formada por glicoproteínas segregadas pelas glândulas caliciformes, que permite que a solução aquosa se espalhe por toda a córnea, permitindo uma distribuição uniforme da película lacrimal. [5]

Entre o piscar de olhos, o filme lacrimal normal preserva-se até 10 a 20 segundos, depois disso começa a desintegrar-se devido ao colapso da subcamada lipídica, acompanhado pela evaporação da subcamada aquosa. [2]

Meibum[editar | editar código-fonte]

A libertação do meibum para a pálpebra ocorre com a contração muscular durante o movimento da pálpebra. [1]

O meibum é muito diferente do sebo, que é a secreção mais próxima que é produzida pelas glândulas sebáceas anatomicamente, fisiologicamente e quimicamente relacionadas. O meibum é composto principalmente por lipídios neutros, como ésteres de cera (WE), ésteres de colesterol (CE), colesterol livre (Chl) e triacilgliceróis (TAG), e menores quantidades de compostos mais polares, como ácidos gordos livres (FFA) , fosfolipídios (PL), esfingomielinas (SM), ceramidas (Cer), entre outros.[2]

História[editar | editar código-fonte]

De acordo com Duke-Elder e Wyler, as glândulas de meibomianas foram mencionados pela primeira vez por Galeno em 200 d.C. mais tarde, em 1666, foram descritos com mais detalhes pelo médico e anatomista alemão Heinrich Meibom, que lhes dá o nome. Durante sua vida, Meibom escreveu vários relatórios médicos que explicavam, entre outras coisas, a função da glândula. [3][4]

Doenças da glândula meibomiana[editar | editar código-fonte]

Quando há alguma alteração nas glândulas meibomianas, podem acontecer mudanças na quantidade ou na qualidade do meibum. Como resultado, o filme lacrimal fica prejudicado. E isso pode levar ao desenvolvimento da Meibomite e de outras doenças oculares, como olhos secos e a blefarite. [3]

As consequências da insuficiência de lípidos podem ser o aumento da evaporação, hiperosmolaridade e instabilidade do filme lacrimal, aumento do crescimento bacteriano na margem da pálpebra, olho seco evaporativo e inflamação e lesão da superfície ocular. De um modo geral, a DGM (disfunção da glândula meibomiana) é uma condição extremamente importante, frequentemente subestimada, e provavelmente a causa mais frequente da doença do olho seco. [1]

As glândulas meibomianas secas, que são responsáveis pelos olhos secos, são bastante comuns. Nos pacientes com olho seco, a integridade do filme lacrimal é gravemente comprometida, o que resulta na dessecação da superfície ocular, na sua irritação e inflamação. O aumento da instabilidade do filme lacrimal em pacientes com olho seco tem sido associado a deficiências na produção de meibum e/ou alterações nos lipídos e proteínas, embora a razão destas mudanças ainda não tenha sido establecida. Quando detectados precocemente, os olhos secos podem ter tratamento. No entanto, a maioria das pessoas não procura ajuda para os olhos secos até que os olhos fiquem gravemente irritados. [6][2]

A meibomite é a inflamação das glândulas de Meibômio ou glândulas meibomianas, localizadas nas pálpebras superiores e inferiores dos olhos, responsáveis por produzir o meibum. Tanto a meibomite quanto a blefarite são inflamações que ocorrem nas glândulas meibomianas, porém a causa do surgimento da inflamação é diferente. Na meibomite, ocorre uma desregulação na produção de óleo pelas glândulas meibomianas. Já a blefarite ocorre por uma obstrução das glândulas ,​​dificultando a saída do óleo, que fica acumulado na pálpebra, resultando nos sintomas como constante lacrimejar dos olhos ou presença de pequenas “caspas” na base das pestanas. [7][8]

A idade desempenha um papel importante na meibomite. Isto porque a quantidade de glândulas meibomianas é reduzida ao longo dos anos. Para além disso, há fatores como:

  • Usar lentes de contacto [3]
  • Ter colesterol e triglicerídeos altos [3]
  • Conjuntivite e outras doenças oculares [3]
  • Córnea ou pálpebra inflamada ou danificada [3]
  • Infecção bacteriana [3]
  • Doenças autoimunes [3]
  • Menopausa [3]
  • Fazer uso de retinoides, medicamentos para acne e cremes antienvelhecimento [3]

