Henrique Alemão

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Encontro de S. Joaquim e Santa Ana junto da Porta Dourada, quadro que se encontrava no altar do primitivo oratório construído por Henrique Alemão, e que se supõe representar ele próprio com a mulher, Senhorinha Anes, de acordo com o uso da época.

Henrique Alemão, cavaleiro de Santa Catarina, foi um dos primeiros povoadores da Madeira, estabelecendo-se no sítio da Madalena do Mar, nos terrenos que lhe foram atribuídos em regime de sesmaria por João Gonçalves Zarco, em carta confirmada pelo Infante D. Henrique a 29 de Abril de 1457, e por D. Afonso V a 8 de Maio do mesmo ano.[1]

Sesmaria da Madalena[editar | editar código-fonte]

A carta de sesmarias obtida do Capitão do Funchal foi apresentada pessoalmente ao Infante D. Henrique por Henrique Alemão,[nota 1] intitulado "cavaleiro de Santa Catarina". A terra localizava-se no lugar da então chamada Ribeira da Madalena, para que ele e mais sete ou oito lavradores a lavrassem, fizessem vinhas, hortas, casas e açucarais, assim como um oratório. As confrontações, segundo a dita carta, eram desde a Ribeira Seca que vem desde o Calhau, atravessando o caminho até ao Outeiro do Penado, e dali até à Ponta das Capelas, que entra dentro do mar.

O lugar é descrito como todo cercado de mar e rocha, confrontando com a terra "d'além da Ribeira, que jaz em cima da serra", entre a Madalena e o Arco, que o mesmo Infante havia dado por essa altura a André, alemão.[nota 2]

Em 1457, na época em que a carta foi atribuída, já a terra estava aproveitada. A atribuição foi feita com a condição de em cinco anos toda a terra estar aproveitada, e de a manter dessa forma em cada ano que passasse após os cinco anos completados. Henrique Alemão havia também construído já o oratório a que se tinha obrigado, que é mencionado na dita carta, pois ressalva-se do aproveitamento "a ponta que é desde o oratório até às capelas", por desejo do Infante que sirva para pastagem de gado e não faça parte da sesmaria.

Henrique Alemão estava apenas obrigado a pagar o dízimo de tudo o que as terras produzissem, salvo paus de teixo, veiros, canas e quaisquer tintas que lá houvesse, assim como as gomas de qualquer espécie, que o Infante reserva para si. Manda também que aí não se façam fornos, nem moinhos, nem engenhos de água, salvo fornalhas e mós de braço para uso particular.[2]

Com efeito, Henrique Alemão fundou na Madalena uma grande fazenda povoada, com capela de invocação de Santa Maria Madalena, que deu o nome ao lugar. Casou com Senhorinha Anes de Sá, filha do Infante D. Henrique, Duque de Viseu. O casal teve dois filhos, Segismundo, que se perdeu no mar a caminho de Lisboa, e Bárbara Henriques, que casou com Afonso Anes do Fraguedo, primeiro escrivão da Câmara do Funchal, deixando geração.

Morreu esmagado de uma quebrada que caiu do Cabo Girão sobre o barco em que ia do Funchal para a Madalena. Senhorinha Anes casou depois com João Rodrigues da Madalena,[nota 3] sem geração sobrevivente.

Existe ainda, acima da vila da Ponta do Sol, a Fajã do Alemão, que o povo corruptamente denomina "do Limão".[1]

Tradição[editar | editar código-fonte]

Henrique Alemão ainda em sua vida assumiu contornos de personagem lendária. Dele se dizia que era príncipe polaco-lituano, e que, perdida em 1444 a batalha de Varna por Ladislau III contra Amurato II, fizera voto de peregrinar à Terra Santa, e lá fora armado cavaleiro de Santa Catarina do Monte Sinai.[1] Uma carta encontrada nos arquivos dos Cavaleiros Teutónicos no século XX, com data de 1472 e escrita por Nicolau Floris desde Lisboa, indica que o rei Ladislau III é residente na Ilha da Madeira, «Vladislaus, rex Poloniae et Ungariae vivit in insulis regni Portugaliae»[3]

Notas

  1. Na época era uso corrente designar-se por "alemão" quem era proveniente das regiões da Alemanha ou cercanas
  2. Tronco da família França, da Ilha da Madeira, povoador e fundador do Estreito da Calheta
  3. Tronco da família dos Freitas da Madalena, da ilha da Madeira, morgados da Madalena do Mar

Referências

  1. a b c Saudades da Terra, Volume II, Gaspar Frutuoso
  2. Livro das Ilhas, folha 31v, transcrita em Monumenta Henricina, Volume XIII
  3. Manuel da Silva Rosa Kolumb. Historia nieznana, Rebis, Poznań 2012, ISBN 978-83-7510-722-7

Ligações externas[editar | editar código-fonte]