Guerra de Toggenburg

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Guerra de Toggenburg
Segunda Guerra de Villmergen

  Protestantes - Berna, Zurique e aliados
  Católicos
  Neutros
Data 12 de abril11 de agosto de 1712
Local Antiga Confederação Helvética
Desfecho Vitória protestante
Beligerantes
Protestantes
Cantão de Zurique
Cantão de Berna
Rebeldes de Toggenburg
Cidade de Geneva
Principado de Neuchâtel
Católicos
Abadia de São Galo
Cantão de Lucerne
Cantão de Uri
Cantão de Schwyz
Cantão de Unterwald
Cantão de Zug
Valais
Freie Ämter

A Guerra de Toggenburg,[1] também conhecida como Segunda Guerra de Villmergen[2] ou Guerra Civil Suíça de 1712,[3] foi uma guerra civil da Suíça durante a Antiga Confederação Helvética, tendo durado de 12 de abril até 11 de agosto de 1712. De um lado, existiam os cantões católicos e a Abadia Imperial de São Galo. Do outro lado, existiam os cantões protestantes de Berna e Zurique, além dos aliados do cantão de Toggenburg.[4][5]

Precedentes[editar | editar código-fonte]

A guerra foi causada por um conflito entre o príncipe-abade de São Galo, Leodegar Bürgisser, e suas ideologias protestantes no município de Toggenburg. As ideologias pertenciam à Abadia Imperial de São Galo desde 1640, mas estavam, de modo simultâneo, ligadas aos suíços cantões de Glarus e Schwyz desde 1436. Após a reforma feita por Leodegar, cerca de dois terços da população de Toggenburg aderiram ao protestantismo, no entanto, não compunham a maioria de religiosos protestantes da região. Após a transição soberana da Abadia de São Galo, os habitantes que aderiram à reforma receberam a promessa de aliança com os cantões de Zurique e Berna, respeitando as convicções de tratamento ligadas à religião. No entanto, insurgiu-se a tentativa de uma Contra-Reforma às mudanças feitas pelo príncipe. Quase todos os municípios de Toggenburg, inclusive os recentemente protestantes, foram fortalecidos pelas ideologias católicas. A partir desse momento, iniciaram-se as construções de inúmeras igrejas católicas pelo local, fazendo com que a existência de paróquias não fosse essencial.[6]

No século XVII, os príncipes-bispo e os magistrados seculares de Landeshofmeister começaram a organizar um processo de absolutismo na tentativa de enquadrar os moradores às regras do governo. Geraram-se, portanto, conflitos pela violação do clero protestante em função dos príncipes-bispo. Em 1663, o governador de Toggenburg, Wolfgang Friedrich Schorno, tentou sentenciar o vigário Jeremias Braun de morte, por um suposto ato de blasfêmia durante um sermão pregado no processo de reforma da época. A interferência do cantão protestante Appenzell Ausserrhoden salvou Jeremias da morte, mas o cantão foi banido. Quatro anos depois, Schorno perdeu o trono para o príncipe Gallus Alt.[7]

Em 1695, no momento de Contra-Reforma, os sete cantões católicos da Antiga Confederação de Helvética e o abade de São Galo, formaram uma aliança para salvar o Catolicismo de uma suposta perseguição. Na necessidade de fortalecer as conexões entre a Abadia Imperial e a Suíça Central Católica, o cantão de Schwyz propôs a Leodegar Bürgisser, no ano de 1699, a construção de uma nova estrada sobre a passagem montanhosa Ricken Pass. Através dessa construção, as tropas católicas seriam movidas com mais rapidez à região de Toggenburg, em caso de conflito militar.[8]

Com o findar da Guera Cruzada na Cidade Imperial de São Galo, em 1697, o Bürgisser ordenou que a atual comuna de Wattwil iniciasse a construção da estrada de Ricken Pass, ao lado de Toggenburg. A população comunal recusou em colaborar com a construção da estrada, uma vez que consideravam uma ameaça à liberdade religiosa de seu povo, além de supressão financeira. A partir daí, surgiu um grave conflito com o abade. O príncipe decidiu encarcerar magistrado maior de Toggenburg, Landweibel Josef Germann, com a intenção de quebrar oposições referentes à obra. Germann era católico e as reclamações da população de Toggenburg foram ouvidas pelos cantões de proteção. Fidel von Thurn mudou o abade do local para criar laços de diplomacia no Sacro Império Romano, em 1702,[9] com Leopoldo I de Habsburgo. O tratado diplomático ameaçou um possível conflito de nível europeu. A Abadia Imperial de São Galo infringia regras estruturais da Confederação Suíça, dando a entender que buscava entrar para o lado austríaco. O cantão de Appenzell e Zurique não poderiam aceitar tais infringimentos.[10]