Tratamentos[editar | editar código-fonte]

Algumas opções de tratamento para a disfunção de glândulas meibomianas serão: a drenagem da glândula meibomiana, o sistema de pulsação térmica, o tratamento de calor e compressão, luz intensa pulsada e o uso único de adesivos de aquecimento. [9]

Drenagem da glândula meibomiana[editar | editar código-fonte]

Neste tratamento, um colírio anestésico é aplicado no olho e é usada a ponta de um instrumento portátil para perfurar e dilatar as aberturas das glândulas meibomianas. Este procedimento é bastante eficaz, mas é desconfortável. [9]

Sistema de pulsação térmica[editar | editar código-fonte]

É um dispositivo médico de consultório que aplica calor suficiente às pálpebras para derreter os depósitos de cera nas glândulas meibomianas. Ao mesmo tempo, aplica pressão pulsada à pálpebra para abrir e expressar completamente o conteúdo das glândulas. [9]

Tratamento de calor e compressão[editar | editar código-fonte]

Os sistemas usam uma fonte de calor, para aquecer as superfícies interna e externas das pálpebras e derreter as secreções cerosas presas dentro das glândulas meibomianas. [9]

Luz intensa pulsada[editar | editar código-fonte]

A luz intensa pulsada é uma energia luminosa que se transforma em calor (energia térmica). O calor vai permitir a coagulação e cauterização. Com isso, há redução dos fatores inflamatórios. Outro efeito crucial da energia térmica é a redução das bactérias envolvidas na blefarite e na meibomite. [3]

Por último, o efeito térmico da luz intensa pulsada ajuda a desentupir as glândulas meibomianas, pois acaba por amolecer a secreção acumulada. [3]

Uso único de adesivos de aquecimento[editar | editar código-fonte]

Os adesivos são aplicados nas pálpebras externas e conectados por um cabo a uma pequena unidade de aquecimento portátil reutilizável. Após o período de aquecimento de 12 minutos, o oftalmologista usa para apertar as pálpebras para abrir e drenar as glândulas meibomianas obstruídas. [9]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f g «MGD REPORT:. The International Workshop on Meibomian Gland Dysfunction | Tear Film and Ocular Surface Society:. non-profit organization to advance the research, literacy, and educational aspects of the scientific field of the tear film and ocular surface». www.tearfilm.org (em italiano). Consultado em 22 de dezembro de 2023 
  2. a b c d e f g Butovich, Igor A. (outubro de 2017). «Meibomian Glands, Meibum, and Meibogenesis». Experimental eye research: 2–16. ISSN 0014-4835. PMC 5728685Acessível livremente. PMID 28669846. doi:10.1016/j.exer.2017.06.020. Consultado em 26 de dezembro de 2023 
  3. a b c d e f g h i j k l m Tatiana, Dra (20 de setembro de 2021). «O que é meibomite? Quais os sintomas? Como funciona a luz pulsada? -». Tatiana Nahas. Consultado em 22 de dezembro de 2023 
  4. a b Knop, Erich; Knop, Nadja; Millar, Thomas; Obata, Hiroto; Sullivan, David A. (março de 2011). «The International Workshop on Meibomian Gland Dysfunction: Report of the Subcommittee on Anatomy, Physiology, and Pathophysiology of the Meibomian Gland». Investigative Ophthalmology & Visual Science (4): 1938–1978. ISSN 0146-0404. PMC 3072159Acessível livremente. PMID 21450915. doi:10.1167/iovs.10-6997c. Consultado em 26 de dezembro de 2023 
  5. «Lágrima». Wikipédia, a enciclopédia livre. 18 de fevereiro de 2021. Consultado em 26 de dezembro de 2023 
  6. Por (6 de junho de 2021). «O que é uma glândula meibomiana? - Spiegato». Consultado em 26 de dezembro de 2023 
  7. «Blefarite | CUF». www.cuf.pt. Consultado em 26 de dezembro de 2023 
  8. «Meibomite: o que é, sintomas, causas e tratamento». Tua Saúde. Consultado em 26 de dezembro de 2023 
  9. a b c d e «O que você deve saber sobre a disfunção da glândula meibomiana (DGM)». All About Vision. Consultado em 26 de dezembro de 2023 
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