A população de Toggenburg buscaram por aliados e associaram-se ao cantão de Schwyz e Glarus, renovando a aliança em 1703 e 1704. Os cantões protestantes de Zurique e Berna estavam cada vez mais apoiando as causas de Toggenburg. Em 1707, o príncipe-abade apresentou uma proposta de mediação, na qual Toggenburg conseguiria sua autonomia política. A proposta, no entanto, não foi atendida pelos demais príncipes. Com a negação autonômica de Toggenburg, iniciaram-se, eventualmente, conflitos locais.[9]

Intensificação[editar | editar código-fonte]

Bombardeio de Wil, em 21 de maio de 1712, pela artrilharia de Zürcher e Bernese.
Samuel Frisching II, general das tropas de Berna, na Guerra de Toggenburg.

O primeiro passo intensificador da guerra em Toggenburg foi a aprovação de uma constituição de 23 de março de 1707 em Watwill, para os cantões de Berna e Zurique. A constituição manteve, portanto, a soberania imperial do príncipe-abade de São Galo. Os magistrados e governadores foram extraditados, iniciando a promulgação da liberdade religiosa do município. A mudança causou revolta nos católicos. O cantão católico protetor de Schwyz abdicou seu cargo de príncipe. As tentativas de mediação territorial enviadas à Igreja Imperial e Francesa para a Confederação Suíça, falharam. Os cantões reformados buscaram uma resolução para o conflito, antes que houvesse intervenção estrangeira.

A luta interna começava a ganhar maior incidência e o povoado de Toggenburg se juntou a Zurique, ocupando as fortalezas de Lütisburg, Iberg e Schwarzenbach, em 1710. Os conflitos religiosos eram delimitados pelas fronteiras de Linde e Harte. Em 1711. vários municípios católicos juntaram-se ao conflito. A fronteira Harte ocupava os municípios associados, além dos mosteiros de Magdenau e Neu St. Johann. O comprimento das tropas forçou, de modo definitivo, o príncipe-abade a tomar decisões contrárias aos conflitos.

No dia 13 de abril de 1712, Berna e Zurique publicaram um manifesto contra o príncipe-bispo de St. Gall e, posteriormente, revelaram apoio a Toggenburg. No lado oposto, encontravam-se os cinco cantões católicos internos de Lucerna, Schwyz, Uri, Zug e Unterwald. A oposição publicou um manifesto contrário a Toggenburg, armando-se para a guerra. Berna e Zurique conseguiram o apoio de Genebra, do cantão de Neuchâtel e dos príncipes de Biel, Moutier e La Neuveville. Os cinco cantões católicos encontraram o apoio de Valais, Vogteien, Ticino e Freie Ämter. Os cantões que sobraram permaneceram neutros, como os de Friburgo e Soleura. Independentemente da situação de Berna e França, a cidade de São Galo estava reformada e cercada pelo território do príncipe-abade de Glarus. Embora as Três Ligas se mobilizassem a favor da causa protestante resultada da aliança de Zurique em 1707, não participaram de nenhum dos conflitos.

Caminho do conflito[editar | editar código-fonte]

Como Berna e Zurique estavam se preparando para a guerra durante muito tempo, aproveitaram para atacar de modo ofensivo. Berna abriu a primeira fase da guerra em 26 de abril, quando as primeiras tropas atravessaram o Rio Aar em Stilli, para apoiar Zurique na ocupação de Turgóvia. Em meados de maio]], cerca de 3.000 protestantes de Zurique, 2.000 de Berna, 2.000 de Toggenburg e 1.800 de Turgóvia, marcharam para o cerco da cidade de Wil, que caiu no dia 22 de maio. Os aliados ocuparam St. Gallen e ocuparam a Abadia de St. Gall e o Vogtei Rheintal. O príncipe-abade fugiu para a cidade de Neuravensburg. Os cinco cantões católicos ocuparam Rapperswil, mas finalizaram os apoios ao abade. Em consonância com a guerra, a abadia e os bens foram submetidos à um governo militar, fazendo com que bens e riquezas fossem cassadas.

Segundo plano de batalha da guerra de Toggenburg.

Assim como a Primeira Guerra de Villmergen, o cantão de Argóvia tornou-se o mais importante dos cantões em combate. Os cinco cantões ocuparam a cidade de Baden, Mellingen e Bremgarten, ameaçando a separação de Berna e Zurique. A população protestante de Berne lançou um contra-ataque de ofensiva sob o comando de Jean de Sacconay, general-major. Em 22 de maio, as forças entraram em confronto nas cidades ocupadas pelos cantões. Como resultado, Berna venceu o conflito e ocupou a cidade. Em 26 de maio foram, também, vitoriosos na Batalha de Fischbach, ocupando Bremgarten. Unidos com as tropas de Zürcher, Berna marchou em direção a Baden, que se rendeu em 1 de junho. A fortaleza de Stein, construída após a Primeira Guerra de Villmergen, foi destruída a fim de simbolizar a vitória protestante. Em virtude disso, Berna e Zurique impediram que os cinco cantões os separassem na região de Argóvia. Em 3 de junho, os cinco cantões mudaram os termos da negociação de paz. Em 18 de julho, Zurique, Berna, Lucerna e Uri assinaram um tratado em Aarau. O tratado fez com que os cinco cantões católicos perdessem a participação no na Antiga Confederação Helvética de Baden e, posteriormente, de Freie Ämter.

A segunda fase, classificada como a mais sangrenta da guerra, foi desencadeada em Schwyz, Zug e Unterwald pela assembleia cantonal. A opção desencadeadora foi causada pelo núncio apostólico papal de Caraccioli, que levou à rejeição do tratado de Aarau. Nos municípios de Lucerna e Uri, a população exigia a insurgência de um conflito militar contra os cantões protestantes. Em 20 de julho, o primeiro ataque dos cinco cantões ocorreu na comuna de Sins, na Suíça. Recuaram, em seguida, da participação da Batalha dos Pecados, em Berna e Muri. Em 22 de julho, as tropas de Schwyz e Zuger lançaram um ataque sem sucesso contra Richsterwil e Hütten. Em 25 de julho, Villmergen tornou-se o local decisivo da batalha. Os 8.000 homens de Berna, sob o comando de Samuel Frisching, Niklaus von Diebach e Jean de Sacconay, lutaram contra 12.000 homens na Suíça Central, que estavam sob o comando de Franz Konrad von Sonnenberg e Ludwig Christian Pfyffer. A longa batalha indecisiva ganhou mais corpo após a artilharia superior de Berna. Na conclusão da guerra, 2.000 católicos foram mortos. Após a vitória na Guerra de Toggenburg, o povoado de Berna e Zurique avançaram para Lucerna e Bug, após o colapso de resistência dos cinco cantões católicos.[11]

Paz de Aarau[editar | editar código-fonte]

O documento de Paz de Aarau, de 11 de agosto de 1712, garantiu o domínio de Berna e Zuch sobre a Confederação Helvética. Desde 1531, portanto, a hegemonia política entre os cantões católicos chegou ao fim.[12] Isso significou a restauração simultânea da paz religiosa na Antiga Confederação de Helvética. As condições territoriais do tratado de Paz exigiam, portanto:

  • Manutenção da propriedade do município de Baden e Freie Ämter, por Zurique, Berna e Glarus. Esta medida garantiu a conexão militar entre Zurique, Berna, Argóvia, bem como o bloqueio de acesso dos cantões católicos
  • O senhorio de Rapperswil seria adquirido por Zurique, Berna e Glarus
  • Schwyz tornou-se uma assembleia cantonal em Zurique e Berna
  • De agora em diante, Berna tinha regras em todas as assembleias cantonais de Turgóvia, Vogtei Rheintal, Sargans e Freire Ämter
  • Dentro da assembleia cantonal de Toggenburg, a população ganharia o direito de exercer a religião católica e a religião protestante

Resultância[editar | editar código-fonte]

Em termos jurídicos, a Quarta Lei de Landfrieden fez com que a Segunda Lei de Landefrieden de 1531, perdesse seu papel. Por isso, a religião protestante foi tratada com igualdade nas leis de Tagsatzung, bem como na governança de Vogteien e em todos os conflitos arredores. Os municípios de Baden, Sargans e Rheintal mantiveram a garantia de exercício religioso livre sob a soberania de Zürcher, enquanto so direitos católicos eram garantidos de modo idôneo. Os protestantes, então, passaram a ter reconhecimento jurídico de sua religião, como os católicos já tinham anteriormente.

Globo de São Galo.

Leodegar Bürgisser, príncipe-abade de São Galo, foi exilado em 29 de maio para o Castelo de Neuravensburg, sua nova residência de senhorio. Grande parte dos bens da monarquia foram deixados para trás, incluindo a biblioteca da região. Devido ao perigo entre inequações religiosas das regiões de Zurique e Berna, aprovou-se a Paz de Rohrschach, em 28 de março de 1714. Após a morte de Bürgisser, o tratado Paz de Baden foi concluído por Joseph von Rudolphi, em 16 de junho de 1718. A Abadia de São Galo foi restaurada, incluindo a autonomia e liberdade religiosa em suas leis.

Zurique e Berna ratificaram o tratado de paz em 11 de agosto de 1718. A denúncia do papa Clemente XI em relação à carta de paz fez com que o tratado perdesse sua essência. O príncipe-abade Rudolphi voltou a São Galo em 7 de setembro de 1718, após um exílio com duração de seis anos. Em 23 de março de 1719, recuperou grande parte do acervo bibliotecário de Zurique. Outros objetos e arquivos foram enviados de volta a São Galo, em 1721. Peças valiosas da biblioteca de São Galo ficaram, em sua maioria, na cidade de Zurique. O acervo de Zurique continha manuscritos, pinturas, ferramentas de astronomia e o Globo de São Galo. A hostilidade entre a Abadia Imperial e Toggenburg foi encerrada após o assassinato de dois magistrados em 1735. O acontecimento, no entanto, não gerou conflitos.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

A bibliografia apresentada enconta-se na língua alemã.

  • Gottfried Guggenbühl, Zürichs Anteil am Zweiten Villmergerkrieg, 1712 (= Schweizer Studien zur Geschichtswissenschaft, Band 4, Nr. 1, ZDB-ID 503936-8[ligação inativa]). Leemann, Zürich-Selnau 1912 (Zugleich: Zürich, Universität, Dissertation, 1911/1912).
  • Ulrich Im Hof, Ancien Régime. In: Handbuch der Schweizer Geschichte. Band 2. (Zürich 1977) p. 673–784. Berichthaus. ISBN 3-8557-2021-5.
  • Hans Luginbühl, Anne Barth-Gasser, Fritz Baumann, Dominique Piller 1712. Zeitgenössische Quellen zum Zweiten Villmerger- oder Toggenburgerkrieg. Merker im Effingerhof (Lenzburg 2011) ISBN 978-3-8564-8139-1 (2e druk aldaar 2012, ISBN 978-3-8564-8141-4).
  • Martin Merki-Vollenwyder, Unruhige Untertanen. Die Rebellion der Luzerner Bauern im zweiten Villmergerkrieg (1712) (= Luzerner historische Veröffentlichungen. Band 29). Rex-Verlag, (Luzern 1995) ISBN 3-7252-0614-7 (Zugleich: Zürich, Universität, Dissertation, 1995).
  • Thomas Lau, Villmergerkrieg, Zweiter (2013). Historical Dictionary of Switzerland.

Referências

  1. Enciclopédia brasileira mérito. Editôra Mérito S. A. 1967. p. 4 
  2. Encarta-encyclopedie Winkler Prins (1993–2002) s.v. "Zwitserland. §5.2 Reformatie". Microsoft Corporation/Het Spectrum.
  3. Graham Nattrass, The Swiss civil war of 1712 in contemporary sources The British Library Journal 19 (1993), pp. 11–33; Nattrass, "Further sources for the Swiss civil war of 1712 in the British Library's collections", The British Library Journal 25 (1999), pp. 164–79.
  4. (em alemão) Im Hof: Ancien Régime. 1977, p. 694.
  5. «Conflict over the Toggenburg succession». Consultado em 26 de outubro de 2017 
  6. «Toggenburg War». Consultado em 26 de outubro 2017 
  7. «Süddeutscher Adelsheros, oder Geschichte und Genealogie». Consultado em 26 de outubro de 2017 
  8. «History of the Church: Reformation and Counter Reformation». Consultado em 26 de outubro de 2017 
  9. a b Second War of Villmergen}}
  10. Im Hof: Ancien Régime. (1977) p. 695.
  11. "Villmergerkriege", in: Historisch-Biographisches Lexikon der Schweiz. Band 7: Tinguely – Zyro. Administration des historisch-biographischen Lexikons der Schweiz (Neuchâtel 1934), p. 259f.
  12. "Aarauer Friede." In: Historisch-Biographisches Lexikon der Schweiz. Band 1: A – Basel. (Neuchâtel 1921), p. 8. Administration des historisch-biographischen Lexikons der Schweiz.